Vocabulário

"Edraith enni" – Salve-me.

"Tolo muindor" – Venha, irmão.

"Losto vae" – Durma bem.


Capítulo 1 - Edraith enni

Barulhos. Muitos barulhos ecoaram ao seu redor, despertando-a. Podia ouvi-los latejando em sua cabeça dolorida que ameaçou explodir. Sem abrir os olhos, encolheu-se. Seu corpo começou a tremer de frio. Deve ser noite, pensou. Mas, se ainda está de noite, de onde vêm esses barulhos? Não podem ser da floresta. Temeu a própria pergunta quando as lembranças terríveis, aos poucos, foram surgindo em sua cabeça. Sentia fome e uma dor incessante castigava seu corpo. Indagou-se o que fizera de tão ruim para os Valar a castigarem dessa forma. Lembrou dos pais, de como eles foram mortos cruelmente ao tentarem protegê-la de seus algozes. Por que não morrera com eles? Por que ainda estava viva? Queria chorar. Quando esse sofrimento teria fim?

Perdida em seus pensamentos, não reparou a aproximação de um de seus algozes.

—Acorda humana! — a puxou bruscamente pela corda amarrada em seu pescoço, arrastando-a pelo chão cheio de lama, rasgando ainda mais suas roupas maltratadas.

Ela gritava de pavor, tentando em vão segurar a corda com as mãos feridas para não ser estrangulada. Ao sentir que não seria mais arrastada, olhou em sua volta. Ela estava em um acampamento improvisado e tinha várias criaturas ao seu redor, a olhando com diversão. Eram orcs.

—Por Eru! De novo não! — encolheu-se apavorada, lágrimas saindo de seus olhos, ao ver três orcs se aproximarem.

—Vamos nos divertir um pouco com ela rapazes! — a voz grotesca de um deles ecoou pela floresta, se jogando em cima dela e a segurando fortemente pelos pulsos.

Ela gritava desesperada, lutando contra a criatura horrenda em cima dela.

—Cale-se! —a esbofeteou, mas ela voltou a gritar. —A floresta toda vai ouvir os gritos dela!Calem-na! —ordenou a um deles, que tapou a boca dela com as mãos, enquanto que o outro segurava-lhe os braços para que seu companheiro pudesse ficar livre para abusá-la. Ela fechou os olhos desesperada, ainda lutando contra seus agressores, e sentiu o pouco de força que lhe restara se esvair. Esperou pelo pior.

Mas o pior não veio.

Uma flecha atravessou o pescoço de seu agressor e os outros, ao verem-no rolar morto no chão tentaram fugir desesperados mas também foram atingidos por flechas e caíram mortos.

Ela, ao ver-se livre de seus agressores, recuou até uma árvore, apavorada com o que estava acontecendo. Uma batalha estava sendo travada no acampamento. Orcs estavam sendo massacrados por um grupo de cavaleiros encapuzados. Alguns armados com arcos e flechas e outros com espadas longas e brilhantes.

Viu um dos orcs correr furiosamente em sua direção. Tentou recuar, mas a árvore a impedia. Tentou gritar, mas não possuía mais forças nem para isso. O orc parou em frente a ela e, levantando a espada no ar rosnou:

—Vai pagar por isso vadia. — e já ia golpeá-la quando percebeu a presença de um homem encapuzado por trás.

—Ratos. —degolou o orc sem dar chances deste se defender.

O homem guardou a espada na bainha e se aproximou da garota que, assustada, se encolhia contra a árvore.

— Está segura agora.— abaixou-se frente à ela e retirou o capuz, revelando um rosto másculo e belo. Seus cabelos eram compridos e negros e seus olhos, cinzentos.

Ela o observou e seu olhar caiu sobre as orelhas dele. Eram pontudas.

—Elfo? —pensou.

Vendo o pavor em seus olhos, o elfo tentou tranqüilizá-la.

— Por favor, não tema. Não vou machucá-la. — sua voz ecoou suavemente pelos seus ouvidos, e ela sentiu-se estranhamente aliviada. —Deixe-me ajudá-la. — Ele estendeu a mão para ela.

Ela, hesitante, o olhou em seus olhos cinzentos e ali viu a salvação. Tamanho eram a bondade e a segurança que eles transmitiam que ela segurou na mão dele, aceitando a ajuda oferecida. Sentiu seus braços fortes envolvê-la em um abraço protetor. Seu corpo amoleceu e ela começou a chorar freneticamente em seu peito, afundando o rosto nas vestes dele.

—Está tudo bem agora. —sussurrou, acariciando a cabeça dela com uma das mãos.

Ele sentiu alguém se aproximar deles por trás. Olhou para trás e viu um elfo. Sabia quem era.

Tolo muindor. —o chamou— Temos que ir em frente. Pode haver mais orcs por perto. —repousou uma mão no ombro do irmão.

—Estou indo Elladan. — respondeu, observando o irmão dar a volta e montar em seu cavalo. Voltando a atenção à garota que tentava se aconchegar mais em seus braços, ele sussurrou em seus ouvidos:

—A levarei à minha terra, Valfenda. Lá você será curada e poderá descansar. — passou um braço por debaixo das pernas dela e a suspendeu. Levantando-se, foi em direção ao seu cavalo carregando a garota em seus braços. Ela ainda chorava e mantinha seu rosto escondido nas vestes dele.

Colocou a garota em cima do cavalo e a envolveu com seu manto. Montou no cavalo, sentando-se atrás da jovem e puxou as rédeas em direção à Elladan e aos companheiros, que iam na frente, entrando numa trilha.

—Sou Elrohir, a propósito. Qual o seu nome? — perguntou, sem tirar os olhos da trilha. Ela lutou para parar de chorar e, quando conseguiu se controlar melhor, tentou responder.

—Lena. — sua voz saiu fraca.

—Lena? Tens um belo nome. Irá gostar da minha terra. Nós, elfos, a chamamos de Imladris. Também é conhecida como Valfenda, em língua comum. —sorriu.

Ela inclinou a cabeça um pouco para cima, para olhar no rosto de seu salvador. Para sua surpresa, ele estava olhando para ela, sorrindo. Sentindo o rosto corar, que não passou despercebido por Elrohir, tentou escondê-lo encostando a cabeça no peito forte do elfo.

—Obrigada por me salvar, meu senhor. — sua voz saiu quase inaudível, mas as orelhas de Elrohir conseguiram captar suas palavras.

—Não há necessidade de me agradecer. — sorriu novamente — Agora descanse um pouco. Está segura conosco. —Ela se aninhou melhor e cedeu ao cansaço, dormindo instantaneamente, não antes de ouvi-lo sussurrar:

Losto vae.