A NOITE CAI

por Saulo Dourado

Parte 1

O sol não acordou para vencer naquele dia. Deixou as nuvens taparem-lhe, como se ele não fosse tão poderoso. Aquela bola de fogo não estava digna de um dia de verão. O cinza mostrava-se, o que não era comum no céu nessa estação que tem como símbolo a praia. Um cenário apocalíptico que não atrapalhava em nada no andamento da apresentação da classe.

A apresentação era algo muito empolgante para eles deixarem de lado. Não que fosse melhor que os encontros no clube no sábado à tarde para dançarem forró num esfrega-esfrega sem cabimento para garotos da primeira série do ensino médio. Certo que não nasceram para serem santos, mas não precisavam maliciar tanto as coisas. Os pais odiavam isso. Diziam que o pai de Débora conferia sempre como andava a filha, melhor dizendo, ele era ginecologista. Também não era extremo de correr drogas e sexo, mas adolescentes têm um gene especial e temporária para farras. Nem tudo é brincadeira e erotismo, não é mesmo? Com base nisso, o professor de Português elaborou um trabalho que todos gostaram. Isso que era importante. Valendo dois pontos, eles precisam fazer um poema e declama-lo para uma pessoa (do sexo oposto) a qual quisesse se declarar. Claro que não era real. Sorteavam os casais, mas mesmo assim alguém que estivesse a fim de aproveitar a oportunidade e deixar que aquilo passasse da mentirinha, poderia faze-lo. Estavam livres e disso que gostavam.

- Tem algum casal verdadeiro aqui? - perguntou Gilberto, em pé no tablado, para a turma.

- Se não tiver, pode apostar que vai ter! - exclamou Eduardo em alegria - Valeu, professor!

Todos murmuraram em aprovação.

- Você fala isso porque arranjou logo a Loira (Mariana)! - falou Sandro com um tom maroto. - Eu tenho culpa de ter mais homens do que mulheres?! Poxa! Vou ter que me declarar para Fabrício de peruca.

Mais risos e murmúrios. Talvez, a sala nunca estivera tão descontraída como naquela sexta-feira.

- Chega de enrolar, comecemos a apresentação. - disse o professor com um sorriso largo. Totalmente ao contrário da expressão que possuíra há trinta anos quando tinha a idade daqueles moleques. A supervisora lhe pegara com uma garota na mesa da sala de artes vazia. Ele não fora expulso, pois a supervisora não contara nada para o colégio, pois sabia que Gilberto era um aluno que não merecia ser jogado fora só porque andara papando uma colega sua.

Marcos foi o primeiro a subir no tablado segurando a mão de Marta com suavidade. O próprio sabia que era o mais cobiçado da sala e também sabia que aquela garota estava tremendo nas bases por possuí-lo como companheiro. Era uma garota de beleza mediana, era muita emoção ser - pelo menos por alguns instantes - o amor daquele cara.

- Tira o olho da bunda dele, Marta! - gritou Arthur.

- Para de secar ele, mulé! - bradou Gabriel.

- Eu sei que olhar não arranca pedaços, Marta, mas não precisa abusar! - Leonardo também não deixou escapar a oportunidade.

A garota ruborizou-se. Colocou as mãos no rosto e sentou numa cadeira que tinha Marcos colocado em cima do tablado enquanto os garotos gritavam naquela sala de um colégio particular da zona urbana.

Marta ficou ouvindo as palavras bonitas de seu companheiro ao mesmo tempo em que olhava para o ar-condicionado central que fazia um fraco som. Lá dentro daquela "caixa" branca onde o ar refrigerado saía, deveria ter tantos fios e coisas eletrônicas que ela decidiu nem pensar nisso e só ouvir Marcos. Era um local grande: um metro e meio de largura e nove metros de comprimento, colado com a parede lateral esquerda (o lado da porta) e o fundo. As paredes eram constituídas por ladrilhos brancos e bem feitos. Havia várias janelas na lateral direita. Janelas fechadas e com uma película contra os raios do sol. A mesa do professor ficava colocada a um tablado cinza que localiza-se em frente ao quadro branco para se escrever com caneta colorida especial.

