Woodstock Music & Art Fair

Por annacaribe

Foxy Lady

No primeiro dia ela surgiu como a Vênus de Bottticelli, nascida do asfalto, caminhando na direção do campus. Ele estava na porta da faculdade e embora seus amigos dissessem pra não se meter com aqueles hippies sujos, ele simplesmente não podia ignorar aquela visão. Usava um vestido florido até os pés, mas os cabelos vermelhos é que vidraram os olhos dele. Ela se aproximou dele, e com um sorriso leve convidou para que fossem ao festival. Foi embora andando como se na verdade flutuasse e o vento no vestido moldava o corpo daquela que seria sua musa.

Kozmic Blues

Seus amigos se recusaram a acompanhá-lo, então ele foi sozinho. Aquela mulher precisava posar pra ele, tinha as formas perfeitas, seria sua Vênus. Ele só precisava vê-la mais uma vez. No meio daquele mar de gente colorida, no meio daqueles cabelos ao vento, e de toda a paz e a música, ele não encontrou os cabelos vermelhos que precisava. Deixou-se levar pela música. Aquele ritmo o fazia se sentir bem.

Sunshine of your Love

No terceiro dia, somente no terceiro dia ele a encontrou. O calor e toda aquela gente o faziam se sentir mal, então ele procurou por um rio que passava na fazenda para se banhar. Como a própria Deusa do amor, nua, saída das águas, renascida, lá estava ela. Ela sorriu para ele e se vestiu sem pressa. Foi até o lado dele e sentou-se no chão. Ele a acompanhou.
-Você veio.
-Você me chamou.
-Não pensei que viria.
-Draco Malfoy, prazer.
Ele estendeu a mão, mas ela o abraçou e beijou suas bochechas.
-Ginny.
-Só Ginny?
-É assim que gosto de ser chamada. Meu nome é especial demais.
-Especial de mais pra mim?
Ela sorriu de novo.
-Não, não. Especial demais para mim.
Draco ficou em silêncio, pensando em como pedir a ela que posasse para ele, sem saber que era tão simples quanto chegar até ali.
-Seus amigos também vieram?
-Não. Só eu.
-Então está sozinho?
-Estou, e você?
-Eu também, embora eu tenha vindo acompanhada.
-Namorado?
-Eu não diria tanto. Harry é só um cara que usa os óculos do John Lennon e parece o George Harrison, e ele veio pela música. Está louco no meio da multidão, delirando a cada acorde da guitarra. E nós fazemos amor de vez em quando.
Impressionado com a simplicidade com que ela falava das coisas, Draco resolveu levar o assunto para outro rumo.
-Você veio pela música?
-É claro. E por todo o resto. E você?
-Eu vim porque você me convidou. Eu... Eu estudo arte, na faculdade onde você me viu. E gostaria que você posasse para mim.
-Eu?
-Você é especial...
Ela olhou nos olhos dele por alguns segundos.
-Eu adoraria... Mas não posso. Depois do festival, volto com Harry para a Inglaterra. Um amigo dele vai nos apresentar aos Stones.
-Ahn...
-Mas posso posar para você hoje. Você me guarda na sua cabeça e depois você me pinta.
-Eu não sei se consigo trabalhar assim.
-É claro que consegue.
-Acho que não vou guardar os detalhes.
-Invente.
-Não posso, quero fazer um trabalho clássico...
-Acho que você precisa abrir sua mente.
-Não entendi...
Ela sorriu, dessa vez um riso de quem sabe mais das coisas.

Blow my mind

Ginny puxou-o pela mão. Voltaram para o meio das pessoas e ela o guiou por entre a multidão. Chegaram a um acampamento improvisado. Ela entrou em uma das barracas, uma pequena tenda debaixo da qual havia uma pequena mesa e um colchão. Ofereceu a ele algo de beber. Ele recusou, e ela insistiu. Por fim, Draco aceitou e tomou daquele líquido.
Ela começou a trançar os cabelos, sentada no chão, quando algo estranho aconteceu. Ele sentiu a imensa e incontrolável vontade de dançar. Leva, puxando Ginny pela mão. Ouvia a música, aquelas guitarras distorcidas já não o faziam se sentir bem. Ao invés de paz, ele se encontrava em êxtase, tinha certeza que era o som que conduzia o seu corpo e lhe despertava aquele desejo de beijá-la. Seu coração estava aos pulos e ela o beijou com a mesma intensidade da música. E tudo que ele se lembra é das cores e das luzes, dançando do mesmo modo insano que fizeram sexo e amor aquela noite.

Bold as love

Amanhecia. Ele acordou procurando pelo corpo quente que fora seu travesseiro na noite anterior. Agora tudo estava frio. Ele sentia sede, fome e saudades dela. Onde ela estava? Para onde fora? Será possível que voltara para a Inglaterra sem antes se despedir?
Decepcionado, foi embora daquele lugar, agora já abandonado, onde só restavam algumas pessoas acampando e os restos daqueles três dias de música e paz.
Tudo que Draco levava dali era a camiseta com os escritos "Make love, not War" que Ginny comprara para ele. E claro, levava também o sentimento estranho, desconhecido, mas forte e arrebatador que sentiu por aquela estranha.

The birth of Venus '69

Chegou ao seu apartamento limpo, organizada, clássica, sem cores... careta. Ele não conhecia Ginny, mas imaginou a reação dela ao ver aquele lugar. Riria. E diria que ele precisava mesmo abrir sua mente.
O único canto de caos era onde guardava suas telas e tintas. Foi para o quarto em que pintava e acendeu as luzes. Uma tela em branco o esperava no cavalete. Ligou o toca-discos, pôs o único cd dos Beatles que tinha e ao som de Revolution pintou sua Vênus, cheia de cor e psicodelia, com flores nos cabelos e os dedos fazendo o gesto de paz e amor. Nua, usava apenas um colar de conchas e pedras do rio.
Terminada sua obra-prima, foi para o banheiro, ligou o chuveiro e despiu-se, encontrando o nome verdadeiro de sua musa e seu endereço escritos nas costas da camisa. Ginevra logo se encontraria com Draco, em Londres.