Título: O Mensageiro

Gênero: Drama / Angst

Classificação: Slash / Yaoi / Homem x Homem – se não gosta, não leia.

Pares: Draco Malfoy x Susan Bones / Harry Potter x Draco Malfoy

Aviso: Harry Potter e personagens pertencem a JK Rowling todos os direitos reservados. Fic sem fins lucrativos.

Resumo: Em seu sexto ano em Hogwarts, Harry se vê compelido a ajudar Susan a conquistar o amor de Draco, passando a levar mensagens um ao outro, o que o faz descobrir o próprio amor. ANGST! SLASH!


Parte I

Era noite e todos estavam dormindo, menos ele. Mantinha o dossel aberto, como se fosse sufocar se os fechasse ao redor de si. Nunca apreciou as cortinas em volta da cama, pois se lembrava do armário, debaixo da escada na casa dos Durleys, épocas difíceis e angustiantes até mesmo de recordar. Seu olhar se perdia na noite, o céu pipocado de estrelas, com a lua crescente a dispensar uma fraca claridade.

Estava com insônia pelo fato de nas últimas noites ter sonhado pesadelos com Voldemort. Imagens sanguinárias de pessoas morrendo, crianças gritando, corpos sem vida... Estremeceu inteiro e afastou tais imagens de sua cabeça.

Com um olhar ao redor, constatando que todos estavam dormindo, se levantou com cuidado e caminhou para fora do dormitório com passos leves e silenciosamente desceu até o Salão Comunal.

Sentou-se numa poltrona, frente à lareira contendo cinzas frias ao invés de toras de fogo. Não se importou com isso, apenas ficou ali, olhando como se ela pudesse lhe trazer o sono. Realmente não podia...

Passados alguns minutos, já estava ficando frustrado. Seu corpo reclamava por descanso, cansado pela correria do dia, mas o tão confortante sono se negava a pesar suas pálpebras e transporta-lo para o mundo dos sonhos, com ou sem pesadelos.

Resolveu em escapar mais uma vez e ir até a cozinha, tomar algo gelado, um suco ou leite para ver se conseguia assim trazer o sono. Olhou para a escadaria e desistiu de subir ao dormitório para pegar a capa de invisibilidade e com isso despertar alguém.

Atravessou o Salão e saiu pelo retrato da Mulher Gorda, que dormia e roncava pesadamente. Seus olhos vasculharam a escuridão e caminhou sorrateiro até o andar inferior. Quando descia a última escadaria, quase tropeçou em alguém, que estava sentado alguns degraus antes do chão.

Olhou apreensivo para essa pessoa, que também o olhava apreensiva, achando de início que era Madame Norra ou o próprio Filch.

- Susan Bones? – perguntou a meia voz, notando a garota encolhida no degrau, rente à parede e abraçada os joelhos.

Ela estava de camisola vermelha, destacando a pele branca e os cabelos claros. E estava descalça também, como pôde notar pela brancura de seus pés contra o piso.

- Potter? Graças a Merlin que é você... – ela relaxou o corpo, mas permaneceu abraçada aos joelhos.

- Aconteceu algo?

- Não... – ela sorriu timidamente. – Só estou sem sono.

Com um pouco de receio, Harry também se acomodou no degrau, um pouco mais abaixo do qual ela estava sentada, seus pés tocando o chão do corredor.

- Eu também estou sem sono. Quer conversar? – ofereceu-se prestativo.

- Eu não sei... – ela pareceu pensar no assunto, seus olhos a fitar através da abertura na parede, que servia de janela para o Grande Salão. – Acho que prefiro fica aqui... – disse por fim.

- Certo... Quer alguma coisa? Eu irei até a cozinha...

- Não, obrigada...

Um pouco confuso, por vê-la daquele jeito, tão dispersa, Harry seguiu seu caminho até a cozinha, tomando cuidado para não cruzar com ninguém. Passou uns bons quarenta minutos beliscando tortas e bolos enquanto bebia um copo cheio de suco de abóbora e falava com Dobby e outros elfos domésticos, até que o tão esperado sono começou a afeta-lo, o fazendo bocejar.

Comeu o último pedaço de bolo e bebeu o resto do suco, e se despediu, fazendo o caminho de volta, sem deixar o cuidado evitando se expor a olhares curiosos. Já passavam das duas na manhã, confirmou no relógio de pulso, era só voltar ao dormitório e apagar até o sol raiar.

Chegando na mesma escada, viu que a garota ainda estava ali, mas dessa vez, com um sorriso no rosto. Seus olhos ainda fixos através da janela, em direção ao Salão Principal. Aproximou-se com as mãos no bolso, e se recostou na parede, ao lado da abertura, dando uma espiada ao que a meiga lufaniana tanto apreciava.

Perante seu olhar, o Grande Salão estava iluminado por pingos de luzes vermelhas que caíam e se apagavam ao chão, sem deixar vestígios, e um rapaz de louros cabelos deixava o local, sumindo por uma das portas.

Conhecia bem aquele cabelo platinado, o único que tinha os cabelos daquela cor era Malfoy. Mas, o que ele fazia àquela hora fora do dormitório? Sim, como esquecer, ele era monitor. Mas por que a magia? Isso não entendia.

