Falso Dilema

por Ireth Hollow


A chuva batia intempestivamente no vidro, qual visitante ansioso por entrar. As gotas de água eram, contudo, indistinguíveis: uma espessa bruma fazia-se impor naquela manhã de Inverno, mergulhando todo o castelo num antecipado crepúsculo.

Um vulto deslocava-se por entre as sombras, gozando de uma clandestinidade adicional. Parecia dirigir-se para todo o lado e para lado algum, tal era a rapidez e a dúvida dos seus passos.

O problema de Rowena era precisamente esse: necessitava de tomar uma decisão urgentemente. Havia muita coisa em jogo… O destino da escola e, quiçá, da própria sociedade pendia sobre os seus ombros!

Sempre fora considerada inteligente, o que, aliado a uma certa firmeza de espírito, contribuía para que as suas escolhas fossem as mais acertadas. No entanto, o dilema que, desta feita, lhe surgia provava ser mais difícil de resolver, dado que os seus sentimentos ameaçavam toldar-lhe o discernimento.

Slytherin iria abandonar Hogwarts, a menos que ela tomasse o seu partido. Ele mesmo lho dissera, num ultimato desesperado e intenso, por entre juras de amor. E ela não queria que ele partisse; amava-o demasiado, não obstante o seu carácter preconceituoso e obstinado. Porém, a sua mente gritava-lhe que calasse o coração, pois ceder-lhe ditaria uma drástica viragem na política de Hogwarts – algo com o qual não estava de acordo.

Rowena sempre fora elitista. Afinal, escolhera ensinar somente os mais inteligentes, a despeito de todas as outras características. Por esse motivo, considerava que havia tanto mérito e dignidade na mente de um Muggle quanto na de um feiticeiro, desde que fossem igualmente brilhantes. Era uma convicção fortemente implantada no seu ser… tão forte que nem o seu amor por Slytherin a conseguiria desenraizar.

O seu dilema resumia-se, pois, a uma simples ilusão: nunca tinha considerado verdadeiramente ceder à vontade do outro, embora o desejasse. Iria sofrer, iria chorar – não eram lágrimas aquilo que lhe banhava a face já? -, iria ter de criar o pequeno ser que se desenvolvia dentro de si sozinha. Mas, pelo menos, sentiria a secreta satisfação de não ter agido contra os seus princípios.

Perante o querer e o dever, ela escolheria o que estava certo, convencida de que a sua opção, embora fosse a causa da sua dor, seria a salvação do mundo. Perdoe-se-lhe, então, a presunção de que poderia mudar o que já estava destinado…


N/a: Review?