Um Presente Inesperado
by
Virgo no Áries e Daftookami.
Casal: Mask x Shun (principal) e outros que deverão aparecer ao longo da fic
Gênero: Yaoi, U.A, Romance, Lemon, Lime, Agnst, Possível OCC
Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens não nos pertencem mas à Masami Kurumada, Toei e Bandai. Essa fic não tem fins lucrativos.
Aviso1: Os personagens originais Suzumiya Ranmaru e Mitsumasa Hoshikage criados nessa fic são de autoria exclusiva de Virgo no Áries. É proibida a reprodução total ou parcial dele em quais quer outras obras, estando o infrator sujeito ás penas da lei.
Aviso2: Essa fic foi criado no estilo rpg (role playing game) onde se alternam os personagens e seus respectivos pontos de vista. Daftookami interpreta Mask e Virgo no Áries interpreta Shun.
Capítulo 1 - O presente
Estava ansioso, diria até que um tanto preocupado. Hoje receberia uma encomenda importante, e aquilo poderia ser tanto uma agradável surpresa como uma vil armadilha. Dar o endereço do seu escritório havia sido um movimento arriscado. Máscara da Morte, o jovem 'Don' da máfia italiana, estava colocando seu pescoço a prêmio ao revelar sua localização para o líder da Yakuza. Mas era um mal necessário, uma prova de que o acordo firmado entre ambos os líderes criminosos havia sido de boa fé. Agora era esperar para ver se o líder japonês havia agido com a mesma índole. Chegara o dia em que receberia o presente prometido pelo chefe oriental como prova de 'amizade' entre as duas facções criminosas. Ao italiano só restava torcer para que não fosse uma bomba.
O rapaz sentado no sofá da recepção respirava com dificuldade. Era como se o ar subitamente tivesse ficado mais pesado... Denso. Olhou discretamente ao redor. O lugar para onde estava sendo levado era requintado. Podia perceber pela decoração dos móveis e das luminárias. Sendo filho de Mitsumasa Hoshikage não poderia dizer que se surpreendia com todo aquele luxo. Era algo natural para si embora, por vezes, preferisse não ter nascido com esse privilégio. Não quando seu pai era o líder da Yakusa no Japão.
Respirou fundo.
Já estava esperando há algum tempo numa sala de espera. Olhos atentos fixavam-se em sua figura o tempo todo, vigiando-o. Estava ali contra sua vontade embora seu destino já estivesse selado num acordo feito por Máscara da Morte e... Seu irmão. Levantou-se da cadeira quando a secretária de vestido vermelho e um generoso decote aproximou-se de si. De frente para porta da sala ao lado escutou uma voz marcante, mandando-os entrar. Fechou as mãos em punho e sua garganta ficou repentinamente seca...
O sotaque daquela voz lhe dava calafrios.
A secretária anunciou a chegada do japonês.
– Finalmente! – não aguentava mais esperar, embora a entrega estivesse sendo feita no horário combinada. O que ocorria era que o italiano estava deveras ansioso. Aquilo poderia ser uma armadilha; nunca se podia confiar naqueles que rivalizavam poder.
Pegou a pistola que havia na gaveta de sua escrivaninha e conferiu o cartucho: estava cheio. Colocou a peça sobre a mesa com o cano virado para a entrada. A intenção era intimidar, mas esse não era seu único truque. Guardava também uma arma de menor porte na cintura e duas SpiderCo, uma presa ao tornozelo e outra no bolso do paletó Armani. Se o japa quisesse dar uma de kamikaze, Máscara estaria preparado. Recostou-se majestoso na cadeira e deu a ordem para que a mulher deixasse o rapaz entrar.
A porta se abriu fazendo um barulho ensurdecedor. Ou talvez o japonês apenas estivesse um pouco sobressaltado. Os olhos esmeraldas que fixavam-se no chão levantaram-se, timidamente, olhando para frente. O tapete persa estendia-se com pompa pela sala. Ao fundo uma mesa larga com uma arma automática sobre ela e …
Uma pessoa.
