Ato um: Como Pete ajudou Annie ou "quem é a fracassada"?
Annie estava furiosa. Havia passado a noite na delegacia de polícia. Seu pai, que era policial, havia conseguido sua liberação, mas a ficha criminal de Annie viu-se recheada de novos delitos, além dos antigos de roubo e furto, e dos habituais de agressão física e destruição de propriedade alheia. Dessa vez ela teria que comparecer diante da juíza para receber novas reprimendas e novo período de liberdade condicional, talvez mesmo um período no reformatório, pois ainda era menor de idade. Os tiras tinham um caso bem consistente contra ela, haviam lhe dedurado, e isso levou a polícia direto ao seu armário escolar, no colégio onde estudava. Lá dentro encontraram o produto do roubo de duas noites atrás, quando ela e Marcus seu namorado, haviam assaltado a joalheria. É claro que por Marcus eles nunca teriam perdido tempo com aquela joalheria, pois ele só queria roubar um carro, para passá-lo adiante na oficina mecânica em que ele trabalhava. Annie é que num impulso depredara a joalheria e afanara as jóias.
Ela achava que sabia quem a delatara. Um idiota chamado Pete Egan. Ele era o típico filhinho de papai, viciado que queria se dar bem, comprando droga fiado e depois enrolando para não pagar. Annie havia dado uma dura nele antes do lance com a joalheria. Então, ela tinha quase certeza disso, ele a vira guardando as jóias no armário escolar. Mas aquele cachorro linguarudo iria pagar bem caro pela brincadeira de dedo-duro da polícia. Ela iria bater tanto na cara dele, que ele não teria mais condição de inalar pó, ou mesmo aspirar uma guimba de baseado. Cliente daquele tipo ela preferia que morresse. Ela iria pegá-lo de jeito, que nem o mariquinha do namoradinho dele poderia fazer nada para impedi-la. Ela iria chamar seus camaradas, Phil e Dopey, eles lhe deviam uma grana, sem falar que ela falava tão grosso quanto eles e meio que lhes metia medo. Pete Egan estava ferrado e não sabia.
Annie esperou anoitecer. Pegou um dos carros da oficina de Marcus, e junto de seus comparsas seguiu para o bairro residencial onde Pete morava. Não demorou e eles o viram. O idiota, um rapaz de estatura média, de cabelos cacheados, castanhos e olhos castanhos de filhotinho, estava todo contente e feliz da vida, com certeza orgulhoso de ser um dedo-duro de uma figa. Phil e Dopey pegaram Pete e lhe aplicaram alguns socos bem dados no estômago, depois o enfiaram no banco de trás do carro, onde Annie já o esperava. Annie continuou com o castigo. Ela havia trazido um tipo de torniquete que apertava os dedos das pessoas, ela já vira alguns caras da pesada usando aquilo. Eles literalmente decepavam os dedos dos imbecis. Annie não pensava em decepar os dedos de Pete, mas que ele iria sofrer, isso ele iria. Pete era tão mariola que já estava chorando quando ela lhe apertou o primeiro dedo.
_Isso é para você aprender a não ser dedo duro, seu vacilão.
_Aaiiieeee! Eu não dedurei ninguém...
_Foi você que me delatou para a polícia. Confessa seu desgraçado.
_Uhuuuahh! Eu não fiz isso...
_Se não foi você então quem foi, idiota?
_Aaaaiiieehhhh! Foi o Nick...
_Nick? O seu namoradinho com o rei na barriga?
_Ohohhhhh! É foi o Nick...
_Eu vou apurar essa história agora mesmo. Esse Nick não perde por esperar.