Finalmente se deu conta de Bones, quando ela se levantou. Olhou-a e tudo ficou tão claro como água.

- Estava esperando ele, por isso não quis conversar... – insinuou com divertimento e sorriu, ao vê-la corar.

- Harry... Podemos conversar agora? – ela custou a dizer, mas parecia que realmente desejava conversar.

- Claro... – aceitou, afinal, Susan era uma boa garota, e se precisava desabafar algo, estaria ali para isso, e quanto ao sono, já havia o perdido novamente.

Entraram numa das inúmeras salas vazias, e se acomodaram perto da janela, onde a claridade da lua permitia que vissem o rosto do outro sem esforço. Susan sentou sobre uma mesa de aluno, cruzando as pernas sobre o móvel e apoiando os baços nos joelhos. Harry apenas se encostou ao parapeito da janela, as mãos ainda nos bolsos e a olhou com interesse, aguardando que começasse o assunto.

- Acho que já percebeu o que eu fazia fora do dormitório... – ela começou, estava bastante encabulada e sem poder fitá-lo nos olhos.

- Malfoy... – ele afirmou com seriedade.

- Eu fico ali, esperando, para vê-lo, um dia sim e outro não, conforme a ronda noturna da Sonserina. – ela fez um longo silêncio como se analisasse sua própria situação. – Faço isso desde o começo do ano... – notou como ela remexia a renda da barra da camisola, nervosa por estar contando aquilo.

- Entendo... A maioria das garotas da Grifinória também tem uma queda por ele... Ouço isso desde o quarto ano... – tentou estabilizar um clima casual. Na verdade, não entendia porque a garota estava contando algo tão pessoal.

- Sim... Por isso fico tão perturbada e perco o sono.

- Fale com ele, você é bonita e ele não vai despreza-la... – tentou aconselhar, já que parecia que era conselho que ela buscava naquela conversa.

- É complicado Potter... Não tenho uma queda por ele. Eu o amo... – ela contestou, um pouco aborrecida. – Sabe o que é ser rejeitada por quem se ama? Ou ter apenas um caso passageiro? Não é isso que quero...

- Oh! Sinto muito... – desculpou-se de pronto.

- Já amou alguém Potter? – finalmente ela o olhou nos olhos.

- Amor mesmo... Acho que não... – disse pensativo.

- Então você não sabe como se sofre... – e suspirou desanimada. – Como é doloroso ver quem se ama, nos braços de outra pessoa...

Harry ficou preocupado, parecia que Susan ia começar a chorar a qualquer momento, e não fazia a menor idéia de como consolar uma garota.

- Posso fazer algo por você? – resolveu perguntar. Faria qualquer coisa, menos a ver debulhada em lágrimas.

- Na verdade Potter... – e fungou, segurando o choro. – Eu queria sua ajuda.

- É só dizer... – esboçou seu melhor sorriso.

- Você é um garoto... Poderia me ajudar a conquistá-lo falando com ele e me dizendo o que vocês meninos preferem?

Bones mantinha esperança nos olhos marejados. Então era por isso que pediu aquela conversa. Harry ficou um pouco tenso, não queria negar um pedido tão sério e confidencial, mas como faria para ajudá-la a conquistar Malfoy?

- Desculpe... Mas acho que não sou a melhor pessoa para isso. Sabe como discutimos diariamente... Se fosse diferente, eu a ajudaria sem contestação. – tentou ser sincero e se desculpar da melhor maneira possível.

Os olhos azuis claros dela se apagaram de desilusão. Não se via mais o brilho da esperança, apenas estava ali, o olhando com tristeza, como se sua última opção falhara miseravelmente.

- Oh! Entendo... – e voltou a encarar as próprias mãos, que apertavam a barra da camisola. – Sabe... Não peço ajuda a nenhuma das minhas amigas, pois sei que muitas delas nutrem certo sentimento pelo Malfoy e... Bem, as paredes tem ouvidos, e eu poderia correr o risco de intrigas ou rivalidades, coisa que eu detesto... Por isso pensei em pedir ajuda a algum garoto, e você... – e sorriu timidamente. – Tropeçou em mim como mandado por Merlin e eu pensei: é a pessoa ideal para me ajudar, Potter não é mesquinho e nem invejoso, e ajuda todo mundo...

Harry se penalizou por ela. Será que valia tanto esforço por amor? Porque simplesmente não esquecer, viver um sentimento platônico (o que era mais sensato fazer, visto pelo seu lado) ou se declarar e ver as conseqüências? Não entendia a cabeça das garotas, fazendo tudo tão complicado, levando tudo ao extremo...

- Eu posso tentar... – se rendeu a ela. – Mas não garanto resultados, e não faço a menor idéia de como faria isso.

Um largo e gratificante sorriso fora lhe dado em resposta. Lá estava a esperança, brilhando novamente no olhar azul claro.

- Eu sabia que você era o único Potter! – ela se atirou em seus braços, tamanha felicidade. – Eu pensei em você conviver um pouco com ele e ver suas preferências sabe... – o vermelho tingiu suas bochechas enquanto dizia seu plano. – O que ele gostaria de ganhar... Que tipo de bombom ele gosta, quando ele sai pra caminhar... Essas coisas bobas, mas que farão toda uma diferença.

