Título – Light
Resumo – Seu mundo nunca desabara tanto quanto da primeira vez que a viu. O que ela teria para lhe ensinar? (Heero & Relena)
Música Tema – Love Story (tema do filme Love Story)
Música do Capítulo - In My Mind (SR-71)
Disclaimer – Gundam não me pertence, e embora isso seja muito óbvio e todos já saibam, eu tenho de pô-lo aqui...É sim um fato traumatizante, mas creio que irei sobreviver.
Também não ganho nadinha para escrever esse fic, apenas o puro prazer de clicar as teclinhas do teclado...
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Para Lica, que definitivamente merecia algo melhor...
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Parte I
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O som alto da ambulância me incomodava, isso eu me lembro bem, não estava consciente, mas ouvia vozes altas, sentia me levantarem me tirando de onde me encontrava, não sabia por que faziam aquilo, estava bem onde estava, confortável.
Depois disso, caí, mergulhando em minha própria solidão, tudo parecendo desaparecendo por um instante, só voltando a me recordar o que se passava quando abri os olhos no hospital. Minha cabeça doía, assim como cada insignificante parte do meu corpo. Aquele típico cheiro detestável de limpeza exacerbada hospitalar entrou nas minhas narinas ao mesmo tempo em que me acostumava com a luz do local.
Aquela confusão de sensações deixando-me confuso e meio tonto.
Percebo que estava deitado em uma cama e que estava todo enfaixado, um braço, o peitoral, as pernas, o que tinha acontecido mesmo? Não me lembrava. Começo a tossir, engasgado, descontrolado e é nisso que a ouvi pela primeira vez.
"Quem está aí?" – Foi o que ela me disse. Fiquei em silêncio, estava em uma cama protegida por aquelas compridas cortinas brancas e não era como se pudesse puxa-las no estado em que me encontrava e fazer algo a respeito, então apenas a ouvi chamar-me novamente – "Por favor, me diga, sei que está aqui. Você é o novo paciente que trouxeram mais cedo não?" – Continuei a ignora-la, não por não querer falar com ela, mas pelo cansaço que me consumia a ponto de não me permitir falar.
"Por favor, fale comigo, há muito tempo que não converso com ninguém novo..." – Houve um longo silêncio após isso, onde eu pensei que desistira, estava a me sentir tão quente e confortável, que já estava a ponto de dormir novamente, quando a voz fez uma nova tentativa – "Se não quiser eu entendo... Deve ser horrível para alguém como você estar preso aqui a essa cama como um inválido, mas ainda assim eu gostaria de me apresentar, meu nome é Relena, qual é o seu?".
Tentei falar, mas percebi que ainda estava sobre o efeito de algum sedativo, então respirei fundo, forçando a mim mesmo para ao menos falar alguma coisa, nada veio novamente. Tentei segurar o fio de soro ao meu lado para ter algo em que descontar a minha raiva, mas estava sem forças. Abri minha boca e com todas as forças que tinha, minha voz saiu, como em um suspiro fraco e falho "He...ero.....Yu...y..." – E com isso, caí em um sono tão profundo que me negou tentar qualquer outra alternativa.
O quintal de minha casa na infância fazia-me sentir estranho e nostálgico, a adorada sensação da grama verde encostando-se a meus pés, o dia ensolarado. Corria para alcançar meu amigo, como era o nome dele mesmo? Pulava a cerca dando na calçada. De repente tudo ficava na mais profunda escuridão, e eu estava sozinho no meio dela. Continuo correndo, mas já não sou mais criança! Do que corria mesmo? O que era aquilo atrás de mim? Vejo luzes e um barulho ensurdecedor na minha direção...
Acordo estupefato, sentindo-me suado. Devia estar respirando pesado, pois ela me ouviu.
"Está tudo bem? O que aconteceu? Teve um sonho ruim?" – A voz dela era doce, calma e melodiosa, delicada e agradável de se ouvir, daquelas que você simplesmente gosta de prestar atenção um dia inteiro.
"Estou bem, foi apenas um pesadelo" – Era tranqüilizante ter minha voz de volta, não percebia o quanto ela me fazia falta até então. Pude então ouvir um suspiro de alívio.
"Que bom, fiquei preocupada que pudesse estar acontecendo alguma coisa com você..."
"Não, nada aconteceu..." – Ficamos um instante em silêncio, eu me concentrando em meus próprios pensamentos, crente de que ele devia fazer o mesmo – "Relena... Você sabe me dizer como eu vim parar aqui?"