Um homem para ser exato que, sentado na cadeira, mantinha uma postura aparentemente relaxada e, ainda assim, vigilante. Deu três passos cautelosos, adentrando o recinto. Foi o suficiente para que fechassem a porta atrás de si. Estava finalmente sozinho com o líder da Máfia Italiana conhecido pelo terror que tratava seus piores inimigos. Com a morte lenta e dolorosa. á sua frente o homem abriu um sorriso frio.
Um sorriso que explicava a alcunha de Máscara da Morte.
Sentado do outro lado da mesa, o homem olhou para a pessoa a sua frente, analisando-o minuciosamente. Por um momento não conseguiu distinguir se a figura era feminina ou masculina. E como diferenciar esses japoneses se eles têm todos a mesma cara, se são todos iguais? Foi quando o garoto – pelas roupas que usava era um garoto – ergueu o rosto e o fitou com os olhos de um jade intenso. Não, ele não era igual aos outros japas, chinas, coréias e afins. Máscara deixou escapar um sorrisinho cínico. Miscigenação não era algo recorrente na sociedade japonesa, o italiano sabia, mas aquele verde era tudo menos nipônico.
– Cadê o meu presente? – perguntou ao garoto que Máscara pensou ser um simples entregador. O italiano estava curioso para saber o que iria ganhar.
O jovem de pé franziu levemente o cenho sem entender direito. Presente? Fechou os olhos mais uma vez tentando não parecer muito perturbado co aquela pergunta. Será possível que entendeu direito? Nada tinha sido dito a seu respeito sobre um suposto presente à Mascara da Morte. Isso só poderia significar que...
Que...
Ele era o presente?!
Seu coração falhou uma batida. Queria sumir dali mas sabia que racionalmente isso era impossível. Não soube de onde tirou forças para conseguir falar.
- Não sei do que fala, senhor. - disse suavemente, como uma planta que se curva á menor das brisas de forma trêmula.
Máscara cerrou o cenho. Não tinha tempo nem paciência para aquelas brincadeiras.
– Ma come non sabe?! – Pegou a pistola que estava e se levantou. Deu a volta na mesa e sentou-se sobre o tampo de madeira, de frente para o garoto. As feições do rapaz eram delicadas, quase infantis. Ele tremia, claramente com medo, mas se empenhando ao máximo para permanecer composto. Máscara não estava na frente de um idiota, aquele menino sabia onde estava e com quem estava.
– Quando mandaram você para cá... Não te deram nada para que me entregar?
O rapaz piscou os olhos verdes, rapidamente, quando se deu conta que o italiano aproximou-se de si estando a apenas poucos centímetros. O suficiente para fazê-lo ficar com joelhos sem força, como se tivessem se transformado em gelatina. Não se atreveu a olhá-lo nos olhos.
Simplesmente não conseguiria.
Abriu a boca mas a voz permaneceu travada em sua garganta, da mesma forma que o medo permanecia trancafiado em seu coração. Abaixou a cabeça em sinal de respeito e medo. Os fios castanhos encobrindo seus olhos e o pavor que sentia no momento. Sua única resposta foi balançar a cabeça negativamente, em silêncio, numa postura submissa.
Patético! Foi o que Shun pensou de si mesmo.
O italiano não precisava perguntar mais nada. Máscara era inteligente e a prática de usar belas mulheres para favores sexuais em negociações, tanto comercias como criminais, era comum. Rapidamente o italiano ligou os pontos. Mas o presente não era uma mulher, não era mesmo um homem. O japonês não passava de um garoto. Aos poucos o italiano foi contorcendo a cara e um sorriso sarcástico brotou até se transformar numa risada sádica e estridente que fez a voz grossa ecoar por toda a sala.
– Um bambino! Eles me mandaram um bambino! – Sua expressão mudou repentinamente para uma de extrema raiva. Chutou uma cadeira que estava por perto quebrando o encosto de madeira. Esperava ganhar uma Katana histórica, uma imagem de Buda toda em ouro, um Cloth Myth, qualquer coisa, mas não um garoto!
