Demi's POV
Já tinham se passado dois meses. Dois meses que eu não via Miley. E finalmente eu estava voltando pra casa. Eu e Miley só conversavamos por sms, telefone e pela internet, mas não era a mesma coisa. Eu não sabia para onde ela estava indo, o que ela estava fazendo e com quem. Muita coisa poderia mudar em três meses, mas meu amor por ela continuava o mesmo. Pelo menos eu já estava chegando. Poderia matar minhas saudades, e tê-la perto de mim novamente.
Meu celular começou a tocar ''By Your Side'' do Lifehouse e eu levei um breve susto. Esse toque era especial, e eu tinha colocado-o para toda vez que Miley ligasse. Sorte que o sinal estava vermelho e eu pude atender, bem, eu tenho uma regra: não gosto de atender quando estou dirigindo. Me acho bem certinha com essas coisas de trânsito. Tenho pavor desde... Enfim, atendi e era ela.
– Demi, Demi? Você já está chegando? – perguntou Miley com a voz baixa
– Já estou em Dallas, amor. Perto de sua casa. – falei em um tom normal.
– Uhm... Então passa logo aqui, precisamos conversar. – disse Miley permanecendo com um tom de voz baixo. – e não se preocupe, meus pais não estão em casa.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Miley já tinha desligado o telefone. Estranhei, mas continuei dirigindo, levemente preocupada. Lógico, Miley nunca tinha sido fria comigo assim no telefone. Tive um pressentimento ruim, acompanhado por um leve aperto no peito.
Eu e Miley tinhamos um relacionamento meio que secreto. Apenas nossas amigas mais próximas sabiam que a gente namorava e também os meus pais, que são super liberais e aceitaram numa boa o namoro. Os pais de Miley eram evangélicos e não suportavam que duas garotas se relacionassem, bem, do modo que a gente se relacionava. Eu já tinha incentivado Miley várias vezes a contar, mas ela sempre recuava. Isso me deixava triste, mas uma parte de mim me dizia para entender o lado dela. Eu e Miley começamos a namorar no 3º ano do Ensino Médio. Nós sempre fomos bastante unidas e nos conhecemos desde a infância. Meu carinho por Miley começou a aumentar e já não era um sentimento mais de amizade. Posso dizer que a nossa ''turminha'' era a mais popular da escola e os meninos desejavam Miley loucamente, fazendo com que eu morresse de ciúmes. Não podia fazer nada, agia como uma simples amiga, igual era antes. Quando ainda estudávamos, fazíamos coisas das quais me arrependo amargamente e lembro que foram infantis. Por sermos populares, menosprezávamos os nerds, os estranhos, ou qualquer outra pessoa que não chegasse a nossa altura quando o assunto era beleza. Lembrar daquilo era frustrante, hoje em dia lembro que não passava de uma infantilidade, um modo de diversão medíocre. Miley incentivava todas a fazerem o mesmo e era a mais cruel quando o assunto era humilhar alguém. Apenas observava Miley fazer e obedecia qualquer coisa que ela me pedia, como por exemplo, empurrar uma nerd esquisita na lata de lixo. Agora estou com 20 anos, cursando faculdade e me arrependo de cada pessoa que humilhei.
Quando contei para Miley que estava apaixonada por ela, ela ficou imóvel e não sabia o que dizer. As palavras sairam depois que eu roubei um longo beijo da mesma. Logo depois disso Miley falou que sentia o mesmo, mas estava com medo de admitir que estava apaixonada por uma garota - pelo fato de ter sido sempre hétero - e me disse que namoraria comigo se nosso namoro fosse secreto e se ninguém soubesse do mesmo. Concordei de acordo com o que eu sentia, e eu a queria de qualquer jeito. Era duro para mim não poder assumir na frente de todos que aquela bela garota estava comprometida - e comigo. Era duro não poder beijá-la na frente de todos, somente quando estávamos sozinhas em algum lugar no qual não vissem qualquer ato romântico.
Cheguei na porta da casa de Miley e ela estava sentada em um banco que tinha na varanda que se encontrava na frente da casa dela, fumando um cigarro e tremendo violentamente. Assim que viu meu carro sendo estacionado, a mesma correu rapidamente em minha direção.
– Demi... Que saudades! – disse Miley correndo até mim e me dando um abraço apertado. – Nunca passamos tanto tempo separadas. – completou ofegante.
– Eu senti muito a sua falta, você não tem noção do quanto. Pensava em você toda hora lá na casa da minha avó. – falei, ainda abraçada pelos braços finos de Miley. – Nunca mais vamos ficar separadas tanto tempo assim, eu prometo. – completei, separando-me de Miley.
– Eu não sei Demi, não depois do que aconteceu ontem. – disse Miley, se sentando na escadinha que tinha na porta de entrada.