Annie então tirou o torniquete dos dedos de Pete. O rapazinho já tinha até se molhado de dor e medo, e continuava chorando baixinho como uma criancinha. Annie disse aos seus cupinchas para voltarem ao bairro residencial onde haviam pegado Pete. Ela sabia que esses Mauricinhos moravam todos na mesma zona da cidade e no mesmo bairro, para poderem controlar os pretendentes a serem seus vizinhos. Ficaram zanzando de carro por algum tempo, até que o viram. Um rapaz muito alto, com os ombros caídos e o andar trôpego de um bêbado, a despeito disso ele mantinha o queixo empinado como se estivesse observando as estrelas. Suas roupas eram caras e de grife, seus sapatos eram de uma marca estrangeira, mas no seu pulso havia um relógio antiquado que Annie poderia jurar, o pai dela tinha um parecido.
A princípio eles ficaram brincando com Nick, perseguindo-o com o carro, passando raspando por ele, o bastante para fazê-lo correr desajeitadamente e então derrubá-lo no asfalto. A seguir faziam a curva e reiniciavam a perseguição. Até que finalmente, em uma das vezes em que o atingiram em baixa velocidade, ele saiu rolando em direção ao matagal que ladeava a rua. Phil parou o carro e ele e Dopey saíram. Foram até onde Nick estava estirado no chão e iniciaram a sessão de pancadaria. Nick mesmo bem alcoolizado sentia todas as dores que lhe impingiam. Sangrava bastante e sua face estava empapada de sangue. Ele não conseguia mais ficar em pé. Seu corpo havia virado um mingau que não lhe obedecia mais. Então Annie saiu do carro. Foi até onde Nick estava, deixando dentro do automóvel, um choroso e desesperado Pete, que ficava gritando o nome de Nick entre um soluço e outro.
Annie chegou até Nick e segurou-o pelo colarinho, levantando-o.
_Diga-me agora quem é a fracassada, seu filho da puta.
Annie fazia referência a uma briga anterior no colégio, em que Nick tentara proteger Pete de Annie e sua gang. Naquela ocasião Nick a chamara de fracassada e isso a tirara do sério. Nick então levantou o queixo e fitou-a com o olho bom, pois o outro fora arrebentado por Dopey, e disse num fio de voz.
_É você. Sempre é você, mesmo agora.
Annie ficou furiosa. Largou Nick e aplicou-lhe uma bicuda na cabeça que fez com que o mesmo rodasse e caísse desacordado sobre uma pedra. O sangue escorreu da cabeça de Nick e ele ficou imóvel com o olho bom arregalado e sem vida.
Ato dois: Nick está morto e furioso ou "eu ainda estou vivo".
No dia seguinte não choveu. O sol estava num tom amarelo pálido e poucas nuvens pareciam querer estragar aquele belo dia de sol. O tempo apesar de ensolarado estava frio, e se podia dizer que a temperatura chegava a no máximo 15ºC. Nick não se importou com nada daquilo. Para ele tudo estava maravilhoso. O sol nunca fora mais radiante e até o tempo gelado parecia um suave refrigério para uma pessoa que não dormira bem à noite. Nick imaginou por que cargas d'água, tinha dormido na floresta, em vez de no seu quarto? Calculou que deveria ter estado tão bêbado que dormira na beira da estrada. Tudo isso fora culpa da sua mãe. Lembrava-se da briga que tivera com ela no dia anterior. Era sempre o mesmo motivo. Sua mãe queria sufocá-lo com os tentáculos de polvo dela. Nick lembrava-se vagamente de que levara uma surra de uma gang. A gang da Annie. Será que eles tinham batido nele até ele desmaiar? Será que era por isso que ele acordara na floresta? De qualquer maneira isso não era mais importante do que ir para a escola.
Nick foi andando até sua escola. Chegara tarde e todos já estavam em sala de aula. Ele entrou, pediu desculpas da professora e sentou-se em uma cadeira vazia. Não era a sua habitual, mas ele não queria arranjar confusão por causa de cadeiras. A professora iniciou a aula e ignorou Nick completamente. Ela agia como se ele não estivesse ali. Nick lembrou-se da mãe. Sua mãe fazia questão de saber exatamente onde ele estava. O que ela não permitia era que ele tivesse opinião e vontade próprias. Nick achou que a professora estivesse tentando lhe dar uma lição porque tinha se atrasado. Mas então todos começaram a falar dele, como se ele não estivesse presente. Nick ficou irritado, levantou-se e passou a falar asperamente com a professora e os colegas. Eles continuaram ignorando-o. Então num acesso de fúria Nick destruiu uma pequena estante de livros. Para seu completo horror a estante voltou ao normal num piscar de olhos.