- Isso é alguma piada? – um presente como aquele não poderia ser sério, aquilo era praticamente uma declaração de guerra. – Tenho cara de viado? – Máscara berrou furioso – De viado pedófilo ainda por cima! – andou a passos firme até o garoto agarrando o rosto pequeno em suas mãos grandes e levantando-o para fitá-lo nos olhos. Encarou o japonês com seriedade como se este fosse esclarecer o significado daquilo tudo.
O japonês encolheu-se quando a cadeira chutada por Máscara da Morte caiu no chão. A voz imponente e autoritária dava mostras que não estava nem um pouco satisfeito com seu... "Presente". Pedófilo? Essa palavra agrediu seus ouvidos. Não era incomum que o confundissem como uma mulher dado as suas características físicas mas certamente...
- Não sou uma criança, senhor. - viu-se respondendo estranhamente calmo. Deu-se conta de sua ousadia e corou absurdamente. Sua declaração apenas o complicava ainda mais. O que estava fazendo afinal?!
Por algum motivo aquelas palavras o acalmaram o italiano. – Quantos anos você tem? – falou com a voz firme, mas não estava mais alterada. Perguntou por impulso. Afinal, qual relevância teria uma informação como essa para Máscara da Morte?
O jovem hesitou por um instante mas respondeu á pergunta finalmente erguendo á cabeça em direção ao seu interlocutor.
- Vinte e dois. - as esmeraldas se fixaram nas safiras tentando se reconhecer.
- Ma come?! - Não acreditou que um menino com um rostinho tão bonito e suave como aquele já tivesse vinte e dois anos. Crispou as sobrancelhas, desconfiado. Os olhos verdes encaravam-no sem titubear. Será que aquele menino - sim para Máscara ele ainda não passava de um menino – não tinha noção do perigo?
- Va bene... – segurou em seus ombros e, bruscamente, virou o garoto de costas. Agarrou seus pulsos, erguendo os braços do japonês e começou uma revista minuciosa. Apalpou os braços, tronco e pernas procurando por qualquer tipo de arma, branca ou de fogo. Nada encontrou.
O corpo do japonês se contraiu quando sentiu-se apalpado daquela forma tão.. tão...
Despudorada.
Afastou-se do outro abruptamente quando as mãos dele permitiram. - Jamais traria uma arma para encontrá-lo, senhor. - disse com o rosto em chamas.
- Como sabe que estava procurando por armas? – manteve o olhar desconfiado. Um olhar frio e cruel, de olhos escurecidos e rasgados que demonstravam toda a sua periculosidade. Um olhar cruel e fatal, destacado pelas olheiras vincadas que, ao contrário de tirar-lhe a beleza, concediam a Máscara da Morte um ar ainda mais másculo e atraente. O menino estava com medo, mas não era ignorante no assunto.
– Quem é você?
- Shun... - pensou em acrescentar seu sobrenome. Abriu a boca para continuar mas pensou melhor. Esse sobrenome jamais foi sinônimo de uma verdadeira família para si. Não importava de quem era filho. Importava somente quem ele mesmo era. Respirou fundo e mirou com intensidade as safiras do italiano que o olhavam com curiosidade e desconfiança.
-Meu nome é Shun. - respondeu novamente convicto de que isso era suficiente para se afirmar como alguém perante qualquer pessoa. Seria julgado por si mesmo e não por seu sobrenome.
- Seu nome é Shun - riu debochado. Aquilo parecia mais o som de um espirro do que um nome de pessoa. Pelo menos esse era o entendimento, eurocêntrico, que Máscara fazia dos nomes japoneses. – Diga-me... Shun. O que é que você tem de especial para ter sido enviado como um presente para mim? – sustentava o olhar do outro, achando graça do garoto que tentava se impor perante sua imponente presença.
