Akai no Suna
(Areia Vermelha)
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As verdadeiras lágrimas são aquelas que escorrem no coração.
Por Tainã Zuccollotto Vieira
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A chuva que caia sobre mim tinha um odor forte, sua cor, sua textura, seu sabor metálico e amargo, levemente adocicado. Meu elixir de vida. Sangue. Uma cor forte, escarlate.Simplesmente deliciosa.
Aqueles que matei, não sinto nojo nem pena. Alguns de seus restos ainda jaziam ao chão manchando-o de vermelho, mãos, braços, pernas, cabeças, restos.Tenho um desejo incontrolável de me fazer vivo, dizer que existo. Essa sensação... Não quero deixá-la ir embora. Tudo a minha volta era negro e vermelho.
Negro e vermelho. Ódio e medo. Negro e Vermelho.
Foram quantos que matei? Não importa, só quero saciar minha sede de ver esse belo líquido escorrer, ver os poucos que sobraram agonizando, implorando por suas vidas miseravelmente e outros até chorando por seus companheiros ou pela sua dor.
Dor.
Nunca me arranhei. Nunca perdi. Nunca sangrei. Gostava de ver-los chorar, gritem pela vida, quero ouvir. Afoguem-se em seu próprio sangue. Sangre.Aqueles a minha volta, queria matá-los também, mais eu me segurava. O demônio em mim rugia pelas mortes. Pelo prazer, pelo êxtase desse momento sangrento.
Aqueles a minha volta me deixaram sozinho. No escuro e sem caminho, não tinha em quem me apoiar. Eles fediam, eles tremiam.
Medo.
Repúdio o coração que bate em meu peito, me permitindo existir. Não vivia, respirava, sentia. Eu existia.
Todas as vezes que chovia, eu provava isso a mim mesmo.
Um pouco de meus inimigos está em minha areia. Um pouco daqueles que cruzaram meu caminho, nos bons e nos maus momentos. Foram estrangulados pela falta de ar e pela força da areia. Um mesmo destino para todos.
A noite do assassino.
Diziam que eu era louco. Que eu não era normal. Que eu era um monstro que não merecia existir. Mas eu era humano, eu respirava. Eu estava ali. Mais minha sanidade não. Eu sou insano, eu sou louco.
Louco por sangue.
Todos olhavam para mim, com aqueles olhos temerosos. Escondiam as crianças e os adultos fingiam não me ver. Mais eu os obrigava a me aceitar.Eu manchava a minha areia de vermelho. O vermelho daqueles que ousavam a me desafiar.Eu os matava. Eu os fazia chorar. Por que eu faço isso? Está mais que claro.
Eu arrancava suas almas, por não poder arrancar a minha.
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