Sumário do capítulo: O problema de luvas de couro é que elas não ajudam muito com o frio.
Katekyo Hitman Reborn! não me pertence. Se me pertencesse, eu faria um trabalho melhor em relação às últimas arcs do mangá.
Não foi betado, então, por favor, perdoe os erros :)
Em resposta ao desafio dos 50 drabbles (versão 2.0), proposto por Lady Murder. Presente para ela também!
Melting under blue skies (and the world's a little brighter)
All the white horses have gone ahead
I tell you that I'll always want you near
You say that things change, my dear
Never change, all the white horses
Toi Amos, "Winter"
1. I get a little warm in my heart
O problema de luvas de couro é que elas não ajudam muito com o frio. São melhores para segurar uma arma, sim, mas são horríveis para reter o inverno italiano. Ainda mais manchadas de sangue, fato que faz com que Reborn as jogue na primeira lata de lixo que encontra e que não está muito próxima da cena do crime. Apenas de lembrar do assassinato desleixado o faz morder os lábios por pura raiva, por mais que a culpa não tenha sido sua. A culpa nunca é de Reborn, na verdade, não quando se tratam de assassinatos que não são nada limpos.
(dois assassinos e um único alvo entram em um quarto. Parece o início de uma boa piada. Reborn não mata o alvo no final e o sangue espirra em seu rosto porque é claro que o outro hitman tentaria matar os dois com um único tiro. No fim, tudo o que ele consegue é morrer rápido demais, com uma garganta cortada e seu sangue deslizando pelos dedos enluvados de Reborn)
Não demora muito para seus dedos começarem a ficar rígidos pelo frio. Os invernos eram piores, há muito tempo atrás, mas Reborn agora se encontra sem tecido algum protegendo suas mãos, e o perigo de sofrer alguma injúria nos nervos o deixa um pouco apreensivo.
Está muito tarde para os táxis pararem para ele, e está ainda mais tarde para encontrar algum lugar que venda cafés, principalmente no subúrbio italiano onde todos ou estão dormindo ou estão transando ou estão dançando. Ninguém que ele conhece, porém.
...Menos uma pessoa, Reborn se lembra, e para no meio da rua. Olha para trás, para uma das ruas que não chegou a entrar e se lembra dos vários endereços dos Vongola. Lembra-se de um em particular que jurou nunca cruzar, apenas para salvar-se de uma dor de cabeça. Agora, porém, ele parece ser a sua única esperança e não há algo de irônico ali? Os dedos de Reborn não aguentarão cruzar a cidade e ele não aguentará pensar que perdeu sua carreira só para se safar de uma dor de cabeça.
Duas ruas depois daquela, esquerda e esquerda de novo, está sua salvação, morando em uma casa humilde em exterior. Reborn pisca apenas uma vez, coloca as mãos nos bolsos de seu casaco, rangendo os dentes por seus dedos continuarem gelados demais, e anda até lá.
.
Demora mais tempo para chegar até a casa do que demora para a pessoa abrir a porta. Isso não deveria surpreendê-lo, pois, por mais que ele seja um idiota, a vaca estúpida ainda é da máfia e tem os ouvidos afinados para todos os tipos certos de sons. O som da segurança de armas sendo desativadas; o som de armas sendo disparadas ou recarregadas; o som de passos; pessoas segurando sua respiração; batidas na porta. Lambo abre a porta imediatamente e o cano de uma arma aparece no meio da testa de Reborn, por alguns segundos.
Lambo pisca três vezes, dezoito anos e ainda um idiota, e move-se para deixa-lo entrar.
— Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta assim que fecha a porta, checando para ver se há pessoas seguindo Reborn.
— Não. — Reborn responde, seco. — Só preciso de um lugar para descansar por um tempo. E café. E luvas.
Lambo se move com graciosidade dentro de sua própria casa e Reborn percebe que ele se sente seguro em uma casa que é do outro lado da cidade da mansão dos Vongola — ou seja, ele não apenas continua sendo uma vaca estúpida, como ele também é capaz de fazer Reborn querer se matar ou, pior, voltar a possuir aquela forma de bebê horrenda diante de atitudes assim. Casa esta que é decorada com couro de bovinos, estampados ou não. Dos tapetes até a porcaria do sofá, quase tudo é feito de couro. Os móveis principais, pelo menos, não possuem estampas ridículas. Reborn consegue enxergar e aceitar os pequenos milagres.
— Tudo isso na mesma ordem? — Lambo pergunta e Reborn revira os olhos, a dor de cabeça já se formando. Que tipo de pergunta é essa?
— O café é para agora.
Algo no tom de voz de Reborn assusta Lambo. Seus ombros ficam tensos de repente e ele se move rápido para a cozinha, murmurando que possui café pronto.
— Se quiser, posso fazer agora—
— Qualquer porcaria que você tem me serve. Não estou esperançoso que você tenha bom gosto para bebidas, vendo como você decora sua casa.
