Disclaimer: Inuyasha é propriedade de Rumiko-sensei, faço este fic sem fins lucrativos, apenas por diversão.
The Roses' Sound
(O Som das Rosas)
Capítulo Um: Sakura's
Dedicado à Palas Lis, por que Mitz-chan a ama muito! - e por que é um presente de dia das crianças!
Também como uma singela homenagem a uma amiga que há um mês não está mais conosco…
24 de julho de 2006
Era início de primavera, as flores desabrochavam com uma beleza simplesmente incomparável. As sakura's eram tão comuns nos parques de Tokyo, nas ruas, mas não eram mais tão presentes quanto anos atrás, antes de toda aquela evolução. Ver as pétalas de sakura caírem daquela maneira, e novas flores desabrocharem trazia-lhe lembranças… lembranças das quais não conseguia recordar muito bem, lembranças que nem ao menos julgava serem suas. Eram lembranças felizes, lembranças de quando ainda vivia naquele lindo lugar, há mais de vinte anos. Lembranças de quando ainda era apenas uma criança.
Estava voltando para o Japão depois de ter passado vinte anos inteiros na Europa. O seu pai se mudara anos antes por conta de seus negócios. Mesmo que metade deles tivesse permanecido ali, naquele lugar. Percorria a cidade naquele carro enorme, com uma senhora sentada à sua frente, tinha uma aparência jovem, com uma pele suave e clara. Seus olhos castanhos transmitiam a serenidade de uma pessoa com experiência de vida, de uma pessoa que sabia o que era ser mãe. Seus longos cabelos negros estavam presos num coque baixo, e o vestido delicado que usava realçava seus traços de maneira que aqueles que a vissem jamais descobririam a sua idade verdadeira, passando dos quarenta anos de idade. Ainda assim, mesmo com tanto tempo de convivência, aquela pessoa não era sua mãe, mas ocupava um lugar importante em sua vida, considerando-se o fato de que sua mãe verdadeira morrera no momento de seu nascimento.
Percebendo que estava sendo observada, ela virou os olhos para ele e sorriu-lhe, um sorriso já habitual, um sorriso que ele sempre vira desde que tinha seus cinco anos, e um sorriso que continuava ali, mesmo depois da morte de seu pai.
– O que está achando de voltar para cá depois de tantos anos? – ela perguntou-lhe, olhando-o do banco frente a ele, dentro da cabine da limusine. – Está gostando de rever sua cidade natal, Sesshoumaru?
Ele apenas meneou a cabeça de maneira positiva.
– Sabia que gostaria. – a mulher comentou, voltando a observar a rua através da janela. – Seu pai queria tanto poder voltar aqui… pena que não teve chance.
Mesmo que aquele sorriso continuasse na face jovial dela, o seu semblante conseguia transmitir certa melancolia que nunca passara despercebida aos olhos de Sesshoumaru. Uma melancolia que ele bem entendia, que vinha desde aqueles últimos dias, em que seu pai enfraqueceu num leito de hospital e resistiu até o último momento. Ela estivera lá… todo o tempo.
– Queria que seu irmão tivesse vindo… – ela disse, recuperando o sorriso sem aquela melancolia e voltando a encarar Sesshoumaru.
– Meio-irmão. – Sesshoumaru fez questão de corrigir, como sempre fazia, e ela simplesmente riu da correção dele.
– Sim, sim, seu meio-irmão. – ela concordou, continuando sua linha de pensamento logo em seguida. – Queria que ele tivesse vindo conosco, para poder conhecer a Tokyo que ele nunca viu.
– Não faria questão. – Sesshoumaru respondeu, agora ele voltava a olhar pela janela, mais uma vez apreciando as flores de cerejeira que desabrochavam em todos os lados.
– Eu sei que não faria. – a mulher comentou. – Vocês nunca fazem questão de estar um ao lado do outro de qualquer forma.
– Deixe que ele termine os estudos em paz. – Sesshoumaru disse simplesmente. – Daqui a dois anos ele poderá vir para ficar, se assim quiser.
– Espero que sim. – a mulher disse, mais uma vez fitando a rua. – Estamos quase chegando.
E o silêncio dominou Sesshoumaru mais uma vez, balançando a cabeça de maneira positiva novamente.
Aquelas ruas pelas quais passava eram tão familiares, todos aqueles lugares, parecia simplesmente estar voltando para casa. E estava, não era?
Perdido em seus próprios pensamentos e observando aquelas flores de início de primavera, esqueceu completamente de tudo ao seu redor, impressionantemente queria apenas voltar no tempo e viver dias felizes… algo estranho para alguém como ele, mas ainda assim… algo natural a se desejar quando se tinha uma vida como a sua, uma vida que parecia sem sentido.
– Sesshoumaru… – já era a terceira vez que ela chamava pelo nome dele, mas ele parecia tão absorto em pensamentos que esquecera completamente de que estava acompanhado.
Finalmente Sesshoumaru pareceu ter ouvido a voz dela e virou o rosto para encará-la.
– Nós já chegamos. – ela avisou e ele finalmente percebeu que o carro tinha parado, já dentro dos limites de uma enorme mansão, com um amplo jardim e portões de ferro bem emoldurados.
O carro estava estacionado na frente do pequeno lance de escadas de entrada para a casa principal. Tinham alguns empregados ali fora, apenas à espera. Sesshoumaru abriu a porta da limusine e saiu, apreciando a grande mansão que seu pai tinha abandonado vinte anos atrás… ela estava simplesmente perfeita, tal como ele ainda conseguia lembrar-se.
Saiu do carro e de maneira educada estendeu a mão para que sua madrasta também o acompanhasse. Ela aceitou a ajuda e saiu do automóvel, quando o motorista fechou a porta e retirou o carro da frente da casa levando até a garagem.
– Eu não lembrava como essa casa era grande. – ela dissera ainda com a mão apoiada na de Sesshoumaru, que também observava toda a casa, tal como sua madrasta.