"Você não se lembra?" – Sua voz tinha um tom preocupado. Nessa hora nossa conversa foi interrompida por alguém entrando no quarto.
A cortina foi aberta do lado da porta e a enfermeira que havia entrado há pouco me sorri.
"Senhor Heero, como se sente agora?" – Mal tive tempo para responder e ela prosseguiu – "É muito bom saber que você está bem, o médico estará em você em instantes..." – Fecho um pouco o semblante pelo fato de ela nem mesmo ter ouvido a minha voz.
Checa o meu soro e meus batimentos anotando alguma coisa em sua prancheta, depois me sorriu, um sorriso plástico e artificial que provavelmente tinha de manter o dia inteiro, fechou então aquele lado da cortina de novo e pude ouvir a porta se fechar.
O silenciou sufocante dominou o quarto de forma constrangedora, suas garras prendendo-me, até Relena quebrá-lo.
"Ouvi dizer que foi graças a um acidente de carro..." – Ouvindo aquelas palavras me assustei um pouco, me esforçando para me lembrar... Nada...
Lembrava-me de estar em uma festa de família, sair desta com meus amigos e de mais nada. O que teria acontecido?
Ouço a porta se abrir novamente e o barulho da cortina sendo puxada. Um médico me olhava, sério e com uma certa cara de apreensão. Atrás dele, a mesma enfermeira de cabelos loiros de instantes atrás.
"Como se sente senhor Yuy?" – Não gostei de ser chamado pelo sobrenome, mas não fiz nenhum comentário sobre, enquanto ele continuava a falar – "Você bateu sua cabeça com muita força e suas memórias podem estar um pouco confusas no momento, mas aos poucos elas voltarão ao normal, não se preocupe."
O olho um pouco atordoado devido ao número de informações para meu estado atual – "Está com muitas dores? Digo, algum lugar em que não esteja já enfaixado ou uma dor incontrolável? – Me sorri, divertido"
Apenas balanço a cabeça negativamente em resposta e lhe devolvo o sorriso, educadamente.
"Muito bem então, agora Trisha aqui – Diz me indicando a enfermeira – Te dará um sedativo para que você volte a dormir, sei que deve ter muitas indagações, mas todas poderão ser respondidas amanhã quando sua família vier lhe fazer uma visita..." – Prestava atenção em suas palavras, nem percebi quando a enfermeira injetou algo em meu soro, apenas percebendo quando senti um sono incontrolável, ficando mole e caindo novamente no mundo dos sonhos, guardado apenas para os que crêem em Morfeu.
Acordei ouvindo o som da janela se abrindo e logo senti o sol enchendo o recinto, espalhando-se por cada canto que pudesse, dominante e imperativo. Abri os olhos, vagaroso e não demorei a sentir minha cabeça doer, como se tivesse bebido em excesso. Um gosto amargo na minha boca.
A cortina é aberta e uma enfermeira me sorria.
"Bom dia senhor Yuy!" – Seu sorriso chegava a ser irritante de tão grande que era. Ela então me estende a mão, onde segurava um copinho. Pego o mesmo sem entender. – "São seus remédios para dor..." – Dizendo isso me entrega um copo de água para que pudesse engolir os comprimidos.
Os engulo mecanicamente, tentando me ajeitar na cama, pelo menos aquilo cuidaria do gosto ruim com que eu tinha acordado. Olho para o lado, onde pela primeira vez não havia uma cortina para tapar minha visão.
Ao meu lado, se encontrava uma cama vazia, surpreendo-me um pouco e estranho à situação juntando as sobrancelhas. Ia perguntar onde a garota que repartia o quarto comigo se encontrava a enfermeira, mas essa acabara de sair, fechando a porta atrás de si.
Não demora muito para que minha família venha visitar-me. Meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo, acompanhados de meu melhor amigo.
"E aí parceiro, segurando a barra?" – Duo, sim, aquele despreocupado só podia ser ele.
"Até que não é tão ruim estar todo ferrado aqui, não preciso estudar, tenho cama e comida sem precisar pagar..." – Sorri, entretendo-me com sua presença.
Sinto minha mãe abraçando-me desesperada. – "Heero, estava tão preocupada..." – A abraço de volta, percebendo seu desespero.
"Está tudo bem mãe, não se preocupe..." – Acaricio as costas dela devagar, tentando acalma-la, mostrando-lhe que já estava bem.