Ao final da apresentação, ela se levantou e o garoto a beijou como se fosse uma velha namorada, de verdade mesmo. Nada técnico.

Todos gritaram apesar de terem combinado que aquilo só era para agradar o professor. A ala safada e cafajeste da classe inventou que Gilberto dava mais pontos para aqueles que se beijavam. Uma boa forma e quase ridícula de conseguir, pelo por um momento, uma mulher.

A segunda apresentação veio.

Marta sentou-se longe de Marcos para fazer um "doce" como os seus amigos do prédio falavam. Esperava com toda ansiedade que ele viesse no final da aula conversar melhor com ela. Algo mais privado e mais forte. Nada como não ter os gritos de Gabriel e seus capangas em algum tipo de cena romântica. Sorriu a passar a língua nos lábios e relembrar do beijo.

Nesse momento, Marta ouviu uma batida na madeira. Deveria ser uma auxiliar querendo dar algum aviso idiota e estragar o clima todo. A garota não sabia o motivo por ter sentido uma coisa ruim no momento em que ouvira a batida. Algo como ter um pedaço de lã de aço presa na garganta e um vomito tentando ultrapassa-lo. Parecido com a vez em que fora para a casa de sua tia. De vez em quando, ouvia algo como passos no teto marrom. Era algo entre o telhado e o teto. Ouvia. Do mesmo modo em que, em algumas noites, dava a impressão que tinha alguém trabalhando na cozinha. As portas dos armários batendo, a geladeira abrindo e derramando um jarro de água. Coisas que não deixam de escapar um ar macabro. Marta imaginava algo pegando um martelo de bife na terceira gaveta e viesse para o quarto. Fazer do crânio dela um verdadeiro caos de miolos, tecidos e ossos.

- Você não diz que é pacifista? Então pare de violentar meu coração. - disse Fernando lá na frente.

Gilberto não parecia ter ouvido qualquer batida na porta. Talvez fosse só coisas da cabeça de Marta. A emoção fora tremenda de um beijo. Um beijo perfeitamente natural para quem está sendo "influenciado".

A segunda apresentação acabou.

Aplausos.

Gilberto, animado com o sucesso da apresentação e cada vez mais influenciado pelos alunos, falou em voz alta:

- É a vez da gloriosa e bela Luciana. Sintam o perfume dela enquanto passa. E junto com ela, virá o afortunado Leonardo.

A garota levantou-se com gritos estrondosos.

Era uma coincidência tremenda os dois fazerem um casal naquela apresentação. O sorteio foi feito pelo professor, não podia ter sido manipulado por nenhum aluno. Então era coincidência mesmo. Aconteceu de os dois namorarem na sétima série. Algo um tanto pueril. Ela dissera para a sua melhor amiga que estava a fim dele. Lara não perdeu tempo e combinou com Leo para que houvesse o beijo lá atrás do colégio, na calçada do prédio do militar que se recusava a vender o lote para o colégio expandir-se. Fora obrigado Lara levar Luciana até o local, pelo medo que a garota sentia. E lá estava o garoto, sentado e um pouco nervoso.

O namoro durou um mês. Os dois gostaram, mas teve um fim como tudo na vida. Tiveram uma recaída no início da oitava série numa festa de adolescentes que ficapara o centro da cidade e depois disso nunca mais passaram de amizade. Ele, perto dos amigos, parece um tanto imaturo, mas fora um rapaz incrível para ela.

- Professor, posso colocar uma lua no quadro? - perguntou Luciana.

- Claro! Faça de tudo para o melhor. - respondeu com um sorriso de satisfação.

A aula estava ótima.

A garota colou com esparadrapo uma bola de papelão pintada de branco no quadro negro.