– Provinciana. – Sesshoumaru completou, baixando a mão e permitindo que a mulher, consideravelmente mais baixa que ele, segurasse o seu braço na altura do cotovelo.
– Sim, claro. – ela concordou, sorrindo da observação. – Venha, vamos ver como tudo está lá dentro.
Eles subiram as escadas, ela deixava-se guiar pelos passos de Sesshoumaru, como se fossem um casal, ignorando, claro, a diferença de idade e o fato de ela ser sua madrasta.
Tinham duas empregadas muito bem fardadas na porta e um homem velho e de smoking que parecia ser o mordomo do lugar. Quando Sesshoumaru e Izayoi chegaram diante deles, as portas da casa aberta, como se fossem reis a serem recebidos, os empregados curvaram-se num sinal de respeito e ao mesmo tempo submissão.
O hall de entrada era enorme, com um grande lustre de cristal emoldurando-o. Ao lado esquerdo via-se uma escada que junto à parede fazia uma ligeira curva para dentro, acompanhando a forma circular do aposento. Ainda aos pés da escada, havia um portal que dava para uma nova sala. Ao lado direito deles, não havia escadas, mas mais portais que davam para novos aposentos como a cozinha, salas de estar e de jantar, sala de leitura, como o pai de Sesshoumaru costumava chamar o pequeno acervo de livros que mantinham ali.
– Está inconfundível. – a voz da mulher se pronunciou.
Ela largou o braço de Sesshoumaru que continuava parado e andou até o meio da sala, olhando tudo ao redor.
– Você ainda lembra bem desse lugar, Sesshoumaru? – ela perguntou, voltando-se para ele de maneira sorridente.
Ele meneou a cabeça positivamente. Como sempre, uma pessoa de poucas palavras.
– Vamos dar uma olhada nos quartos? – ela propôs, já seguindo na direção da escada.
Em resposta, Sesshoumaru a seguiu, observando os quadros que ainda pairavam nas paredes, com uma arte ocidental renascentista que contrastava com a arte de seu próprio país. Mas ainda assim tinha uma sala onde só se observava a cultura japonesa, com katanas penduradas em suportes, armaduras de guerreiros do Xogunato, de antigos samurais famosos que serviram para o imperador, quadros, livros, imagens… era o melhor lugar da casa, o lugar onde seu pai costumava parar e pensar.
– Eu mandei arrumarem o seu antigo quarto, e o meu e de seu pai. – Izayoi dizia enquanto terminavam de subir o lance de escadas e chegavam ao corredor do primeiro andar, onde estavam os quartos, banheiros e escritório. – Ainda pedi que organizassem mais um quarto aqui em cima para o seu irmão. Ele ainda poderá vir passar as férias aqui antes de terminar o curso.
Ela continuava a andar na frente de Sesshoumaru, com suas passadas curtas e rápidas. Parou diante de uma das portas e abriu-a, empurrando para que Sesshoumaru pudesse observar o que tinha lá dentro.
– Aqui, espero que tenha ficado a seu gosto, claro que você pode mudar tudo. – Izayoi disse, deixando que Sesshoumaru entrasse e apreciasse o quarto. – Eu vou dar uma olhada nos outros quartos, volto logo.
– Hai. – ele concordou, quando a mulher saiu, deixando-o observar o aposento.
O quarto era incrivelmente grande, ele não lembrava de ser tão grande daquele jeito quando ele era criança. Devia dar dois do antigo quarto dele na Europa, e ainda assim o antigo quarto era bem grande. A um canto podia-se observar a enorme cama de casal, na parede ao lado ficava encostado o grande guarda-roupa. Na parede oposta à do guarda-roupa tinha uma lareira rodeada por prateleiras de livros, e diante dela havia uma pequena mesa de vidro e três poltronas. Na mesma parede tinha uma porta que ele sabia ser do banheiro. E ainda havia portas com vários vitrais em forma de quadrados, escondida por um par de cortinas de seda que dava na sacada.
Ele andou até aquelas portas e afastando as cortinas abriu-as, saindo para a sacada. Ao observar ao redor, ele percebeu que aquela sacada dava para o lado da casa, dali dava pra ver perfeitamente a mansão vizinha, tão grande quanto a que ele estava agora. Era um bairro bem rico com certeza e bem longe do centro da cidade e dos transtornos de uma grande metrópole. Como ele mesmo tachara momentos atrás, um lugar provinciano.
Mas não foi a mansão vizinha que lhe chamou a atenção e sim aquele excesso de pontos vermelhos que embelezavam o jardim da outra casa. Eram flores, lindas flores que ele achava difícil encontrar no Japão em meio a todas aquelas flores de cerejeira que desabrochavam na primavera. Flores que ele apenas estava acostumado a ver arrumadas em buquês na Europa. Rosas… um lindo e enorme jardim de rosas.
Andou um pouco mais, aproximando-se da batente de mármore branco que protegia a sacada e com esse ato, viu um detalhe que ainda não tinha percebido. Uma pessoa andava entre as rosas e cuidava delas, tinha um regador em mãos, um regador simples, que usava para molhar as flores de maneira delicada. Era uma linda garota de longos cabelos negros que passavam de sua cintura. Não conseguia ver muitos detalhes daquela distância, mas ainda assim percebeu que ela tinha grandes olhos infantis. Era baixa e magra, mas tão bela e delicada quanto aquelas rosas das quais cuidava. Trajava um vestido simples e florido, combinando com a época do ano, um vestido leve que se deixava balançar pelo som da leve brisa, assim como os cabelos dela, seus pés mostravam-se descalços, como os de uma criança travessa que estava simplesmente a brincar.
Ela era tão… graciosa. Ele continuou a observá-la enquanto ela regava as suas roseiras com tamanha delicadeza que parecia que iam quebrar caso ela se descuidasse. Durante aquele meio tempo, ela não percebeu que estava sendo observada e continuou seu trabalho. Mesmo pela distância, ele ainda podia dizer com convicção que ela sorria. Parecia tão distraída e satisfeita em cuidar daquelas simples flores.
– Vejo que já encontrou algo para se distrair.
