Nota: Os personagens de Saint Seiya não me pertencem, pertencem ao mestre Masami Kurumada e empresas licenciadas.


Uma boa leitura a todos!


Quando um homem ama uma mulher

Capítulo I: De Casanova à pai coruja

Milo chegou em casa logo afrouxando a gravata. Estava cansado de mais um dia cansativo de trabalho nas empresas do pai. Caminhou a passos leves pela casa achando estranho aquele silencio incomum. Desde que os pequenos haviam chegado aquela casa nunca mais havia sido a mesma. Athos, Porthos e Aramis, os três mosqueteiros... É, ate que não seria uma má idéia ter posto os nomes dos filhos em homenagem aos mosqueteiros, afinal, Nikos, – sempre tinha um Nikos na família – Aléxandros e Heitor causavam uma verdadeira revolução juntos.

A casa toda era grande e arejada, toda decorada sobriamente de branco e com muitos vitrais. Caminhou em silencio por um certo tempo até que vislumbrou a silhueta da esposa sentada no escritório. A porta de vidro estava aberta e de onde estava, conseguia ver a longa cascata dourada dos cabelos da sereia a deslizar por suas costas esguias. Um meio sorriso moldou seus lábios. Algumas horas longe eram quase que uma eternidade longe de sua nereida... E já estava com saudades dela.

Sorrateiro como um gato ele se aproximou. Alheia a sua presença Thétis continuava a digitar em seu notbook. Sobre a mesa haviam muitos porta retratos, sendo que dois eram os que mais chamavam a atenção. Um deles era o do casamento do casal, Milo vestido de preto abraçado possessivamente à sereia que vestia um vestido leve e branco, sem muitos 'fru-frus'. Nada daquele tradicionalismo de casamentos com vestidos pesados e suntuosos que mais pareciam um verdadeiro 'bolo de noiva'. O dia em que haviam se casado fora um dia muito quente, numa bela tarde de verão grego em uma das muitas ilhas que possuía o seu país de origem. Para completar, uma delicada coroa de margaridas havia sido posta na cabeça de Thétis, que tinha os cabelos presos pela metade a deslizarem suavemente pelos ombros delicados.

O segundo porta-retratos por sua vez era o de três garotos idênticos e com cara de malandros abraçados um ao outro, sendo que um deles fazia o tradicional par de chifres na cabeça de um dos irmãos. Era para esse e também para muitos outros que abrigavam a carinha de safados dos garotos que vez ou outra, Thétis se via observando.

-Trazendo trabalho pra casa de novo, minha nereida...

Milo sussurrou contra o pescoço da mulher repousando um beijo caloroso ao pé da orelha. Thétis sorriu sentindo um arrepio gostoso subir pela espinha e então se voltou para o marido:

-É que não deu tempo de eu resolver tudo o que tinha pra resolver de manhã. Os meninos estão resfriados, a babá ligou me avisando e eu tive que voltar mais cedo pra casa.

-Os meninos, o que houve com eles? –Milo se exaltou e Thétis sorriu levantando-se para 'acudir' o marido.

-Eles estão bem Milo; ela respondeu tocando os ombros do rapaz que havia se recostado sobre a mesa do escritório com uma expressão deveras preocupada. –Eles contraíram o vírus da gripe e não malária...

-Malária? Por Zeus Thétis não diga isso nem brincando; murmurou Milo em tom de reprimenda diante do sorriso divertido da esposa. –Bem que eu te disse que teria sido melhor se; ele ponderou e no mesmo instante Thétis franziu o cenho contrariada.

-Ah não Milo, de novo não...; murmurou a sereia, sabia e muito bem o que ele estava pensando em dizer. –Não adianta vir com essa que seria melhor eu bancar a 'Amélia' e parar de trabalhar. Eu banquei a esposa prendada durante três anos antes dos garotos nascerem e por mais quase um ano depois que eles nasceram, e aquilo definitivamente já foi por tempo demais. Eu preciso me sentir útil e abrir essa creche com o dinheiro da venda do restaurante foi a melhor coisa que eu pude fazer. Sempre gostei de crianças e você sabe disso; ela completou.

-Eu sei e você, bem sabe também, que eu admiro o seu trabalho, mas o caso é que não acha injusto que você esteja cuidando de outras crianças enquanto os nossos filhos estão sozinhos em casa e precisando de você?

