Ela dançava ao som da música com o sorriso mais lindo que todos os olhos ali já haviam visto. Seus movimentos eram tão graciosos que os homens e mulheres presentes não poupavam dinheiro e tempo para assistí-la. Era uma espécie de à moda antiga, feito quase que à sombra do antigo Moulin Rouge e por muitos anos ficara às moscas, sem uma estrela que pudesse encher a casa.
Até Carmen, o lugar era morfético. Umas putas sujas para chamar atenção dos desesperados. Números tão assombrosos que os loucos de um manicómio poderiam fazer melhor.
A batida era sexy e a mulher parecia uma sereia, encantando a todos com seu corpo e sua voz, até mesmo os bailarinos e bailarinas contratados para a coreografia ficavam embasbacados com a desenvoltura da mulher.
Os cinquenta minutos de apresentação foram assim, aplausos, gritos e elogios de todos os tipos. Saíra do palco em direção ao seu camarim com o rosto levemente suado com os passos apressados. Abrira a porta e se fechara ali no escuro, sentando-se em sua cadeira e fechando os olhos, podendo finalmente desvestir aquele sorriso e relaxar por alguns minutos, até ter de voltar para aquilo.
Pelo menos acreditara nisso, até a porta ser aberta pelo patrão que batia palmas intusiasmado, animado. Aproximara-se dela após acender a luz e beijara seus lábios de forma demorada, esperando até que a mulher retribuísse o beijo. O local estava cheio de flores, chocolates, presentes caros, convites para um jantar íntimo, convites para um jantar à três e até pedidos de casamento, como de habitual.
Carmen sorrira para Marcos e levantara-se dali, indo até a penteadeira para retocar a maquiagem.
-Os números estão esplendidos! Mesmo com um aumento de 75% no valor das entradas temos a casa cheia. Você é mesmo uma pérola.
Continuara aquilo, olhando-o e logo a porta fora aberta, avisando que ela teria mais cinco minutos antes de voltar para o palco. Começara a se despir sobre o olhar faminto do homem e logo trocara-se de roupa, de um vestido prata, curtinho para um longo vermelho, com um decote delicioso e um corte em v na perna esquerda.
-Eu não seria nada sem você, meu amor.
Beijara aqueles lábios e o homem dera um tapa em sua bunda, pegando ali com um desejo desnecessário para a situação. Um gemido escapou dos lábios da morena, um gemido de angustia que fora entendido como de prazer pelo rapaz. Não é como se ele ligasse para o que ela sentia.
Não é como se ela demonstrasse sentir algo. Carmen era uma atriz, Carmen estava sempre a sorrir como se fosse a mais feliz de todas as pessoas.
E essa felicidade era contagiante, apaixonante. Talvez aquelas pessoas desejassem tanto ser tão feliz quanto Carmen e só por isso precisassem desesperadamente de um pedacinho dela, tocá-la, receber um sorriso, um olhar.
É realmente surpreendente como ela engana a todos como se estivesse realmente se divertindo
Ela voltou ao palco, cantando e dançando entre os bailarinos, os olhares brilhavam na direção dela, era como se todos estivessem apaixonados pela mulher, pela performance dela.
Um rapaz subira ali, tentando pegá-la desesperadamente mas os seguranças barraram o cara primeiro, levando-o para fora do cabaret e jogando-o na sarjeta, mostrando que ele não era ninguém para subir ali, que ele não era ninguém para querer tocar Carmen.
Carmen nem se abalara, estava acostumada com aquilo, apenas mantivera o sorriso e a dança. Procurava pelos olhares da plateia, captando ainda mais sua atenção, fazendo de cada espectador um único no meio de dezenas ali, deixando-os ainda mais encantados.
Exceto por aquela única mulher ao canto, um vestido de uma alça só, preto. Os cabelos louros perfeitamente enrolados em um coque. Os lábios vermelhos, extremamente bem pintados, assim como seus olhos verdes. Ela estava longe de si, estava realmente longe, mas Carmen se perdera no verde daqueles olhos. Se perdera que não olhara para outro lugar naquela apresentação e ao final, saíra meio cambaleando dali. Encontrara um garçon que levava algumas bebidas para o público mas pegara dois copos de whisky, virando um e largando o copo no chão, estilhaçando-o em vários pedacinhos. O outro fora engolido assim que ela fechara a porta.
-Carmen?
