Ela andava por corredores negros, tão escuros quanto a morte, sem ver nem mesmo os próprios pés. Ela sentia o vento soprando, forte, como se quisesse carregá-la dali. Mas como havia uma corrente de ar em um corredor? Seus pés começaram a afundar, quase imperceptivelmente, como se o chão estivesse lentamente se desfazendo. Apareceu uma abertura sob seus pés, e o chão se afastou em filetes de sombra. Abaixo dela havia um abismo interminável, com uma fraca luz laranja. Mas ela não caiu. De algum jeito, o vento a segurou no lugar. Pelas vibrações que passavam por ele, ela sabia que alguém estava falando, mas o vento não a deixava escutar.

- Sarah, acorda!

Ela levantou de um pulo, coração acelerado, agarrando o braço de quem quer que estivesse do seu lado.

- Socorro... - ela disse, antes de perceber que fora tudo um sonho. - O que aconteceu?

- Você parecia que estava tendo um pesadelo, achei melhor te acordar. - Bia respondeu.

- Nossa, obrigada, era pesadelo sim.

- De qualquer jeito, já está na hora do café da manhã. Vamos?

Sarah e Bia se arrumaram e saíram rapidamente. Quando chegaram, a mesa de Hermes já estava cheia; com os filhos de Hermes mais os indeterminados recém-chegados, quase não tinha lugar para todos.

Bia e Sarah tinham chegado um dia antes, num grupo grande: Carol, Julia, Júlia, Maria Clara, Maira, Rodrigo e elas, guiadas por um sátiro jovem chamado Rafael. Sofreram dois ataques no caminho, uma hidra e um manticore, mas conseguiram sair incólumes. Assim que chegaram, Maria Clara foi reconhecida, uma coruja holográfica aparecendo sobre sua cabeça; Júlia foi reconhecida quando passavam em frente ao chalé de Poseidon, seu pai; e Carol foi reconhecida no meio de uma discussão com Sarah, quando um raio caiu quase em cima do chalé de Hermes, e ela foi para o de Zeus.

Bia, Sarah, Julia, Maira e Rodrigo ainda eram indeterminados, por isso tinham de ficar no chalé de Hermes, dormindo no chão, até seus parentes divinos ficarem com vontade de reconhecê-las. O sr. D sentou-se a sua mesa, e disse:

- Deem as boas vindas a nossos novos campistas, bla, bla, bla, vocês já sabem, a Lara, a Maria, a Ana Clara, a Lia, a Juliana e a Juliana, a Catarina e o Raimundo devem ser bem recebidos e tal. Ah, e você, garoto, estava quase esquecendo. - Ele acenou na direção de Rodrigo, e sobre sua cabeça apareceu uma videira prateada brilhante - É meu filho.

- O quê?

- É surdo, Raimundo? Você é meu filho, e aquele é seu irmão, vai sentar na mesa certa. - o sr. D resmungou.

- Meu nome é Rodrigo!

- Tá bom, garoto. Raimundo, Roberto, que diferença faz? Troca logo de mesa para eu ficar livre disso.