-Milo; Thétis murmurou pausadamente. –Em primeiro lugar como diretora e dona da creche eu trabalho apenas meio período, portanto, tenho a tarde toda para os nossos filhos. Hoje eu vim mais cedo pra casa porque estava preocupada com eles e deixei pra trás sem resolver problemas com fornecedores e mais um monte de coisa, por isso estava trabalhando em casa mais uma vez. Isso só comprova que apesar do meu trabalho lá, eu continuo presente na vida deles. E em segundo lugar, eles não estavam sozinhos e nem nunca ficaram, Agnes fica com eles, ou será que já se esqueceu disso?

-Eu, sei, mas...; Milo ainda tentou argumentar.

-Mas nada Milo, se eles sentem falta de alguém é de você!

-De mim? –Milo arqueou a sobrancelha.

-Sim, de você, nos últimos meses você tem trabalhado demais e eles só sabem perguntar por você. Você tem chegado tarde, ai eles já estão dormindo e no outro dia quando eles acordam você já saiu de novo pro trabalho.

-Você sabe que isso se deu por conta daquele investidor que a raposa velha do Kinaros me apresentou não sabe? –indagou Milo como se diante do seu passado, tivesse que dar uma explicação e boa, a mulher sobre tudo o que fazia.

-Eu sei; Thétis murmurou compreensiva. –A verdade é que até estranhei você aparecer em casa tão cedo.

-Quer dizer que não gostou da surpresa então? –Milo indagou fazendo-se de ofendido, como um menino contrariado.

-Ah, o garotinho carente de novo Milo? –Thétis sorriu divertida e então se aproximou reclinado-se sobre o marido, apoiando ambas as mãos sobre seus ombros. –Vem cá vem? Se queria 'colo' era só pedir; ela sorriu abraçando-o apertado.

Sentiu-o envolver os braços fortes em sua cintura, porem sem dizer coisa alguma. Era sempre assim, discutiam sobre alguma coisa sem sentido, ou quase isso, e depois ele fazia aquela cara de garoto carente e arrependido. E ela? Ela não resistia àqueles olhos azuis...

-Pronto? Ta tudo bem agora? –Ela sorriu afastando-se parcialmente para fitar o rosto do rapaz, deslizando os dedos finos entre seus cabelos.

-Quase, mas acho que ainda preciso de uma prova maior de afeto, digamos assim; um meio sorriso moldou os lábios de Milo, um sorriso que já não era mais nem de longe o daquele garotinho carente.

Milo beijou a esposa ardentemente, envolvendo uma das mãos entre os fartos fios dourados de seus cabelos, enquanto com outro braço a mantinha colada a si. O dia todo só havia pensado na hora de chegar em casa e poder sentir aquele perfume mais uma vez, sentir aqueles lábios e aquele corpo macio entre seus braços.

Vida de pai, pai de trigêmeos, não era fácil e às vezes – muitas vezes – os garotos acabavam vindo em primeiro lugar. É claro que sentia falta da intimidade que tinham quando eram só eles dois naquela casa, mas mesmo assim, em momento algum desejou que aquela casa voltasse a ser 'vazia' sem os pequenos correndo e gritando pelos cômodos.

-Milo; Thétis murmurou entre os lábios do marido, ao sentir sua mão grande deslizar pelo espaldar de sua cintura, adentrando por debaixo da blusa. –Os meninos... os meninos estão em casa, lá em cima no quarto...

-Eles estão dormindo não estão? –indagou Milo, sem se desgrudar dela roçando os lábios pela curva de seu pescoço para então beijar a tez acetinada demoradamente, arrancando um fraco gemido da esposa.

-Milo...

-Mas não estamos dormindo papa...

Três vozes infantis responderam em uníssono na porta do escritório. Thétis e Milo imediatamente se voltaram pra trás, avistando os trigêmeos. Três garotos loiros idênticos e de olhos azuis, por volta dos quatro anos, vestindo um pijama azul também idêntico com várias manchinhas num tom mais escuro que pareciam pintas de dálmata. Cada um trazia uma coisa diferente nas mãos. Nikos o da esquerda tinha o que parecia ser uma manta, a qual arrastava pelo chão como se fosse o personagem Linus de Charlie Brown, que nunca se separava de seu cobertor azul. Aléxandros o do meio trazia consigo um boneco de pelúcia do Homem Aranha e Heitor um macaquinho marrom com escorpião de borracha preso no rabo, idéia sugerida pelo pai em uma de suas brincadeiras com os filhos e desaprovada pela mãe: 'Milo isso lá é coisa que se ensine aos garotos? Maltratar os animais?'

