Na primavera de 1792, James Potter, terceiro marquês dos Potter, conde de Blackmoor, visconde de Launcells, barão de Ballister e Launcells, perdeu esposa e quatro filhos para o tifo. Embora houvesse se casado em obediência às ordens do pai, lorde Potter aprendeu a respeitar a esposa que lhe deu três belos garotos e uma linda menininha e ele os amava o máximo que podia.
Mesmo assim, não era muito, de acordo com os padrões da época. Não fazia parte da natureza de lorde Potter amar alguém. Dedicava seus sentimentos às suas terras, principalmente Athcourt, o lugar que pertencia à família desde os tempos ancestrais em Devon. Sua propriedade era sua amante.
Tratava-se de uma amante cara, e ele não era o mais rico dos homens. Portanto, na idade avançada de 42 anos, lorde Potter viu-se obrigado a casar-se novamente, para satisfazer às exigências da amante – e desposar alguns barris de dinheiro.
No final de 1793 ele conheceu, cortejou e casou-se com Lilian Evans, a filha de 17 anos de um nobre florentino.
A sociedade ficou chocada. A linhagem dos Potter remontava à época dos saxões. Sete séculos antes, um deles havia se casado com uma dama normanda e recebera o título de barão de William I como recompensa. Desde então, nunca mais um Ballister se casou com uma estrangeira. A sociedade concluiu que a mente do marquês dos Potter estava transtornada pelo luto.
Poucos meses depois, ele mesmo começou a desconfiar de que realmente havia perdido a razão por algum motivo. Tinha se casado, imaginava, com uma bela garota ruiva que o adorava e concordava com cada palavra que ele proferia. Entretanto, descobriu que se tratava de um vulcão adormecido. A tinta do contrato de casamento mal havia secado quando ela entrou em erupção.
Lílian era uma garota mimada, orgulhosa, impetuosa e temperamental. Extravagante e imprudente, falava muito e alto demais e ainda zombava das suas ordens. E o pior era que seu comportamento desinibido na cama o deixava horrorizado.
A única coisa que o fazia voltar àquela cama era o medo de que a linhagem dos Potter se extinguisse. Ele segurava a raiva e cumpria com suas obrigações. Quando a esposa engravidou, ele parou de fazer sexo com ela e começou a rezar fervorosamente por um filho varão a fim de que não tivesse que experimentar aquilo outra vez.
Em maio de 1795 a Providência Divina atendeu às suas preces. Quando olhou a criança pela primeira vez, entretanto, lorde Potter começou a suspeitar de que seu pedido tivesse sido atendido pelo próprio Satanás.
Seu herdeiro era uma coisa verde e enrugada com grandes olhos verdes com braços e pernas desproporcionais. E chorava a plenos pulmões, sem parar.
Se pudesse negar que aquela coisa era seu filho, ele o faria. Mas não podia, pois na nádega esquerda da criança se encontrava a mesma mancha escura de nascença, cujo formato de balestra adornava a própria anatomia de lorde Potter. Todas as gerações exibiam a mesma marca.
Incapaz de negar que o monstrinho era seu, o marquês concluiu que aquilo só podia ser a consequência inevitável de atos conjugais lascivos e antinaturais. Em seus momentos mais sombrios, ele acreditava que sua jovem esposa era a dama de companhia de Satanás, e o garoto, a cria do Diabo.
Lorde Potter nunca mais voltou à cama dela.
O garoto foi batizado como Harry James Potter e, de acordo com a tradição, recebeu o segundo maior título do pai: conde de Blackmoor. O título era bastante adequado, diziam alguns à boca pequena, pois a criança herdara os cabelos negros do, segundo a mãe, avô materno. Também sustentava o nariz dos Evans, uma nobre tromba florentina criticada por uma infinidade de ancestrais maternos. O nariz ficava melhor no rosto dos homens adultos da família, cuja compleição era de escala monumental. Em um bebê desajeitadamente desproporcional, aquela característica se transformava num monstruoso bico.
Infelizmente ele também herdara a sensibilidade aguçada dos Evans. Aos 7 anos, já tinha a noção exata de que havia algo de errado com ele.
Sua mãe lhe comprara diversos livros ilustrados, todos muito bonitos. Nenhuma das pessoas retratadas se parecia com ele – exceto por um diabinho corcunda de nariz encurvado que se empoleirava no ombro do Pequeno Tommy e o convencia a fazer maldades.
