N.a: Bem, produzi o enredo da história para presentear o meu amigo oculto, Felipe. Que também é apreciador deste casal que amo tanto em CDZ. Felipe, fiquei muito feliz de tê-lo tirado. Fiz tudo com muito carinho e dei o melhor de mim, espero de verdade que goste. Claro, que essa história está postada para apreciação de quem mais tiver interesse, assim, outros comentários serão muito bem recebidos.

Agora, algumas notas:

O enredo desta fic terá como base somente os acontecimentos do Anime, desta forma, desconsiderem mangás, filmes e ovas. Também tomei a liberdade de alterar a linha temporal em que a história se passou, assim, a batalha de Hades aqui, teve seu fim em 1997.

Sobre o título, "Kokoro no kizu", eu ouvi essa expressão quando estava assistindo outro anime, e naquele mesmo instante eu pensei: "Feridas do coração" daria um ótimo título para uma fanfic, e bem, acho que casou perfeitamente com essa. Até o final, vocês poderão confirmar.

Sobre a autoria do fandom, aquilo que todos já sabem, mas não custa relembrar: Saint Seiya não me pertence, e sim, a Massami Kurumada e seus respectivos colaboradores. Os números que aparecerem dentro do enredo, possui notas explicativas no final. Trechos/Parágrafos maiores entre aspas são os pensamentos da personagem, em itálico, lembranças.

Agora sim, boa leitura! ;)


Kokoro no kizu por Andréia Kennen

Revisada por Vane Nascimento

Capítulo I

A neve que caía levemente do lado de fora, era assistida pelo o rapaz de tez tão pálida quanto os flocos que se juntavam forrando o chão e encobrindo o telhado das casas, as copas das árvores; os carros nas ruas... Descolorindo de vez, - tal como um líquido corretor -, a paisagem outrora em tons apagados do outono.

O jovem japonês suspirou, e o seu hálito quente fez com que a vidraça diante dos seus olhos se embaçasse. Foi então, que notou seu reflexo no vidro espelhado da janela, era quase um fantasma. A pele pálida e o jaleco branco que vestia, faziam-no quase desparecer em meio ao branco das paredes e do piso do lugar. Se não fossem seus olhos e os cabelos, naquele tom tão claro de verde, poderia dizer que também havia sido descolorido, igualmente a paisagem do lado de fora.

A neve trazia um sentimento de angustia nauseante aquele jovem residente, tão belo, parado ali, sozinho, no fim do corredor que levava a ala de repouso dos funcionários, de um dos Hospitais mais renomadas de Tóquio: a Clínica Sekai.

"Tarde de inverno... Queria ser tais como os animais que embernam nessa época, e só acordar quando a primavera chegasse re-colorindo tudo...", ele pensou, soltando mais uma vez um suspiro, que novamente, criou um círculo branco – que se esvaía rapidamente - no meio do vidro da janela.

Shun, - o jovem médico residente – considerava o inverno uma estação deprimente. Mas muitas vezes ele se repreendera dizendo que, não deveria pensar assim, já que era este o período onde se celebravam tantas datas importantes como o Natal e a passagem para um novo ano. Era onde as pessoas trocavam presentes e as famílias se reuniam para compartilharem a ceia juntos.

Talvez, era exatamente este ponto, que o fazia se deprimir ainda mais. Pois, era exatamente este clima calórico, - tão adverso ao clima da época -, que tornava o inverno a estação mais deprimente de todas para o recém formado doutor Shun Amamya.

Shun não tinha família. Na realidade, tinha: Ikki, o irmão três anos mais velho que si. Que decidira dedicar-se a reconstrução do Santuário de Atenas na Grécia, desde que retornaram da última batalha. A partir dali, poderia contar nos dedos o quanto se viram: no máximo umas duas vezes ao ano, o que somava no espaço de nove anos, uma quantia inferior a seis meses.

Shun sorriu, um sorriso deprimido, carregado melancolia, ao deduzir tal fato. E logo ele, que nunca pensara que viveria sem o irmão. Mas Ikki tomara uma decisão oposta à sua. Mesmo que, no início, compartilhara da decisão do mais velho em ficar na Grécia, e aceitar reerguer o Santuário, antes destruído pela grande guerra contra os espectros seguidores de Hades – o deus do mundo inferior.