- Não tenho nada de especial... Entretanto, minha família parece discordar. - desviou o olhar olhando em direção a janela sem conseguir esconder seu desconforto.
- Sua família? De qual família está falando? - Máscara queria saber a procedência de seu presente. Afinal, não ganhara um agrado qualquer, mas uma pessoa. Precisava saber o que aquilo significava, com o quê e com quem estava lidando.
Shun respondeu a contragosto e em voz baixa. - Mitsumasa... fechou os olhos e revelou sua origem. - Minha família pertence á linhagem Mitsumasa que controla o Japão por meio da Yakusa. - sabia que essa revelação por si só faria pessoas comuns se espantarem e fugirem de si com medo á mera menção do máfia japonesa. Porém, o homem á sua frente tinha participação no mesmo ramo que sua família.
O controle das rotas de drogas eram palco de contantes disputas internacionais. Para Máscara da Morte o seu "presente" podia ser interpretado de várias formas. Viu o olhar dele ficar nublado e sentiu...
Medo.
Como deveria interpretar esse olhar?
Aquela informação era importante, mas ainda era muito vaga. – Qual o grau de parentesco? – dizer apenas que fazia parte da linhagem Mitsumasa não dizia muita coisa para o italiano. A sua própria família era enorme, com tias morando por todas as regiões da Itália, uma infinidade de primos espalhados por todos os cantos do mundo... Isso sem contar os bastardos. Máscara não conhecia muito sobre as famílias japonesas, mas se fossem como as italianas, aquela informação não significava muito.
- Tenho prerrogativa na linha de sucessão dos Mitsumasa... Sou filho de Mitsumasa Hoshikage. - revelou com certo desgosto.
Máscara ficou chocado e sua expressão acabou denunciando sua surpresa. Rapidamente se recompôs e ponderou a informação. Pelo pouco que conhecia da cultura nipônica, Máscara sabia que os japoneses cultivavam um código de ética muito particular e rígido, isso em todas as áreas da vida. No crime não deveria ser diferente.
Então...
Será que aquele garoto havia se voluntariado como espólio para selar a paz entre as duas facções criminosas?
- Você se ofereceu para vir até aqui? Para se tornar o meu... presente? – Máscara estava tão imerso em seus pensamentos que não reparou na cara de desgosto que o rapaz fez ao revelar de quem era filho.
Shun não conseguiu se conter ao ouvir o que o moreno disse e replicou com asco. - Jamais me venderia desse jeito! - seu orgulho havia sido pisoteado. Não estava ali porque queria! - Eu não sei o que estou fazendo aqui. - era embaraçoso admitir isso mas era a verdade. - Por que fui mandando até o senhor contra minha vontade!
O canceriano mirou Shun com atenção. O garoto ficava uma gracinha revoltado. Não que ele já não o fosse quando estava calmo. - Pelo visto... você é o caçula. - sorriu irônico, já estava entendendo o que se passava ali. Não era raro que líderes mafiosos cortassem "na própria carne" para evitar futuras disputas de poder.
- Aposto que seu irmão não puxou a mesma cor de olhos - o fato de ser bastardo também costumava ser um problema, embora não chegasse a ser motivo suficiente para homicídios. Se fosse esse o caso a população da Sicília cairia pela metade.
O virginiano calou-se com as observações que ele fez. Não era um homem comum. Lógico que não! Afinal, estava lidando com, Mascara da Morte, o líder da máfia italiana.
- Meu aniki ... - Shun sussurrou para si mesmo. Ainda não acreditava que estava ali pelas ordens de seu irmão. Isso não podia ser verdade. Tinha que ser um equívoco! - O que pretende fazer? - deu dois passos para trás quando ele se aproximou mais de si. Estar perto do moreno o deixava em estado de alerta. "Você tem que fugir" - sua mente gritava... Mas como?
- Eu pretendo desembrulhar o meu presente... – o italiano sorriu malicioso – Mas não agora – afastou-se e guardou a pistola novamente na gaveta; o garoto já estava intimidado o suficiente. Entretanto, fez questão de desabotoar o paletó e mostrar que mantinha outra presa à cintura. Para Máscara estava claro o que se passava.