- Posso começar? - indagou a menina, um pouco intimidada.

- Venha aqui pro papai e você poderá o que quiser! - exclamou Arthur com a sua cara de garoto alegre.

A turma riu ao mesmo tempo em que Marta ouvira mais uma batida.

"Mais uma prova que é minha imaginação. Nesse barulho todo seria impossível que eu ouvisse uma coisa batendo na porta.", pensou a jovem.

Luciana, que declamaria para o seu antigo real amor, pigarreou levemente para então começar:

- A noite cai e...

A lua se descolou e foi ao tablado.

- Puxa! - falou Fernando - Tem até efeito especial!

Todos riram com aquilo. Uma coincidência quase sobrenatural. Mas estavam felizes demais para pensarem em algo deveras misterioso. Só o fazemos quando estamos com medo. O medo atrai o que a gente não gosta. Pensamos em coisas ruins ao nosso redor quando a temorosidade é alucinógena.

Luciana foi apressada e colou novamente o papelão no quadro. Para começar novamente:

- A noite cai...

A lua desabou.

- Está tomando aula com o George Lucas, mulé? - disse Gabriel.

No início, assustaram-se um pouco, mas logo riram da piadinha do colega. Afinal, não era nenhuma daquelas histórias de fantasmas ou qualquer outra coisa que contam quando a luz acaba. A teoria deles é bem certa: se existe um inferno, ele não estaria em chamas, pois assim tudo clarearia. O inferno só pode ser um breu eterno, o qual você tenha consciência. O escuro é onde mora o desespero. Estava tudo claro, não há motivos para temer...não é mesmo?

Luciana e Leonardo prosseguiram com a apresentação até o término ovacionado.

Várias outras tiveram até o final da aula, onde todos os alunos já estavam liberados para o intervalo de trinta minutos. Na volta seria, novamente, a aula de Português. Era cansativo nos dias em que o professor dedicava as duas aulas apenas para revisar assuntos da unidade, quando a prova era logo no dia seguinte. Aquele dia não! Estava bem interessante!

Os estudantes saíram. Cada um em seu rumo.

Os corredores do colégio não eram tão longos, pois não se tratava de um colégio colossal. Da quinta até o terceiro ano, cada série com seis turmas: quatro de manhã e duas pela tarde, dezesseis alunos em cada sala. Não era uma imensidão, mas tinha um ensino ótimo e era colégio para uma classe mais alta. Um local de conforto onde o teatro para mais de 400 lugares era o símbolo. Ginásios onde as olimpíadas do colégio ocorriam. Queriam ampliar para poder fazer áreas para shows quinzenais, entretanto um morador não queria vender a parte que a Escola Ileuza Matias - nome da fundadora - tanto queria. Os alunos não se incomodavam tanto em não ter uma música durante algum intervalo, já consideravam o colégio fantástico. Biblioteca, sala de informática, um sistema de ar-condicionado central e etc. O único problema que encontravam é o fato de não poderem beijar-se lá dentro, para alguns caretice, para outros apenas um senso de moralidade. Para todos, a melhor escola que poderia ter – mesmo para os vários caminhos que se seguem. Desde a vagabundagem até os ápices casos de revolta juvenil - .

Nada de ter alunos levando armas de fogo e descarregando no peito de algum colega ou até mesmo um caso que ocorreu num colégio da cidade: um garoto atravessou o cérebro de uma menina que levou "fora" com um lápis...pelo ouvido. Demorou alguns minutos até que a professora percebesse que havia um cadáver assistindo a sua aula...segurança é o que os pais procuram. Não há nada para se preocupar.

- Marta, você tem tempo para me ouvir? - perguntou Marcos, olhando nos olhos da menina.

O coração dela acelerou-se.

- Sim.

- Eu acho que a gente combina. E você?

