Tranqüilidade e Silêncio
Original: Silence and Stillness
Autora: Natalie
Parte I
Apesar de tudo o que havia acontecido naquele dia, o sono se recusou a chegar para ele. Ele se encontrava acordado, deitado e estava encarando o teto que havia se tornado tão familiar ao longo dos últimos cinco anos. Ele passou as últimas horas entorpecido, olhando ao redor do aposento e sentindo-se mais e mais culpado a cada segundo, já que ele não estava sozinho. Todos os seus amigos estavam aqui. Estavam aqui por sua causa. Aqui, na ala hospitalar.
Rodeados por nada além de tranqüilidade e silêncio.
Ele virou a cabeça para a esquerda pela primeira vez naquela noite. Rony estava deitado e dormindo na cama ao lado, inúmeras bandagens visíveis por todo o seu corpo, cobrindo as marcas deixadas pelo cérebro. Encolhendo-se de medo com a lembrança do ataque impiedoso do cérebro mais cedo naquela noite, ele desviou o olhar de Rony e virou a cabeça para a direita, em direção à sua melhor amiga, e seu coração doeu com a culpa enquanto a lembrança de poucas horas atrás voltou à sua mente…
"Como eles estão, Madame Pomfrey?"
"A srta Lovegood, a srta Weasley e o sr Longbottom foram todos curados e levados de volta aos seus dormitórios há cerca de uma hora atrás, Diretor. O sr Weasley ficará bem, mas eu decidi mante-lo em observação aqui esta noite. O sr Potter ainda está aqui também, só por questão de segurança."
"E a srta Granger?" o diretor perguntou baixinho, seus olhos movendo-se de leve em direção a cama dela, então em direção a Harry e então de volta para Madame Pomfrey de pé na sua frente. Ela se inclinou para frente, e abaixou a voz, erroneamente acreditando que Harry não poderia ouvi-la.
"Eu fiz tudo o que pude. Se ela acordar... talvez amanhã, ela vai ficar bem. Já se ela não acordar... não quero nem pensar nisso, senhor."
O diretor apenas abaixou a cabeça como um sinal breve de compreensão, e lançou seu olhar de volta em direção a Harry antes de se virar e deixar o lugar. Madame Pomfrey checou pela última vez seus pacientes antes de apagar as luzes e deixar o aposento.
Tranqülidade e silêncio.
As palavras dela perseguiram Harry durante a noite e as primeiras horas da manhã. Ele rolou para o lado assim que Madame Pomfrey deixou o aposento, e estava observando sua melhor amiga desde então. Durante horas ele a observou e esperou por qualquer sinal de que ela estava acordando. E durante horas, cada segundo no qual ele esperava estava repleto de um medo crescente com relação à vida de sua amiga.
E se ela não acordar? Ele se perguntou, um sentimento de enjôo preenchendo-o. Ela precisa ficar bem, ele disse a si mesmo. Ela não pode morrer...
Ele se sentou sem fazer barulho, e se arrastou para fora da cama bem devagar para que ela não rangesse. Ele ficou parado por um momento, de pé na escuridão, apenas o som de sua respiração alcançando seus ouvidos. Depois de um instante ele caminhou até o lado dela e sentou-se quieto na ponta da cama.
Tranqüilidade e silêncio.
Se lhe perguntassem, seria impossível para ele descrever o que ele via na sua frente. Era a visão mais bela e ao mesmo tempo mais dolorosa que já tinha passado por seus olhos. Os cachos macios de Hermione adornavam o rosto de uma forma delicada, mas com a luz da lua no aposento, era inegável a palidez de seu rosto. Ele esticou a mão e encontrou a dela, e gentilmente a segurou entre as suas.
"Hermione," ele sussurrou, sua respiração presa na garganta. Ele limpou a garganta o mais baixo que conseguiu, então apoiou os cotovelos na cama e aproximou sua cabeça da dela.
"Hermione," ele começou de novo. "Hermione eu sei que você pode me ouvir. Eu não sei como, mas eu sei," ele lhe disse baixinho, a surpresa evidente em sua voz. "Ouça Hermione, você tem que acordar, 'ta bom? Você precisa acordar e ficar aqui com a gente de novo. Nós precisamos de você aqui... " ele fez uma pausa, seu nervosismo tomando o que havia de melhor nele. "... Eu preciso de você aqui. Você não pode nos deixar, você é a terceira do trio. Onde nós estaríamos sem você?" sua voz fez outra pausa, um olhar de choque misturado com compreensão atravessando seu rosto. "Onde eu estaria sem você? E eu não to falando sobre ser reprovado em poções... eu estaria morto."
Ele mordeu o lábio enquanto um acontecimento de mais cedo naquela noite passava pela sua cabeça. Hermione, virando-se para ele para dizer alguma coisa, os olhos dela fixos nos dele e no meio de todo aquele caos que estava acontecendo no aposento, tudo o que ele pôde focalizar naquele segundo era os olhos dela. E então ele viu alguma coisa pelo canto do olho, uma chama roxa saindo da varinha de um comensal da morte, e observou com terror enquanto ela atravessava o ar em direção à Hermione. Ele olhou de volta para ela e ela ainda estava olhando para ele, sem perceber a chama indo na sua direção. Antes que ele pudesse abrir a boca, ela a havia atravessado e desaparecido no outro lado.
