Disclaimer: Como qualquer outra coisa, não me pertence.
N/A: Para minhas queridas megalomaníacas, uma despedida do fandom tão querido.
Reminiscências de um adeus
Por Lally Y K
O ano tem 365 dias. Alguns, 366. A exatidão de horas não confere com o número de dias, por isso inventaram um dia a mais para cobrir uma lacuna de quase 6 horas durante os trezentos e sessenta e cinco que se repetem até chegar ao ano bissexto.
Em um ano, tudo pode mudar. A vida muda, as circunstâncias mudam, as impressões, os desejos. Parece pouco para um simples ano, mas tem anos em nossa vida que nos marcam de maneira profunda, definitiva. Um ano, um aninho apenas, um ano que pode conceber uma vida, que transforma uma vida inteira em uma morte, um ano para reconstruir o que um dia apenas destruiu, uma hora, um minuto, uma frase.
Eu te odeio.
Às vezes, levamos um ano para nos desfazer daquilo que pessoas demoram geralmente dias, horas até. Somos apegados ao passado, de forma que ele se projete no presente e nos dê a segurança de um futuro previsível e real, nos esquecendo sempre que a vida é dinâmica demais para nossas próprias ambies.
Um ano.
O que é um ano? Todos os anos da minha vida tiveram algo que não pude esquecer. Apesar de ter vivido alguns pares de anos, posso perceber que a cada ciclo de dias algo acontece dentre tantos dias, horas e minutos que irá me marcar para sempre. O que é um ano de vida para alguém que não tinha vida alguma? E se nos déssemos conta - talvez tarde demais, talvez não - que este um ano que se passou poderia ser nossa última chance para resgatar a centelha do que éramos há um ano atrás?
E se não quiséssemos ser constantes vítimas do nosso desespero dinâmico de ver o tempo passar sem freios, e deixar de desfrutar um ano que fosse por inteiro com calma, a fim de perceber as nuances tão singelas e até mesmo tão incoerentes dos acontecimentos que se sucedem a cada momento?
Eu não tenho nada para falar com você.
Talvez, e somente talvez, esse ano nem fizesse tanta falta, tanta diferença, se os outros anos fossem igualmente insossos. Se essa falta de vida preenchesse cada uma das escalas de falta de cor desta existência incompleta. Se talvez se desse conta de que em um ano descobrisse que a vida inteira podia se resumir àquele um ano e simplesmente o resto podia ser jogado fora, reinventado, reescrito.
Eu te amei tanto, mas não amo talvez eu até ame, mas não sei mais estar com você.
Às vezes, a realidade é triste. Dói ouvir o que não queremos, com a mesma ansiedade que ouvimos o que mais almejamos escutar. É uma questão de escolher estar pronto para qualquer coisa que for dita, e não esboçar reaes por não receber aquilo que esperava. A vida é um eterno aprendizado de como tudo é remoto, passageiro e distante. Assim como pessoas. Assim como sentimentos.
Eu esperava que o amor não fosse assim.
Mas eventualmente, um ano da minha vida me ensinou que os conceitos sólidos os quais sempre gostei de me apegar estavam errados. Eram vazios, obsoletos e inúteis. Por isso, deste ano em diante decidi viver a ausência do que é viver.
Vivi ausente, presente, passageira, nunca permanente.
E assim, descobri que o amor é desta mesma forma. E por isso, é mais difícil dizer adeus à ele.
Eu não me importo, ela chorava, segurando a carta de despedida sobre seu travesseiro. Das reminiscências de seu adeus, só o cheiro de menta da fronha. E mais nada.
Fim.
A você, caro leitor, cabe o papel de julgar se é digna ou não.
E fica aqui o meu adeus, quem sabe eu volte?
Beijos,
Lally