- Para se preparar, eu suponho – sorriu, sacando a intenção da garota. – Chamar atenção e se destacar das concorrentes usando os pontos fracos do alvo.

- Não são apenas os Corvinais que usam a cabeça para planejar... – ela se defendeu, mas continuava alegre.

- Eu darei um jeito de ser um bom espião, e trarei informações a você. Agora preciso ir, quando eu tiver alguma coisa, eu te aviso.

- Obrigada Potter! Ficarei esperando ansiosa!

Se despediram e Harry voltou a seu dormitório quando já passava das três. Tinha pouco tempo de descanso, mas a conversa com Susan Bones valeu a pena, pois o cansou e o fez apagar quando se enfiou por baixo das cobertas, coisa que talvez não aconteceria se ainda ficasse batucando sobre Voldemort.


Na manhã seguinte, freqüentou as aulas normalmente até o final do dia, depois, ao invés de ir voar ou jogar Snap Explosivo na Sala Comunal, quando não tinha nada para se fazer, resolveu por ir à biblioteca refletir em como ajudaria a lufaniana.

Estava sentado numa mesa ao fundo, sozinho e com os braços apoiados sobre a mesa, pensando. Como seria a melhor maneira de saber a vida cotidiana do pior sonserino da escola? Não podia simplesmente chegar nele, como velhos amigos ou tentar puxar assunto, como se tudo que passaram não tivesse acontecido. Nem tentar fazer amizade, depois de tantas brigas e xingamentos. Também não poderia segui-lo com a capa de invisibilidade, pois era arriscado trombar com alguém ou ser trancado na Sala Comunal da Sonserina sem saber a senha pra sair.

Levou um longo tempo tentando raciocinar, mas não estava dando certo. Estava a ponto de concordar com Malfoy, quando este lhe xingava diversas vezes de sem cérebro ou que não conseguia pensar.

Apertando os olhos com força, tentando fazer a cabeça funcionar, lembrou-se de quando ganhara o mapa dos Marotos e ao usá-lo, descobriu sobre Rabicho. Abriu os olhos com surpresa. Porque não pensara nisso antes? Sim, seu padrinho, animago, se transformava em um cão negro e foi assim que conseguiu manter-se escondido para não ser capturado ao mesmo tempo em que o vigiava. Ainda não aprendera sobre a animagia em Transfiguração, mas poderia achar algo em algum livro.

Embrenhando-se pelas estantes, buscou tudo e qualquer tipo de magia para poder se transformar em algum animal de pequeno porte, um camundongo, uma lagartixa (mesmo que não lhe agradasse muito), ou outro tipo qualquer que lhe permitisse ter acesso em todos os lugares, passando pelas menores frestas possíveis.

Seus olhos correram todos os livros e chegou a folhear alguns, até que parou num livro de capa escura, intitulado Poções de Transmutação. O apanhou e voltou a se sentar. Abriu ao fim do livro e buscou com o dedo, passando pelo índice, todas as poções que poderia ajudá-lo.

"Nada de Poção Polissuco, Hermione ficou horrível quando se transformou em metade gato" – pensou consigo.

De repente, seu dedo parou em uma poção específica e sorriu satisfeito. Abriu na página indicada e leu:

- Poção Animalle. Possui efeito de duas horas, depois disso a pessoa volta ao normal. Só pode beber três doses diárias ou não terá mais o efeito completo, sendo que o organismo se adapta a ela. Composição fácil e preparo rápido... Perfeito!

Anotou rapidamente os ingredientes e o modo de preparo, devolvendo em seguida o livro para a estante. Correu para a Sala Precisa, só ali poderia elaborar a poção tranqüilamente, sem que nada e nem ninguém o atrapalhasse e muito menos desconfiasse.

Ao entrar na sala, ela já estava a sua espera, com uma mesa de laboratório, cadeira e... Os ingredientes que precisava, como não era difícil de achar, muito pelo contrário, ela lhe forneceu.

- Bem pensado quem criou essa sala – sorriu.

Começou a preparar, despejando os ingredientes em ordem demarcada e mexendo dentro do caldeirão, aquecido em fogo alto. Esperou cozinhar durante dez minutos e...

- Droga! – leu o que faltava para finalizar a poção. – Precisa-se de parte de algum animal a que queira se transformar.

Olhou desesperado ao redor. Como encontraria um rato e o capturasse em tão pouco tempo? Se cozinhasse além dos dez minutos, teria que refazer todo o processo, pois desandaria tudo. Sem muito a se fazer, seus olhos pousaram na única criatura que tinha ali. Uma espécie de caranguejeira, negra com uma marca cinza no traseiro gordo.

- Terá de servir... – com cuidado, pegou a aranha com a colher, evitando que ela saltasse em cima de si e o picasse, e a jogou dentro do caldeirão.

Depois de fervido mais dois minutos, retirou do fogo e esperou esfriar naturalmente, como mandava na receita. Quando a poção já estava pronta para ser ingerida, e colocada dentro de um frasco de metal com o formato de uma aranha em alto relevo, que achara numa das gavetas, como se soubessem de antemão qual animal usaria, já era dez da noite. Nada mal, poderia experimentar se funcionava ou não. Caso desse certo dentre duas horas estaria em seu dormitório em horário suficiente para um bom descanso acordando sem um pingo de cansaço ou olheiras, que causasse suspeitas.