Pela primeira vez desde que seu pai morrera, ele se deixava surpreender pela presença silenciosa e sutil de alguém. Izayoi conseguiu chegar até o lado dele e observar o mesmo que ele estivera observando sem que ele sequer notasse a chegada dela. Ao ouvir sua voz, virou-se para confirmar que ela estava bem ao seu lado, também de olho na garota que cuidava do seu jardim de rosas.
– Ela se tornou uma bela mulher, não acha? – Izayoi falou, ainda observando a garota que cuidava das flores.
– Quem é ela? – Sesshoumaru perguntou, sem conseguir conter a sua curiosidade diante da figura dela.
– Ela é a nossa vizinha. – Izayoi disse simplesmente. – É a filha do dono da casa, ele era um grande amigo de seu pai. Você não se lembra dela?
– Por que eu lembraria? – mais uma vez ele indagou, deveria ele conhecer a tal mulher?
– Vocês brincavam juntos quando crianças. – Izayoi respondeu. – Ela sempre morou aí do lado.
– Brincava? – Sesshoumaru ironizou a explicação que ouvira, ao que Izayoi riu do questionamento.
– É, esqueci que você não era uma criança muito… extrovertida. – Izayoi corrigiu. – Mas vocês adoravam ver as flores de cerejeira, logo no início da primavera e no começo de outono, quando elas estavam caindo. Ou pelo menos ela gostava de ver e você fazia questão de acompanhar.
– Eu não lembro disso. – Sesshoumaru disse, e realmente não conseguia lembrar-se daquelas memórias que Izayoi lhe contava.
– É, sei que você não deve lembrar. – Izayoi disse. – Acho que a memória de uma mãe é melhor que a dos filhos.
– De qualquer jeito, como pode saber que é a mesma garota? – Sesshoumaru questionou.
– Eu apenas sei. – Izayoi finalmente desviou o olhar da mulher que cuidava das rosas e fitou Sesshoumaru, sorrindo logo em seguida. – Lembro de quando eles chegaram aqui, eu era casada com seu pai há um ano, e você tinha seis anos. Você foi comigo até a casa deles para cumprimentá-los, e ficou no jardim, com a pequena filha deles, um ano mais nova que você. Ela era tão agitada e você sempre tão quieto, ela ria e você ficava calado. Tinha um balanço no jardim deles, você costumava balançá-la quando iam para lá. – Izayoi ria ainda mais daquelas lembranças felizes… era engraçado pensar sobre o pequeno Sesshoumaru brincando daquele jeito, ainda assim sem sorrir.
Sesshoumaru ficou parado por uns minutos, apenas continuando a fitar a mulher que Izayoi dizia conhecer, e que ele deveria conhecer, de anos atrás. Mas ainda assim não conseguia associar a imagem à memória que não tinha mais. E não conseguia parar de pensar nela como uma garota e não uma mulher. Se ela era apenas um ano mais nova que ele, certamente que era uma mulher, mas seu corpo e seus olhos pareciam mais novos.
Desviou o olhar mais uma vez, seguindo para dentro do quarto e abandonando a sacada.
– Eu preciso trabalhar. – disse simplesmente.
– Claro que precisa. – Izayoi disse, acompanhando-o de volta ao quarto e deixando as portas da sacada abertas. – Você sempre precisa trabalhar.
Sesshoumaru não respondeu nada, aquele tom que Izayoi usava era bem claro para ele, ela sabia que ele queria fugir de alguma coisa, principalmente quando desviava o olhar do dela e desviava o assunto também.
– Bom, você pode precisar trabalhar, mas eu preciso descansar. A viagem foi cansativa. – Izayoi disse, adiantando-se e passando na frente dele, virando-se para falar-lhe. – Por favor, pode pedir para me chamarem quando o jantar estiver pronto, sim?
– Hai. – ele concordou, meneando a cabeça levemente num sinal positivo.
– Obrigada. – ela agradeceu, depositando um beijo no rosto de Sesshoumaru, precisando ficar na ponta dos pés para isso. Em seguida, saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Já era tão comum aquele cumprimento dela, desde que ele tinha seus cinco anos e saía para o colégio.
Izayoi era realmente uma boa pessoa. Ficava feliz por seu pai ter encontrado alguém além de sua própria mãe, a quem ele sequer tivera a chance de conhecer. E mesmo que tivesse conhecido apenas Izayoi, não tinha o hábito de chamá-la de mãe. Ela era como uma amiga, uma cúmplice e uma ótima ouvinte e conselheira, mas acima de tudo, ela era vidente. Era uma das poucas pessoas que Sesshoumaru conhecia que o conhecia tão bem quanto ele mesmo, ou talvez a única que ele conhecia depois da morte de seu pai.
Quando Izayoi saiu do quarto, na direção de seu quarto, ele hesitou em voltar até a sacada e observar aquela mulher mais uma vez. Teria mesmo ele conhecido-a? E certamente Izayoi tinha razão, então como se deixara esquecer daquela imagem que parecia tão delicada?
Não voltou até a sacada, mas saiu do quarto fechando a porta atrás de si e seguiu até o escritório de seu pai, onde tinham todos aqueles indícios de cultura japonesa e nada mais. Tal como ele, precisava pensar. Tinha muito trabalho ali no Japão, tinha que dar um jeito em toda a transferência das sedes da Europa para lá, tinha que deixar as coisas em ordem, mas tal como Izayoi, estava cansado e queria apenas relaxar… já era tarde de sexta-feira, ninguém em sã consciência pensaria em trabalho numa sexta-feira e ainda por cima depois da viagem extremamente cansativa que tivera.
Andou um pouco pelos corredores da casa, descendo para dar uma olhada no térreo. Alguns empregados transitavam lá embaixo, e sempre que o viam paravam e faziam reverência. Ele nunca dera muita importância e também não fazia a mínima questão daquele gesto voltado para si, ele não era rei tão pouco imperador.