Milo sorriu antes de se voltar para os garotos, enquanto Thétis se recompunha com o rosto levemente rosado, alisando as roupas e os cabelos. Aquela não era a primeira e tão pouco seria a ultima vez que os meninos chegavam de mansinho e os flagravam em uma situação não muito adequada, por assim dizer.

-Papai chegou mais cedo hoje, o que acham de subirmos lá pra cima? Mamãe me disse que vocês ficaram doentes hoje, e nada melhor do que ouvir uma boa história e tomar uma sopa quente antes de dormir, o que acham?

Milo indagou com os olhos cintilando, mas a verdade era que aquela proposta divertiria muito mais a si que os garotos. Adorava contar histórias pra eles dormirem, como seu pai tinha o costume de fazer consigo. Thétis apenas sorria observando a cena.

-Que história papa? –Indagou Heitor.

-Quem sabe, aquela de como Teseu derrotou o Minotauro do labirinto de Creta?

-Ah, essa você já contou papa! –disse Nikos e os demais concordaram com a cabeça.

-Já? –Milo indagou coçando a cabeça, meio que desapontado.

-Três vezes papa; confirmou Heitor. –Mas eu não me importo de ouvir de novo; o garotinho sorriu.

-Eu sim; retrucou Aléxandros, de cara fechada. –Porque o Senhor não conta histórias do Homem Aranha papa?

-Porque o Homem Aranha, não passa de um cara sem graça que veste a bandeira americana como roupa colada no corpo. E pior... Não é grego.

-Milo; Thétis o repreendeu, mas o rapaz continuou.

-Os heróis gregos é que são heróis de verdade, não vê Jasão? Aquiles? Poxa vida Aléxandros, quer herói melhor que Hércules? Ele não soltava essas coisas estranhas e nojentas pelo pulso ou pulava sobre os prédios, muito menos usava óculos de fundo de garrafa, mas ele podia até carregar céu nas costas se quisesse...

-Sério papa? –Heitor pareceu ainda mais interessado, assim como Nikos, mas Aléxandros ainda parecia mais interessado no Homem Aranha.

-Mas é claro! Em um dos 12 trabalhos de Hércules, ele teve que encontrar o Jardim das Hespérides, lar da macieira, cujos frutos eram dourados. Mas a tarefa não era fácil e o caminho era muito árduo. Quando finalmente o encontrou, qual não foi sua surpresa ao ver um imenso dragão guardando os pés da arvore de frutos dourados?

Milo fez uma pausa e sorriu ao ver que três grandes olhos azuis o fitavam curiosos. Era sempre assim, no fim acabava conquistando os garotos com suas histórias e eles o enchiam de perguntas.

-E então papa, o que aconteceu? –indagou Heitor.

-Hércules enfrentou-o com fé e afinco vencendo-o por fim; continuou Milo. –Entretanto, as Hespérides, três belas jovens, guardiãs das maçãs em nome de Hera, se recusaram a lhe dar os frutos. Sem alternativa, Hércules subiu a montanha pedindo auxilio a Atlas, o titã condenado por Zeus, a viver naquelas terras exilado, carregando o céu em suas costas. Atlas prometeu à Hércules conseguir os frutos, contanto que ele segurasse o céu por alguns minutos, mas os minutos tornaram-se horas, até Atlas finalmente retornar com os sagrados frutos dourados, ofertados à deusa dos deuses, por Afrodite, em suas bodas com o Onipotente.

-Uau! –Os três garotos murmuraram boquiabertos.

-Dizem também que quando Atlas voltou ao seu posto de segurar o céu sobre os ombros, várias estrelas caíram dando origem as estrelas do mar; completou Milo com um largo sorriso.

-E depois papa? –Aléxandros indagou interessado, já quase se esquecendo do Homem Aranha.