Olhou ao frasco em sua mão e abriu a tampa. O cheiro não era muito agradável, mas forçou-se a levar à boca e beber um gole. O gosto também era horrível, quase vomitara, mas agüentou firme. Engoliu e começou a tossir descontroladamente. Abriu os olhos e esperou, olhando para as mãos.

Nada de anormal. Continuava o mesmo. Decepcionado, foi pegar o pergaminho, para reler os ingredientes e o modo de preparo, para saber onde havia falhado, quando tudo girou e ao se estabelecer da tontura, o mundo estava muito maior do que o normal.

Olhou ás mãos, e no lugar delas havia patas, oito patas, como pôde comprovar, enquanto dava volta em si mesmo. E peludas. Apenas sua visão continuava normal, ou melhor, estava nítida, não precisando usar os óculos. E quando a forçava, o foco se aproximava igual aos onióculos, e quando relaxava a retina, voltava ao normal. Tentou escalar o pé da cadeira que estava a seu lado e sorriu interiormente ao poder subir sem cair, podia andar até de ponta cabeça. Parou no braço da cadeira e saltou para a parede se grudando nela e correu, tão rápido que via tudo passar rapidamente, os móveis, a porta, o corredor...

Parou se escondendo num canto escuro da parede. Lá estava o quadro que levava ao Salão Comunal da Sonserina. Havia alguns alunos do terceiro ano, conversando no corredor. Com cuidado, caminhou até o quadro e contatou uma fresta estreita proveniente da entrara. Passou sem esforço e correu pelos cantos, observando os sonserinos que conversavam e aqueles que estudavam nas mesas.

Buscou Malfoy entre eles, mas não estava ali. Teria de achar o dormitório do sexto ano, para maior contratempo.

Quando foi voltar a correr, um tapa o derrubou pra cima do sofá, causando pânico e gritaria nas garotas.

- Uma aranha! Uma aranha enorme! – berrava Pansy enquanto Millicent se atirava pra cima das cadeiras gritando.

- É só matá-la – disse Zabini, quem tinha o achado e derrubado da parede.

Tentou correr dali, dando um salto para cima da lareira, mas Blaise o encurralou com um sapato em mãos, pronto para esmagá-lo. Tentou avançar sobre ele ou recuar para subir pelas paredes, mesmo sabendo que poderia não conseguir, quando uma voz imperou na sala.

- Deixe ela! – era Malfoy que abria caminho.

- Mate Draco, ela é nojenta! – pediu Pansy, com a pior cara que podia expressar.

- É só uma aranha... – disse o loiro com a voz arrastada.

Sem temer, Draco se aproximou da lareira e observou a aranha com calma, parecia que ela também o olhava. Era preta com uma marca cinza que ficava prateada quando a luz batia nela. Estendeu a mão e a pegou com cuidado, percebendo que ela não queria feri-lo e a pôs em seu peito, como se colocasse um broche.

- Perfeita para um sonserino – disse com orgulho, vendo que a aranha ficara parada exatamente onde ele a deixou. – Ficarei com ela, e se alguém ousar a matá-la, animais aparecerão mortos também... – ameaçou em voz alta.

Ninguém contestou e se afastaram de Malfoy, voltando a seus afazeres.

- Você tem cada gosto! – retrucou Zabini, olhando à aranha com repulsa. – Pensei que gostasse de serpentes.

- Eu gosto de serpentes, mas as aranhas também me fascinam... – e sem mais palavras, seguiu ao seu quarto.


Harry não acreditava em tanta sorte. Era para estar morto numa hora dessas, mas Malfoy apareceu na hora, e o salvou, por mais incrível que parecesse. Não tão incrível, sendo que estava na forma de uma aranha. Algo interessante, Malfoy gostava de serpentes e de aranhas, primeira descoberta. Só não achava muito interessante falar sobre isso a Susan Bones, pois sendo garota e da LufaLufa, talvez não gostasse muito desses tipos de animais. Preferiu não comentar sobre isso e sim, prestar atenção a outras coisas que Malfoy gostasse.

O quarto do sonserino era individual. Suas coisas estavam organizadas devidamente, sem aquela bagunça de todos os quartos de meninos. Sem roupas pelo chão, revistas ou restos de comida sobre a cama ou cômoda. E o pior, ele nem deixava a porta do guarda-roupa ou a do banheiro aberta! Que tipo de homem era esse? Olhou direito. Malfoy, além de um quarto, tinha um banheiro só pra ele? Rony ia morrer de inveja se soubesse.

Uma mão o assustou e quase a mordeu, mas parou a meio caminho disso. Draco o tirava das vestes e o colocava sobre a cama.

- Você pode fazer uma casa sob o dossel... – comentou o loiro.

Harry quis gargalhar. Então, Draco falava com animais, será que quando era criança, conversava com seu peixinho dourado? Mas ficou chocado, quando percebeu que o loiro tirava as roupas, já estava sem a capa e a gravata, e agora desabotoava a camisa.

