Campanha anti-DST
Era mais um dia comum de outono. Os gêmeos cuidavam normalmente de seus afazeres... ou melhor, Saga cuidava de seus afazeres. Kanon se deliciava com um aperitivo de xerez... e não deixava de estar meio "alto".
- Kanon... leve as coisas mais a sério! - ralhava Saga, enquanto tentava preencher um relatório o qual Atena pedira de si. Mas quem disse que Kanon sossegava...?
- Un... Saguinha...! Você assim, todo bonito... de costas... fazendo o relatório... me lembra de uma coisa que eu estava muito a fim de comer essa tarde...
- O que? - indagou Saga, sem tirar os olhos do papel que preenchia com cuidado.
- Rabada! - e ao dizer isso, bateu com força nas nádegas do companheiro. O mais velho, surpreso, deu um gemido de dor e se virou para ralhar com o gêmeo.
- Kanon, seu louco! Eu estou tentando trabalhar, sabia?
- Ah, eu sei... é que você tá tão bonitinho com esse traseiro virado pra mim...
Em seu costumeiro despudor, Kanon já ia querendo apalpar a bunda do gêmeo por baixo da roupa... mas o gêmeo o interrompeu.
- Agora não! Aliás, Kanon... tem um recado que Atena me deu! Ela quer falar com você. E quer que você desempenhe uma tarefa. Entendeu? Só você!
- Hum...? Eu meio tonto desse jeito?
- É, quem manda se embebedar feito um idiota em hora errada? Agora vá lá e deixe eu e meu traseiro terminarmos o relatório em paz, sim?
- Hum... sei. Tá bom! Mas deixa eu lavar o rosto primeiro... pra causar uma melhor impressão, né?
Ainda meio atônito, Kanon tropeçou nos próprios pés algumas vezes antes de chegar ao banheiro. Lavou o rosto, o qual parecia um tanto quanto inchado e vermelho pela bebida... portanto esperou passar um pouco aquele ardor e enfim se dirigiu à sala de Atena. Enquanto ia, resmungava alto consigo mesmo.
- Hunf... Saga besta. Me despachou só pra eu parar de beber e de bolinar aquele patrimônio todo que ele tem!
Ainda resmungando um pouco quando chegou à sala de Atena, se concentrou e tentou adquirir uma postura mais respeitosa e sóbria quando a avistou no lado extremo da sala. Fez uma reverência e a saudou.
- Senhora, meu irmão disse que necessida de meus préstimos. Em que posso servi-la?
- Oh, Kanon, já veio? Eu disse a Saga que não precisava ser tão urgente!
O caçula passou a resmungar internamente.
"Cacete, tá vendo só como queria se livrar de mim, o safado?"
- Bem, senhora... de qualquer forma, aqui estou. Antes resolver as coisas de maneira adiantada, do que de maneira atrasada.
- É verdade. Bem, Kanon... lembra daquela vez, em que eu pedi a todos os membros do Santuário para fazerem um exame de detecção de DST¹?
- Ahn... sim, eu lembro.
- Lembra também de quando seu exame deu negativo em todos os quesitos, a despeito de todos saberem que você tinha vida sexual mais ativa até mesmo que da maioria?
- Er... lembro sim.
Kanon começou a achar aquela indagação toda muito estranha. Afinal, por que aquilo tudo estava sendo levantado pela deusa com tanta veemência? Ele, no entanto, não precisou esperar muito para obter uma resposta.
- Falo disso com você, pois preciso de algo... de um favor seu. Você, como atual Sacerdote Adjunto do Santuário, é uma figura influente, o qual pode muito bem fazer a cabeça de muitos.
- E-er... sim, mas pra que? Se me permite perguntar...
- Há algumas pessoas no Santuário com incidência absurda de DST... absurda! E não aceitam ficar com menos sexo do que costumam ter... então... você poderia muito bem lhes ensinar como lidar com isso!
Kanon teve um sobressalto. Que? Ele? Mas como?
- S-senhora... como, como deseja que eu faça isso...?
- Ah, Kanon... todos sabem que você é uma pessoa de vida sexual bastante ativa, no entanto é "limpo" de doenças. Logo... você seria o melhor para lhes influenciar a usar isto e ficar limpos também!
Logo, a deusa tomou de uma pasta que havia no fundo da sala... e lhe deu.
- O-o que isso aqui dentro, senhora?
- São preservativos.
O coração de Kanon deu um salto. Preservativos!
- A-a-aquelas coisinhas gelatinosas... que o pessoal usa no... no... ah, a senhora sabe! Pra não engravidar e não pegar doenças?
- Isso. Já tinha ouvido falar?