Marta sorriu apenas. Era já uma resposta. Tinha que ser daquele jeito e não como o primo dela achava. Esperar que a menina viesse falar com ele era sua ideologia. O pior que ocorria. Isso chama-se insegurança e inferioridade em relação a achar que alguma garota o queira. Se uma menina que ele gostasse dissesse assim: "Eu amo Renato da minha classe!". Mesmo tendo a absoluta certeza que era o único Renato da sala, ele procuraria na lista de chamada mais algum com o nome dele.

Marcos a beijou ali mesmo no corredor. Não importava o que a auxiliar de disciplina fosse dizer. Não mesmo.

Não era a mulher com cabelos oxigenados que os olhava. Era Tadeu. Um garoto da classe deles. Ninguém se lembrava que aquele menino, baixo para sua idade, existia. Vivia vagando por aí, à procura de alguém que pudesse virar seu amigo. Seria o único, e dizia a si mesmo que não deixaria aquela oportunidade de jeito nenhum. Não entendia o motivo de ser tão isolado. Era fechado. Talvez louco. Isso ele se considerava de vez em quando.

Na fazenda do avô, vira o zelador cortar a lenha para construir uma fogueira com um machado. Quando o homem terminou e com um sorriso ofereceu ao garoto a ferramenta, a fim de que ele pudesse tentar cortar a madeira. Tadeu a pegou, mas não conseguiu colocar força com aquele peso e imaginou que se suportasse aquele machado com naturalidade, talvez o cravasse no peito do homem, para vê-lo perder as forças com um buraco no tórax.

Um ser humano não sobrevive sem a comunicação.

Tadeu desceu as escadas até chegar a capela que ficava logo ao lado da sala dos professores. Podia-se ouvir tudo. Falavam besteiras enquanto tomavam um refrigerante com um pãozinho recheado.

Era para lá que o garoto ia todas as manhãs durante o intervalo. Não queria ficar perambulando sem ninguém. Poderia virar assunto de pena dos colegas. O menino feio que não tem ninguém. Tinha uma mancha em seu rosto, algo que os outros sentiam um certo nojo. Tinha culpa ele? Nascera com a mão colada no rosto.

Ajoelhou-se em frente a uma estatua de Jesus crucificado com seus olhos vagos e apenas um tecido branco escondendo seu órgão sexual e começou a rezar. Mas logo parou e sussurrou para o seu Deus:

- Pai, só quero que me perdoe...

Abriu o canivete que estava em seu bolso e abriu a própria garganta. Um corte vermelho inclinado, começando da orelha, passando pela jugular e logo em seguida atravessando a traquéia. O sangue banhou Jesus naquela pequena sala com velas e imagens, onde ,se a porta se fecha, alguém só pode ver seu interior se abri-la. E isso era uma coisa difícil de se acontecer, pois todos tinham algum companheiro para jogar conversa fora. Todos pareciam ter alguém para compartilhar seus segredos, menos ele.

Exclusão.

Nas escadas do terceiro ano, cinco deles se reunia. Dois garotos e três garotas. Estavam discutindo sobre os erros amorosos que cometeram. Falar sobre algo sério é uma coisa rara na época da adolescência, não pensar muito é melhor. Não desgasta-se e fica com energia de sobra para papar a empregada ou para bater papo no telefone com o paquera. Mas nada muito generalizado. Os jovens têm muito potencial, apenas estão mais descontraídos.

- As garotas adoram os cafajestes. - disse Leonardo - Eu já notei isso.

- Você é um? - perguntou Luciana.

- No nosso caso foi diferente.

- Então não generalize! - falou Lara.

- Os garotos são mais inseguros que as meninas. - Fernando começou depois de tanto tempo calado - Eu acho isso.

- Isso é uma tremenda mentira! - afirmou Mariana - Por quê diz uma loucura dessas?

- Pense bem! As garotas são mais exigentes para escolher seus companheiros. Nisso, os garotos apaixonados estão mais vulneráveis a um amor não correspondido. De receber um "não", por isso ficam mais inseguros em tentar.