Confuso e se esquecendo que era uma aranha, gritou constrangido. – Não tem vergonha na cara, Malfoy? Me avisasse para virar pro outro lado!

Draco jogou a camisa sobre a cama, que cobriu Harry por inteiro. Ficou em pânico enquanto o perfume do sonserino o intoxicava. Se revirou sob o tecido até encontrar uma abertura e escapar com vida, se refugiando no travesseiro. O mesmo perfume estava impregnado ali também, assim como em toda cama e no ar. Tudo cheirava a Malfoy, para seu desespero.

Olhou ao redor do quarto, procurando o sonserino, mas este sumira para dentro do banheiro, certamente para tomar banho. Pulou da cama para a cômoda e deu uma boa olhada em tudo ali, desde a caixa de jóias, onde Malfoy guardava broxes, prendedor de capa e alguns anéis, até o livro que estava aberto numa página, talvez a que parara de ler. Subiu sobre as páginas e olhou com cuidado. Um romance trouxa. Outra coisa interessante vinda de um Malfoy. O interesse em uma arte genuinamente trouxa, para quem se orgulha de ser sangue-puro. Finalmente algo para contar a Bones, que Malfoy gostava de ler romances.

Um ruído chamou-lhe a atenção e ao virar-se para o quarto, viu Malfoy saindo do banheiro com uma minúscula toalha em volta do quadril. Dava para ver nitidamente o abdômen malhado que escoriam algumas gotas de água. E os cabelos platinados estavam revoltos e úmidos, pingando algumas gotas sobre os ombros e o pescoço, mas tratava de secá-los com outra toalha, esfregando suavemente pela cabeça.

Draco se aproximou de onde estava, buscando seu pente e passou a ajeitar os fios louros. Depois de pentear o cabelo, pegou-o de cima de seu livro e o levou para a cama, pondo-o num dos travesseiros. Mal teve tempo de se mover, quando o loiro retirou a toalha da cintura e se enfiou debaixo da coberta, nu como viera ao mundo, e com um movimento, serrou o dossel, deixando tudo escuro.

Ficou chocado, sentindo a cama balançar, conforme o sonserino se ajeitava para dormir, e o cheiro voltou a ficar forte no ambiente fechado. Deu alguns passos, sem saber para onde ir, quando suas patas se enroscaram em algo úmido. Forçou a vista e essa se acostumou com a escuridão, dando para ver perfeitamente, mesmo que menos de quando estava no claro.

Malfoy estava deitado com a coberta a cobrir-lhe até a cintura, sentia sua respiração a arrepiar-lhe os pêlos sensíveis de aranha. Estava sobre os fios do cabelo loiro, suas patas quase sumiam neles. Podia ver perfeitamente o rosto do sonserino, pois este estava virado para seu lado, os olhos serrados. Completamente indefeso e entregue ao sono.

Outra coisa que podia falar a Susan, que Malfoy dormia sem roupa, completamente nu. Até imaginava a cara dela, ficando vermelha só de imaginar. Coisa que ele não precisava, já que presenciou ao vivo.

O fato agora era. Como sair dali? Procurou uma abertura, mas não a encontrou, o que o levou a ficar desesperado. Olhou ao redor mais uma vez, forçando a retina para encontrar a fresta das cortinas e a viu, do outro lado do sonserino. A única fresta aberta e que podia sair.

Com cuidado, subiu ao braço de Malfoy e caminhou até o peito. A pele macia sob suas patas estava um pouco fria, mas era bem acetinada. Andou sobre o tórax até o abdômen e conteve os movimentos, quando uma de suas patas se enfiou no umbigo e Malfoy se mexeu de leve, dando um suspiro. Com esse pequeno mover, o lençol deslizou um pouco mais pra baixo, mal encobrindo o quadril. Ergueu cuidadosamente a pata do buraquinho do umbigo e voltou a caminhar pela barriga do loiro. Estava preste a saltar na cortina, quando esta se abriu abruptamente.

- Draquinho! – gritara Pansy alegremente.

Tão rápido quanto Harry podia imaginar, Malfoy agarrara a barra do lençol e a puxara até cobrir-lhe o peito desnudo e soltando um palavrão bem feio. Deixando Harry preso entre a pele pálida e o lençol. Ficou petrificado.

- Cai fora Parkinson! – desferiu Draco, com raiva, esquecera-se de trancar a porta e encerrar a cortina com um feitiço de isolamento.

- Já estava dormindo? Pensei que ia conosco no Pub. Dia de farra da Sonserina lembra? – ela se queixou com a voz melosa.

- Tive treino hoje sua burra! Estou esgotado! Porque não vai se divertir e me deixa em paz? – voltou a resmungar, arrastando ainda mais a voz.

- Quer que te faça companhia? – ela insinuou-se, pronta para puxar o lençol.

- Ou sai por bem, ou sai por mal... Você decide... – sibilou, já sem paciência.

Ouviu-se um resmungo, sons de passos e a porta se fechando. Quando tudo ficou em silêncio novamente, Harry ouviu Malfoy trancando a porta com um feitiço e se descobriu inteiro, para ver o que estava lhe fazendo cócegas no ventre.