Saori, a reencarnação de Atena na época atual, conseguira salvá-los no momento da destruição de Hades, teletransportando-os com o seu poderoso cosmo, de volta ao Santuário.

Contudo, foram inúmeras vidas perdidas naquela batalha e, a grande maioria, foram companheiros e mestres. Em uma guerra que fora praticamente deles, silenciosa, omitida dos habitantes do mundo, exceto dos chefes das grandes nações. Era assim que os cavaleiros do Zodíaco agiam desde a antiguidade: nas escuras. Só eram reconhecidos, dentro do seu próprio mundo, que se resumia praticamente ao Santuário grego.

Mas, a fama ou reconhecimento não era algo que Shun ansiava. Nunca fora pretensioso. O que ele desejava na verdade era uma redenção para sua alma. Afinal, mesmo que fora pelo bem do planeta, sua alma fora corrompida, tingida de sangue de várias vitimas. Tirou inúmeras vidas em nome da deusa, mesmo não se achando no direito de fazê-lo. Além de tudo, fora o hospedeiro daquele ser maligno, e quase dera cabo da vida dos irmãos de guerra, e do próprio planeta.

Se tivesse ficado para morrer em Elíseos, - o último campo de batalha -, talvez não sentisse tanta agonia, vazio e culpa por todos que morreram.

Porém, mesmo com os poucos sobreviventes, a senhorita Kido anunciara que reergueria o Santuário - o seu legado - e, para isso, necessitava da ajuda dos remanescentes. Contudo, esta fora condizente em anunciar que não forçaria àqueles que já haviam doado tanto por ela, e os liberou da tarefa, acrescentando que, quem decidisse partir para seguir uma nova vida, a milionária fundação Graad, - da qual era herdeira -, se encarregaria de ajudá-los em tudo que fosse necessário.

O desejo de Shun na época fora óbvio: ir para o mais longe possível daquele lugar e enfim, respirar em paz. Porém, seu irmão mais velho contradisse o desejo que nem chegou a pronunciar, informando-o que iriam ficar e ajudar na tarefa de reconstrução.

Naquela época era muito novo, - treze anos -, e, apesar de ter sido forçado a amadurecer, não sabia se conseguiria viver uma vida normal sozinho, longe do irmão que tanto amava. Desta forma, compartilhou da decisão de todos.

Todavia, assim que a reforma terminou, - um ano depois do pronunciado -, iniciaram-se às primeiras desavenças entre o grupo. Exatamente, quando Saori anunciara que faria a nomeação do novo mestre. Todos já imaginavam que a deusa concederia a Seiya – seu favorito – o privilégio. Contudo, veio à grande surpresa, seu irmão se opusera a indicação deste, dizendo que o cavaleiro de Pégasus não tinha maturidade suficiente para governar, e ainda acusou a Atena de estar agindo de acordo com seus sentimentos pessoais.

Apesar de ofendida com a acusação grosseira de Ikki, Saori reconheceu como qualidade, a petulância do guerreiro, - em ser o único a se opor a sua decisão - e por isso, prometera à ele que iria analisar a nomeação com mais cuidado antes de oficializá-la. A mulher então cogitou indicar Shiryu, mas este se recusou, disse que a única coisa que queria no momento, era ser nomeado, oficialmente, o sucessor da armadura de Libra que pertencera ao seu mestre. E assim, ter permissão para voltar a Rozan na China, para rever e cuidar de sua amada Shunrey.

Saori concedeu o desejo ao chinês, porém, com uma condição, que ele treinasse e preparasse o novo cavaleiro de Dragão, condição aceita com prazer pelo guerreiro. E antes das discussões sobre quem seria o sucessor de Saga findar, Shiryu deixou o Santuário ao lado de Kiki, que fora consagrado o substituto de Mu, - não só como cavaleiro de ouro de Áries -, mas como ferreiro. Levando consigo para Jamir, a missão de recuperar todas as armaduras danificadas na guerra, que seriam consagradas aos futuros cavaleiros, que começariam a jornada a partir daquele momento.

Shun lembrou-se então, do motivo que o fez desertar da sua condição de cavaleiro e, uma dor irritante dor, lhe contraiu as entranhas. Aquilo que lhe ferira mais que as inúmeras batalhas pela qual passou: as palavras ferinas do irmão chamando-o de fraco, só porque pedira a ele, que deixasse de implicar com Seiya, e parasse de interferir nas decisões de Atenas.