Antes de chegar ao escritório de seu pai, parou numa das salas de estar. Notou que tinha um piano de cauda ali, todo negro e bem cuidado. Parecia estar simplesmente intocável. Ele nunca se interessara muito por aprender a tocar aquele instrumento, mas ainda assim sabia arranhar. Lembrou que quem realmente gostava de tocar era Izayoi. Sempre achou que os delicados dedos femininos eram mais apropriados para aquele instrumento. E mesmo que fosse Izayoi quem tocasse aquele piano, era o pai de Sesshoumaru que era apaixonado por todo o tipo de instrumento de corda, uma paixão que certamente ele não herdara.
Deixou a sala de lado, com a certeza de que aquele piano lhe trazia mais alguma lembrança além da imagem de Izayoi tocando-o. Parecia que conseguia lembrar-se de mais alguém que também gostava do som das músicas. Balançou a cabeça de maneira discreta, percebendo que certamente não lhe faria bem ficar preso numa sala durante o resto da tarde, tampouco cansado como estava.
Deu meia volta e saiu da mansão, andando lentamente pelos jardins, observando os canteiros e as árvores de sakura que se erguiam ao longo do caminho, notou também que naquele enorme jardim não havia rosas vermelhas como na casa vizinha, apenas pequenas flores brancas que ele não conhecia e outras diversas, mas nenhuma que lembrasse aquela beleza.
Parou um pouco e ficou observando uma árvore de sakura em especial. Ela era a maior do jardim, e parecia ser a mais bonita do local. Estava cheia de novas flores que desabrochavam sem pressa. As pétalas pareciam brilhar ao refletir parcialmente a luz do sol, produzindo pequenas sombras ao chão.
Estava mais uma vez tão absorto em pensamentos que se assustou quando sentiu uma pancada do lado direito do corpo, alguém parecia ter esbarrado nele.
A tal pessoa devia ter vindo correndo e por acidente acabara esbarrando nele e caindo no chão com a pancada, por esse fato, deveria ser alguém muito pequeno e fraco, a pancada não tivera tanto efeito para Sesshoumaru. Mas além de estar correndo nos jardins da casa, certamente que esta pessoa estava desatenta, como poderia correr e nem sequer olhar para frente? Ele virou-se para a pessoa, pensando ser um dos empregados que deveriam estar atrasados para fazer alguma coisa, mas surpreendeu-se quando virou o rosto e encarou aqueles grandes olhos castanhos e infantis, no momento, um tanto surpresos e assustados.
Sesshoumaru ergueu uma das sobrancelhas ao observar de perto a mesma garota que vira regando as rosas alguns minutos atrás. O que ela fazia ali afinal? Ainda vestia o mesmo vestido de momentos atrás, que alcançava as canelas. Seus cabelos continuavam soltos, mas seus pés agora estavam devidamente calçados com sandálias rasteiras. Ela ficou alguns minutos ali, sentada no chão apenas encarando o homem diante de si, do mesmo modo que ele, apenas continuava a fitá-la.
Quando finalmente um deles tomou uma decisão. Sesshoumaru estendeu a mão para ajudá-la a levantar, e depois de hesitar por alguns minutos, ela repousou a pequena mão sobre a dele para poder levantar-se.
– Você está bem? – Sesshoumaru foi o primeiro dos dois a falar.
Ele não soube dizer se a vergonha ou a surpresa por ter passado por uma situação daquela tinha roubado-lhe a voz, mas ela respondeu simplesmente com um menear de cabeça positivo, recolhendo a mão que segurava a dele para junto de si.
Antes que Sesshoumaru perguntasse mais alguma coisa, qualquer que fosse, ela fez uma exagerada reverência para ele, como aqueles empregados de sua casa, e em seguida virou-se, correndo na direção da saída do local. Ele estranhou a atitude dela, não falara uma palavra sequer e ao menos se desculpara. Mas talvez aquela reverência que ela tinha lhe feito fosse alguma forma de desculpar-se, mostrando respeito ao mesmo tempo.
Enquanto divagava sobre o que tinha acabado de acontecer, e pensava por que ela estaria na sua casa, percebeu que uma senhora se aproximava dele, olhando para o lado onde a mulher acabara de sair, correndo.
– Oh, Sesshoumaru-sama. – a senhora virou-se para ele, cumprimentando-o com uma reverência bem mais discreta. – Vejo que já conheceu a nossa Rin-chan.
– Rin? – ele indagou, olhando para a mulher ao seu lado.
– Sim. Ela é a filha da dona da casa vizinha. – a senhora explicou. – Será que ela saiu correndo por que viu o senhor?
– Por que ela estava aqui, Kaede? – Sesshoumaru foi direto ao ponto que lhe incomodava.
– Ah, Rin-chan adora vir aqui. Ou pelo menos adorava, quando os donos da casa não estavam aqui. – Kaede explicou. – Ela gosta de vir fazer companhia e principalmente de vir tocar piano. Ela toca muito bem.
– Isso me faz crer que ela não tenha um piano, então. – Sesshoumaru falou em seu habitual tom indiferente.
– Oh, não. Rin-chan tem sim um piano em casa. – Kaede riu da observação. – Não sei por que, mas ela gosta do piano daqui. E nunca foi nenhum incômodo deixá-la tocar, o piano ficou sempre tão abandonado, assim como toda a casa nos últimos anos.
Ele simplesmente permaneceu calado, não tinha muito mais o que conversar, mas foi Kaede quem continuou a falar.
– Ah, Sesshoumaru-sama já sabe que terão companhia para o jantar de hoje? – ela lhe disse, como se tivesse acabado de lembrar daquele detalhe.
– Companhia? – ele indagou, certamente que não fora informado daquele pequeno detalhe.
– Hai. – Kaede confirmou. – Izayoi-san convidou os vizinhos para virem acompanhar no jantar. Ela é muito amiga de Nayako-san, a mãe de Rin-chan. As duas combinaram o jantar hoje, como boas-vindas.
– Claro. – Sesshoumaru concordou com o que Kaede acabara de dizer-lhe. Era bem o jeito de Izayoi mesmo, sempre cercada dos amigos de alguma maneira, jamais ficava sozinha.