- Seu irmão é muito esperto bambino... Ou muito burro – só iria descobrir qual a alternativa correta com o tempo. Pegou o telefone e chamou no ramal da secretária. - Apronte tudo, sairemos em 5 minutos. Máscara não desgrudou os olhos do garoto um minuto sequer.
- Não tente nada engraçadinho, bambino... - avisou ao jovem nipônico.
Shun não era tolo o suficiente para tentar algo ainda mais quando estava desarmado. Não era tão ingênuo assim. No entanto, seus olhos vagaram pelo recinto á procura de uma forma por menor que fosse para se proteger... Ou fugir, embora, soubesse conscientemente que era quase impossível...
Quase.
A mulher adentrou a sala anunciando que o carro já estava pronto para levá-los. - Shina, se o bambino tentar fugir ou dar uma de ninja, não hesite em matá-lo. Não, matá-lo não... a morte é uma benção para um povo de suicidas. Mas faça questão de inutilizar um membro ou dois... ou todos – a mulher, que além de secretária também fazia sua segurança pessoal, assentiu e saiu, não antes de dar uma olhada para Shun, deixando claro que cumpriria as ordens do patrão com eficiência.
Máscara se aproximou do menino e o pegou pelo braço, com firmeza, mas sem machucar. – Não te preocupe bambino... Se ficar comportado, garanto que permanecerá inteiro – o italiano deu um sorriso 'simpático' e acrescentou: - Seria uma pena ver esse seu rostinho bonito todo retalhado – e então partiram.
Shun trincou os dentes com a ameaça. Deixou-se ser conduzido pelos corredores sem pestanejar. De cabeça baixa tentava buscar alternativas de fuga. Estava difícil. Tentava se situar.
Para onde o estavam levando?
A apreensão crescia em seu peito mas tinha que ter confiança em si mesmo. Viu a secretária de Máscara, Shina, ao celular. O italiano mantinha-se quieto. Provavelmente estava se divertindo, tentando amedrontá-lo. Apertou o tecido de sua calça, tentando não perder o controle de si mesmo. Não iria ser uma vítima. Não ia satisfazer os caprichos de Máscara da Morte ou atender os desejos de sua família no Japão.
Os três desceram até a garagem e chegaram ao carro, que foi conduzido por Shina até a residência de Máscara da Morte. O italiano se manteve no banco de trás, segurando o braço de Shun, que seguia a seu lado. Ao chegar à casa do mafioso, Shina checou o perímetro e assegurou que não houvesse ninguém que pudesse atentar contra seu patrão. Tudo certo, os dois entraram e Máscara se despediu da mulher, que residia em um dos anexos da mansão. Isso a mantinha sempre por perto, caso fosse necessário, mas preservando a privacidade de ambos. O canceriano conduziu o garoto ao interior da mansão. Para ser mais específico, até a biblioteca.
Shun queria protestar contra a forma rude que estava sendo tratado. Seu braço não era uma bengala para o italiano apertá-lo e se pendurar nele, arrastando-o pelos cantos. No entanto, tinha a impressão de que se começasse a reclamar... Levantou brevemente o olhar observando a cara amarrada do carcamano.
Bem, não ia adiantar muita coisa.
Durante todo o caminho percorrido de carro percebeu que Shina lhe lançava alguns olhares como que de sobreaviso. "Não tente nenhuma gracinha" era como se ela dissesse implicitamente. Tentar? E como poderia tentar algo? Não se colocaria numa situação de perigo a troco de nada. Quando adentraram a sala de estar da grande mansão não conseguiu se conter mais. Tudo o que queria era se desvencilhar do moreno e foi isso que tentou fazer. Ele percebendo sua impaciência o levou diretamente até a biblioteca. Colocou sua mão sobre a dele com gentileza e num tom firme abriu a boca para falar aquilo que o incomodava.