Os olhos prateados fitaram a aranha encolhida sobre seu ventre. Ficou um pouco surpreso, mas depois relaxou, deixando a cabeça cair sobre o travesseiro.

- Aranha tarada... – acusou sem raiva.

Com um peteleco, Harry caiu sobre o colchão, do lado do loiro. Quis xingar, mas ao invés, aproveitou para pular pra fora da cama, antes que Malfoy voltasse a cerrar o dossel com um feitiço de isolamento o trancando ali dentro até o dia seguinte. Não seria nada gratificante voltar a forma normal, pelado, na mesma cama de Malfoy, também pelado. Ia ser um escândalo.

"Já chega por hoje..." – pensou, enquanto escapava para fora do quarto através da fresta debaixo da porta.

Depois de algum tempo, estava no dormitório da Grifinória a tempo de voltar ao normal, dentro do banheiro. Olhou-se no espelho, para ter certeza de que não ficou com nenhum vestígio da aranha. Sua imagem sorriu e confirmou:

- Tudo perfeitamente normal. Tranqüilize-se.

Sorriu, mas seu sorriso se desfez e encostou o nariz em seu braço, aspirando o cheiro de Malfoy grudado em todo o corpo. Fez uma careta. Era melhor tomar um banho para livrar-se daquele perfume tão sonserino ou com certeza, alguém desconfiaria, já que a maioria das garotas viviam suspirando pelo loiro, quando este passava pelos corredores.


No dia seguinte, encontrou-se com Susan Bones no jardim do castelo. Ela estava sentada num banco, lendo um livro. Não havia quase ninguém por perto, e achou a melhor oportunidade de conversar com ela.

Aproximou-se com cuidado e se acomodou a seu lado, fazendo a garota erguer a vista e ao notar ser ele, abrir um largo sorriso.

- Potter! E então? – ela quis saber, sem rodeios, tamanha ansiedade.

- Bem... Consegui algo – ele disse baixo, analisando o rosto delicado da lufaniana, cujos olhos se abriam ainda mais, esperando. – Ahn... Malfoy gosta de ler romances, o que mostra que ele é romântico. – fez uma careta de desgosto, era estranho falar sobre qualidades de alguém que só mostrou defeitos até então. – Ele é bem organizado, nem um pouco relaxado e dorme num quarto individual.

- Que mais! Que mais! – ela estava visivelmente delirando com cada palavra que absorvia.

- Hum... Foi apenas um dia, então não deu pra saber muita coisa... – se desculpou, mas mesmo assim, ela pareceu muito grata.

- Como conseguiu Potter? Conversou com ele ou foi algo escondido? – ela quis saber.

- Isso é um segredo... Não posso contar como faço para... Espiona-lo... – a encarou com repreensão. – É algo muito traiçoeiro, você sabe...

- Mas é por uma boa causa! E talvez, ele venha a gostar de mim também... – sorriu com a doçura de uma garota apaixonada.

- Oh! Certo... – se levantou para partir. – E uma outra coisa...

- Sim? – ela prestou total atenção.

- Ele costuma dormir sem roupa – sussurrou e abriu um largo sorriso, ao ver as bochechas da garota se tingindo de um vermelho intenso, enquanto ela ficava vesga, certamente imaginando o loiro nu, deitado entre as cobertas.


Assim se escoaram duas longas semanas, entre manter as aulas e as tarefas e espionar o sonserino para alegria de uma garota. Nos primeiros dias, até chegou a se arrepender e se censurou por ter um coração mole, para agüentar meninas chorando. Mas com o passar dos dias, em que ficava observando Malfoy, as coisas praticamente mudaram o seu próprio ponto de vista.

Descobriu que o sonserino passava algumas horas estudando e adiantando os trabalhos. Sentava-se em sua escrivaninha, livros e pergaminhos espalhados sobre ela. Enquanto pensava ou lia, passava a plumagem da pena pelo pescoço, enquanto com a outra mão brincava com uma mecha de sua franja loira, a cair-lhe pela testa.

Houve até uma ocasião, em que ele, em forma de aranha, claro, estava sobre a escrivaninha, próxima ao livro ao qual Malfoy estava pesquisando. E com um movimento seu, atraiu a atenção do loiro, que começou a brincar com ele, passando a pluma da pena sobre si, atiçando-o a tentar agarra-la e rindo abertamente. Brincaram assim durante algum tempo, até que foram interrompidos pelo chamado de Parkinson, para a ronda dos monitores.

Algo interessante também, era em como ele fazia as rondas. Uma vez teve a oportunidade de acompanha-lo. Malfoy permitiu que ficasse em seu ombro enquanto caminhava pelos corredores desertos. Ele era tranqüilo quando fazia as vistorias, severo quando encontrava alunos fora das Casas, mas o mais extraordinário, era quando chegava ao Salão Principal. Ali, a Murta que Chora ficava esperando-o, e quando ele aparecia, ela pulava de alegria.

- Menino bonito demorou hoje! – ela repreendeu-o, apesar de esboçar um sorriso.

- Não posso vir em horário definido, já avisei – retrucou.

Então, a Murta se sentou na ponta da mesa dos professores, os cotovelos apoiados nos joelhos e o queixo descansando nas mãos. Esperando algo.