– Bom, com sua licença, Sesshoumaru-sama, eu preciso voltar para a cozinha para ver como andam as coisas. – ela disse já se retirando, sabendo que não teria nenhum consentimento de Sesshoumaru.
Então teriam companhia naquela noite… mas nem tinham acabado de chegar, ao menos descansaram direito e Izayoi já preparara um jantar para convidados. Se bem que pelo que Sesshoumaru entendera, os convidados resumiam-se em peso à Nayako. E possivelmente a filha dela poderia aparecer também.
Rin… era esse o nome dela então. Claro, Sesshoumaru devia lembrar-se dela de quando eram crianças, não era? Ele a conhecera, e aqueles grandes olhos cor de chocolate certamente não lhe mentiriam. Agora podia lembrar-se vagamente das lembranças que Izayoi mencionara.
Realmente precisava descansar. Voltou para dentro da mansão e seguiu direto para o quarto, avisando para o primeiro empregado que apareceu que não queria ser incomodado até a hora do jantar.
Subiu as escadas e seguiu para o quarto, andou até a prateleira de livros e pegou o que achou mais interessante, sobre o renascimento. Seguiu até a cama e sentou-se, encostado no amontoado de travesseiros e almofadas que embelezavam a decoração do lugar.
Começou a ler e em pouco tempo sentiu-se sonolento, acabou dormindo naquela posição mesmo, com o livro sobre o peito e a cabeça encostada na cabeceira da cama. Mesmo que a posição parecesse desconfortável, estava cansado o suficiente para não perceber.
Com o passar do tempo, despercebido pelo seu subconsciente que tomava conta de seus sonhos, apenas voltou à realidade, acordando de seu cochilo, quando alguém veio chamar-lhe pelo nome, e para que este não viesse seguido de "-sama", sabia muito bem quem deveria ser, mesmo antes de abrir os olhos.
– Sesshoumaru, querido, o jantar vai ser servido em meia hora. – Izayoi dissera, percebendo que ele já tinha acordado da primeira vez que o chamara.
– Vamos ter convidados? – ele questionou, ainda com os olhos fechados, com uma expressão calma no rosto.
– Oh, quem lhe contou? – ela perguntou encenando certa indignação. – Eu queria lhe fazer uma surpresa com as companhias.
– Claro que queria. – Sesshoumaru ironizou.
– Bom, arrume-se. – Izayoi pediu, levantando-se do canto da cama onde estivera sentada. – Quero que, por favor, me acompanhe no jantar e para receber as visitas. Faria isso por mim, Sesshoumaru?
Ele abriu os olhos, encarando-a diretamente nos olhos castanhos claros. Ela sabia que ele odiava encontros, reuniões, multidões, ou como preferissem chamar. Ficou calado por um momento, como se tentando encontrar uma maneira educada de negar o pedido. Sabia que se Inuyasha, o filho legítimo dela, estivesse ali, ele não precisaria se dar ao trabalho. Mas antes que sua mente pudesse achar alguma solução para negá-la, ela tomou a dianteira e voltou a falar.
– Não se preocupe Sesshoumaru, não terão muitas pessoas. – Izayoi disse, já adivinhando o pensamento dele, de que odiava esse tipo de encontros. – Na verdade, serão apenas Nayako e sua filha.
Nessa hora um pequeno fato veio à memória de Sesshoumaru.
– E quanto ao dono da casa? Você me havia dito que ele era amigo de meu pai. – Sesshoumaru comentou, sentando-se ereto na cama.
– Ah, Bokuseno-sama morreu num acidente de carro alguns anos atrás. – Izayoi explicou. – Agora vivem apenas Nayako-san e Rin-chan na casa. Mas não mude de assunto, Sesshoumaru. Você vai me acompanhar?
– Hai. – ele finalmente concordou. – Eu descerei em alguns minutos.
– Arigatou. – ela agradeceu, lançando-lhe um sorriso satisfeito.
Izayoi sabia muito bem que a coisa mais errada do mundo era tentar mandar em Sesshoumaru, se ele fosse para algum lugar, ou fazer alguma coisa, teria que ser por vontade própria. Ele nunca cederia a um mandado. Mas ela sabia bem como pedir. Sem esquecer de sua gentileza já habitual.
Ela saiu do quarto dele, fechando a porta atrás de si, e deixando-o com seus próprios pensamentos.
Sesshoumaru guardou o livro que estivera lendo antes de cair no sono e seguiu até o banheiro na porta ao lado, para poder arrumar-se e descer para receber os convidados. Realmente odiava aquela idéia. Mas não custaria nada, seria apenas um jantar e ponto final. Para qualquer outra ocasião, certamente poderia usar o trabalho como desculpa e fugir.
Depois de vinte minutos, ele desceu as escadas, encontrando com Izayoi na sala de estar onde tinha o piano. Ela observava as pinturas de quadros diante de si e ao mesmo tempo, alisava a aliança dourada de um casamento passado que ainda jazia em sua mão esquerda. Tinha um sorriso singelo no rosto e instantaneamente Sesshoumaru soube no que ela estava pensando. Ela sempre ficava um tanto quanto voadora quando pensava em seu pai.
Aproximou-se mais do sofá, fazendo-se perceber pela outra. Ela virou o rosto para ele e quase que instintivamente largou a aliança. Sesshoumaru sentou-se na poltrona ao lado do sofá de três lugares, sem puxar assunto nenhum.
– Ah, pensei que ainda estava ponderando sobre descer. – Izayoi dissera, com um sorriso no rosto.
Ele nada respondeu, como na maioria das vezes.
– Não se preocupe, prometo que da próxima vez eu o avisarei. – Izayoi avisou, contendo o sorriso e tentando manter uma expressão séria.
– Haverá uma próxima vez? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
– Não seja tão anti-social, Sesshoumaru. – Izayoi repreendeu, ainda assim voltando a sorrir. – Veja pelo lado bom, não vai ser nenhuma reunião de trabalho e tampouco uma visita de sócios, diretores ou conselheiros. Será apenas para passar o tempo.
