Por favor me digam o que acharam.

Capítulo 1

Bem, eu já falei com muitas pessoas mas não faço idéia de como se deve iniciar uma carta, principalmente quando essa carta não é escrita para ninguém, é como conversar sozinho sabe? Mas eu nunca conversei sozinha, minhas conversas internas são exatamente isso, internas, não costumo verbalizar os meus conflitos. Mas decidi escrevê-los, vamos tentar tornar isso mais racional. Já sei basta tentar organizar, é como montar um quebra-cabeça primeiro você precisa espalhar as peças para depois associá-las.

Qual o meu nome? Sakura

Quantos anos eu tenho?

Quem sou eu? Isso é uma questão extremamente complexa pra ser respondida, mas quando eu tiver a resposta eu coloco aqui. Por enquanto direi apenas que sou.

Talvez eu esteja escrevendo essa carta para me entender, eu sou quebra-cabeça que deve ser montado com essa carta, isso parece sem nexo mas é a verdade. Já ouvi dizer que já temos tendências a ser algo desde que nascemos, mas que nossa personalidade também é incrementada por situações e pessoas que nos marcam. Acho que vou começar contando as situações que me marcaram, porque dentro delas irão aparecer as pessoas que fizeram os mesmo.

A família sempre é extremamente importante para alguém então vamos começar a analisar por aí. Meus pais não foram extremamente presentes na minha vida, meu pai era um empresário e minha mãe não trabalhava porque meu pai ganhava dinheiro pelos dois. Éramos ricos, alto padrão de vida, fui acostumada a ter do bom e do melhor contanto que não pedisse atenção dos meus pais, família perfeita não? Toda história tem o seu happy ending e a da minha família é quando meu pai descobre que minha mãe tinha um caso com o jardineiro, eles se separam e eu sou mandada para um colégio interno, pois eles não precisavam mais fingir que era uma família unida logo eu não tinha mais utilidade. Mas veja bem, não é como se fosse o fim do mundo, na verdade eu nem posso reclamar de nada, afinal lá eu tinha toda a atenção que queria, apesar de ser pequena, tinha 6 anos na época, notei que quanto melhor minhas notas e quanto mais eu me destacasse mais atenção eu teria, tanto dos meus professores quanto dos meus amiguinhos de classe. E assim começou a minha jornada no caminho para o conhecimento, que se desenvolveu de forma espetacular devo acrescentar, pois eu era movida por um objetivo muito forte, quando estava no fim da sétima série minha mãe morreu, não chorei, pois, acredito que tenha sido o melhor para ela, pois ela teve que passar seus últimos anos vivendo na miséria e tenho certeza que odiava isso, por isso se suicidou. E a mim restou apenas aceitar a decisão dela, ela era adulta sabia o que era melhor para si. Meu pai até me levou no funeral dela, foi lindo, posso dizer que apesar de ter passado seus últimos anos na miséria foi enterrada como rainha e isso a deixaria feliz, nesse mesmo dia meu pai me contou que estava doente, mas estava se cuidando e com tudo sob controle eu não precisava me preocupar. Quando voltei para a escola notei certo alvoroço que depois fiquei sabendo ter sido causado pela chegada de novos alunos, sempre chegavam alunos no começo do ano. Mas neste ano algo mudou, os dormitórios passaram a ser divididos, duas pessoas por dormitório e não apenas uma como era antes, minha companheira de dormitório era uma novata por isso tive que apresentar a escola para ela.

Estava deitada na minha cama esperando ela chegar e resolvendo uns exercícios de física para passar o tempo, até o momento em que a porta foi aberta com tanta força que achei que estavam querendo rachar a parede e um ser todo animado entrou no quarto e pulou em cima de mim me abraçando e falando tanta coisa tão rápido que eu ainda tava tentando adivinhar o idioma que a criatura falava.

- HELLOOO! Aítudobemcontigo? Vocêdeveserminhacolegadequarto, nossaeununcaestudeinumaescolainernaMEUDEUSseráqueeutrouxeroupassuficientes? DROGAAAAA ESQUECIAMEUSÓCULOSESCUROS sabiaquetavaesquecendoalgo...

-Err.. oi, não se preocupe aqui é colégio interno, mas você pode respirar e dar pausas entre as palavras, se quiser que alguém entenda algo.

-Ahhh.. oiiiiiiiii meu nome é Ino serei sua nova companheira de quarto, bom desculpa aí mas é que eu tava meio ansiosa sabe, não que eu quisesse vir para cá, mas de qualquer jeito queria logo saber como era, pelo menos aqui meus pais não vão ficar regulando tuuuuudo! A propósito qual seu nome?

- Sakura...

Para tudo, acho que pelo que eu escrevi até aqui já deu pra notar que eu não era exatamente uma criança sociável, na verdade quando estabeleci que fosse chamar atenção me destacando nos estudos esqueci que havia outras coisas na vida, por isso eu não era sociável, não tinha amigos, não sabia da vida dos outros e não gostava que se metessem na minha. Certo, eu era fechada, calada e arredia, então dá pra entender minha reação né? Não que eu fosse grossa ou coisa assim, apenas estava assustada com aquela conversa imensa, poxa a menina falou mais do que eu falava com os outros em um ano e ser grossa era o único jeito que eu conhecia para assustar as pessoas ou mostrar que não quero conversar.

Mas ela não se importou com o meu jeito.

- Aí que nome lindo, aliás, lindo mesmo é o seu cabelo. É natural? Nunca vi essa cor antes, se você cuidasse melhor dele seria bem melhor, claro.

- É natural sim. Obrigada, ninguém antes tinha elogiado meu cabelo.

- Ah não se preocupe eu vou te ajudar a tratar ele e com os penteados certos, vai ser impossível alguém não reparar no seu cabelo! Pode confiar. Afinal eu não tenho esse cabelo perfeito por nada sabe?

- Ah obrigada... eu acho...

É depois disso nós fomos nos falando cada vez mais, sabe a Ino era diferente de mim mas não completamente, ela era extremamente extrovertida, não tirava notas boas, falava muito, tava sempre sorrindo, era determinada e animada, também era fácil provocar ela, meio esquentadinha sabe. Por isso normalmente tava se metendo em confusão, e eu também, afinal passamos a ser parceiras ou amigas se preferir. O que tínhamos em comum era essa vontade de ser notada, de chamar atenção, apenas utilizávamos métodos diferentes para isso. Mas sendo amigas uma influenciou a outra e eu passei a me arrumar mais e a falar mais também, em contrapartida ela passou a estudar mais do que normalmente.