Meu pai apenas me deu tapinhas tranqüilizadores na cabeça, mas a toda hora suspirava aliviado, me fazendo feliz pela preocupação.
"Como sofri o acidente?" – A pergunta surpreende meus pais e Duo, que me olham espantados.
"Você não se lembra? Isso é normal? Sua memória vai voltar?" – Minha mãe sobrecarregou-me de perguntas, as quais eu respondi com calma, antes de ela sossegar.
"Você disse que queria ir para a casa..." – Começou Duo – "Mas não aceitou a carona que eu lhe ofereci. Estava muito tarde e sem iluminação nas ruas, você estava quase chegando em casa quando um carro passou um farol e vocês bateram..." – Não podia negar que me sentia aliviado ao saber que não havia mais ninguém no carro. – "Os dois carros foram completamente destruídos e o motorista do outro carro está em coma..." – Houve um silêncio total depois dessas palavras.
O clima só volta ao normal quando Duo soltou uma piada, fazendo todos nós rirmos, os assuntos que se seguiram foram amenos, não discutimos mais sobre o desagradável tópico.
Meu irmão mais novo, Henry, de apenas oito anos a todo o momento queria subir em cima de mim, mas era impedido por minha mãe que o segurava, brigando com ele e nos fazendo rir.
A visita foi agradável e me tomou boa parte da manhã, mas quando essa acabou, percebi que estava cansado. Como detestava me sentir inútil. Ajeito-me melhor na cama, para em poucos instantes cair no sono novamente.
Acordo quando os últimos raios de sol se despediam na janela, preguiçosos. Esfrego os olhos, ainda sonolento, como queria estar fora daquela cama, quem sabe em casa, terminando meus deveres, para depois descer e encontrar a janta posta.
E isso era, definitivamente uma coisa que jamais me imaginei dizendo! Para ver como as coisas mudam, basta uma pequena demonstração de como pode ser pior para a gente vacilar e querer voltar a levar nossa vida com normalidade.
Remexi-me um pouco nos lençóis já tão embaraçados ao pensar nisso. Olhei ao redor, tudo o que podia ver era aquela maldita cortina branca a minha frente! Se pudesse me mexer com maior liberdade, a primeira coisa que faria era arrancar aquilo da minha frente. Não ver o que acontecia me deixava ansioso, curioso e até levemente irritadiço.
"Ouvi que recebeu visitas hoje..." – A voz dela voltou, doce aos meus ouvidos, como uma música em uma harpa de uma sinfonia em um sonho distante.
"Sim, meus pais e meu amigo vieram me ver." – Penso um pouco no que falar depois disso, não querendo voltar a ficar em silêncio, ela era a única pessoa que eu tinha por aqui – "E você? Não recebe visitas de seus pais?"
No mesmo instante em que fiz aquela pergunta pude me arrepender ao ouvir som de desagrado feito por ela. Ficamos em silêncio por mais alguns segundos antes que ela prosseguisse.
"Meus pais estão mortos." – Pela primeira vez sua voz soou fria, quase amargurada, então tratei de mudar de assunto.
"Você saberia me dizer a quanto tempo estou aqui? Esqueci de perguntar e confesso que perdi totalmente a noção de tempo deitado aqui..." – Sua voz voltou a clarear e com isso soube que havia feito a escolha certa.
"Você chegou há quatro dias, mas só acordou ontem... Antes disso tudo o que você fazia era murmurar coisas ininteligíveis." – Ela tinha um tom divertido na voz, e lembro-me que na época não pude entender o por quê. Se ao menos, naquele tempo já soubesse o tanto que ela havia permanecido sozinha, entenderia porque ela gostava de ter alguém murmurando coisas ininteligíveis ao seu lado.
Confesso que estava perdido, não sabia o que perguntar a seguir, tinha medo de mencionar algo que pudesse trazer lembranças dolorosas novamente. Tinha curiosidade de saber o que ela fazia ali, ou a quanto estava ali, mas estava temeroso quanto a perguntar isso também.
Em vez disso resolvi perguntar algo aleatório, que achei que não poderia de maneira alguma atingi-la...
"Você gosta de cinema?" – A pergunta foi feita em um tom natural, mas a resposta que eu esperava que viesse no mesmo tom do meu, veio em um tom tremido, quase choroso.