Embora nunca tivesse percebido um diabinho sobre seu ombro nem ouvido qualquer sussurro, Harry sabia que devia ser amaldiçoado, já que sempre estava sendo repreendido ou açoitado. Ele preferia as surras que o tutor lhe aplicava; as reprimendas do pai faziam-no sentir calor e frio ao mesmo tempo, e parecia que seu estômago se enchia de pássaros, todos batendo as asas e tentando fugir, então suas pernas começavam a tremer. Mas ele não ousava chorar, porque não era mais um bebê, e a atitude apenas deixava o pai mais furioso. Uma expressão tomava-lhe o rosto, o que era ainda pior do que as palavras de repreensão.
Nos livros ilustrados, os pais sorriam para os filhos e os abraçavam e os beijavam. Às vezes sua mãe fazia isso, quando estava de bom humor, mas o mesmo não acontecia com o pai. Ele nunca conversava ou brincava com Harry. Nunca colocava o garoto sobre os ombros e o levava para passear, ou mesmo colocava em seu colo quando saía para cavalgar. O garoto montava o próprio pônei, e foi Phelps, um dos cavalariços, quem o ensinou a montar.
Harry sabia não podia perguntar à mãe o que havia de errado com ele e como remediar a situação. Aprendera a não falar muito – exceto quando dizia que a amava e que ela era a mãe mais bonita do mundo –, pois quase todo o resto a deixava irritada.
Certo dia, quando estava indo a Dartmouth, a mãe perguntou o que Harry queria que ela lhe trouxesse. Ele pediu um irmãozinho com quem pudesse brincar. Ela começou a chorar e ficou cada vez mais furiosa, gritando palavrões em italiano.
Embora o garoto não soubesse o que significavam, sabia que eram palavras feias, porque, quando seu pai as ouvia, ele ralhava com a esposa. Então eles começavam a brigar. E isso era pior até mesmo do que o choro da mãe e o olhar mais furioso do pai.
Harry não queria causar nenhum problema. Não queria que a mãe dissesse aqueles palavrões, porque Deus poderia ficar irritado, e ela acabaria morrendo e indo para o inferno. E, se isso acontecesse, ninguém mais o abraçaria nem beijaria.
Assim, não havia a quem Harry pudesse perguntar o que estava errado e o que fazer, exceto o Pai Divino. Mas Ele nunca respondia. Então, um dia, quando o garoto tinha 8 anos, sua mãe saiu com a dama de companhia e não retornou.
Seu pai tinha ido a Londres e os empregados disseram a Harry que ela decidira ir até lá também.
Mas o pai não demorou a voltar, e a mãe não chegara com ele. Harry foi chamado ao escritório. Seu pai, com uma expressão muito sombria, estava sentado atrás de uma imensa mesa, com a Bíblia aberta diante de si. Ordenou que ele se sentasse. Tremendo, o garoto obedeceu. Era tudo o que conseguia fazer. Não era capaz de falar. Os pássaros batiam as asas com tanta força em seu estômago que ele teve que se esforçar muito para não vomitar.
— Você deve parar de perturbar os criados com perguntas sobre sua mãe – disse-lhe o pai. – Não fale dela novamente. Ela é uma criatura maligna e demoníaca. Seu nome é Jezebel, e "os cães devorarão Jezebel no campo de Jezreel".
Alguém gritava dentro da cabeça de Harry, tão alto que ele mal conseguia ouvir o pai. Mas ele parecia não escutar os gritos; estava olhando para a Bíblia.
— "Pois os lábios da mulher imoral destilam mel; sua voz é mais suave que o azeite" – recitou ele. – "Mas no fim é amarga como fel, afiada como uma espada de dois gumes. Seus pés descem para a morte; seus passos conduzem diretamente para a sepultura." – Ele ergueu os olhos. – Eu renuncio a ela, e meu coração se alegra ao perceber que a corrupção saiu da casa dos meus pais. Não tocaremos mais nesse assunto.
Ele se levantou e tocou a sineta, e um dos lacaios levou o garoto dali. Mesmo com a porta do escritório fechada, mesmo enquanto descia rapidamente as escadas, os gritos na cabeça de Harry não paravam. Ele tentou tapar os ouvidos, mas a gritaria continuou, e tudo o que conseguiu fazer foi abrir a boca e soltar um berro longo e terrível.
Quando o lacaio tentou silenciá-lo, o menino o chutou e mordeu, desvencilhando-se do homem.