Milo se aproximou dos garotos com um sorriso ainda maior e então tocou a cabeça do pequeno antes de responder.

-Ué, não quer mais ouvir histórias do Homem Aranha?

-É claro que quero papa; o garotinho corou levemente. –Mas o Homem Aranha eu posso ver na TV e essa tal história do Hércules não, porque só está na sua cabeça.

-Como não Aléxandros? Eu não trouxe pra vocês aquele dia o desenho do Hércules? Aquele da Disney? –Milo se abaixou na altura dos olhos do garoto. –Então como é que vocês não podem ver o Hércules na TV também?

-Eu sei papa, mas; o garotinho balbuciou e o irmão Heitor completou.

-Mas não é a mesma coisa quando você conta papa.

-Não mesmo, o Senhor inventa um monte de coisa; murmurou Nikos.

-Como assim 'eu invento um monte de coisa' Nikos? –Milo se voltou para o garoto à sua esquerda.

-Ah, aquelas coisas estranhas como quando disse que aquela mulher Medusa tinha serpentes na cabeça; ele completou e o pai abriu um largo sorriso.

-Mas a medusa tinha mesmo serpentes na cabeça e quando Perseu a decapitou, de seu sangue nasceu Pégaso o cavalo alado que mais tarde foi domesticado por Athena e também o gigante Crisaor, ambos filhos de Poseidon; disse Milo.

-To falando que o Senhor inventa um monte de coisa; o garotinho rolou os olhos cruzando os braços na frente do corpo.

-Ta bem, ta bem já chega! –Thétis por fim interveio se aproximando dos quatro. –Vocês querem ouvir o papai contando uma história ou não?

-Sim! –os três responderam em uníssono.

-Que bom! –Milo sorriu e cometeu um milagre agarrou os três garotos desajeitadamente entre os braços para sair dali. –Agora vamos lá pra cima que a história vai ser longa e...

-Senhor; Agnes, a babá, chegou ofegante até a porta do escritório. –Perdão, Senhor Athanasios, eu disse para os garotos não descerem, mas é que eu me descuidei arrumando o quarto e quando dei por mim, eles já haviam sumido; ela completou.

-Tudo bem Agnes e está dispensada por hoje; respondeu Milo. –Eu ficarei com os garotos enquanto Thétis termina o seu trabalho, está bem?

-Sim, Senhor, como quiser; a garota franzina e cheia de espinhas no rosto respondeu antes de sair.

-Por Zeus como vocês cresceram...; disse Milo antes de por os garotos no chão de novo. –Ou é o papai que está ficando velho mesmo? –ele completou num sorriso pondo ambas as mãos na coluna e fazendo uma careta no que os garotos caíram no riso.

-Ah, mas vamos logo papa! –disse Heitor.

-É vamos logo papa, não precisa carregar a gente e; Nikos ponderou num sorriso matreiro. –Quem chegar por ultimo é a mulher do padre!

Dito isso o garotinho correu sendo seguidos pelos irmãos, e Aléxandros acabou por se esquecer do seu boneco do Homem Aranha que ficou jogado sobre o tapete do escritório. Milo e Thétis acompanharam a correia dos garotos escada a cima com um sorriso bobo na cara, até que ele se voltou para a sereia.

-Depois resolvemos aquele outro assunto, não é? –Ele indagou num sorriso maroto, cheio de segundas, terceiras e quem sabe até quintas intenções, antes de repousar um beijo suave sobre os lábios da esposa que sorriu. –Não pense que vou me esquecer...

-E quem disse que eu pretendo esquecer? –Thétis revidou provocante, mas antes que o marido se aproximasse de si mais uma vez, o cortou. –Milo, os garotos... eles estão te esperando.

-Ta certo; o rapaz sorriu pegando a mão delicada da mulher que havia repousado sobre seu peito e beijou-a com ternura. –O dever primeiro não é?

-É; Thétis sorriu vendo-o se afastar.

Dever... O dever como pai. Nunca pensou que Milo fosse ser um pai tão presente daquela forma. Era um homem ocupado, mas sempre que estava em casa parecia que ao invés de terem três crianças a correr pela casa, haviam quatro. Milo se juntava a algazarra dos garotos e mais parecia um deles. Jamais pensou que aquele mesmo homem que tentara lhe conquistar de todas as formas possíveis, um verdadeiro Casanova, fosse agora um pai coruja daqueles.