- Bem... já². Já, mas... nunca precisei usar de fato.
- Eu sei. Mas mesmo assim, só sua imagem já trará credibilidade a todos.
- E-eu as distribuirei para as pessoas na rua...?
- Não! Você fará um discurso para o povo, e os soldados rasos distribuirão. Sim?
- S-sim... só tenho receio de ter de lidar com uma mentira. Afinal de contas... eu não uso isso com o Saga!
- Não usa... mas é como eu lhe disse: só a influência já seria tudo!
- Bem... se não há como recusar, não há como recusar! Quando será?
- Amanhã à tarde! Leve a pasta para casa, que amanhã eu lhe chamarei!
O gêmeo caçula de Saga fez uma breve reverência, e saiu se sentindo estranho. Bem estranho. Afinal, de qualquer forma ela era uma deusa. E uma deusa falando daquela forma tão franca sobre campanha de preservativo... mas se ela pedia, fazer o quê!
Foi andando até em casa, pensando em como executaria aquela tarefa. Quando chegou em casa, Saga o viu e reparou que trazia um embrulho estranho em mãos...
- Que é isso, Kanon? Atena quem lhe deu?
- Sim...
- O que é?
- Abra e veja com seus próprios olhos...
O mais velho dos Cavaleiros de Gêmeos abriu... e viu um monte de camisinhas.
- Kanon! Tá vendo só, até a deusa repara que você quer meter demais! Mas vem cá, pra que ela te deu camisinhas se homens não engravidam?
- Saga...
- Vai me dizer que você andou pulando a cerca por aí!
- Saga! Não!
- Então...
- Essas camisinhas não são pra gente, e sim pro povo!
- Hã...?
- É, vou fazer um discurso pro povo, porque o povo é quem anda cheio de DST! E depois vou distribuir isso! Entendeu?
- Ah... então não é pra gente!
- Não, né! A não ser que queira pegar algumas e se divertir, como fizemos daquela vez...
- Bem... já que tem tuuuudo isso pro povo... é, acho que podemos sim!
Ambos os gêmeos sorriram e foram para o quarto... testar aquelas coisas que para si pareciam tão curiosas! Mas de qualquer forma, Kanon precisava saber o que falar para o povo quando a hora do discurso chegasse...
OoOoOoOoOoOoO
O dia seguinte enfim chegou. Saga tinha de terminar seus relatórios, enquanto Kanon precisava dar a tal palestra... Atena mesmo o estava esperando na que antigamente era a Sala do Grande Mestre, e hoje competia a ela. Kanon olhou pro Saga...
- Saguinha...
- Hum?
- Vai comigo na palestra...
- Vou nada... olha o monte de relatório que tenho pra terminar!
- Saga!
O mais velho observou o gêmeo e o viu com aquela famigerada cara de pidão.
- Saguinha, se você me ajudar tudo vai melhorar...
- Não!
- Você é meu marido, Saguinha...
- E daí?
- Daí que além de marido é meu irmão gêmeo... vai lá, Saguinha!
- Não! Tem de aprender a se virar sozinho de uma vez por todas, Kanon!
- Uuuunnnn! Pois está bem, se não quer me acompanhar, vou só! Humpf!
Inconformado, o mais moço passou pelo gêmeo e lhe aplicou um tapa na bunda. Saga reclamou mais uma vez, como sempre fazia, mas deixou pra lá.
- Ah, Kanon, Kanon... sempre infantil!
O caçula foi, com raiva, inconformado, para a tal palestra. Tentou respirar fundo e entrar em paz, sossegado...
Um palanque havia sido armado na frente da entrada das Doze Casas. E, é claro, Atena estava lá, acompanhada de criados. Um pouco nervoso, Kanon pigarreou e subiu no tal palco. Porém, antes dele ainda, Atena tomou a palavra.
- Senhoras e senhores presentes! Estou eu e Kanon, o Sumo Sacerdote adjunto, presentes aqui pois a incidência de pessoas com doenças sexualmente transmissíveis tem crescido nos últimos tempos. Portanto, ele tem uma mensagem a passar para vocês. Kanon! A palavra é sua.
Meio sem saber o que dizer, o gêmeo mais moço subiu no palanque e por alguns segundos ficou encarando a platéia, sem saber o que dizer. Pigarreou, e depois começou a falar algo de improviso mesmo:
- Er... pois é, galera. A Deusa diz que vocês estão com DST demais. Pois é. Vocês não pensam antes de fazer sexo não?
Todos ficaram em silêncio. Até que um teve coragem e levantou a mão:
- É uma das poucas diversões que ainda temos!
- É, eu sei! Eu também penso e faço muito isso, que nem sou de ferro... mas pensem bem, gente! Se isso tá dando doenças, é porque algo não tá saindo lá muito bem!