– O que aconteceu? – a preocupação na minha voz estava visível.
– Contei sobre nós aos meus pais. – disse Miley, olhando para o chão.
– Qual foi a reação deles? – naquele momento me sentei ao lado de Miley e observei uma lágrima caindo de um dos olhos da garota.
Não gostava dos pais de Miley. Acho que eles não gostavam de mim também. Não sabia se eles desconfiavam sobre mim e Miley, talvez sim por eu e ela andarmos sempre grudadas e eu também eu sempre ia na casa dela e ela na minha. Ou talvez não, pelo fato de trabalharem demais e não prestarem muita atenção na vida da filha.
– A pior possível. – continuou Miley, levando seus olhos ao encontro dos meus dessa vez. – Eu disse tudo. Disse que estávamos ''juntas'' desde o terceiro ano e que eu te amo demais. Minha mãe começou a chorar e disse que eu era o maior desgosto da vida dela, e aos berros ainda por cima. Meu pai me deu um tapa no rosto logo depois que eu falei que te amava. Eles falaram que iriam cortar minha mesada, que eu não poderia sair de casa e iriam dar um jeito para eu trancar a faculdade. Tudo isso pra não dar um jeito de me encontrar com você na rua ou em qualquer outro lugar, caso eu não terminasse com você.
– Miley, isso é demais. Eles não podem fazer isso com você. – falei, limpando as lágrimas que caiam em meu rosto. – E-e-eu não posso deixar que eles façam isso com você. Você não pode ficar presa assim por minha causa.
– Eu não sei se aguentaria, Demi. Você sabe como eu sou, gosto de sair. É uma prisão pra mim! É muito complicado, eles é quem bancam tudo pra mim.
– Você fala que vai terminar comigo e a gente dá um jeito de se encontrar as vezes. – falei, pegando na mão de Miley e acariciando-a de leve, tentando convencê-la.
– Não sei. Eu não quero desobedecer meus pais... Se for pra terminar, não vai ter mais volta Demi. E caso eles descubram algo, além de apanhar, vão me mandar para a casa da minha vó pobre em Ohio. – disse Miley, separando sua mão da minha.
– Porra Miley. Olha, você é quem sabe, a vida é sua – falei ríspidamente.
– Acho melhor a gente terminar. Demi, você é incrível. Eu não quero te fazer sofrer. Eu já te fiz sofrer demais no passado e você sempre me perdoou porque você é muito boa. Você merece alguém que não te faça sofrer tanto assim como eu e eu não quero te iludir com uma coisa que eu não sei se vai dar certo mais. - disse Miley, enrolando um fio de cabelo no dedo indicador e olhando para o chão. Ela sempre fazia isso quando estava nervosa.
– Não quer me fazer sofrer? Ótima tentativa, porém você falhou. – falei, com os olhos cheios de lágrimas que caiam constantemente. – Miley... – continuei. – Acho melhor eu ir embora.
– Demi, você está alterada... Não quer ficar aqui comigo e se acalmar um pouco? Beba um pouco de água, ou sei lá. Não posso deixar você sair assim. – Miley falou, puxando um de meus braços na tentativa de me fazer ficar.
Merda de Miley. Porque ela não luta pelo nosso amor? Eu enfrentaria os meus pais por causa dela. Merda, merda, merda. Uma parte de mim queria ficar ali com ela e chorar abraçada ao lado dela, mas a outra queria ir embora dali o mais rápido possível. E a segunda ganhou.
– Você está de brincadeira né? Vou cair fora daqui. – falei tirando uma das mãos de Miley de um dos meus braços.
– Dem...
– ME DEIXA PORRA! – falei gritando sem esperar nenhuma resposta.
Entrei no carro e dei a partida o mais rápido possível. Coloquei ''Superman'' do Eminem e comecei a cantar. Só ouvia aquela música quando brigava com Miley. Estava ótima para a ocasião. ''I'm single now, got no ring on this finger now. I'd never let another chick bring me down, in a relationship...'' A medida que a música tocava, eu cantava alto e dirigia em alta velocidade. Já estava a quase 80 km/h quando o sinal fechou, e só tinha uma menina com um capus na cabeça atravessando a rua, cujo não dava para ver o rosto dela, apenas os longos cabelos pretos sendo movimentados pelo o vento. Dei uma freiada brusca, e quando vi o carro estava a poucos centímetros do corpo magro dela. Abri a porta e desci do carro um pouco desesperada pensando na besteira que eu iria cometer se estivesse em uma velocidade maior. Merda. Isso iria ser culpa de Miley Cyrus.
Eu não tinha a atropelado, mas tudo que eu pude ver foi o iPod da menina misteriosa caindo no chão.