Incapaz de compreender o que estava acontecendo ele saiu correndo da escola. Ele sentia, pensava, sofria, angustiava-se, gritava, chorava, pegava as coisas, segurava as pessoas, para no momento seguinte perceber que o objeto que estava em suas mãos, voltara ao seu local original, e a pessoa que ele segurara, na verdade continuara seu trajeto como se ele não existisse. Ele então ficou no meio da rua berrando e sentindo-se impotente diante do que lhe aconteceu. Alguma força sobre-humana, alguma vontade poderosa agia na sua obscura vida, transformando-o numa piada de mau gosto, num fantoche, numa aberração. Os carros começaram a passar sobre ele. Ele sentiu a dor e o susto de ser atropelado, para no momento seguinte descobrir que nada acontecera, pois era como se ele não existisse mais. Lembrou-se da surra que levara na noite anterior. Concluiu com tristeza e revolta que havia morrido.
Ele então voltou para casa e viu sua mãe. Ela estava preocupada com o seu atraso. Telefonou para diversos amigos e conhecidos. Por fim ela resolveu chamar a polícia. Nick aproximou-se dela e gritou a plenos pulmões em seus ouvidos. Sua mãe nem reagiu. A polícia veio e foi embora. Antes eles revistaram todo o quarto do desconsolado Nick, que assistiu à devassa no seu quarto como um proprietário que vê vândalos destruírem seu estabelecimento. Não havia nada que ele pudesse fazer para evitar isso. Sua mãe que também estava presente, pegou então um dos cadernos de Nick. Era seu caderno de poesias. Ela as leu pela primeira vez. Sua mãe chorou, pois era a primeira vez que ela se permitiu conhecer o coração do filho. Ela saiu correndo do quarto de Nick. Este também chorou pois compreendeu que nunca mais escreveria poesias na vida. Vida? Nick precisava acostumar-se à própria morte.
Nick estava deitado em seu quarto, quando um passarinho veio voando tão rápido que se chocou contra o vidro da janela. Ele caiu sobre o parapeito e ficou com as perninhas para cima e o peitinho movendo-se acelerado. Nick ficou com pena do passarinho. Ele queria ajudá-lo, mas lembrou-se de que no seu estado de fantasma, ele não poderia mais interagir com o que se conhece como realidade. Então para sua surpresa e espanto, o passarinho voou até ele e posou no seu ombro. Nick sorriu e pegou o passarinho na sua mão. Ficou acariciando a cabeça do bichinho e olhou para o parapeito da janela. O passarinho permanecia lá, com o peitinho mais acelerado ainda. Nick olhou para a sua mão e o mesmo passarinho estava lá também, rurrulando e bicando de leve seu dedo. Ele tentava entender o que era aquilo, quando o passarinho do parapeito parou de bater o coração. Ele então olhou para sua mão e o passarinho que estivera ali sumira.
Nick olhou de novo para o corpo morto do passarinho. Ele então entendeu.
_Eu ainda estou vivo.
Ato três: Nick conhece Annie ou "Ela é um ser humano".
Após perceber que ainda tinha um fio de vida segurando-o a este mundo, Nick saiu correndo de sua casa e foi até o matagal onde fora espancado no dia anterior. Infelizmente ele não conseguiu encontrar o próprio corpo. Chegou à conclusão de que a gang ocultara o seu cadáver. Só uma pessoa poderia lhe dizer onde achar seu corpo, a sua assassina, Annie. Nick seguiu até o bairro onde Annie morava, ele já tinha vindo ali uma vez, quando Pete quis comprar uma trouxinha. Não demorou muito ele viu a própria Annie aproximar-se e entrar num edifício. Seguiu-a.