– Se você diz. – ele deu de ombros, encostando-se na poltrona com braços e pernas cruzadas, fechando os olhos.
Antes que Izayoi pudesse comentar mais alguma coisa, Kaede apareceu na sala, chamando a atenção para si.
– Izayoi-san, as convidadas chegaram. – Kaede anunciou.
– Oh, claro. Traga-as até aqui. – Izayoi disse, ao que Sesshoumaru abriu os olhos para observar o que viria a se decorrer. – E mande servirem o jantar, iremos em cinco minutos.
– Hai, Izayoi-san. – Kaede respondeu, fazendo uma breve reverência e saindo do local.
Pouco tempo depois, duas mulheres entraram na sala. A mais alta dela e com feições mais velhas, que Sesshoumaru não conhecia, deveria ser Nayako. Ela tinha cabelos curtos e negros que chegavam até o pescoço, era um pouco mais alta que Izayoi, mas suas feições eram um pouco mais velhas. A outra mulher, que se mantinha um passo atrás, era um tanto mais baixa, e tinha feições que Sesshoumaru conhecia muito bem.
Izayoi levantou-se para cumprimentar a amiga de longa data e Sesshoumaru permaneceu em seu lugar. Lançou um rápido olhar para Rin, e por um segundo ela o encarou também, mas desviou o olhar o mais rápido que pôde, talvez ainda escondendo a vergonha de ter esbarrado nele e caído, ou talvez por sentir-se intimidada por aqueles olhos dourados e frios.
– Nayako! Como vai você? – Izayoi perguntou, já começando um diálogo que Sesshoumaru tinha certeza que duraria mais que os cinco minutos que ela estipulara para servirem o jantar.
– Eu continuo levando a vida, se assim se pode dizer. – a mulher respondeu, sorrindo.
– Vamos, sente-se aqui, vamos esperar que o jantar seja servido. – ela disse, indicando o sofá no qual estivera sentado.
– Claro. – a outra respondeu, sentando-se ao lado de Izayoi. Rin acompanhou-a e sentou-se também.
– Ah, claro, você deve lembrar-se de Sesshoumaru. – Izayoi indicou o único homem que estava na sala naquele momento. Sesshoumaru sentiu-se um tanto quanto excluído entre aquelas mulheres e os assuntos de mulheres que conversariam.
– Então este é o Sesshoumaru? – Nayako voltou-se para ele. – Oh, não consigo acreditar que a última vez que o vi, você era apenas um garotinho emburrado.
Sesshoumaru não gostou muito da parte do "garotinho emburrado", mas ignorou o comentário e continuou recolhido ao seu silêncio.
– Acho que posso dizer o mesmo de Rin-chan, não é? – Izayoi lançou um olhar e um sorriso a outra garota na sala, ela retribuiu o sorriso. – Como você está, Rin-chan?
Nesse momento, Sesshoumaru prestou atenção ao que ela responderia, mas a resposta não veio, pelo menos não como ele imaginava. Ainda sustentando aquele sorriso no rosto, Rin começou a fazer uma seqüência de gestos com as mãos, gestos de alguém que certamente não tinha o dom da fala… aquilo o impressionou por alguns segundos, mas talvez apenas pelo fato de que não poderia ter imaginado que ela não poderia falar, embora parecesse entender muito bem. Pela primeira vez sentiu-se realmente excluído. Não entendia o que aqueles sinais significavam, do contrário de sua madrasta que já parecia familiarizada, e claro, a mãe da garota. Não desviou os olhos de Rin nem quando Izayoi voltou a falar.
– Ah, que bom que você também está bem. – Izayoi dissera. – Eu soube que nesses últimos anos você tem vindo aqui para visitar, e cuidar do nosso piano.
Mais uma vez a mulher utilizava de uma seqüência de gestos com as mãos para poder expressar-se e a cada gesto que ela fazia, Sesshoumaru perdia-se mais ainda em pensamentos. Ela falava… anos atrás… quando eles ainda moravam no Japão. Tinha certeza de que Rin falava, mesmo não podendo confiar cegamente em suas memórias. Então o que acontecera? Será que tinha sido algum tipo de acidente?
– Oh sim, eu também estava com saudades de tocar com você. – Izayoi falou mais uma vez, respondendo aos gestos dela. – Vamos relembrar de alguma coisa depois do jantar, concorda?
O único gesto que Sesshoumaru pôde entender foi o menear de cabeça dela, concordando com a idéia de Izayoi, e parecia feliz com ela.
– Então é melhor irmos para a sala de jantar. – Izayoi propôs. – O jantar já deve estar servido.
– Claro que sim. Vamos indo. – Nayako concordou.
As três mulheres seguiram na frente e Sesshoumaru foi o último a acompanhá-las. Depois que chegaram à sala e sentaram-se, os empregados vieram para servir a comida. As duas mulheres começaram a conversar sem parar sobre centenas de assuntos que Sesshoumaru não conseguia acompanhar, estavam – numa linguagem coloquial – colocando o papo em dia. Apenas Rin continuava em seu silêncio, tal como ele. Mas claro que ela tinha um motivo muito óbvio para fazê-lo. Ela ficava apenas observando sua mãe e Izayoi conversando, e sorria, às vezes fazendo alguns poucos sinais, outras, simplesmente concordando com a cabeça. Durante todo o jantar, Sesshoumaru continuou observando a garota de maneira discreta… o silêncio nunca lhe parecera tão incômodo quando o silêncio que partia dela.
Sem que ele percebesse, ela virou-se para ele, como se percebesse que estava sendo observada, e encarou-o nos olhos. Não lhe sorriu, nem fez nenhum sinal, apenas desvirou o olhar e chamou a atenção de Izayoi para si.
– O que foi, Rin-chan? – Izayoi perguntou, virando-se para ela, tal como Nayako também fizera.
Rin mais uma vez movimentou as mãos numa seqüência de gestos totalmente desconhecida por Sesshoumaru, o que o deixava cada vez mais frustrado por não entender todos à sua volta. Depois que ela acabou com a seqüência de gestos, ela olhou para Sesshoumaru e encarou-o mais uma vez, desviando o olhar em seguida.
