Sangrando

"Goodbye, my almost lover
Goodbye, my hopeless dream
I'm trying not to think about you
Can't you just let me be?
So long, my luckless romance
My back is turned on you
Should've known you'd bring me heartache
Almost lovers always do
I cannot go to the ocean
I cannot drive the streets at night
I cannot wake up in the morning
Without you on my mind
So you're gone and I'm haunted
And I bet you are just fine"
- A Fine Frenzy, "Almost Lover"

Ela o observa através da sala, vê seu sorriso enquanto ele escuta a outra garota falar, seus braços gesticulando entusiasmadamente porque ela sabe que tem a atenção dele. Lily senta do outro lado do cômodo e tenta não pensar em como ela queria aquele sorriso para si; em como ela queria sentar na poltrona em frente a ele e conquistar sua atenção, toda ela, toda para ela. Não era mais dela. Ela desistiu, ela jogou isso fora. Tchau, tchau, adeus.

Tentou esconder aquilo de si mesma, mas estava lá. Ela queria. Oh, ela quer. Ele só estava a alguns passos dela, mas parecia um trecho do oceano negro, a sua profundidade insondável, escura e dramática. Uma distância que ela não podia atravessar. Ela não é Deus, ela não pode andar sobre a água e invocar o milagre que iria apagar o passado, apagar seus erros e apagar o verde de inveja brilhando através de seus olhos. Ela só podia sentar, assistir e querer. Ela pode dizer adeus ao que ela poderia ter tido.

Ela gosta de imaginar que ela está se dando bem sozinha assim. Ela gosta de pensar que está enganando todo mundo. Está funcionando até agora, eles não têm uma pista; eles não prestam muita atenção nas coisas que ela veementemente nega cada dia desde que se conheceram. É um pensamento impossível – por que eles se entreteriam com aquilo, quando eles sabem, com fé nas palavras escuras e mentirosas dela, que ela não mudaria de idéia? O que eles pensariam se soubessem em como ela se benzeu, se soubessem como aquilo estava consumindo-a? O que eles pensariam se soubessem em como ela se senta a noite para imaginar sobre como o dia poderia ter sido, as palavras que ela poderia ter dito, os olhares que ela poderia ter dado e recebido em troca? O que eles pensariam se soubessem que ela diz adeus a um pedaço de si mesmo cada vez que a lua cai em adesão ao dominador e escaldante sol?

Ela se senta, recompondo-se, lendo um livro com palavras as quais ela não consegue se agarrar. Ela o ouve rir – pior, ela sabe que é falso. Ela sabe, sem dúvidas, que ele ficou tão bom naquilo, que é oco, que está rindo do nada. Ela não consegue ouvir o que ele diz em seguida, mas o som daquilo é tão errado e blasfemo, que, quando ela olha para cima, ele não está sorrindo mais. Ele está olhando para ela. Seus olhos são negros, negros como os passos que a levariam até ele, escuros como o céu que se tornou seu amigo, como as cavernas de seu coração que ecoam seu adeus ao infinito.

Ela não desvia o olhar. Ela o permite ver seu rosto. Ela deixa seus olhos o chamarem através da distância, porque é tudo que pode fazer; tudo que ela pode esperar. Ela não é Deus, ela não pode fazê-lo cruzar aquele oceano, por mais que ela deseje isso. Ela o deixa ver a culpa, o ciúme e a renúncia em seu rosto, deixa o fogo iluminá-lo para que ele possa assistir do lugar seguro em que está. Ela não sabe se ele se importa, não sabe o que ele está pensando, não sabe como ele se sente. Ela sabe o que a importa, pensa e sente, porém, aquilo era tudo que ela poderia ter tido, tudo que ela pensou que tinha que recusar. Cada pequena dúvida que ela desenterrou e confrontou que o faz olhar daquela maneira através da sala, com seus olhos escuros e tempestuosos. Era o silêncio dele. Era o poderia ter sido, o querer, era a dor do adeus.

Ela escapa primeiro, diretamente para as escadas da sua torre, uma princesa sem um príncipe. A história de amor mais bagunçada: não-correspondida, não-confessada, apagada, desconhecida. Talvez ela merecesse aquilo. Ela desistiu, depois de tudo. Foi ela – sempre era ela – que o deixou ir embora, e agora o via dando a outros. Ela o observa, porém o que vê é hesitante: meio sorrisos, meia risadas, meio abraços, carícias e beijos. Tchau, tchau, adeus. E era aquilo que a assombrava.

Tchau, tchau, adeus.