Thétis suspirou e então pegou o brinquedo do filho sobre o tapete, pondo-o em cima da mesa do escritório antes de voltar a se sentar e digitar em seu notbook.

Cerca de duas horas depois...

Havia ido até o quarto dos garotos, mas nada, nem sinal deles ou de Milo. Foi então que se recordou do que possivelmente poderia ter acontecido. Caminhou a passos leves até seus aposentos e lá constatou que estava certa em suas deduções. Mais uma vez Milo havia bancado o pai coruja e arrastado os filhos pro próprio quarto. Sempre que chovia, ou que os garotos faziam manha Milo cedia e os levava para dormir junto de si e da esposa.

A sereia não conseguiu impedir um singelo sorriso diante do que viu. Encostou-se no batente da porta e ficou a fitar aquela cena. Milo havia caído no seu próprio 'feitiço'. Contar histórias para os garotos, não havia servido apenas para os pequenos dormirem, mas para si também que exausto deixou-se adormecer abraçado aos filhos.

Já sem gravata e de meias, Milo jazia no centro da cama numa posição confortável entre os travesseiros, com Heitor envolto em um dos braços e Nikos no outro. Aléxandros, o fã numero um do Homem Aranha, jazia deitado sobre o peito largo do pai. A verdade é que era fã do pai, muito mais do que do aracnídeo, mesmo que não admitisse isso em público.

Thétis sorriu mais uma vez, seria incapaz de desfazer aquela cena. Sentou-se numa poltrona no canto do quarto e ficou em silencio a velar o sono do marido e dos filhos. Mais uma vez se indagava, como alguém como Milo havia acabado daquele jeito? O Casanova, agora era um pai e aqueles tempos de conquistador pareciam muito distantes do atual presente, porem ainda jaziam bem nítidos em sua memória.

Como, quando, onde... Como tudo acontecera e acabara se apaixonado por aquele que agora era o pai de seus filhos. A sereia se recostou contra o encosto da cadeira e tão logo sua mente foi invadida por velhas lembranças em meio aos sonhos...

Ooo -O- ooO

Alguns anos atrás...

O dia havia sido cheio. Havia tido muito movimento o dia todo no restaurante e com isso consequentemente havia tido muito trabalho. Terminava de fazer a contagem do faturamento do dia, quando um imenso buquê de rosas apareceu em frente a seus olhos, ocultando quem o trazia.

-Senhorita; disse o 'carregador de flores' ainda escondido sob o imenso arranjo vermelho.

-Sim; respondeu Thétis vendo o homenzinho lhe estender uma das mãos com uma prancheta.

-Assine aqui, por favor; ele pediu para então entregar a encomenda. –Obrigado; ele respondeu e se foi antes que a jovem pudesse indagar sobre quem poderia ter lhe enviado um arranjo tão lindo como aquele.

Quem? Uma luz se fez em sua mente e um singelo sorriso brotou em seus lábios rosados. Quem mais? É claro, ele. Ele... Ele devia ter se arrependido, afinal, não era um 'amor de carnaval' era um longo relacionamento de anos, logos cinco anos, o que haviam terminado.

Afoita a jovem tateou sem delicadeza as flores procurando por um possível cartão e tão logo o encontrou.

"As mais belas flores para a mais bela nereida...".

O cartão consistia apenas nisso. Thétis revirou o cartão em busca de mais alguma coisa, um nome que fosse, mas nada. Um cartão sem nome, mas... Só podia ser dele, de quem mais seria?

Seu peito encheu-se de alegria diante de tal possibilidade, mas independente disso, iria esperar, não iria ligar, ou correr atrás dele e implorar pelo seu amor. Se realmente a queria de volta, ele teria mesmo muito trabalho pela frente e aquelas flores por mais belas que fossem, seriam apenas o começo de uma árdua reconquista. Animada a sereia se despediu dos companheiros de trabalho que ainda ficariam cuidado da limpeza do local e se foi levando consigo o buquê de flores. Adentrou o carro parado em frente ao restaurante e se foi, sem perceber que não muito longe dali um par de olhos azuis a observavam sob as sombras.