– Ah, Sesshoumaru… Rin queria se desculpar por hoje à tarde. – Izayoi explicou para o filho. – Ela não teve como se desculpar devidamente…
– Ahn…? – Sesshoumaru levou certo tempo para associar. Ainda era difícil ter sua madrasta agindo como tradutora do que Rin falava, ou melhor, gesticulava. – Iie, não tem problema.
Pela primeira vez ela o encarou e sorriu. Bom, ele sabia que ela tinha ouvido muito bem aquilo. E gostou da reação… parecia que ele finalmente entendera alguma coisa do que ela estava querendo dizer, mesmo que fosse apenas um sorriso.
O jantar se seguiu com Sesshoumaru voltando a recolher-se a seu silêncio, enquanto Izayoi conversava com Nayako e Rin expressava-se vez ou outra. Apenas depois que a refeição terminou, Izayoi dirigiu-se à Rin.
– Então Rin-chan, você quer tocar alguma coisa agora? – perguntou, ao que Rin respondeu com um menear de cabeça afirmativo, sorridente… – Sesshoumaru, você também nos acompanha?
Mais uma vez naquela noite, todas as mulheres presentes olhavam para ele, ele simplesmente moveu a cabeça num sinal positivo.
As seguiu de volta à sala de estar, onde estava o piano, apenas esperando para ser tocado por elas. Sesshoumaru sentou-se numa poltrona, enquanto Nayako sentava-se num dos sofás, observando a filha e Izayoi seguirem até o banco do piano, grande o suficiente para que coubesse as duas sentadas nele.
– Você lembra dessa música Rin? – Izayoi começou tocando, uma melodia suave, com as duas mãos sobre as teclas do instrumento, enquanto Rin apenas escutava de maneira atenta.
Sesshoumaru também escutava a música enquanto observava as duas mulheres, claro que aquela música lhe era familiar, Izayoi adorava tocá-la, assim como a pequena garota que sempre se sentava ao seu lado nas tardes de domingo para aprender como tocar as músicas. Ainda não estava querendo crer que aquela mulher, que não mais falava, era a pequena garota que vivia correndo até a sua casa quando eles eram pequenos, que vivia se cortando nos espinhos das roseiras por aproximar-se demais, que adorava observar as sakura's no outono e na primavera… que gostava de tocar suaves melodias que combinavam com seu jeito angelical.
Aos poucos, as mãos de Rin repousaram sobre o teclado, acompanhando a música que Izayoi começara. Era um tanto melancólica, mas não deixava de ser perfeita.
Sem que ele se desse conta, a música tinha parado, e Izayoi conversava com Rin.
– Parece que você lembra de tudo direitinho! – Izayoi dissera animada.
Rin apenas moveu a cabeça num sinal positivo. Seu sorriso era visível e bem contente pelo que parecia.
– Vamos fazer isso mais vezes, certo, Rin-chan? – Izayoi propôs e mais uma vez ela concordou com a cabeça.
Rin moveu as mãos em gestos rápidos e ágeis, dessa vez uma seqüência bem pequena para os olhos de Sesshoumaru. Como ele não a entendia, restava apenas ouvir a resposta de Izayoi ou de Nayako para que pudesse saber do que se tratava.
– Oh sim, domingo está ótimo. Você pode vir e trazer sua mãe também. – Izayoi dissera.
– Não faça disso um mau-hábito Izayoi. – Nayako prevenira. – Rin não pode ficar vindo aqui todos os dias.
– Não há problema algum, Nayako. É ótimo ter mais companhias. – Izayoi dissera.
– Eu vou dar uma volta. – dessa vez Sesshoumaru foi quem falou, levantando-se da poltrona. Ficar ali parecia sem sentido, desde que as três conversavam sem se dar conta de sua presença, e ele também não era muito de conversas, então na faria mal sair um pouco.
– Claro. – Izayoi concordou, quando o outro desapareceu pelo portal de entrada da sala, indo na direção do hall de entrada.
– Sesshoumaru parece bem mais calado que antigamente. – Nayako observou aquele detalhe.
– Não sei por que, mas ele nunca se tornou uma pessoa muito sociável. – Izayoi explicou.
– Pouca companhia, não acha? – Nayako comentou, ao que Rin apenas escutava a conversa.
Rin mais uma vez chamou a atenção para si, gesticulando para poder expressar-se.
– Oh, claro que pode ver as sakura's. – Izayoi disse.
Rin levantou-se e seguiu pelo mesmo caminho que Sesshoumaru seguira. Saindo da casa, ela andou pelo pequeno caminho entre os gramados, seguindo na direção das flores de cerejeira. Parou quando encontrou Sesshoumaru sentado num banco que tinha no meio do gramado, um pouco longe do destino para o qual ela seguia. Andou na direção dele, até parar diante do homem sentado, olhando para as estrelas.
– Hm? – foi a única coisa que saiu da boca de Sesshoumaru quando ele encarou a mulher diante de si. – O que faz aqui?
Ela não disse nada, obviamente, mas também não fez nenhum gesto indicando que queria falar com ele, apenas segurou seu punho e puxou-o, para que se levantasse.
– Mas o que…? – antes que terminasse de falar, ela o puxava para as árvores de cerejeira, virou o rosto e sorriu-lhe.
Eles pararam apenas quando estavam diante de um enorme tronco de uma cerejeira. Ela estava cheia de flores, e parecia bem mais bonita à noite, apenas iluminada pelo brilho do luar. O silêncio pairou entre os dois enquanto apenas observavam as flores, lembrando-se de coisas do passado… memórias que pareciam tão mais belas depois de tantos anos.
Rin percebeu uma pequena pétala de sakura cair lentamente, e antes que esta tocasse o chão, ela a segurou. Observou-a por algum tempo, como se tivesse algo interessante demais naquela simples pétala. Em seguida, estendeu-a para que Sesshoumaru pegasse. Por um segundo, ele não entendeu… por que ela estaria lhe dando uma pétala de sakura como se fosse uma jóia preciosa? Hesitou e em seguida segurou a pequena pétala entre as mãos.