Ikki sempre foi seu protetor, e nunca imaginara, - ainda mais depois das batalhas e da aparente paz no mundo - que ele retomasse a ambição da infância, onde dizia que se tornaria o mais forte e poderoso.

Naquela ocasião, o seu onii-san lhe dissera sem nenhum receio que, se quisesse viver sem lutar, que deixasse o Santuário e fosse viver as custas da fundação.

Não pensou nem duas vezes. Mesmo depois de Hyoga ter praticamente lhe implorado para reconsiderar a decisão, - não se deixando levar por atitudes tomadas com a cabeça quente -, Shun clamou por uma audiência imediata com Atena, e sem vacilar, solicitou a ela deserção.

Nove anos se passaram depois daquele dia...

E nesse tempo, o ex-cavaleiro de Atena, não se arrependeu, em nenhum momento, da sua resolução. Ficou sabendo, bem depois, que Atena proclamara Marin, - que era uma das sobreviventes mais experientes da grande guerra - como a Grande Mestra. Quebrando assim, o ciclo machista do cargo. Seu irmão foi nomeado cavaleiro de ouro de Leão, e se tornou o capitão das tropas, o que deveria estar a seu contento, pois não houve mais protestos da parte dele.

Seiya, como já era de se esperar, tornou-se cavaleiro de ouro de Sagitário, e o responsável ao lado de Shina em recrutar e dar os primeiros treinamentos aos novos aprendizes. Hyoga tornara-se o cavaleiro de ouro de Aquário e, assim como Shiryu, voltara para seu antigo vilarejo com a missão de formar o futuro sucessor da sua antiga vestimenta, a de Cisne.

Aos poucos a guarda da deusa foi sendo recomposta; as leis reformuladas e o ambiente sacral e rústico das ruínas que compunham o templo, modernizado.

Um ano depois da sua saída do legado de protetores de Atena, June veio lhe dizer que havia sido convocada pra ser a nova instrutora dos aspirantes a guerreiro de Andrômeda, em uma nova ilha no mar mediterrâneo. Shun soube, no momento que a viu, que a intenção da amiga era na verdade, lhe pedir permissão para instruir este aprendiz.

Pois, sabia que a amiga nunca aprovara sua deserção e ainda o considerava como cavaleiro de Andrômeda. Porém, tornou as coisas fáceis para ela, respondendo-lhe que, era necessário que alguém repassasse os ensinamentos do mestre Albion à nova geração, e já que ele havia abdicado dessa função, ela era pessoa ideal.

June foi amiga e gentil como sempre, e antes de ir, ela pediu que o amigo procurasse se entender com o Ikki. Na verdade, só fez tranquilizá-la, afinal, os dois já estavam entendidos. Um mês depois que chegara ao Japão, Shun recebeu milhares telefonemas de Ikki, ordenando que voltasse. Mas, tentou ser firme na explicação que deu à ele, que já havia feito sua escolha, mesmo que tivesse que recomeçar sozinho.

Não estava mais bravo com Ikki, e sim, agradecido. Se não fosse por aquele estouro, talvez ele continuasse se enganando e forçando-se a ser o que não era: um cavaleiro.

No começo ficou demasiadamente triste, por ficar sozinho na grande mansão Kido. Mas, de vez em quando, recebia a visita de Saori e Seiya. Tatsume estava sempre presente também, cuidando dos interesses da eterna patroa.

Depois que começou a frequentar a escola e ajudar o mordomo nos afazeres da fundação, a cabeça de Shun se ocupou e a dor de estar sozinho se acalentou.

Até que, em uma das suas tarefas, que era prestar serviços no Hospital Mitsumasa Kido cuidando de uma ala de crianças com câncer, foi que Shun encontrou sua verdadeira vocação. Apaixonou-se pela garra que os pequenos tinham de viver e serem crianças normais e àquilo o tocou profundamente. Assim, passou a desenvolver um serviço voluntário aos finais de semana no lugar.

Ao terminar a escola média, foi medicina, a área que escolheu para prestar vestibular. Estava verdadeiramente satisfeito com sua escolha, salvar vidas era uma forma de se redimir do pecado por tê-las tirado antes.

Dedicara-se muito aos seis anos de curso e vencera cada etapa com muita força de vontade. Enfim, colhera os louros: estava ali, era um médico recém formado, de vinte e três anos, residente de uma das maiores clínicas no Japão.

