Danny estaciona no quartel um pouco depois das 10 da manhã, sai do carro e começa sua caminhada até a ala onde sua equipe fica. Respira fundo, pensando no que o parceiro iria meter ele hoje. No dia anterior eles haviam ficado de campana no porto até as 4 da manhã esperando a uma carga de drogas chegar... quando ela chegou... tudo aconteceu tão rápido... uma loucura... quando na vida dele ele iria se imaginar invadindo um cargueiro recheado de assassinos? Quem pensaria em fazer isso? Ninguém normal, a não ser Steve... se bem que ele não podia ser considerado um cara exatamente normal. Steve era um perigo para vida de qualquer parceiro. De repente se decide, iria conversar com Steve e colocar as cartas na mesa. Ele tinha uma filha pra criar, não podia ficar brincando de GI Joe.

Respira fundo novamente antes de passar pela porta, mas assim que entra nota uma cena que chama sua atenção. Na sala de Steve havia um garoto, até aí tudo bem, se não fosse pelo fato dele estar praticamente deitado no sofá. Olha em volta, nem sinal de Steve. Melhor assim... pois assim como ele, o parceiro tinha tolerância zero com folgados.

Abre a porta da sala com tudo e gosta de ver que o garoto se assustou, mas a fisionomia assustada dura menos de 10 segundos, logo ele volta a se largar no sofá e olhar pra ele com ar de pouco caso.

Danny se irrita, pergunta seco – Quem é você e oque você faz aqui?

- Quem quer saber?

Danny franze a testa, ele não estava acreditando na petulância daquele garoto, larga a pasta sobre a mesa e começa andar na direção dele, para a pouco menos de um metro, braços cruzados – Eu não vou perguntar novamente, se você não me disser agora qual o seu nome e quem deixou você ficar nesta sala... eu vou prende-lo por invadir a sala de um oficial.

- Meu Deus... Quanto estresse... pelo jeito todo mundo aqui ...

Danny descruza os braços abaixa pra pegar no braço do garoto... ele reage levantando as mãos – Calma, eu falo, eu falo... Meu nome é Daniel e estou esperando meu pai, ele mandou eu esperar aqui. Satisfeito?

De novo a petulância. – Escute aqui garoto...

Antes que Danny continue, Steve abre a porta, mas pára quando nota o clima entre os dois.

- Danny? Algum problema aqui?

Daniel fica de pé, agora sim, está assustado de verdade. Liga os pontos rapidamente... aquele era o tal parceiro novo que o pai tanto estava gostando... se irrita consigo mesmo "parabéns Daniel, você conseguiu de novo... agora se vira e rápido."

- Problema nenhum pai... a gente estava se apresentando...

Steve olha feio pro filho, volta a atenção ao parceiro. Danny olha pros dois... tinha entendido direito?

- Ele...você... Espera! Você tem um filho?!

– Tenho. Três na verdade.

- Não me diga... E você fala assim, com essa naturalidade?

Steve balança a cabeça que sim enquanto procura alguma coisa no armário.

Danny vai mais perto dele, as mãos nos bolsos da frente, fala irônico - Você simplesmente esqueceu de me contar?

Steve encara ele, responde um pouco mais mal humorado – Eu achei que você soubesse. Todo mundo sabe que sou casado e que tenho 3 filhos. Agora se você quer ficar puto comigo porque eu não te contei... fica a vontade.

Danny de fato está puto – Bom, pelo menos a falta de educação deu pra entender de quem ele herdou.

Danny mal termina a frase, Steve já lança um olhar na direção do filho, que instintivamente dá um passo pra trás, engole a seco e começa se defender – Não foi como o senhor deve estar imaginando, eu... eu não o ofendi, juro. Ofendi senhor?

Daniel olha pra Danny quase suplicando, afinal o pai já estava pra lá de bravo com ele por conta da "reuniãozinha" logo cedo no colégio. Nem ele acreditava que tinha sido suspenso. Três dias... o pai iria mata-lo, não podia acrescentar mais nada a lista.

Danny se diverte com a agonia do rapaz, obviamente imaginando que aquilo não passaria de uma bela bronca, que entraria por uma orelha e sairia pela outra.

- Pra você não deve ter sido nada mesmo. Sua geração está acostumada a falar com os mais velhos como se fossem colegas de turma. Eu, na sua idade jamais pensaria em me dirigir a uma pessoa mais velha com petulância e descaso com que você se dirigiu a mim...

- Não! Eu não... eu não quis... (Daniel passa as mãos pelos cabelos em plena agonia quando percebe o jeito como o pai olha pra ele... ele vai apanhar ali mesmo, deixa a vergonha pra outra hora) Pelo amor de Deus pai... Eu juro que eu não sabia que ele era seu parceiro...

Steve começa andar na direção dele, Daniel vai dando a volta na mesa com as mãos a frente do corpo como se isso fosse fazer o pai parar.