- Estou em teu poder. Não precisa me segurar com tanta força para ter certeza disso. Por favor, solte-me. - pediu com uma seriedade atípica.
- Hã? Estou te machucando? Scusa...- soltou o braço do japonêse andou em direção a um pequeno bar que lá havia - Às vezes perco a noção da minha força... ou talvez você que seja delicado demais... - serviu-se de um copo de uísque. - Bebe alguma coisa? - olhou de soslaio para o garoto que permanecia em pé no centro da biblioteca - Você não tem cara de quem bebe uísque, mas eu tenho licor e xerez.
E Máscara ainda continuava a tratá-lo como uma criança. A biblioteca era ampla e arejada, pelo vidral se podia ver o imenso jardim da mansão. Beber? Não era algo que tivesse o costume de fazer. Bem, se ia ficar ali aprisionado ao menos poderia conseguir algumas informações que lhe seriam úteis. Retirou o casaco que usava e colocou sobre a cabeceira do sofá, dirigindo-se até o italiano.
- Um martini com limão... Onegai. - respondeu o moreno de forma cortês apesar de não estar sendo tratado da mesma forma.
- Só tenho o Martini, sem limão. - Serviu uma taça para o rapaz, um sorriso zombeteiro enfeitava seu rosto. Afastou-se alguns passos e acomodou-se numa confortável poltrona de couro. Fitou Shun de cima a baixo, pela primeira vez reparando com calma e atenção o presente que ganhara.
Shun viu o líquido vermelho ser colocado na tacinha de cristal. A quem queria enganar? Não sabia beber. Porém, não era obrigado a tomar toda a dose que lhe era oferecida. Tomou um gole pequeno, observando pelo canto do olho o italiano sentar-se com pompa no sofá. Ignorou-o e resolveu olhar os livros que tinha ao redor. Shakespeare, Balzac, Dante Alighieri... Sorriu. Ele tinha bom gosto ao que parecia. Embora em termos de cortesia deixasse a desejar como anfitrião.
Máscara deixou escapar um risinho. Achava graça na pose que o garoto tentava manter diante de si. Sabia que era fachada, que no fundo Shun estava bastante assustado embora o italiano não estivesse mais se empenhando para provocar terror.
- Bambino... dá pra perceber que você não é ignorante. Teve uma boa educação, é ciente de sua linhagem...talvez até mimado - deixou escapar um sorriso sarcástico e sorveu mais um gole de sua bebida. - Preciso esclarecer qual é a sua situação? - Máscara não era homem de ficar fazendo joguinhos, muito menos rodeios. Era direto e claro em todas as áreas de sua vida.
- Mimado? Não sabes nada sobre mim, senhor. - Shun rebateu indignado com as especulações que ele fazia a seu respeito. Agora se sentia ofendido. Não era um mafioso apesar de fazer parte de uma família habilitada no ramo. Pegou o livro de Hamlet e abriu o livro num diálogo conhecido. - Ser ou não ser... - disse baixinho para si mesmo. Tomou mais uns goles do martini, o efeito do álcool dando-lhe coragem para se expor perante o outro sem inibição. - O que há para esclarecer? Além do que você gosta de estar no controle da situação?
- Para um homem como eu, estar no controle é uma necessidade, não um gosto pessoal. Qualquer descuido pode ser minha sentença de morte – o italiano terminou de tomar o líquido dourado e encheu o copo com mais uma dose. A bebida não surtia qualquer efeito em seu corpo. - Mas não desvie o assunto, você pode declamar Shakespeare depois - fitou o garoto de soslaio, sua feição era indecifrável. - Quero saber se está ciente de que agora é minha propriedade.
- Não sou sua propriedade. - virou o copo sobre os lábios tomando o restante do líquido vermelho. A visão oscilou.
Não...
Ainda não estava bêbado.