Ficou curioso com essa atitude da Murta, mas logo teve a resposta, quando o show começou.

Malfoy pegou a varinha e num movimento fez chover flores fluorescentes em tonalidades rosas. A Murta logo aplaudiu, encantada. Ele girou o corpo com elegância fazendo a capa rodar aberta em torno de si e estendeu a mão à menina, que envergonhada, aceitou o convite, passando a dançarem ao som de uma musica de lira tocada bem baixinha.

Quase ficou tonto com as voltas que o sonserino dava ao salão, levando consigo uma maravilhada garota. Então, percebeu que só assim, a Murta esquecia-se que estava morta, presa naquele castelo por toda eternidade, vendo as pessoas chegarem e partirem. A garota tímida, que fora assassinada pelo basilisco, então dançava com o rapaz mais cobiçado da escola, e sorria como se não se importasse mais nada além da sensação de estar um pouco- viva.

Naquele momento, ela era a Murta que Ria... Graças a Malfoy.

Então, era isso que o sonserino fazia todas as noites de sua ronda, e que Susan Bones aguardava pacientemente, escondida ao pé da escada para observa-lo com deleite. No fundo, Harry também sorria, como se também dançasse, afinal, acompanhava os passos elegantes do loiro, e sentia sua respiração e o pulsar de seu coração, já que estava encostado em seu peito.

Depois, Malfoy se despedia da Murta e partia, deixando atrás de si, a magia terminando sem deixar vestígios, e uma Murta novamente desengonçada e repelida pela maioria dos alunos, voltando a ser a Murta que Chora, lamentando-se de sua triste sina.

Malfoy também era um bom conselheiro, e praticamente todos os Sonserinos, de todos os anos, procuravam-no para pedir conselhos e opiniões. E ele levava a sério, ouvindo com atenção a cada comentário e analisando detalhadamente o assunto, para responder da melhor forma possível. Mas não o fazia totalmente, ele incitava as pessoas a raciocinarem por si mesmas, o que era o mais impressionante.

E algo que o fez sorrir também, foi vê-lo comendo trufas de chocolate. Ele preferia as recheadas de licor e flocos de neve. Com cuidado ele pegava uma das várias caixas, que escondia na última gaveta da cômoda, deitava na cama, as costas apoiadas nos travesseiros, permitindo que ficasse recostado com conforto e comia uma por uma, mordendo uma metade, para a calda escorrer pela boca. Passava a língua pelos lábios, colhendo algumas gotas que sempre escorriam pelo canto da boca e lambia os dedos melados de chocolate, um por um. Se deliciando com cada mordida, de olhos fechados e soltando alguns suspiros de satisfação, como se comer trufas de chocolate fosse a maravilha do mundo.

Na última noite em que passou espionando o loiro, Malfoy o levara ao banheiro e o deixara na beirada da banheira, junto com suas roupas. Já havia acostumado a ver o sonserino trocar de roupa, mas nunca vê-lo nu por inteiro, o que, de certa forma, se não estivesse na forma de aranha, teria mostrado o rubor que o consumiu, quando o sangue esquentou-lhe inteiro.

Malfoy despira-se e entrava lentamente na banheira, primeiro um pé, depois o outro até se acomodar com prazer dentro da água quente e espumada. Ele era bonito e de corpo bem talhado, tinha que admitir. Mas como estava muito constrangido, não deu conta que estava na beira da água e com um esbarrão do braço do loiro, quando foi pegar o shampoo, caiu na água e afundou depressa. Tentou nadar, mas não conseguia, ficando desesperado até que foi içado para fora da água por uma perna pálida e ficou ilhado no joelho do loiro.

- Você é tão bobinha... – Malfoy resmungou olhando o estado que ficara sua aranha, molhada e com algumas bolhas de sabão pelas patas. – Vou chamá-la de Potter, por ser desengonçada e muito lerda para perceber as coisas.

Dessa vez Harry quis morde-lo. Mas Malfoy permaneceu pensativo e torceu o nariz, como mudando de idéia.

- Melhor não, você não merece ser xingada... Depois escolherei um nome pra você.

Sim, uma mordida agora não causaria nenhum problema, apenas pelo fato de não saber exatamente o grau de veneno daquela espécie de aranha. Porém, toda e qualquer raiva havia desaparecido, quando viu Malfoy repousar a cabeça na beirada da banheira e fechar os olhos, relaxando. Parecia tão indefeso que se xingou interiormente em causar-lhe algum mal, caso o envenenasse com sua picada.

Foi nesse momento que percebeu o quanto Malfoy era carinhoso, atencioso e um tanto romântico. E como todas as noites, quando não havia olhares alheios sobre si, ele derrubava suas máscaras e barreiras, como se fosse um fardo muito pesado para carregar durante todo o dia, e cansado, relaxava e permitia-se sorrir. Um sorriso encantador que o fazia parecer ainda mais diáfano e perfeito. Entretanto, ele era solitário...

Quis confortá-lo, mostrar-se presente, conversar com ele, rir bastante, brincar, como haviam brincado algumas vezes, e principalmente, compartilhar dos sonhos e aspirações desse recluso Draco Malfoy, contraditoriamente tão tímido, que se escondia por detrás da arrogância e da superioridade do Malfoy sangue-puro.