Ele nunca esqueceria o modo como ela tinha lhe olhado no segundo antes de cair. Seus olhos haviam encontrado os dele e ela sussurrou um pequeno "Oh."
Tranqüilidade e silêncio.
Ele havia visto centenas de coisas nos olhos dela antes de ela cair. Ele pôde ver que ela sabia o que era aquela chama, sabia o que estava prestes a lhe acontecer. Ele pôde ver arrependimento, epôde ve-la censurando a si mesma por ser tão desligada. Mas no meio de tudo isso, ele viu algo que mexeu até comsua alma. Um pedido de desculpas.
"Não se sinta como se você tivesse nos abandonado lá. Nós conseguimos sair de lá bem, Mione," ele disse, surpreso com a sensação natural que um apelido nunca antes usado deixou. Parecia pessoal, como se fosse um segredo seu com ela, e deixou uma sensação confortável. "Eu sempre quis te chamar assim. Espero que não se importe," ele a apertou ainda mais forte enquanto lutava para não deixar as lágrimas caírem. "Eu sei que não iria se importar. Espero que possa continuar te chamando assim... mas de qualquer forma, Rony e Gina e Neville e Luna e eu, " ele fez uma pausa. Sirius, ele pensou.
Tranqüilidade e silêncio.
"Sirius não conseguiu. Ele caiu-" Harry sufocou com as palavras enquanto sua visão embaçava com as lágrimas. "Ele caiu e atravessou aquele véu e simplesmente... desapareceu. Ele simplesmente se foi," ele terminou, ficando bem quieto. Ele se sentou em silêncio por alguns minutos antes de olhar de volta para o rosto dela.
"E agora você está aqui por minha causa. Porque eu fui estúpido o bastante para ser feito de idiota e ir lá. Eu devia saber. Eu sei que você sabia. Você sempre sabe tudo," ele disse baixinho enquanto se aproximava dela, deixando centímetros entre seus rostos.
"Hermione," ele sussurrou. "Eu nãosei seconsigo passar por tudoisso sem você. As coisas vão ficar piores pra todo mundo. Tudo vai mudar," ele fez uma pausa, olhando freneticamente todo o rosto dela. "Muita coisa já mudou desde que você caiu."
"Eu sei que eu nunca disse nada antes, masquero que saiba que você é a melhor coisa que já me aconteceu. Sabia disso, Mione? Eu não estaria aqui sem você. Você é muito mais do que só minha melhor amiga. Você sempre esteve lá, sempre foi... tudo. Sempre esteve lá... bem na minha frente. E quando você acordar, eu quero mudar algumas coisas... Quero te mostrar o quanto você significa pra mim," ele disse, esticando a mão e acariciando um dos cachos jogados nos lençóis. Ele deu um suspiro profundo antes de olhar para ela, sua expressão cheia de determinação.
"Tudo bem, Hermione, você vai me escutar agora. Eu vou ser o cara mandão por um minuto. Você tem que acordar. Não tem escolha, viu? Eu não vou te dar outra escolha. Você tem que voltar pra mim, porque eu não tenho certeza se vou querer seguir em frente se você não estiver l -"
Eu a amo... ele pensou, a revelação lhe acertando como um monte de tijolos. Ele se aproximou do ouvido dela, abaixou o tom da voz e então sussurrou algo que ele nunca tinha falado antes.
"Eu te amo."
Tranqüilidade e silêncio.
Ele esticou a mão de novo, pegando uma mão dela e apertando-a com força. "Eu não vou desistir de você, então você não pode desistir de mim. Eu preciso de você e só vou soltar a sua mão quando você apertar a minha. Então vamos lá Mione, abra os olhos," ele disse, esticando a outra mão para acariciar de leve sua bochecha. Sua pele estava maravilhosamente macia e definitivamente fria, que no contato com os dedos dele lhe deu arrepios. "Por favor Mione. Vamos lá, eu sei que você consegue," ele disse, observando-a com atenção.
Apenastranqüilidade e silêncio.
A faltade barulhosfoi quebrada assim que um soluço escapou de seus lábios e seu rosto caiu. Ele piscava furiosamente, tentando não chorar.
"Por favor, Mione, me dê um sinal," ele pediu.
Tranquilidadee silêncio.
Uma única lágrima cedeu e atravessou sua bochecha. O resto rapidamente seguiu o mesmo caminho.
Pela primeira vez em sua vida, Harry começou a chorar. Ele abaixou a cabeça até tocar o ombro de Hermione, dominado pela aflição e pelo desespero enquanto toda a perda e dor dos últimos quinze anos o perfuravam.
"Hermione," ele sussurrou no meio de soluços sufocados enquanto ele a rodeava com os braços e se sentava, segurando-a junto de si. "Por favor não me deixe. Eu preciso de você aqui," ele chorou no ombro dela enquanto começava a se balançar para frente e para trás, abraçando-a apertado.
Tranqüilidade e silêncio. E então...
"Harry?"
CONTINUA...
Nota da Tradutora: Ai, gente... eu comecei a chorar junto com o Harry quando li essa fic pela primeira vez... hehehe '
São dois capítulos, logo logo posto o segundo, ta?
E reviews, lógico!!! (Valew mesmo pelas reviews nas outras fics... fico contente em saber que tem gente que gosta de H/H tanto quanto eu!!! hehehehehehe)
Silvinha Potter