– Incrível como você não aprende! Só para refrescar a memória Daniel... porque eu tive que ir te buscar no colégio no meio do período? ?

- Por favor pai... vamos pra casa, aqui não... não me faz pagar mais esse mico...

- Você esta pagando mico? E oque vc me fez pagar hoje, hein? Você não tem idéia do que é pagar mico! Agora responde oque eu perguntei! (Steve bate na mesa, Daniel pula, Danny também, agora um pouco mais preocupado)

- Tá! Tá bom, eu respondo... (Olha de rabo de olho pra Danny, antes de falar num fio de voz) Porque eu fui suspenso.

- Por que?

- Porra pai... o senhor sabe oque eu fiz... pra que me fazer falar na frente dele?

- Porque eu estou mandando!

Daniel respira fundo, responde irritado - Eu mandei o professor de matemática se... se... eu não vou repetir oque eu falei só pra tomar um esculacho.

- Daniel... você quer mesmo me tirar "mais" do sério?

- Não! Não quero, claro que não... Ufffffffffff eu mandei ele se fuder. Pronto, falei!

- Pelo que me lembro tem mais uma partezinha... NÃO TEM?! FALE DE UMA VEZ!

Daniel pula novamente, fala rápido – E-eu disse que ia quebrar ele. Mas o cara é um animal pai, vive gritando com todo mundo, o senhor pode perguntar pra qualquer...

- Exato, ele faz isso com todo mundo, MAS VOCÊ É MELHOR QUE QUALQUER UM, VOCÊ É OQUE TEM QUE DAR A ULTIMA PALAVRA, NÃO É? AGORA NÃO RECLAME DAS CONSEQUÊNCIAS!

Daniel vira o rosto pro outro lado pra esconder o quanto está puto, mas a voz sai cheia de rancor – E eu não arquei? Ou me humilhar daquele jeito na frente daquele mer... cara, não foi suficiente? É... pelo jeito não né? Está me humilhando aqui também...

Danny fica simplesmente invisível pros dois. Steve cruza os braços, estreita os olhos – Me explica melhor qual foi a parte que eu te humilhei.

- O senhor me fez pedir desculpas, não fez? Eu quase ajoelhei nos pés do cara...

- Esse drama é por isso?

- Pro senhor é fácil... eu que vou ter que voltar lá.

- Você tem que erguer as mãos para o céu por não ter tido um pai como o meu, moleque! Por acaso eu bati em você na frente deles? Ou te prometi uma surra quando a gente chegasse em casa?

- Pelo jeito que o senhor falou comigo lá... até um imbecil entenderia que em casa a coisa ia esquentar... que o senhor não ia levar só um papo comigo.

- E desde quando um papinho só resolveu com você Daniel? Depois desse papelão... você pode me dizer que não merece tomar um couro?

O tom sai mais debochado do que ele pretendia – O senhor está mesmo me perguntando isso? (percebe o olhar do pai, tenta corrigir) - ... ameniza pro meu lado pai, eu pedi desculpas, eu não vou fazer de novo. Tem só uma semana...

Daniel cruza os olhos com os de Danny que está boquiaberto agora num ponto mais visível atrás do pai dele, automaticamente baixa os olhos e se cala.

Steve olha pra trás, entende porque Daniel ficou daquele jeito, mas não dá a mínima – Uma semana e você já está aprontando... isso mostra que peguei leve demais com você ou você não teria agido assim no colégio e muito menos teria tido o desplante de ser mal educado com Danny. Aliás, você deve um ótimo pedido de desculpas a ele, não acha?

Daniel não consegue falar, nem erguer a cabeça, mesmo porque a raiva e a vergonha estão fazendo com que seus olhos encham de lágrimas.

Danny não estava acreditando no que estava vendo.

- Daniel?

Daniel respira fundo, passa o braço nos olhos, ergue a cabeça tenta olhar pra Danny, mantendo uma postura mais distante – Me desculpe senhor...

- Melhora isso Daniel!

- Uffffffff Eu peço desculpas por ter sido... petulante e mal educado. Não vai acontecer... novamente... senhor.

Danny vai mais perto dele, passa a mão na nuca dele, bate nas costas, sorri amenizando o clima ruim – Oque é isso de senhor? OK, desculpas aceitas.

Chin bate na porta - Steve, você pode vir até a sala de processamento? É só um minuto...

- Claro... (já na porta, vira para olhar para Daniel, aponta o dedo pra ele, nem precisa falar nada)

Danny começa sair junto, mas quando vê o menino sentar no sofá, cobrir a cabeça com os braços, volta. Se sente mal por ter piorado a situação dele.

Daniel achando que está sozinho, começa xingar baixinho, tentando manter a raiva mais forte, pra evitar cair no choro.

- Daniel...

Daniel desespera quando ouve a voz de Danny – Meu Deus... como alguém pode ser tão azarado?

Danny sorri sem deixar Daniel ver, puxa uma cadeira, coloca na frente dele – Que tal a gente começar de novo, dessa vez do jeito certo?