E viu que as horas começaram a passar depressa demais, e a vontade de prolongar o tempo tornou-se incômoda. E quando dera por si, estava passando quatro horas por dia, na companhia do loiro, bebendo dos dois goles da poção, para ficar mais tempo perto desse ser fascinante e controverso.

Era hora de parar por ali... Ajudar Susan Bones era uma coisa, se envolver no meio era outra completamente diferente.

Esperou até que Malfoy estivesse dormindo tranqüilamente, e o contemplou por mais um tempo, vendo que de fato, ele não era uma má pessoa, muito pelo contrário, ele era diferente...

Sentiu mais uma vez, a maciez dos fios platinados e saltou para fora do dossel, tomando caminho para seu dormitório, sabendo que nunca mais veria aquele sonserino, da forma como via antes.


Harry terminou de escrever uma lista das coisas que Malfoy gostava, mas omitira muitas delas, pois achou que não era certo expor a intimidade dos outros, mesmo que para alguém que a ame. Dobrou o pergaminho e guardou ao bolso, decidido a entregar a Susan, quando tivesse uma oportunidade e estaria livre desse rolo.

Não teve oportunidade de falar com ela o dia todo, mas se lembrou que era dia de Malfoy fazer a ronda e certamente ele iria ao Salão Principal, e lá na escada, olhando escondida estaria a garota.

Aguardou até o horário e escapou de seu dormitório, encoberto pela capa de invisibilidade. Chegou à escadaria e se quitou da capa, a escondendo num canto escuro e desceu os degraus até avistar Susan Bones, admirando estrelas douradas que dançavam pelo Salão e no centro, sentado ao lado da Murta, o loiro sonserino estava com um pequeno livro em mãos e parecia ler para ela algum poema que a fazia sorrir como se imaginando o que ouvia.

Ficou recostado ao lado da abertura que servia de janela, como da primeira vez, mas dessa, pôde acompanhar o espetáculo do início ao fim.

Assim que Malfoy partiu e o Salão voltou a ficar escuro e silencioso, Susan o olhou com ar sonhador e sorriu.

- Fico imaginando ele sussurrando poemas em meu ouvido, sob estrelas douradas como ele fez agora... Às vezes tenho inveja da Murta...

Harry se pegou sentindo a mesma coisa e isso o assustou. Afastou esses pensamentos da cabeça e se concentrou no que viera fazer ali. Retirou o pergaminho do bolso e estendeu à garota.

- Estão marcadas as coisas que Malfoy mais gosta... Acho que era isso que queria, então, boa sorte... – sorriu.

- Obrigada Potter... – ela agradeceu com um pequeno sorriso e retirou da camisola uma carta. – Teria como entregar a ele pra mim?

Os olhos da lufaniana estavam fitando o chão, talvez sabendo que estava a pedir muito, e que o rapaz a sua frente já lhe fizera o bastante.

- Tomei coragem e escrevi essa carta, uma poesia falando sobre os meus sentimentos por ele... – ela esclareceu com timidez.

- Não tenho como entregar sem que saiba que fui eu... Assim como não posso mais espiona-lo...

- Harry... Posso te chamar assim? – ela o olhou nos olhos e ele apenas consentiu. – Harry... Você é maravilhoso! Porque acha que ele não falaria com você?

- Existem vários motivos Susan... – disse cansado, já sabia de todos eles desde o primeiro ano. – E sinceramente, não quero sofrer uma patada agora... Não mais...

- Mas já tentou falar com ele como quem quer puxar um assunto? E não esperando uma provocação?

- Não... Pois sei que é inútil...

Susan encolheu os ombros. – Desculpe minha insistência... E obrigada pelo que fez por mim...

Harry manteve o olhar no vazio. E se tentasse? A carta da garota seria um ótimo pretexto. E Malfoy parecia precisar de um amigo.

Estendeu a mão à garota. – Vou tentar, mas se ele não aceitar, não posso fazer nada...

Um sorriso em agradecimento era o que mais poderia querer para aplacar sua consciência, pois sabia que estava fazendo aquilo, não mais por ela, mas por si mesmo e por Malfoy.

Com a carta em mãos e o coração disparado pela responsabilidade que pegou, subiu novamente a escada e se cobriu com a capa de invisibilidade, para regressar seguro até o dormitório. Ao deitar-se em sua cama, pela primeira vez cerrou o dossel lacrando-o com um feitiço e lembrou-se da história trouxa que leu em um livro de mitologia greco-romana:

"Eros o deus do amor, atirava suas flechas para enlaçar os corações alheios, mas ao se deparar com Psiquê, foi ferido por sua própria flecha, provando de seu próprio veneno. O mensageiro do amor acabou por se enamorar de sua vítima e seu mundo mudou. Enfrentou o desprezo de Vênus, lutou para conquistar o coração da amada e deu tudo de si para construírem uma vida".

- Bobagem... Não estou enamorado... Eu nem sei como é estar enamorado... Apenas estou compadecido por Malfoy e querendo ajudar Susan Bones. Ela sim está enamorada... – criticou-se a si mesmo, antes de adormecer.


Continua...