E todas aquelas palavras lhe saíram pela boca. Não foi capaz de contê-las. Havia um monstro dentro de si, e o garoto não conseguiu impedi-lo de sair. Ele pegou um vaso e jogou-o contra um espelho.
Agarrou uma estátua de gesso e derrubou-a no chão. Saiu correndo pelo salão nobre, gritando e quebrando tudo o que suas mãos conseguiam alcançar. Os criados mais graduados correram quando ouviram o barulho, mas não conseguiram tocar a criança; todos tinham plena convicção de que o garoto estava possuído por demônios. Ficaram paralisados, congelados pelo horror, testemunhando o herdeiro de lorde Potter reduzir o Salão Nobre a um monte de escombros. Nenhuma palavra de censura, nenhum som, veio do andar superior. A porta do escritório do marquês permaneceu fechada, como se ele quisesse se proteger do demônio furioso.
Finalmente, a enorme cozinheira entrou no salão, pegou o garoto transtornado nos braços e, ignorando os socos e os chutes que ele tentava desferir, abraçou-o.
— Já chega, criança – murmurou ela.
Sem temer qualquer demônio ou mesmo lorde Potter, ela levou Harry até a cozinha e expulsou todos os auxiliares. Sentou-se em sua enorme cadeira diante do fogo e embalou o garoto que soluçava até que estivesse cansado demais para continuar chorando.
Como o restante dos criados, a cozinheira sabia que Lady Potter havia fugido com o filho de um rico comerciante. Não fora a Londres, mas a Dartmouth, onde embarcou num dos navios do amante e partiu com ele rumo às Índias Ocidentais.
O choro histérico de Harry, que falava sobre cães que comeriam sua mãe, fizeram com que a cozinheira sentisse um forte desejo de enfiar um cutelo no senhor da casa. O jovem conde de Blackmoor era o garotinho mais feio já visto por toda Devon – e talvez em toda Cornualha e Dorset também. Era dado a variações de humor, irritava-se facilmente e, de modo geral, não se tratava de uma criança muito agradável. Por outro lado, era apenas um garotinho, que merecia receber algo melhor, pensava ela, do que o Destino tinha lhe dado.
Ela contou a Harry que seus pais não se davam muito bem e, por isso, sua mãe sentia-se tão infeliz que decidira fugir. Infelizmente, fugir era pior para uma dama do que seria para um menininho, explicou a cozinheira. Era um erro tão grave que jamais poderia ser remediado, e Lady Potter nunca mais poderia voltar.
— Ela vai para o inferno? – perguntou Harry. – Meu pai d-disse que... – A voz dele vacilou.
— Deus vai perdoá-la – disse a cozinheira, firmemente. – Se Ele for justo e misericordioso, Ele a perdoará.
Em seguida, ela o levou para o andar de cima, expulsou a babá dos aposentos e o colocou na cama.
Depois que ela saiu, Harry sentou-se na cama e pegou a pequena imagem da Virgem Maria e do Menino Jesus que sua mãe lhe dera de presente. Abraçado ao retrato, ele rezou.
Havia aprendido todas as orações tradicionais da fé do pai, mas esta noite ele proferiu uma das preces que ouvira sua mãe entoar, segurando o longo terço nas mãos. Tinha ouvido aquela prece tantas vezes que já a sabia de cor, embora não houvesse aprendido muita coisa em latim para compreender todas as palavras.
— Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muleribus – começou
Ele não sabia que seu pai estava do lado de fora do quarto, escutando. Não sabia que a prece papal, para lorde Potter, seria a gota d'água.
Duas semanas depois, Harry foi colocado numa carruagem e levado a Eton.
Após uma breve entrevista com o diretor, ele foi abandonado no imenso dormitório e deixado à mercê dos alunos da escola.
Lorde Malfoy, o mais velho e o mais alto, olhou para Sebastian por um longo tempo e explodiu em risos. Os outros logo seguiram o exemplo. Harry ficou paralisado, escutando o que pareciam ser mil hienas ensandecidas.
— Não é de admirar que sua mãe tenha fugido – disse Malfoy ao grupo quando conseguiu recuperar o fôlego. – Ela gritou quando você nasceu, imbecil? – perguntou ele ao garoto.
— Eu não sou imbecil – disse Harry, fechando os punhos.
— É o que eu disser que é, seu idiota – informou Draco. – E eu digo que sua mãe deu no pé porque não suportou olhar para você nem por mais um minuto. Porque você parece uma lacraia suja. — Com as mãos às costas, ele lentamente contornou o atarantado Harry. – O que me diz disso, imbecil?