Annie foi avisada por Phil de que a polícia estava procurando por Nick. Eles agora estavam vasculhando terrenos baldios e matagais. Ela achou melhor ficar de molho até que a poeira assentasse. Por isso e também porque tinha que ver seu irmãozinho, ela voltou para a casa do pai. Ela morava em um apartamentinho que mal cabia ela sozinha, que dirá seu pai, a madrasta, e seu irmãozinho Victor. Ao chegar lá encontrou a perversa da madrasta sentada assistindo TV, enquanto Victor ainda não havia sido alimentado. Certas pessoas só funcionavam se tivessem um diabinho cutucando-os com um tridente nos fundilhos.
_Levanta já o rabo daí sua imprestável.
_Vê como fala comigo sua marginalzinha. - A madrasta de Annie era uma mulher de média estatura, magra, loura oxigenada e tinha o rosto inchado, talvez por doença ou maltrato.
Plaft! Annie dera um tapa na madrasta.
_Este foi com a mão aberta pra te abrir as idéias, o próximo será com o punho pra aprender a me respeitar.
_Snif! Eu vou contar pro seu pai. Snif! Isso não vai ficar assim. Snif!
_Conta sua vaca, mas antes você vai alimentar o Victor. Anda.
Quando a madrasta foi fazer um sanduíche para Victor, Annie foi para o quarto e colocou os fones de ouvido. Victor foi atrás dela. Ele era um menininho de seis anos, com os cabelos alourados e olhos mortiços, acinzentados.
_Annie, por que fica fora de casa tanto tempo?
_Pergunta errada meu anjo. A pergunta certa é: Por que você volta para casa? E a resposta é: Porque eu tenho um anjinho por irmão, e eu gosto muito dele.
Annie disse isso e colocou Victor no seu colo, então colocou o fone de ouvido na cabeça dele. Deu-lhe um beijo estalado na testa.
Logo mais, a madrasta de Annie trouxe a refeição de Victor, que ficou no quarto com Annie. Então o pai de Annie chegou em casa. Do quarto se podia ouvir a mulher chorando e a voz do pai chamando por Annie. Ela levantou-se e disse para Victor não tirar o fone de ouvido. Então saiu do quarto e foi para a sala falar com o pai e a madrasta.
_Por que você bateu em Karoleine?
_Por que ela é uma vaca.
Plaft! O pai de Annie lhe deu uma bofetada.
_Você não é ninguém para ficar batendo os outros nesta casa. - O pai de Annie era um homem de média estatura, musculoso e com um bigode farto.
_Então diz pra inútil da tua mulher alimentar o Victor.
O pai de Annie bufou de raiva. Por um minuto Annie pensou que ele fosse esbofeteá-la de novo, mas ele virou-se para a esposa. Plaft! O homem esbofeteou a esposa.
_Por que não cuida melhor da criança?
_Snif! Eu cuido, Snif! Mas esse menino não coopera. Snif!
_Ele só tem seis anos, sua desmiolada. - Annie gritou para a madrasta.
Plaft! O pai bateu em Annie na cara.
_Já lhe disse para não falar assim de Karoleine.
A discussão e os tapas continuaram por algum tempo, até que o pai e a madrasta resolveram ter uma sessão de espancamento privada, indo pro quarto conjugal, de onde se podia ouvir os gritos e ruídos de surra. Annie voltou para o próprio quarto. Estava com o rosto inchado e vermelho, devido os tapas que levara do pai. Durante toda a discussão na sala ela ficou o tempo todo com o pensamento em um canivete na sua perna. Aquele que ela só usava em emergências. Mas ela já havia matado uma pessoa, não queria correr o risco de matar o próprio pai numa discussão boba. Annie tirou os fones de ouvido de Victor e colocou nela. Victor já havia acabado de comer o sanduíche que lhe trouxeram, ele deitou-se no colo de Annie e adormeceu enquanto ela lhe acariciava os cabelos. Nick passara o tempo todo encostado na parede observando Annie interagir com sua família. A visão de Annie fazendo carinho em alguém era uma coisa assombrosa para ele. Ele havia se esquecido de que ela era um ser humano.
