Exausto de toda aquela papelada insuportável, levantou-se da escrivaninha e ficou frente a janela com vista para a vila e o Monumento Hokage, ouvindo os sons das crianças brincando, dos vendedores trabalhando, dos shinobis entrando e saindo do prédio. Lembrou-se da data, e entendeu então a razão da sensação nostálgica que sentia desde que acordara.
Quatro anos.
Desde a última vez que a vira, quatro anos já haviam se passado. Nesse tempo ele conseguira conquistar tantas coisas que gostaria de ter celebrado com ela. Finalmente, depois de um intenso treinamento político e diplomático, fora nomeado o novo Hokage, sua maior meta na vida. Além disso, tinha conseguido de uma vez por todas reunir a coragem necessária para chamar Hinata para sair, e depois de muitos encontros terminados em desmaios, hoje estavam noivos.
Mas no fundo, apesar da mágoa de não ter sua melhor amiga ao seu lado para comemorarem juntos as tantas vitórias que conseguira, ele a compreendia. Compreendia a sua vontade de viajar e ver o mundo sem as gigantes responsabilidades que passara a ter pairando sobre si durante os anos. Compreendia a sua necessidade de prestar alguma forma de homenagem à Tsunade, de ver o mundo através das lentes da eterna Godaime.
Além disso, sabia o quanto a guerra havia mexido com ela. Quantas pessoas ela não conseguira salvar, a culpa que carregava junto a si por conta disso, como se realmente fosse culpada. Lembrava como se fosse ontem da conversa que tiveram dois dias antes dela partir.
Depois de alguns copos de sakê e muita insistência, ele finalmente conseguira lhe arrancar as confissões e verdades que ela escondia dentro de si, e que tentava sufocar sem sucesso ao pular de missão em missão. Com o olhar fixo em algo que só ela parecia enxergar, ela se permitiu quebrar. Contara como não conseguia mais andar pelas ruas de Konoha sem que memórias dolorosas lhe assombrassem, como tinha pesadelos frequentes com os shinobis que morreram em sua maca, como a falta de sua mentora, a mulher que mais admirara na vida, lhe torturava cada vez mais.
Ele só escutava atentamente, sentindo lágrimas percorrerem o próprio rosto ao ver o choro copioso de umas das pessoas mais valiosas de sua vida. Por fim, ela lhe confirmara o que ele sabia que viria mais cedo ou mais tarde. Sairia da vila e viajaria, sem previsão de volta, para conseguir lidar com todo aquele sofrimento antes que explodisse. Ele simplesmente a abraçara forte e sussurrara que independente das escolhas que ela fizesse, sempre a amaria e apoiaria totalmente. Ela o fez prometer que não contaria para ninguém, odiava despedidas.
Dois dias depois, ele se vira parado nos portões da vila, vendo ela desaparecer cada vez mais no horizonte.
E então, anos se passaram.
Ele suspirou pesadamente, voltando a encarar as pilhas de documentos em cima da mesa.
Sinceramente, não tinha mais certeza se algum dia Sakura voltaria para casa.
Ainda assim, sempre fora um homem esperançoso.