O garoto olhou para os rostos zombeteiros que o fitavam. Phelps, o cavalariço, disse que ele faria amigos na escola. Harry, que nunca tivera ninguém com quem pudesse brincar, agarrou-se àquela esperança durante a viagem longa e solitária. Não estava vendo nenhum amigo ali, apenas rapazes que o humilhavam – e todos bem maiores que ele.
— Eu fiz uma pergunta, seu verme – disse Draco. – Quando seus superiores fazem uma pergunta, é melhor você responder.
Harry olhou firmemente nos olhos azuis do seu algoz.
— Stronzo – disse ele.
Draco lhe deu um cascudo leve na cabeça.
— Nada dessa palhaçada macarrônica, imbecil.
— Stronzo – repetiu Harry, de forma audaciosa. – Você é um cagão.
Draco levantou as sobrancelhas claras e olhou para os camaradas reunidos ali.
— Ei, ouviram isso? – perguntou ele. – Não só ele é feio como Belzebu; também tem uma boca bem suja. O que devemos fazer com ele, pessoal?
— Jogá-lo pela janela – disse um.
— Afogá-lo – sugeriu outro.
— Na latrina – acrescentou um terceiro. – Ele está procurando por cocô, não é?
A sugestão foi recebida com um entusiasmo vociferante. Em um instante, todos estavam sobre ele. Enquanto estavam a caminho daquele destino cruel, os rapazes deram a Harry várias oportunidades de se retratar. Tudo o que precisava fazer era lamber as botas de Draco e implorar por perdão, e seria poupado.
Mas o monstro havia se apoderado dele, e Harry respondera atrevidamente com todos os insultos em inglês e italiano que conhecia.
Não foi a rebeldia que o ajudou naquele momento, mas certas leis da física. Por menor que fosse, seu corpo era desajeitado – os ombros ossudos, por exemplo, eram largos demais para caber na privada. Draco apenas conseguiu enfiar a cabeça de Harry no buraco e segurá-lo ali até que ele vomitasse.
O incidente, para a irritação de Draco e dos companheiros, não ensinou nenhum respeito ao verme. Embora dedicassem boa parte do tempo livre a educá- lo, Harry não aprendia. Zombavam da aparência do garoto, da mistura de sangue inglês e italiano, e criavam canções obcenas sobre sua mãe. Eles o seguravam pelos tornozelos sobre o parapeito de janelas, colocavam-no dentro de um cobertor com as pontas amarradas e jogavam-no de um lado para outro, escondiam roedores mortos em sua cama.
Quando ficava sozinho – ainda que houvesse pouquíssima privacidade em Eton –, ele chorava de tristeza, ódio e solidão. Em público, xingava e brigava, mas sempre saía perdendo.
Entre os constantes abusos que sofria fora da sala de aula e os xingamentos dentro dela, Eton tentou arrancar dele qualquer sentimento como afeição, gentileza ou confiança. Os métodos da escola faziam aflorar o que havia de melhor em alguns garotos. Em Harry, despertaram o que havia de pior.
Aos 10 anos, o diretor o chamou para uma conversa e contou que a mãe dele morrera devido a uma febre nas Índias Ocidentais. Harry escutou a notícia em um silêncio pétreo. Saiu do gabinete do diretor e foi arrumar briga com Malfoy.
O garoto era dois anos mais velho, tinha o dobro do tamanho e do peso de Harry, além de ser rápido. Mas, desta vez, o monstro dentro dele se transformou em uma fúria amarga, e ele lutou fria e silenciosamente, com esperteza e determinação, até conseguir derrubar o oponente e deixá-lo com o nariz sangrando.
Então, bastante ferido, Harry olhou para os outros garotos ao redor e deu um sorriso torto.
— Mais alguém? – perguntou ele, embora mal conseguisse reunir o fôlego necessário para formar as palavras.
Ninguém emitiu um som. Ao se virar para ir embora, os outros abriram caminho para ele.
Quando Harry já havia atravessado metade do pátio, a voz de Draco quebrou o silêncio.
— Muito bem, imbecil! – gritou ele.
Harry parou de andar e olhou para trás.
— Vá para o inferno! – gritou em resposta.
O gorro de Draco foi lançado ao ar, acompanhado por uma salva de aplausos e gritos. No instante seguinte, vários gorros voavam e todos os garotos vibravam, empolgados.
— Idiotas – resmungou Harry consigo mesmo.