Ato quatro: Nick perdoa Annie e Pete ou "Por sua causa eu matei um inocente"
A partir daquele momento, Nick passou a seguir Annie onde quer que ela fosse. Ele conheceu o namorado dela, Marcus, seus comparsas, Phil e Dopey, e para espanto de Nick, descobriu que Pete também estava envolvido no seu assassinato. Nick ficou abalado com a descoberta. Nunca esperara isso de Pete. Não dele. Eles eram unha e carne, inseparáveis, almas-gêmeas. Como então Pete o entregara para morte certa? Nick corria contra o tempo. Ele sabia que ainda estava vivo, em algum lugar, escondido da curiosidade alheia e da polícia. Ele sabia que se não fosse encontrado a tempo, iria morrer e desaparecer assim como o passarinho. Nick procurou Pete e ficou soprando no ouvido do amigo para dizer à polícia onde estava seu corpo. Em vez de fazer Pete cooperar com a polícia, isso teve um efeito contrário. Pete se retraiu ainda mais. Não ia mais à aula, nem conversava mais com seus pais. Pete não parava de pensar no amigo morto e no fato de que ele fora o culpado de sua morte.
Nick então voltou seus esforços para Annie. Ele voltou a segui-la. Annie foi interrogada pela polícia a respeito da altercação que tivera com Nick, alguns dias antes de sua morte. Ela tirou sarro da cara dos policiais, pois eles não podiam prendê-la baseados em uma briga na escola. Nick ficou furioso e então gritou de raiva para Annie, dizendo-lhe que ela um dia seria pega. Para sua surpresa, Annie lhe respondeu: "Nunca me pegarão". De alguma forma miraculosa, Annie podia escutá-lo. Ela, a sua assassina, era a única pessoa no mundo todo que podia ouvi-lo de além-túmulo.
Nick passou a falar coisas no seu ouvido. A princípio com raiva, pedindo vingança, mas então, pedindo misericórdia, pois ele ainda estava vivo e podia ser salvo do sono eterno. Quanto mais Nick lhe falava, mais Annie tentava ignorá-lo. Ela imaginava que era o remorso lhe afetando. Procurou fugir da cidade, para isso precisaria de dinheiro, então foi atrás do seu receptador de furtos, Greg, o proprietário de uma casa noturna. Ela conseguiu algum dinheiro por umas jóias de sua família e também uma pistola com balas. Ela então resolveu dançar um pouco para aliviar a tensão daqueles dias. Ela sentia que o fantasma do rapaz morto a seguia. Annie, que era uma moça magra e musculosa, foi para o meio do salão de danças e retirou o gorro negro de sua cabeça, soltando seus longos cabelos louros, cacheados. Nick ficou admirado com a beleza de Annie. Ele nunca a imaginara uma moça bonita. Percebeu que ela tinha sido muito maltratada, até tornar-se o que era hoje.
Após sair da danceteria, Annie foi para sua escola à noite. Procurou o ginásio de esportes. Tomou uma ducha e vestiu uma malha da escola. Deitou-se sobre um dos colchonetes de Ginástica. Ela nunca parecera mais vulnerável e humana. Lembrava-se da mãe morta e de Victor. Por eles ainda morava naquela cidade. Nick deitou-se ao lado dela e acariciava-lhe os cabelos. Disse-lhe palavras suaves de consolo. Impressionara-se com tantas cicatrizes que vira no corpo dela. Sentia muita pena de Annie. Se não fosse por sua mãe que sofria com seu desaparecimento, ele já teria deixado Annie em paz, pois já não lhe odiava mais e perdoara-lhe o gesto violento, seu próprio assassinato. Annie chorou ao ouvir as palavras de Nick. Resolveu contar à polícia onde estava o corpo de Nick. Antes de o sol nascer, ela foi para a floresta. Andou a ermo procurando pelo cadáver, não o encontrando. Ficou agoniada. Resolveu procurar Marcus, ele saberia como lhe ajudar.