"Acho...que prefiro a música..." – Por que toda essa insegurança ou mágoa? Ela despertava cada vez mais uma pontada de curiosidade em mim, se ao menos pudesse vê-la.
Paramos um pouco de conversar depois disso, eu com medo de machucá-la e ela com medo de ser machucada, quase um acordo natural feito na quietude. Imaginava como ela se pareceria, porque nenhuma vez desde que colocara os pés nesse hospital maldito, tinha tido a chance de vê-la.
Será que ela era bonita? Seria loira ou morena, talvez até ruiva... Teria olhos verdes, azuis, castanho, mel... Eram tantas opções e combinações...
Alguém com aquela voz de anjo não poderia ser tão ruim assim. E então me peguei perguntando a mim mesmo por que estava a penar nela? Seria a falta do que fazer ali? Só podia ser, porque francamente, imaginar uma menina? Podia ver milhares delas, não precisava imagina-las!
Poucos minutos depois fui surpreendido por uma enfermeira que colocou um prato de comida com uma aparência terrível na minha frente e disse que já voltaria com meus remédios.
Admito que aquela noite tive dificuldades para pegar no sono. Não saberia dizer se foi porque já havia dormido demais ou se seria a imagem formada por mim da garota ao meu lado, que havia se encravado tão profundamente em minha mente.
O dia volta, rotineiro, ensolarado e eu acordo com a mesma enfermeira do dia anterior, entregando-me meus remédios, tentando não parecer um velo rabugento, lhe sorrio e peço para deixar a cortina aberta, o que ela faz com um grande e ainda incomodante sorriso nos lábios.
Peguei um dos livros que havia sido deixado por meus pais, me concentrando na leitura até o começo da tarde, onde me trouxeram o almoço.
Estava começando a ficar assustado. Relena novamente não se encontrava na cama ao meu lado. Esta estava vazia como da última vez, seria ela um fantasma? Era um daqueles medos bobos que a gente acaba tendo quando não há nada mais para se fazer.
Talvez eu a tivesse imaginado, a fratura na minha cabeça com danos piores do que os imaginados. Esse pensamento trouxe-me um calafrio pela espinha.
Imaginei-me deitado em uma cama de operação, várias pessoas mexendo no meu cérebro, tentando imaginar o que estava errado com ele.
A essa altura, uma enfermeira ajeitava meus lençóis que estavam retorcidos, por eu me mexer ou tentar me mexer em excesso. Tinha de perguntar, para meu próprio bem-estar e segurança!
"Com licença... A moça que reparte o quarto comigo, que estava ao meu lado esse tempo todo..." – Não pude continuar, pois ela me interrompeu.
"A senhorita Relena?" – Eu apenas faço um aceno positivo com a cabeça e ela prossegue – "Ela passa a maior parte de seu dia no exterior do hospital, nos jardins quero dizer, mas logo, logo estará de volta."
Ela partiu pouco depois disso. Não posso negar quando digo que me senti aliviado ao saber que ela era alguém de carne e osso como eu e não apenas um fantasma que assombra hospitais e mentes perturbadas.
Nisso ouço a porta e me viro para ver quem entrava. Era tão bom me ver livre daquele véu branco!
Uma garota que deveria ter a minha idade entrava acompanhada de uma enfermeira que a ajudava a andar.
Ela a ajudou a se sentar na cama e depois deixou o quarto. Continuei em silêncio apenas a observá-la.
Os cabelos eram longos e tinham a cor de ouro, lisos e lhe cobriam suas costas. A pele era clara, mas como estava virada não podia ver a cor de seus olhos. Tento me levantar um pouco para que pudesse ver e ela parece notar, virando-se bruscamente.
"Heero?" – E então eu pude ver completamente e que pude notar que havia algo de errado em seu rosto perfeito.
"Relena, você é... Cega...?" – Lembro-me bem até hoje de ter perguntado e de ter me arrependido depois ao ver sua expressão de profunda tristeza...
Bem gente, senti vontade de publicar algo desse casal, já que fazia tempo que não publicava nada.
Essa fic é um projeto beeem antigo que eu tinha, no total só tem três capítulos, ou seja, é um shortfic...
Foi dedicada para Lica quando decidi realmente postar, espero que você goste amoráá ^^
Também aviso que a fic não foi corretamente revisada, então se encontrarem algum erro muito horrível, simplesmente avisem-me que eu corrijo.
Até a próxima, deixem seu review
Beijos
26.09.09
