Sobre menta e armadilhas

"Bom, senhor Stark, você preferiria que eu usasse uma peruca vermelha, um uniforme colado e imitasse um sotaque russo?"

..

Um lugar à prova de stress, ele disse. Música calma, perfume de incenso, ele disse. Melhor do que yoga, ele prometeu. Mas aparentemente, ter seu nome em letras gigantescas em uma das mais altas torres de Nova York não dava conta do ego de proporções multi-dimensionais de Tony Stark. Então, ele era obrigado a se divertir sadisticamente levando pessoas como Bruce Banner para uma de suas boates no Upper East Side.

— Não acredito que você não está achando isso divertido. — Bruce quase não podia ouvi-lo em meio ao som da música eletrônica e quase suicida que fazia o chão tremer.

— Não acredito que deixei você me atrair para um lugar desses.

— Acho que no fundo, doutor, você estava implorando por isso.

— Do mesmo modo que estou implorando pela sua mão na minha cintura? — Tony não precisou responder.

Eles andavam juntos atravessando um mar de gente dançando, em direção a algum lugar que Bruce jamais encontraria novamente, dado o fato de que as luzes multicor e piscantes acabavam com qualquer confiança que ele ainda tivesse em seu senso de direção. Subiram alguns degraus numa escada em caracol e chegaram a um local reservado — isto é, relativamente reservado, comparando-se ao resto onde mal havia espaço para se respirar.

Bruce estava genuinamente indignado. Não que ele esperasse alguma delicadeza da parte de Stark, mas o homem tinha um pós-doutorado, dois phDs, sem falar que era um gênio da física nuclear, porém agora tinha de lidar com o suor de dezenas de desconhecidos nas suas roupas. Mas tudo isso era, com efeito, o menor de seus problemas quando se colocava em perspectiva o olhar de cientista despudorado que Tony lhe lançava.


A primeira coisa que ele fazia quando despertava nu e sem absolutamente nenhuma recordação das últimas horas, apenas uma dor de cabeça rachando seu crânio de dentro para fora, era perguntar se ele havia ferido alguém.

Contudo, neste instante ele não estava caído em um pilha de entulho e asfalto triturado como era de praxe sob essas condições; e sim confortavelmente largado sobre uma cama king-size e lençóis de umas centenas de milhares de fios. Todo essa essência concentrada de egocentrismo no ar gritava Stark.

— Aceita uma bebida? — O próprio aparecera ao pé da cama, devidamente enfiado em um terno e bebericando um copo de whisky.

Bruce pigarreou ainda algumas vezes antes de conseguir responder.

— Tenho a impressão de que foi com essa mesma frase que eu vim parar aqui.

— Sério? Porque eu tinha certeza de que foi no momento que você disse, e eu estou meramente citando: "Bom, senhor Stark, você preferiria que eu usasse uma peruca vermelha, um uniforme colado e imitasse um sotaque russo?"

O doutor Banner enfiou a cabeça entre os travesseiros de pena de ganso, com uma ligeira intenção de se sufocar, pois, contra todas as probabilidades, ele se lembrava de ter dito aquela maldita frase. Apenas teve a dignidade de murmurar:

— Ela não tem sotaque.

— Ela quem? — Stark retorquiu de imediato, escondendo um sorriso e elevando uma sobrancelha. — Sabe, Dr. Banner, nós deveríamos fazer isso mais frequentemente — conversar sobre física, eu quero dizer...

— Certo.

— ... mas eu temo que no momento eu esteja atrasado para pegar um vôo até Washington. Vejo você mais tarde.

Não houve tempo nem mesmo para Bruce levantar a cabeça e dar uma última olhada em Tony; ele já havia desaparecido.

— Cretino. — Banner disse, convicto. — Cretino. — Ele repetiu, mas agora para si mesmo, por saber que esta não seria a última vez que ele se encontraria nesta situação com (ou sem) Stark.


N/A: Para o Aldebaran. Desculpe a demora mas é que eu moro em Asgard e aqui os blockbsuter demoram a chegar. /foge