Pete foi consumido pelo remorso. Foi ao sótão de sua casa e pegou um frasco de veneno. Desceu ao seu quarto e vestiu sua melhor roupa, a que ele usaria na própria festa de formatura. Fez uma carta de despedida e então tomou o veneno. Deitou-se em sua cama e esperou pela morte. Em nenhum momento ele percebeu a presença de Nick por perto, embora o amigo ficasse o tempo todo gritando com ele, puxando-o pelo braço, derrubando o frasco de veneno no chão, abraçando-o chorando, pedindo que não fizesse aquilo. Fora tudo inútil. Somente quando seu corpo material entrou em coma, foi que ele pôde ver Nick ao seu lado, observando o corpo carnal de Pete assumir uma palidez cadavérica.
_Nick, que coisa maravilhosa poder te ver de novo.
_Oh Pete, por que fez isso?
_Eu sinto muito Nick, eu não queria. Eu te amava meu amigo. Eu fui um fraco, covarde. Eu...
Pete começou a gritar horrorizado com a visão de seu corpo convulsionando, e expelindo uma espuma rosada pela boca.
Os pais de Pete bateram na porta. A polícia queria interrogá-lo novamente. Como Pete não atendeu, eles usaram uma chave reserva e entraram no quarto, pressentindo algo ruim. Ao verem o corpo do filho naquela situação começaram a chorar. O policial que estava atrás de informações chamou o SOS. A detetive do "caso Nick Powell" olhou tudo no quarto de Pete e acabou achando a carta do suicida. Nela Pete contava onde tinha escondido o corpo de Nick a mando de Marcus, namorado de Annie. A detetive deu o alerta na mesma hora.
O tempo todo, Nick ficou consolando Pete. Tentava fazer o amigo acalmar-se com a visão da própria morte. Nick temia perder Pete rapidamente, caso o corpo de Pete não resistisse ao envenenamento.
O SOS chegou e levou o corpo de Pete em coma para a Unidade de Terapia Intensiva.
Enquanto isso, em um terreno baldio, Annie estava com a pistola destravada e engatilhada, apontada para a cabeça de Marcus. Este estava de joelhos com os braços abertos em cruz.
_Por que você me delatou Marcus?
Marcus fez um movimento como quem vai levantar-se. Annie bateu-lhe na cara com o cano da pistola. O sangue começou a escorrer da sobrancelha de Marcus.
_Porque você estava fora de controle, sua louca. Poderia me prejudicar. Como aliás acabou de fazer.
_Por sua causa eu matei um inocente.
Marcus riu abertamente. Annie ficou furiosa e bateu com a coronha na cabeça de Marcus. Este gritou de dor e o sangue começou a escorrer de sua cabeça.
_Não ponha a culpa em mim, sua psicopata. Você o matou porque é uma louca sanguinária.
_Onde você escondeu o corpo?
_Está no lago da represa. Quando as comportas se abrirem, o corpo ficará submerso.
Ao dizer isso Marcus fez um movimento rápido e atacou Annie agarrando-se à sua cintura. Este movimento brusco a pegou desprevenida, fazendo com que ela caísse no chão, com Marcus por cima. Os dois rolaram no barro e a arma disparou. Marcus levantou-se e pegou a arma que estava ao lado do corpo de Annie. Ele então saiu correndo e entrou no seu carro e fugiu, deixando Annie de pé ao lado do seu corpo carnal estirado no chão, agonizante, com uma perfuração à bala um pouco abaixo do coração.
End of Chapter 1