Rin sorriu-lhe quando ele a segurou e em seguida saiu na direção da casa. Ele não moveu um dedo para detê-la… olhou-a voltar para casa por uns minutos e depois olhou para a pequena pétala.
A memória dela certamente parecia bem melhor que a dele. Deu um meio sorriso discreto quando se lembrou de algo de seu passado. Naquele mesmo jardim, anos atrás, ele lhe dera uma sakura no início da primavera, quando elas estavam desabrochando. Ela insistia tanto que as flores eram lindas e que adoraria tê-las, mas que ao mesmo tempo não queria arrancá-las. Ele encontrara uma delas já caída, e receoso, entregou para Rin, como sempre, com a cara emburrada e como se aquilo não fosse nada demais. Eles eram apenas crianças. Fazia muito tempo.
Fechou a mão com a pétala no meio e andou de volta para dentro de casa. Não voltou até a sala onde as mulheres ainda conversavam, subiu direto as escadas até seu quarto e fechou a porta ao passar, andando direto até a sacada, apoiando-se na batente e observando ora as estrelas, ora as roseiras do jardim vizinho.
Não percebeu o tempo passar, apenas se deu conta quando bateram na porta de seu quarto.
– Entre. – respondeu, sem ao menos virar-se para saber quem era. Já suspeitava.
– Sabia que você estaria aqui. – era a voz de Izayoi, ela seguiu até a sacada e ficou ao lado dele, observando as estrelas, tal como Sesshoumaru o fazia. – Elas já se foram.
– Eu… não sabia que… – antes mesmo que ele terminasse de falar, Izayoi completou, sorrindo de maneira compreensiva.
– Que Rin não podia falar? – ela sorriu de novo quando Sesshoumaru virou-se para fitá-la. – É, foi um infeliz acidente que aconteceu.
Sesshoumaru não falou nada, o que significava que ele estava consentindo para que ela continuasse a falar.
– Aconteceu cinco anos atrás. – Izayoi começou a explicar, agora olhando a casa vizinha. – Ela estava numa viagem de carro com Bokuseno. Ele perdeu o controle e acabou derrapando na pista, encoberta com o gelo do inverno. Bokuseno não sobreviveu. Rin conseguiu resistir no frio por uma incrível hora… claro que ela estava muito bem agasalhada, ou não teria sobrevivido também com os ferimentos. Bom, ela ficou com uma lesão no joelho e perdeu a voz provisoriamente.
– Provisoriamente? – Sesshoumaru perguntou estranhando o fato, esse tempo de cinco anos já durara muito, não?
– Pelo que Nayako me contou, não há nenhum problema físico que impeça Rin de falar. Talvez ela tenha ficado traumatizada, seja algo psicológico e ela não acredite que não conseguirá voltar a falar… ou simplesmente, não tem mais vontade de falar. – Izayoi disse dando de ombros. – Tudo depende apenas dela.
– Se ela fica nessa casa o dia todo… não tem necessidade de voltar a falar. – Sesshoumaru comentou.
– É, realmente. – Izayoi concordou, suspirando pesadamente. – Mas seria muito bom se ela voltasse a sair… se voltasse para a academia.
– Academia? – Sesshoumaru mais uma vez encontrava-se um tanto perdido na história.
– Oh, você não sabia que Rin era dançarina? – Izayoi perguntou, parecendo confusa. – Achei que soubesse.
– Iie. – Sesshoumaru respondeu… sequer lembrava-se de Rin enquanto estava na Europa, como saberia o que ela fazia ou deixava de fazer no Japão?
– Ela já era dançarina profissional aos dezessete anos. Fazia espetáculos individuais magníficos… dança artística e até patinação no gelo… mas depois do acidente, o joelho dela não suporta mais os movimentos… – Izayoi explicou. – Infelizmente foi algo muito triste que aconteceu. Rin deixou de dançar e de falar ao mesmo tempo e garanto que eram as coisas que ela mais adorava fazer depois de cuidar de seu jardim e tocar piano.
Sesshoumaru ficou calado por alguns minutos, apenas refletindo sobre o que acabara de ouvir. Mas mesmo com tudo isso, todo esse triste destino… ela simplesmente sorria. Sorria tanto que ele não conseguia imaginar como uma pessoa poderia estar tão feliz daquele jeito… ou ela talvez estivesse escondendo alguma coisa com aquele sorriso.
– Bom, eu estou indo dormir agora. – Izayoi disse, saindo da sacada, andando na direção da porta. – Até amanhã Sesshoumaru…
– Boa noite. – ele disse antes de ela sair do quarto e fechar a porta.
Antes de voltar para o quarto e preparar-se para dormir também, ele abriu a mão que estivera protegendo aquela pequena pétala de sakura. Observou-a por uns minutos. Era tão linda e ao mesmo tempo tão singela… simplesmente silenciosa… Rin lembrava as flores das quais ela tanto gostava agora. Uma beleza apenas de gestos e silêncio… uma beleza apenas apreciada nas flores.
Final do Capítulo Um
Olá pessoal…
Lá vem eu postando mais um fic e vocês se perguntam… essa criatura louca vai postar quantas fics até terminar alguma? Bom, esse daqui é um presente exclusivo para Lis-sama, de dia das crianças, e um agradecimento de minha parte também, não posso entrar em detalhes.
Sobre as fics que vou continuar, estou postando essa daqui também por que ela terá só cinco capítulos não importa o que eu tente fazer. E estou me presenteando por estar perto de terminar uma história. Prometo que assim que terminar essa história, farei o máximo para continuar Behind Your Eyes e Ônix, em homenagem também àqueles que estão esperando a continuação.
Espero que tenha gostado do seu primeiro presente de dia das crianças, Lis-sama! Mitz-chan gosta muito de você! -
Kissus... e até a próxima!
Próximo capítulo: "The Roses's Sound: Olhares"