Ooo -O- ooO

No dia seguinte, tudo pareceu se repetir. O restaurante tivera um bom faturamento e o mais estranho, no mesmo horário do dia anterior havia recebido do mesmo homenzinho outro buquê de rosas. Tentara arrancar do entregador o nome do 'seu admirador', mas o homenzinho de poucas palavras só lhe dissera que não sabia, que havia sido um homem alto de cabelos e olhos azuis.

Aquilo... Aquilo definitivamente afirmava que estava certa quanto a suas desconfianças, mas que deveria esperar, esperar que ele mesmo viesse até si. Com um largo sorriso no rosto a sereia leu o cartão:

"A sua beleza ofereço essas humildes rosas, que por mais belas que sejam, jamais, irão superar a de minha musa...".

Thétis sorriu. É, não tinha dúvidas, era ele. Mais uma vez, se despediu dos amigos e se foi. E mais uma vez os olhos azuis de seu admirador a acompanharam de sua solitária vigília.

Qualquer mulher ficaria lisonjeada com tamanha delicadeza e com Thétis não foi diferente. Ainda o amava perdidamente e sem dúvida alguma aquele havia sido o pedido de desculpas mais belo que havia recebido. Dia após dia, aquilo se repetiu. Todos os dias, na mesma hora recebia aquele mimo e mais um cartão, com frases cheias de galanteios, mas como sempre sem assinatura.

O que ele pretendia com isso afinal? Era o que ela se indagava. Já fazia uma semana que aquilo vinha acontecendo, e estava morta de vontade de ligar pra ele e de se atirar em seus braços dizendo que o aceitava de volta, que aceitava os seus pedidos de desculpa pelo fim do relacionamento, mas... Havia também, prometido a si mesma que não faria isso.

Entretanto, às vezes o destino parece dar uma forcinha para que tudo de certo, um empurrãozinho e numa tarde em que saíra e fora para o centro para pagar algumas contas do restaurante, encontrara justo quem?

É, ele...

Será que deveria falar com ele? Dizer que havia adorado suas flores e seus cartões? Ou esperar que ele mesmo viesse até si e se revelasse como o autor daquilo tudo?

Mas a verdade é que aquilo já nem importava mais, porque sabia que não iria agüentar esperar mais tempo, mais tempo sem o seu amor. Avistou o rapaz ao longe, na varanda de um pequeno restaurante tomando uma bebida enquanto folheava um jornal. Suspirou, tomando coragem e então caminhou até ele.

-Julian? –Ela indagou timidamente, sentindo o coração dar saltos dentro do peito.

O rapaz se voltou para si, visivelmente surpreso e abandonando o jornal sobre a mesa.

-Thétis?

Continua...


Nota1: Os nomes dos filhos do Milo, como me disseram não podiam deixar de ser nomes de heróis gregos, por isso Aléxandros de Alexandre o Grande e Heitor, o príncipe de Tróia, mas esse tem um significado mais específico na escolha. A querida Julie Chan, me disse que na Saga G, o Milo luta contra o Heitor e o respeita como herói mesmo o tendo vencido, como outrora Aquiles o vez, então é de se esperar que ele daria esse nome quando tivesse um filho em homenagem ao herói grego. Já Nikos, é uma referência ao filme Casamento Grego, onde aparece uma infinidade de 'Nikos' e 'Nicks'.

Nota 2: Papa, do grego pappas é uma forma reverente e amorosa para 'pai'.

Nota 3 Agnes significa casta, pura, honesta e virtuosa. Ah, gente eu sei que o Milo 'mudou', abandonou a sua antiga vida de Casanova, mas cuidado nunca é demais né? Por isso essa garota foi escolhida pela Thétis pra ser a babá dos filhos... rsrsrs

Enfim, espero que tenham gostado desse primeiro capitulo. A idéia pra essa fic bem curtinha com quatro capítulos apenas, foi da minha querida amiga Dama 9, que me disse que gostaria muito de ver como a história do Milo e da Thétis havia começado. Essa história é meio que paralela a minha outra fic: Muito bem Acompanhada, caso alguém esteja lendo essa história e não tenha lido a outra, onde cito Milo e Thétis como um casal.

Um grande bju e um forte abraço a todos!

P.S.: Deixem reviews please? XD