GOTEIRAS GREGAS

Máscara da Morte, Milo e Shaka subiam as escadas do Santuário de Atena, no meio de uma noite tempestuosa. Chegando a Aquário, eles avistaram Camus parado na porta, visivelmente preocupado.

_Sai da frente, Iceberg. O Mestre nos chamou urgentemente e temos de ir até o templo para saber o que ele quer – falou o canceriano adiantando-se para entrar.

_A missão deles para vocês é aqui, na minha casa – disse Camus, fazendo um gesto para que o grupo o seguisse.

_Detesto missões molhadas – reclamou Milo, sacudindo o cabelo ensopado. – Mas por qual razão o mestre nos mandaria para cá agora?

_Com certeza é algo relevante – disse Shaka quando passou por Milo, com seus os olhos fechados e sua postura séria.

_Com certeza eu não vou gostar disso – reclamou o Máscara.

O grupo caminhou até a grande biblioteca de Aquário, a qual estava cheia de goteiras. Camus já tinha retirado de lá uma parte do enorme acervo, porém, precisava de ajuda.

_Temos que salvar esses livros e documentos. Sabem o valor disso tudo? Essa é a missão urgente que o Mestre tem para nós.

_E por acaso eu te chamo quando chove dentro da minha casa, Camus? – retrucou o canceriano, chutando uma estante.

_Deixe o egoísmo e a insensatez de lado, Máscara da Morte. São ordens do Mestre, então, devemos preservar o conhecimento abrigado neste recinto – Shaka determinou.

_Então por que o Camus não congela tudo? Estaria tão conservado quanto o pernil que eu guardo na minha geladeira – insistiu ainda o guardião da quarta casa.

Milo começou a retirar alguns pergaminhos para guardá-los num salão ao lado, longe das goteiras. Ele disse:

_Tá com preguiça, Câncer? Anda logo, mãos à obra.

_Se é o que preciso fazer para voltar a dormir... Mas que droga! Se salvar esse monte de papel é assim, tão importante, por que você não fez os reparos no seu telhado, Geladeira?

_Já viu quantas tempestades assim na Grécia antes, oras? – respondeu Milo, já voltando para pegar mais pergaminhos.

Os dois estavam quase se estranhando quando Shaka gritou:

_O Ramayana, o Mahabarata, e o Bhagavadgita! São escrituras hindus! Que preciosidade!

_Você não é budista, Shaka? – Milo coçou a cabeça.

_Sim, mas isso não quer dizer que eu despreze o conhecimento como um todo, Escorpião.

Camus empolgou-se com as palavras de Shaka, e disse:

_Tenho também escritos do Confucionismo, uma das bíblias de Gutemberg, cópias dos desenhos de Da Vince...

_Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor... – leu Milo, com um sorrisinho nos lábios e com um exemplar desse título nas mãos.

_Porra, Camus... Isso não é livro de mulherzinha? – protestou Máscara da Morte.

_Uma biblioteca deve ser sempre bem variada, Sr. Sem Cultura. Ainda mais quando se trata da biblioteca do Santuário de Atena – falou Afrodite de Peixes, entrando no local e tomando de Milo o livro em questão.

_Veio também virar uma traça, Florzinha?

_Ignore o incauto, Afrodite. Ele não merece a nossa atenção. Concentremo-nos na missão que nos foi dada pelo Mestre – sugeriu Shaka.

Camus cumprimentou o pisciano e todos voltaram ao que estavam fazendo. Passados alguns minutos...

_Olha, achei Os Três Mosqueteiros! Adoro romances de capa e espada! – gritou o Escorpião, empolgado enquanto folheava o livro de Alexandre Dumas.

_E eu tenho em mãos um da Jane Austen, Orgulho e Preconceito – disse Afrodite.

_Droga, Camus... Crepúsculo? Vou te mandar para o inferno, e é agora! – gritou Máscara da Morte erguendo o dedo no ar.

_Esse eu ganhei do Shun no amigo secreto do último Natal – justificou-se Camus enquanto segurava vários livros de História Mundial nas mãos.

_Mesmo assim... Deveria ter limpado a bunda com isso em vez de colocar numa estante. Seria uma melhor utilidade pra o papel! – insistiu o canceriano, ainda querendo invocar suas Ondas da Morte.

_Tenho aqui o Fantasma da Ópera – falou Shaka, espiando as folhas com um dos olhos.

De repente, um barulho estranho foi ouvido pelo grupo.

_Que foi isso? – perguntou Milo.

_Um trovão, eu acho – respondeu Camus, sem desviar a atenção do que fazia.

_Não pode ter sido um trovão. Um raio tinha que ter vindo antes – observou Shaka.

_É o teto... Vai desabar! – gritou Afrodite, mas era tarde.

Parte da casa de Aquário desabou sobre o grupo, e todos ficaram desacordados. Entretanto, antes de voltarem a si, os cavaleiros de Atena acabarão "vivendo" algumas das histórias que viram na biblioteca de Camus. Como eles se sairão em enredos que não envolvem guerras santas contra deuses do Olimpo ou outros problemas do Santuário de Atena?