Por Essas Razões
Você sempre sabe quando um casamento – o seu casamento– está para ruir. Você pode tentar mentir para si mesmo, fingindo que tudo continua bem. O fogo da paixão não cessou, você tenta se convencer. A cumplicidade que existia no início ainda está lá, você insiste em dizer.
É o melhor mentiroso aquele que mente para si mesmo.
E é difícil perceber todas as mentiras as quais nós mesmos criamos, se não há nenhum fator externo que as faça explodir, em mil pedaços, bem à sua frente; e essas mentiras riem da sua cara, porque você demorou a perceber a verdade, escondida e tímida no fundo de sua mente.
Eu demorei a perceber o quanto já não havia mais amor entre mim e Ginevra. Carinho, sim; respeito, sem dúvida. Mas o amor, a paixão, se apagara, e tudo o que restara foram as lembranças dos bons tempos: o início do namoro, cheio de novas e excitantes descobertas; os primeiros anos de casamento, repletos de viagens e sonhos e expectativas; o primeiro filho, e então o segundo, e a primeira garotinha do papai.
Dezenove anos juntos.
E em todos esses anos Ginny esteve ao meu lado, colocando no lugar todas as porções de minha alma quebrada do pós-guerra. Eu morri aos dezessete anos. Morri pelos outros. Morri porque era a coisa certa a se fazer. E ninguém morre, e volta, e continua sua vida como se tudo estivesse bem. Ninguém enfrenta o bruxo mais maligno e poderoso dos últimos tempos, vence, e continua sorrindo como uma criança que ainda tem sua inocência.
Ninguém, eu repito, ninguém, perde pais, amigos e conhecidos, e segue sua vida sozinho, sem alguém para salvar sua alma.
Ginny salvou a minha. Ela estava lá, para segurar a minha mão quando eu tinha pesadelos. Ela estava lá para espantar os fantasmas do meu passado quando a dor e as lembranças voltavam com uma força esmagadora e sufocante. Ela estava lá para me ouvir e consolar , amar e incentivar e secar minhas lágrimas, exatamente como eu precisava naqueles anos sombrios.
Mas quando se é o porto-seguro de alguém, quem é o seu?
Quem era o porto-seguro de Ginny?
Eu fui egoísta. Eu pensei em mim, e em minhas necessidades. Eu pensei no que eu sentia e precisava. Eu não pensei em Ginny. Eu não perguntei como ela se sentiu quando largou as Holyhead Harpies para cuidar de James. Eu nunca me sentei ao lado dela e conversei sobre como ela estava, o que ela achava daquela vida, quais a seqüelas dela que permaneceram depois da guerra.
Eu não a culpo por procurar isso em outra pessoa. E não a culpo por encontrar isso em Draco Malfoy. E tampouco a culpo pela vez em que ela disse estar farta de ser tratada como uma sombra minha; não pelos outros (Ginny nunca se importou com a opinião alheia), mas por mim.
Há dez anos estamos separados, e há oito, ela está casada com Malfoy.
Quando ela pediu o divórcio e contou-me sobre Malfoy, disse ter sido algo repentino. Uma faísca que surgiu em uma das muitas festas sociais em que éramos chamados, e que a faísca transformou-se em fogo, e o fogo em amor. Malfoy não a tratou como uma sombra; Malfoy já estava inteiro novamente, quando eles se "encontraram". Ela não precisou doar-se para Malfoy; ela apenas achou aquilo que faltava para que fosse inteiramente feliz; alguém que a compreendesse e completasse.
Eu não culpo Ginny. E jamais a odiaria.
Ela uniu meu corpo à minha alma, deu-me filhos, e amou-me quando eu precisei ser amado.
E por essas razões, eu serei eternamente grato.
N/b:Fic perdida no fórum 6V que eu tinha escrito para um challenge Draco/Ginny, tendo o Harry como tema. Deixar reviews não cai a mão, ok? :)