Da cozinha, Reborn é capaz de ouvir Lambo murmurar coisas como "não precisa ser cruel" em tom choroso e ele sorri. Move os dedos. Eles ainda estão muito duros; o sangue ainda não está circulando muito bem, mesmo que a casa de Lambo seja tudo, menos fria. Reborn senta-se no sofá, que faz um barulho típico de sofás de couro, e que o faz ficar ainda mais desconfortável do que antes em uma casa que nem ao menos conhece a planta (Tsuna conhece, é claro, assim como todos os outros Guardiões, mas Reborn nunca pensou na vaca estúpida como um Guardião e por isso se recusou em analisar a planta. Não é como se ele fosse precisar ir até ela, um dia. Oh, a ironia). O tecido é frio contra suas pernas, fazendo-o conter um arrepio. Couro é sempre uma merda no inverno.
Não demora muito para Lambo retornar, uma xícara de café em mãos. Quando chega, nota como Reborn esfrega suas mãos, tentando produzir calor como pode, e alguma coisa nos olhos de Lambos se torna muito doce, muito compreensível. Reborn não consegue se decidir se gosta ou não. A xícara que é entregue a Reborn é muito pequena para aquecer ambas as mãos. Lambo parece perceber isso, porque logo senta-se no sofá também, justamente ao lado da mão de Reborn que não está aproveitando o calor do café, e a segura. Reborn quer perguntar o que raios ele está pensando, mas logo entende quando sua outra mão pousa no lado da mão de Reborn que ainda está exposta ao frio. O calor que emana das mãos de Lambo é muito mais efetivo que o calor da xícara de café e Reborn se encontra se segurando para não fazer algo estúpido, como soltar a xícara e abrigar sua outra mão também entre as de Lambo ou procurar calor em outras partes dele.
É então que nota o quanto Lambo cresceu. Desde os cinco anos de idade, quando Reborn ainda estava naquela forma horrível, Lambo era nada mais que uma dor de cabeça chorona. Claro, as coisas não mudaram muito e ele continua sendo a pior escolha de todas para um Guardião, mas aqui, em sua sala, em sua casa mal decorada e problematicamente distante da mansão dos Vongola — a mesma casa que Reborn não conhece a planta — Lambo é um adulto e ele não é barulhento ou irritante ou chorão. Ele é gentil.
A arma que Lambo apontou para a cabeça de Reborn está na mesinha de centro; o cheiro de café permeia o ambiente; as luzes estão quase todas apagadas, exceto a da cozinha. Sob essa luz, Reborn nota que Lambo está usando uma calça de moletom com as mesmas estampas horríveis de vaca, mas a regata é preta e revela seus braços finos, mas com linhas de músculo que mostram que Lambo é capaz de se virar em uma briga ou luta.
Não, isto não está certo, Lambo sempre foi capaz de se virar em uma briga ou uma luta, da mesma forma que ele sempre foi capaz de persistir e continuar com seus objetivos.
Os dedos de Reborn ainda estão gelados, por mais que o sangue esteja circulando melhor. Lambo também nota e, sem hesitar, leva seu rosto até suas mãos e as abre para baforar ar quente nos dedos de Reborn, o que faz com que ele perca toda a linha de pensamento e pense que essa criança maldita, esse moleque que só lhe dava dor de cabeças até minutos atrás, é muito corajoso.
Como se percebesse o que estava fazendo apenas agora, Lambo enrubesce, afastando seu rosto dos dedos de Reborn e soltando sua mão. Ela está mais quente, mais quente do que estava quinze minutos atrás, mais quente que já esteve em toda a sua vida, e tudo o que Reborn quer é que o calor retorne e afaste esse inverno horrível dos membros do seu corpo que lhe dão sua fama. Quer que o calor retorne e abrace-o completamente e o afaste de vez de todo o frio que sente, que já sentiu ou que irá sentir em toda a sua vida.
Reborn segura a mão de Lambo, que fica alguns segundos sem se mover até entender que o segurar de mãos; o ar quente; a intimidade não são mal vistos. São todos bem-vindos. Até demais.
Entre baforadas de ar quente contra a pele de Reborn e a troca de mãos, Lambo pergunta: — Por que não foi de carro?
— Um carro? Nessa noite? Seria lembrado, principalmente perto de uma cena de crime.
— A polícia está atrás de você?
Reborn pensa em não responder, pensa em dizer-lhe que não é de sua conta, mas Lambo é quente e Lambo é gentil e Lambo está aqui.
— Um investigador em particular... — ele começa e sua voz ecoa durante toda a noite.
(algo dentro de Reborn derrete)
N/A.: Como eu amo esse ship.
update de 06/04/2015: passei para arrumar alguns errinhos de português e acabei por reescrever algumas partes e escrever mais ainda. Espero que continuem gostando. Also, título vem também da música "Winter", da Tori Amos.
Reviews, por favor?
Desafio dos 50 drabbles (2.0) — Fandom: Katekyo Hitman Reborn! — Ship: Reborn/Lambo — Item: Inverno
(01/10)