E sua maior preocupação no momento eram duas. A primeira: à especialização que iria seguir. De início seu desejo era a área de Cancerologia, conhecida também como Oncologia, a especialidade do ramo que estuda os tumores malignos, o câncer. Mas gostara tanto das crianças que cuidou na época em que estava no Hospital da fundação que seu coração também estava dividido entre a pediatria. E ultimamente, até uma área que não lhe chamara atenção antes, começava a ganhar mais espaço dentro de si: a cirurgia.

Tudo graças ao seu mestre, Sakamotto, um grande neurocirurgião. E que era quase um pai para si. Ele quem vivia lhe dizendo com entusiasmo:

- Se quer salvar vidas, a melhor área é a Cirurgia, Shun! Pois é ali, na mesa e com um bisturi nas mãos, que você sente o milagre acontecendo. Ali, você sabe que está realmente, devolvendo a vida a alguém...

A sua segunda preocupação era quanto a jovem chamada Sayume, que conhecera, no Hospital da fundação, na época que era apenas um voluntário. Sayume, naquele tempo, era estagiária em Psicologia, tinha vinte e um anos e pertencia a uma família de estrutura média. Já ele, era só um garoto de dezesseis anos, estudante do ensino médio, sem pais, sem nada de grandioso a oferecer. Mesmo assim, surgiu uma bela amizade entre eles.

Pode-se dizer também, que foi ela a primeira pessoa que lhe disse que tinha jeito para médico. Depois disso, passou a estudar a possibilidade de fazer a faculdade na área, e quando se inscreveu no vestibular, ela fora a única pessoa que comemorara com ele.

E, apesar de gostar muito dela, Shun nunca teve coragem de pedi-la em namoro. Mesmo sabendo que Sayume sentia algo por si. Seu medo se dava por dois fatores: ela ser quatro anos mais velha e a família ser rica. Além do que, mesmo estabilizada financeiramente, a psicóloga ainda recebia ajuda dos pais para manter certos luxos como um apartamento na área mais nobre de Tóquio e o carro importado.

Assim, caso chegassem a se casar, os pais cortariam a ajuda de custo que dispõem a ela todo mês para que o marido começasse a arcar com as responsabilidades. Era este, o medo maior do jovem clínico. Pois, até o momento, Shun só tivera despesas. Se não fosse a ajuda financeira da fundação Graad não conseguiria arcar nem com a sua faculdade. Até mesmo da mansão saíra, passando a viver em um pensionato próximo do Hospital só para não ter gastos com locomoção.

Podia-se dizer que durante aqueles dez anos, não aproveitara em nada a vida. Era só estudo, trabalho, e viver duro. Como poderia ter coragem de pedir uma garota como a Sayume em namoro? Sendo que só agora, iria começar a ganhar dinheiro.

Porém, passou a ter receio de perdê-la para sempre. Percebeu que durante esses anos, a amiga sempre se arriscara em algum namoro, mesmo que estes não engrenassem; o que lhe enchia de esperanças.

Todavia, tinha que se decidir de uma vez, pois, soube por terceiros, que havia um novo candidato rondando a área e, o fato dela não ter lhe contatado nada sobre este novo pretendente, era estranho.

Mas, Shun sentia que não era só isso que o impedia de pedir Sayume em namoro. Havia algo no fundo da sua alma que parecia implorar para que não o fizesse; que seria um erro. Mas não sabia desvendar o que era. Já pensou na possibilidade de ter que resolver algo pendente antes de tocar sua vida em frente. Contudo, não sabia desvendar o que era essa pendência.

Deixou o Santuário puto da vida com o irmão, mas já estavam de bem. E, pelo menos duas vezes por ano, os dois trocavam visitas; matavam saudades. Não teve mais tanto contato com Seiya e Saori depois que deixara a mansão Kido, mas, quando os dois estavam na cidade sempre o chamavam pra jantar. Shiryu também já viera visitá-lo junto com Kiki e até o convidou para passar as férias, qualquer dia desses, com ele e a Shunrey no vale dos Cinco Picos.

Porém, havia uma única pessoa que nunca mais lhe dera notícias.

Era naquela época, em que a neve cobria tudo de branco, ele - o ex-cavaleiro de Andrômeda - sentia como se um buraco negro estivesse expandindo em seu peito. A neve e o frio tornavam aquele sentimento de angústia ainda mais forte e lacerante; remetendo-lhe a uma única pessoa: Hyoga.

