Michael Apaixonado

O Carnaval de Inverno

A barraca que montamos no Clube do Computador era um sucesso. Estava lotada, e do lado de fora havia uma fila enorme de pessoas que queriam entrar para ver o nosso jogo, que modéstia a parte, foi um dos nossos melhores trabalhos.

Quando fizemos a nossa inscrição para conseguir uma barraca para o Clube, no dia do Carnaval de Inverno, apresentamos um jogo diferente à direção da escola. Se apresentássemos esse jogo que as pessoas estão vendo agora, além de a direção nos negar a barraca, provavelmente ganharíamos uma suspensão.

O jogo que apresentamos era bem besta e chato. Era uma missão no espaço para salvar a Terra de uma invasão alienígena. Como eu disse,chato. Montamos ele e acrescentamos algumas perguntas de álgebra, biologia e inglês, coisas do tipo, para dar uma cara de "jogo didático".

A diretoria da escola sempre aprova jogos com uma cara educativa, por isso nem reparou o quanto ele estava mal feito. Qualquer pessoa que conhecesse o mínimo sobre jogos de computador perceberia instantaneamente que ele foi feito de qualquer maneira.

Quando obtivemos permissão da escola para montar a nossa barraca no dia do Carnaval de Inverno, aí sim, começamos a trabalhar no verdadeiro jogo que iríamos apresentar ao público. Nele você andava pelos corredores da Albert Einstein High School e deparava-se com os professores em trajes digamos, no mínimo, constrangedores. Algo envolvendo pijamas e roupas no estilo dominatrix.

Todo mundo na barraca estava rindo em frente ao seu monitor, mas aquelas pessoas não me importavam. A pessoa que eu realmente queria que estivesse aqui ainda não havia chegado.

Eu estava nervoso, meu coração estava meio acelerado. Eu nunca havia me sentido assim antes, também pudera, eu nunca fiz antes o que eu estava prestes a fazer agora.

Comecei a andar de um lado para o outro e toda à hora ia até a entrada para ver se ela já havia chegado.

Tive sorte de ninguém ter estranhado o meu comportamento. Na certa pensaram que eu só estava excitado pelo fato de tanta gente ter vindo ver o nosso jogo e a barraca não ter ficado vazia como acontece todos os anos. Eu ainda não sei como é que a direção da escola ainda não percebeu que tem alguma coisa de errado aqui dentro.

Será que ela não vinha? Mas eu havia pedido tantas vezes para ela dar uma passada por aqui.

Saí da barraca mais uma vez, foi quando eu a vi.

Mia tinha vindo e Tina estava com ela. Quando elas me viram eu disse:

- Entrem!

As pessoas que estavam na fila esperando há mais tempo resmungaram um pouco, mas eu não me importei porque finalmente Mia tinha vindo.

Quando entramos na barraca Tina sentou-se em frente a um monitor que havia acabado de ser desocupado, Mia provavelmente ia sentar-se ao lado dela, mas eu fui mais rápido e falei:

- Aqui, Mia, sente-se aqui.

E puxei uma cadeira na frente do monitor que estava reservado somente para os membros do Clube do Computador. Ela sentou e ficou esperando, achava que o jogo iria começar.

Nesse momento Judith se aproximou perguntando:

- Espera aí, o que você está fazendo?

- Não, tudo bem. Eu tenho um negócio especial para ela.

Judith fez uma cara de quem não estava entendendo e saiu.

Então a tela em frente de Mia piscou, já ia começar.

Eu a ouvi suspirar.

Ela parecia um pouquinho deprimida e eu comecei a achar que talvez isso não fosse mais uma boa idéia. Ela ia partir para Genovia amanhã, devia estar com milhões de preocupações na cabeça. Talvez fosse o momento errado para dizer que eu a amava.

Porém se eu não fizesse isso agora, quando eu iria ter a oportunidade de fazê-lo?

Eu sempre gostei da Mia, mas nunca tive coragem de lhe dizer isso porque eu pensava que ela só gostava de mim como um amigo e nada mais que isso.

E então, depois que Lilly me disse que era ela quem havia me mandado aqueles bilhetinhos de amor, foi como se eu estivesse vivendo o mais surreal dos sonhos. Cara, a Mia me amava também!

Gastei horas trabalhando nessa animação de computador que eu fiz para ela e agora eu estava ali, parado atrás dela com o coração na mão feito uma garotinha, só esperando qual seria a sua reação.

De onde eu estava pude ver a animação começando. O castelo, que eu fiz parecido com o da Bela e a Fera que é o seu musical favorito, o jardim, as rosas e suas pétalas no chão. Enquanto tudo passava diante dos seus olhos eu pude vê-la ficando um pouco mais relaxada diante do monitor. Parecia que ela realmente estava gostando.

Finalmente chegou ao fim. Uma bandeira tremulava em sua frente como se estivesse flutuando no vento. Quando a bandeira parou de tremular, ela pôde ler o que havia nela.

Rosas são vermelhas

Violetas são azuis

Você pode não saber

Mas eu também amo você

E então ela gritou e levantou-se da cadeira tão rápido que a derrubou no chão.

Eu não esperava que quando ela visse aquilo viesse correndo me abraçar e me beijar, nem nada do tipo, mas também eu não estava preparado para aquela reação dela.

Ela não havia gostado. Era isso que aquele grito significava? Que ela não me amava e que eu havia, quero dizer, que a Lilly havia se enganado e que não era ela quem havia me enviado aqueles bilhetes?

As pessoas em volta começaram a rir da reação dela. Elas deviam ter pensado que a Mia havia se assustado com alguma coisa que ela havia visto no jogo.

Eu não ri. Eu sabia que ela não havia se assustado por aquele motivo.

Comecei a ficar aflito.

Mia parecia estar em uma espécie de transe olhando para os próprios pés. Eu queria falar com ela, tentar explicar o quê tudo aquilo significava.

Foi então que eu percebi o que ela estava tentando esconder com a cabeça baixa: os seus olhos. Eles estavam lacrimejando.

Céus!

Naquele momento tudo o que eu mais queria era pegar seu rosto em minhas mãos e enxugar aquelas lágrimas, que estavam prestes a cair, e que aparentemente EU havia causado. Eu realmente estava me odiando naquele momento.

Então ela puxou o braço de Tina e a arrastou para fora da barraca. Eu fui atrás dela e gritei:

-Mia!

Mas ela não olhou para trás, nem uma vez. Ela só continuou andando puxando Tina em direção aquela multidão.

Tentei segui-la, mas ela andava muito rápido. Quando eu consegui passar por toda aquela gente e estava quase a alcançando, eu vi o Kenny Showalter se aproximar para falar com ela.

Droga!

Eu havia me esquecido dele. A Mia e o Kenny ainda eram namorados. Eu fiquei confuso, não sabia o que fazer. Achei melhor os dois conversarem em paz.

Eu voltei para minha barraca, mas era como se eu não estivesse realmente ali. Eu não conseguia parar de pensar na Mia e em seus olhos cheios de lágrimas. Pensei nisso durante toda à tarde. Tudo o que eu mais queria era sair dali e conversar com ela, saber se ela realmente me amava também.