Passou a língua nos lábios inconscientemente repousando a tacinha na mesinha onde as bebidas se encontravam. Estava com fome... Não tinha comido nada desde que tinha sido mandado ao encontro com Máscara. De posse do livro sentou-se no sofá de frente para ele. Acariciou as letras douradas com as pontas dos dedos, agora mais relaxado. Hamlet conseguiu provar que seu tio era o verdadeiro assassino de seu pai, então rei da Dinamarca, por meio de uma peça teatral.
Conseguiria uma forma de mostrar ao italiano que o tratava como uma mera mercadoria que era uma pessoa com sentimentos? E que sua liberdade não tinha preço? O cenário em que se encontrava foi montado por sua família. Máscara e ele, Shun, haviam se tornado os atores principais. Sorriu mais confiante, cruzando as pernas. No script dessa história atuaria somente em seu benefício. Não se curvaria aos caprichos ou desmandos de Máscara da Morte.
O canceriano suspirou cansado. O chefe japonês lhe mandara um presente de grego. Máscara não tinha paciência para conversa fiada, então seria direto e objetivo para que ambos chegassem a um entendimento. E se não chegassem... Máscara teria que assumir uma postura mais...impositiva.
- Você não é burro bambino...Mas talvez seja 'inocente' - falou com um tom de zombaria. Duvidava que Shun não soubesse os motivos que o levaram até ali, mas iria fingir que acreditava na ignorância o rapaz. - Seu irmão e eu fizemos um acordo para estabelecer uma trégua entre as nossas organizações. Para selar o acordo seu irmão me prometeu um presente que simbolizasse o comprometimento da yakuza com o acordo - sorveu um gole de sua bebida antes de prosseguir sua fala
- Então, ele enviou você. - levantou-se calmamente e foi até a gaveta da escrivaninha para pegar sua cigarreira. Levou um cigarro a boca, o fogo do isqueiro iluminando momentaneamente a sua face que foi imediatamente encoberta pela fumaça. - Eu não posso devolver meu presente, seria uma desfeita para com o seu irmão e um ato totalmente... Anti-diplomático. - deu um sorrisinho que pensou ser simpático e sentou-se no sofá, próximo a Shun mas mantendo algum espaço entre eles.
O virginiano respirou fundo quando o moreno sentou-se ao seu lado. Pelo visto teriam problemas de comunicação entre si. - Nesse caso o senhor vai ter que aprender a lidar com o seu "presente". - falar a última palavra fez com que seu estômago revirasse. Ainda não acreditava que seu irmão... Seu nii-chan, tinha feito um acordo tão...
Tão..
Sórdido!
Jamais quis uma posição de liderança na Yakusa e por direito, na linha de sucessão seu irmão tinha a preferência por ser mais velho. Como ele pode fazer isso consigo? Como?! Perguntava-se internamente. Talvez uma ínfima parte de seu ser ainda se prendesse as memórias do passado quando eram apenas crianças que brincavam despreocupadamente. Seu irmão era tão gentil...
Como ele poderia ser capaz de ato tão vil?!
Apertou o livro em suas mãos procurando um equilíbrio. -Se eu quebrar será o mesmo que desfazer o pacto formado entre a Yakusa e a máfia italiana. - deu um sorriso singelo como quem aceita o destino que lhe é imposto. Estava acostumado a fazer sacrifícios.
- Muito pelo contrário... Tenho certeza que a intenção do seu irmão ao te mandar para mim era que vê-lo fosse destruído...de uma maneira ou de outra – o canceriano falou sem ironia alguma na voz. Falara a verdade, era aquilo mesmo que pensava.
Se fosse verdade... Se isso realmente fosse verdade... - Não importa... - Shun sussurrou para si mesmo. Perder alguém que amava era doloroso. Ter seu amor renegado por um membro de sua família, ainda que não concordasse com o ramo escuso em que ela trabalhava, era muito pior. Mais uma cicatriz que guardaria...
Não faria mal, não é?
Apertou com os dedos inconscientemente a parte interior de seu próprio braço.