Silêncio novamente. Alguns riam, pensando na forma coloquial e interativa da qual Kanon se utilizava para falar com as pessoas. Logo em seguida ele falou:
- Bom, gente! Não sei se conhecem isso daqui - e então ele ergueu um dos preservativos que trazia na pasta. Todos olharam como se ele mostrasse a coisa mais estranha do mundo.
- É, gente - o gêmeo mais novo continuou - Isso é o que chamam, no mundo lá fora, de preservativo. Sabe como funciona? É assim, ó!
Sem cerimônia, ele retirou a coisinha redondinha da embalagem, desenrolou e mostrou pro povão.
- Sabem? Pois é, isso daqui a gente desenrola... e coloca no bilau. Ééééé, bilau, pinto, pau, chamem como quiserem! O órgão sexual masculino, tá? Então, pra que serve? Pra não entrar em contato direto com o órgão sexual da outra pessoa, seja ela homem ou mulher, e não pegar DST. Também serve pra evitar gravidez. Tomem cuidado pra não deixar ar na ponta, senão estoura! E coloquem só quando o pau estiver duro! Entenderam? Se não entenderam, o pessoal que vai entregar explica direitinho! Ó, guardinha, entrega pro povão aí...
Kanon entregou a pasta pra um dos guardas, o qual fora incumbido de entregar as camisinhas pro povo. Mas uma pessoa ainda levantou a mão e questionou Kanon...
- Senhor... me desculpe perguntar, mas isso funciona mesmo?
- Não sei, rapaz. Mas deve funcionar, né! Não iam fazer uma desgraça dessas pra não funcionar.
- Não sabe...? O senhor não usa?
Silêncio total e sepulcral. Kanon coçou a cabeça, pensando no que falar. E enfim decidiu não mentir.
- É... não, não uso não. Já usei algumas vezes como curiosidade, mas depois nem usei mais.
Todos o olharam perplexos.
- Por que, então, o senhor nos pede pra usar isso?
- Ora...! Porque... porque vocês metem com todo mundo! E aí, vou fiscalizar o pau, a bunda e a xana de todo mundo?
Todos ficaram surpresos com a linguagem chula de Kanon. Alguns, até mesmo constrangidos. Mas ele continuou:
- É! Como não posso e nem devo fiscalizar, tenho que pedir pra vocês usarem isso!
- Mas senhor... se o senhor não usa, como não fica doente?
- Ah, eu só transo com o meu marido. E ele comigo. Esse é o nosso segredo pra não pegar nada!
A platéia o olhou perplexa. Ele ainda arrematou:
- É, mas como ninguém é obrigado a fazer o mesmo, usem camisinha por via das dúvidas, tá? Agora o titio Kanon precisa voltar pra casa! Tchau! Ei, soldado, distribua bem as coisas aí pro povo, tá? Vou nessa!
Sentindo-se estranho, o gêmeo de Saga desceu do palanque e foi pra casa. Ficou pensando, e pensando... e concluiu que enfim havia feito a coisa certa. Afinal, pra que mentir, dizer praquele povo que usava camisinha, quando não usava?
OoOoOoOoOoOoO
Em casa, Saga terminava os relatórios.
- Ufa! Enfim, consegui acabar! Agora só falta mandar para a Deusa... AI!
Kanon sorriu, surpreendendo o marido com mais um tapa na bunda.
- Kanon! O que é isso?
- Nada... só não resisto ao seu traseiro!
- Hunf! Mas e aí, como foi a palestra?
Surpreendendo ao gêmeo, Kanon o abraçou por trás.
- Eu falei a eles os benefícios de usar camisinha... mas quando me perguntavam se eu usava, eu falei a verdade...
- Jura? Mas Kanon! Se você falou que não usa... eles não vão se sentir incentivados a usar!
- Mesmo assim... expliquei porque não uso. E expliquei que se eles têm múltiplos parceiros, precisam usar... eu, que não tenho... posso ficar sem.
- Sei... quero ver se essa campanha surte efeito, hein!
- Quem sabe... ao me ver só com você, esse povo toma jeito e se torna monogâmico também!
Os dois riram, e foram para a habitual "farra"... pois afinal, depois de palestra e relatórios, nem os Grandes Mestres do Santuário eram de ferro!
FIM
OoOoOoOoOoOoO
¹Vide a fic "Civilização externa"
²Vide a fic "Civilização externa" de novo. Rs!
Mais uma fic!
Agora ando em ritmo mais lento, mas as fics estão enormes! Rs! Mais uma com mais de 2000 palavras!
Beijos a todos e todas!