Desde que saíra afoito do Santuário há nove anos, sua mente encobrira parcialmente as lembranças dele. O amigo havia lhe falado tantas coisas antes de partir, mas não conseguira assimilar graças ao nervosismo e ao choro.

"Talvez, eu devesse ir visitá-lo..."

- Ainda esta por aí, Shun? – ouviu a voz de um dos seus colegas lhe interromper os pensamentos. Era Shogo, que vinha ao longe, o percebeu através da imagem refletida nitidamente no vidro escuro.

Retirou a mão de dentro do bolso do jaleco, trazendo consigo o aparelho de celular onde consultou as horas, após acender o display: "Nossa, já é tudo isso? Dez e meia. Acho que me perdi em devaneios.", pensou. Voltou-se para o colega que se aproximava, esfregando as mãos uma na outra e o cumprimentou:

- Boa noite, Shogo. Ué, porque está aqui? Não estava de férias?

O rapaz parou diante dele com um sorriso um pouco forçado, e respondeu sincero:

- É que eu vou cobrir o plantão da Minoru por um mês. Ela pegou licença casamento, lembra? Eu ainda não acredito que a garota mais kawai do Sekai, vai casar! E só de pensar que ela era louca por você, ein, Shun? Você nunca deu bola pra ela.

Shun sorriu sem graça, e desconversou:

- Não sei do que está falando...

- Ah, Shun! Pôxa! Eu queria que as garotas babassem em mim, como ficam salivando em você. Apesar disso, eu nunca te vi com uma namorada, cara! O que há de errado?!

- A nossa faculdade ocupava muito nosso tempo, Shogo. Agora é o trabalho.

- Are! Que bobeira. – o colega esbravejou, levando a mão na nuca e a coçando. - Eu sempre me diverti a beça, e estou aqui, não estou?

- Ah, certo... – Shun comentou, desinteressado, abrindo seu armário entre os vários que estavam acoplados na parede do lado esquerdo; retirou de lá sua bolsa e retomou o outro assunto: - Eu estou entrando de férias também, hoje. – informou ao colega, enquanto esvaziava o armário, depositando seus pertences de forma ordenada dentro da bolsa. - A gente só vai se ver o ano que vem agora.

- Já decidiu a especialidade? – o amigo residente perguntou curioso, encostando-se no armário ao lado do dele, observando-o arrumar a bolsa.

- Me decido na viagem...

- Vai pra onde? Europa, ver o seu irmão carrancudo de novo? – o outro perguntou debochado, percebendo Shun fechar o armário e retirar o estetoscópio do pescoço para guardá-lo em um dos compartimentos da bolsa, e por último o viu retirar o jaleco, deixando amostra o suéter verde que ele vestia por baixo.

- É. Talvez... - Shun respondeu duvidoso, fechando o zíper da bolsa e colocando a alça desta transpassada no peito. - Eu ainda não tenho certeza, preciso descansar pra pensar melhor.

- Eu queira ir para um lugar bem quente nesta época do ano. Estou enjoado de frio! Já ouvi falar que o Brasil tem umas praias maravilhosas. Estive até babando em umas imagens que vi pela internet... Porque não aproveita?

Shun sorriu para o amigo e, após prender o jaleco usado na alça da mochila, o respondeu:

- Vou pensar...

- Então... - ele desencostou-se do armário e abriu os braços com intenção de cumprimentar o colega. - Boa viagem, meu amigo. Seja lá pra onde for. Boas festas, também!

- Obrigado, Shogo. – Shun respondeu, indo de encontro ao abraço. – Você também, boas festas e tenha um... Bom período cobrindo licença casamento?

- Cara! – eles se desvencilharam do abraço. - Não precisa fazer essa cara de que vou ficar na masmorra. Um dia eu vou casar e vou precisar que alguém faça isso pra mim... – ele respondeu, apertando o ombro do colega.

Shun apenas sorriu em concordância, fez um aceno para o colega e logo se afastou. Estava cansado, só queria passar na lojinha de conveniência da esquina, pegar uma comida pronta pra aquecer no microondas, e descansar confortavelmente na sua cama, para que amanhã, pudesse pensar em sua viagem. Até esqueceu-se de retomar os pensamentos que o colega havia lhe interrompido.

Continua...