- Apenas siga o script desse teatro, Máscara. Tenho certeza que o final será glorioso. - disse fixando seu olhar desfocado para o italiano. Sua voz parecia um eco vazio como se outra pessoa falasse em seu lugar. Outra pessoa? Não falaria algo assim para ele... Falaria? Sua visão ficou escura e tudo o que encontrou foi a almofada do sofá perto do rosto antes de perder os sentidos.
Máscara suspirou cansado ao presenciar o desmaio do garoto. - Uma taça de Martini... - balançou a cabeça negativamente - Depois diz que não é criança. - riu, mas não achou graça alguma da situação. Pegou o livro que estava nas mãos do menino e o colocou novamente na estante, dando uma mirada rápida na capa antes de devolvê-lo à coleção.
- Quanta baboseira... - voltou-se para o garoto desmaiado e o pegou no colo, jogando-o sobre seu ombro sem muito cuidado. - Menos Shakespeare e mais gibi pra você - o italiano deu uma gargalhada alta, achando-se muito espirituoso. Levou o menino até o quarto e o jogou sobre a cama.
A biblioteca era escura, mas o quarto tinha uma boa iluminação e Máscara agora podia analisar o menino com atenção. Tirou a echarpe que o garoto levava ao redor do pescoço e começou a abrir lentamente os botões de sua camisa. Não estava com ânimo para brincadeiras aquela noite, mas achou de bom tom pelo menos abrir seu presente.
Afinal, queria saber o que ganhara.
A camisa aberta mostrou o peito alvo e bem desenhado, assim como os mamilos rosado do japonês. Máscara não se considerava bicha, mas era impossível ser indiferente à beleza do rapaz. Com o mesmo cuidado abaixou as calças do mais novo, e as coxas bem torneadas exigiram um toque que o italiano não recusou. Passou a mão pela pele firme e macia, apertando de leve a parte interna, próxima à virilha.
- Dio mio... - sussurrou para si mesmo - pensou em retirar o resto do tecido no qual Shun estava 'embrulhado', mas talvez não fosse capaz de se controlar se visse o resto. E não era intenção de Máscara usar o menino naquela noite, muito menos naquelas condições.
Não via graça em transar com uma pessoa que permaneceria inerte na cama como se fosse um cadáver. Não era necrófilo nem estuprador e de qualquer forma, o dia havia sido deveras cansativo, a única coisa que queria era deitar e dormir.
Assim, vestiu o garoto novamente, deixando de lado apenas a echarpe. Tirou as botas do menino e o ajeitou melhor na imensa cama de casal. Depois foi a vez do próprio se preparar para dormir. Guardou as armas que portava e trocou o terno por uma regata branca e uma calça cinza de moletom, então deitou-se ao lado do japonês, dando-lhe as costas e rapidamente caiu no sono.
Máscara adormecia com extrema facilidade; a consciência sempre limpa e tranquila.
Continua... (?)
Glossário do capítulo 1:
SpiderCo = marca de canivete/navalha
Bambino = menino/garoto
Cloth Myth = action figure/"bonequinho" dos cavaleiros do zodíaco que custam uma fortuna!
Ma come? = Mas como?
Katana = tipo de espada japonesa
Va bene = Está bem
aniki = irmão mais velho
Onegai = por favor
Scusa = desculpa, perdão
N/A: Olá pessoal! Aqui quem vos fala é a Virgo no Áries! Espero que tenham gostado dessa fic! Bem diferente das que estou costumada a fazer e com um casal inusitado para alguns, né? MdM x Shun. Isso é pedofilia! Alguns de vocês devem estar pensando. Mas eu digo que não é. XD Lembrem-se que Shun tem 22 anos nessa fic, ok? Eu e Daftookami começamos a escrevê-la em formato de RPG e já temos uma boa parte dela adiantada. Temos umas 80 páginas aproximadamente... Por enquanto.^^
Estamos loucas pra saber a opinião de vocês. Críticas construtivas são mais do que bem-vindas!
Nos vemos nos próximos capítulos! o/
Kissus,
Virgo no Áries