Ele tirou um gorro imaginário, já que o seu fora rasgado e esfarrapado, sem chance de voltar a ser como era, e saudou-os como se estivesse no palco, embora de maneira bastante irônica.
Logo depois, foi cercado por garotos que riam, então erguido e colocado sobre os ombros de Draco. E, quanto mais ele os insultava, mais os imbecis pareciam gostar daquilo.
Ele logo se tornou o melhor amigo de Draco. E então, é claro, não houve mais nenhuma esperança para ele.
Entre todos os desordeiros que surravam e insultavam enquanto cresciam em Eton, o grupo de Draco era o pior. Além das brincadeiras de mau gosto e o assédio aos habitantes indefesos, eles também apostavam dinheiro, fumavam e bebiam até cair – antes mesmo de atingirem a puberdade. E já começavam a requisitar os serviços de prostitutas.
Harry foi iniciado nos mistérios eróticos no seu décimo terceiro aniversário. Draco e Crobby – o rapaz que dera a ideia de enfiá-lo na latrina – embebedaram-no com gim, vendaram seus olhos e o jogaram de um lado para outro por mais de uma hora. Depois, fizeram-no subir um lance de escadas até um quarto que cheirava a mofo. Arrancaram suas roupas e, depois de tirarem a venda, saíram do quarto, trancando a porta.
No quarto havia um lampião que queimava um óleo malcheiroso, um colchão sujo de palha e uma garota gorducha, com cabelos louros cacheados, bochechas rosadas, grandes olhos azuis e um nariz que não era maior que um botão. Ela olhou para Harry como se ele fosse um rato morto.
Ele não precisou pensar no motivo. Embora tivesse crescido cerca de 5 centímetros desde o aniversário anterior, ainda se parecia com um duende.
— Não vou fazer isso – disse ela. Sua boca se contorceu, teimosamente. – Nem por 100 libras.
Harry descobriu que ainda lhe restavam alguns sentimentos. Do contrário, ela não teria conseguido magoá-lo. Sua garganta começou a arder e ele queria chorar, odiava a mulher por lhe causar aquela sensação. Ela não passava de uma porca ordinária e estúpida, e, se fosse um garoto, ele a espancaria até que perdesse os sentidos.
Mas esconder os sentimentos já havia se transformado em uma reação instintiva e natural.
— É uma pena – disse ele, friamente. – Hoje é meu aniversário e eu estava me sentindo tão bem-humorado que pensei em lhe pagar 10 xelins.
Harry sabia que Draco nunca pagava mais do que 6 pence a uma prostituta.
Ela fez uma expressão amuada e deslizou o olhar até seu membro masculino. E manteve os olhos fixos ali. Foi o bastante para despertar a atenção dele. E ele prontamente começou a crescer.
O lábio da mulher começou a tremer.
— Eu lhe disse que estava de bom humor – falou Harry, antes que ela começasse a rir. – Dez xelins e 6 pence, então. Nada mais. Se não gosta do que eu tenho a oferecer, posso ir a outro lugar.
— Eu espero que possa fechar os olhos – disse ela.
Ele deu um sorriso torto.
— Abertos ou fechados, tanto faz para mim. Mas eu espero que valha o meu dinheiro.
Ele conseguiu o que queria, e ela não fechou os olhos, mas demonstrou todo o entusiasmo que um homem poderia desejar.
Havia uma lição de vida naquilo, refletiu Harry mais tarde, e ele a aprendeu tão rápido quanto todas as outras.
Dali em diante, decidiu que adotaria o seguinte lema de Horácio: "Ganha dinheiro honestamente, se puderes; senão, como puderes."
A partir do momento em que chegou a Eton, as únicas notícias que Harry recebia de casa eram bilhetes com uma única frase que acompanhavam o dinheiro enviado a cada trimestre. O secretário do pai os escrevia.
Quando estava quase no fim do período de estudos na escola, ele recebeu uma carta de dois parágrafos que descrevia os planos para seus estudos em Cambridge.
Harry sabia que Cambridge era uma boa universidade, considerada por muitos mais progressista que a monástica Oxford. Sabia também que não fora por esse motivo que seu pai havia escolhido Cambridge. Os Potter estudavam em Eton e Oxford praticamente desde a fundação dessas instituições. Mandar o filho para qualquer outro lugar era o ato mais próximo de deserdá-lo que lorde Potter podia cometer.
Aquilo anunciava ao mundo que Harry era uma mancha imunda no brasão da família.
O que, quase certamente, ele era. Não apenas agia como um monstro – embora nunca o fizesse de maneira tão clara diante de autoridades que podiam expulsá-lo da instituição –, como também se tornara um, fisicamente: já tinha bem mais de 1,80 metro de altura, e cada centímetro seu exalava uma brutalidade sombria.
Passou a maior parte do tempo em Eton certificando-se de que seria lembrado como um monstro. Orgulhava-se de pessoas decentes terem-no apelidado de "o flagelo e a perdição dos Potters".
Até então, lorde Potter não dera qualquer indicação de que percebia ou se importava com o que o filho fazia.
A carta sucinta provou o contrário. Sua senhoria desejava castigar e humilhar o filho, enxotando-o para uma universidade onde nenhum Potter jamais colocara os pés.
Mas o castigo acabou chegando tarde demais. Harry já havia aprendido muitas formas de responder a tentativas de controlá-lo, puni-lo e constrangê-lo. Descobrira que o dinheiro, em muitos casos, era mais eficaz que a força física.
Agindo de acordo com o lema de Horácio, ele duplicou, triplicou e quadruplicou sua mesada em jogos de azar e apostas. Gastava metade dos seus ganhos com mulheres, outros vícios e aulas particulares de italiano – porque não queria que ninguém imaginasse que sua mãe era um de seus pontos fracos. Além disso, tinha planejado comprar um cavalo de corrida com a outra metade do dinheiro.
Harry respondeu à carta, recomendando que o pai usasse o dinheiro para enviar um garoto que realmente precisasse de estudos a Cambridge, pois o conde de Blackmoor iria para Oxford e pagaria a universidade com o próprio dinheiro. Em seguida, apostou numa luta as economias destinadas à compra do cavalo de corrida.
O dinheiro que ganhou com a aposta vencedora – e a influência exercida pelo pai de Draco – levou Harry a Oxford.
Harry estava com 24 anos quando recebeu as primeiras notícias de casa após o envio daquela carta. A mensagem de um parágrafo anunciava a morte do pai. Junto com o título, o novo marquês dos Potter herdava uma enorme quantidade de terras, mansões – incluindo Athcourt, a magnífica e antiquíssima propriedade as fronteiras de Dartmoor – e todas as hipotecas e dívidas que vieram com elas.
Seu pai havia deixado as finanças da família em um estado deplorável, à beira da falência, e Harry não tinha a menor dúvida quanto ao motivo. Incapaz de controlar o filho, o falecido marquês estava determinado a arruiná-lo.
Mas, se o velho estava sorrindo do outro lado, esperando que o quarto marquês fosse arrastado até a prisão mais próxima, então ele esperaria por muito, muito tempo.
Harry já havia descoberto o mundo dos negócios e empenhou seu cérebro e sua coragem para dominá-lo. Faturava ou ganhava em apostas cada centavo de sua renda, o que lhe permitia viver confortavelmente. No processo, transformara mais de um empreendimento à beira da falência em um investimento lucrativo. Lidar com os problemas financeiros deixados pela mesquinhez do pai foi brincadeira de criança para ele.
Vendeu tudo o que não fosse inalienável, quitou as dívidas, reorganizou o sistema financeiro defasado, dispensou o secretário, o administrador das propriedades e o representante legal da família, substituiu-os por funcionários inteligentes e disse-lhes exatamente o que esperava deles.
Então, saiu para uma última cavalgada pelos charcos e pradarias que não via desde criança e partiu para Paris.
E...aqui estou eu de novo, depois de um tempããããooo com mais uma adaptação de romance histórico!
Eu sei eu sei que os personagens não tem nada a ver com os originais (raramente são): Lilían que abandona o filho? Tiago chato e obtuso que declarou uma "sentença de morte" para a esposa? Harry feio e melhor amigo de Draco?
Eu sei eu sei, mas a história é INCRÍVEL! O livro original também se chama o "Principe dos Canalhas" da maravilhosa, diva e incrível Loretta Chase e simplesmente cativou meu coração e eu pensei que simplesmente tinha que adaptá-lo e espero sinceramente que cativem o de vocês também, super recomendo para quem gosta do estilo!
Por favor, por favor, por favor , deixem reviews! Nem que seja para dizer que esta uma merda e que nunca vai ler isso (mas, por favor sejam delicados ao dizer isso, ok?) Reviews são uma ótima forma de dar ideias ao adaptador/autor/etc e incentiva-los a continuar.
Bom, acho que é só, bjoos e até a próxima!