Lara:

- Pode ser. Mas as garotas são inseguras em dar ou não bola para os seus alvos. E se eles não corresponderem?

- Eles são muito mais fáceis para a correspondência. - disse Leonardo, colocando uma mão em cima do joelho de Luciana. Apostava que ainda rolaria de novo naquele ano.

- Certo! Eles correspondem! - exclamou Mariana - Mas a maioria deles usa a gente e não algo que a gente queria.

Fernando:

- Isso já é uma outra discussão.

- Vamos deixar isso para amanhã. O sino já tocou, galera. - falou Leonardo, levantando-se junto com Luciana e acabaram trocando um olhar mais profundo. Ela já pensara que aquele relacionamento tinha algo a ver com alma gêmea e essas coisas do destino. Chegou a pensar que eles ficariam naquilo de namorar e separar, namorar e separar, até um dia que eles finalmente casassem. Combinavam-se.

Enquanto havia a discussão e o suicídio de Tadeu; Sandro, Eduardo e Fabrício jogavam basquete numa das quadras do colégio. Um jogo de trio contra trio. Três de uma sala e três de outra. O jogo começara com um negro do time adversário dos da turma de Marcos e Marta, mas logo Fabrício lhe roubara a bola como uma criança pega o pirulito que está na mão de um pirralho bem menor, driblou os caras e chegou dentro do garrafão sozinho. Aproximou-se da cesta.

Um grito escapou de sua garganta e ele deixou que a bola caísse de sua mão e fosse para fora da quadra.

- Rapaz! - gritou Sandro - Que oportunidade foi essa que você perdeu? Ficou maluco?

- Foi mal! - desculpou-se ele - Isso nunca me aconteceu.

Na mente dele, parecia que a cesta junto com todo seu suporte caía em sua direção, apenas isso. Não sabia o motivo. Lembrava-se que aos oito anos vira num noticiário que um menino descalço jogava basquete numa quadra velha. Acertou a bola no quadrado dentro do garrafão e aquele troço todo caiu em cima dele. Não o matou, mas o aro da cesta - era afiado, pois vinha de um metal sem muito cuidado - cortou seu pé ao meio. Isso chocou Fabrício, porém nunca tinha tido problemas com isso depois. Aquela dia foi a primeira vez.

O trio da sala de Eduardo venceu.

Logo todos - suados - estavam dentro da sala de aula. O professor não tinha chegado e a ala infantil da classe começou uma pequena guerra de giz. Arthur acabou acertando um estojo no rosto de Gabriel, passando de um giz para vários outros objetos. Quando viram Gilberto aproximando-se da sala, sentaram-se ligeiros.

- Vamos logo, pessoal. Vamos acabar com as declarações. Não temos tempo a perder. Amanhã já tenho assunto novo para dar. - disse o professor.

- Você costuma dar, professor? - perguntou Arthur para o mestre.

Alguns riram baixo e outros só se admiraram com a ousadia do garoto;

- Está de gracinha? - Gilberto realmente não ligava para maluquices dos seus alunos, mas se ele soltasse outra, colocaria na ficha pedagógica e o mandaria para a coordenadora.

- Não! Eu só estou perguntando se você costuma dar esse assunto para uma sala tão maravilhosa!

Gritaram em aprovação.

- Chega de conversa! Comecemos! - exclamou Gilberto - Venha a adorável Lara junto com nosso grande garoto Fernando.

Mais barulho quando eles se levantaram.

Subiram no tablado e logo Fernando começou:

- Lara, eu nunca tive coragem de lhe dizer. Estou até meio tremendo. Um amor que eu está morando dentro de mim como uma coisa divina no meu coração. Eu te amo como nenhuma música ou um filme pode descrever.

- Nossa! Que naturalidade! - comentou o professor - Parece até verdadeiro.

Fernando sorriu tímido e confessou:

- E é!

Mais uma gritaria de aprovação da sala.

- Beija! Beija! Beija!

Lara abriu um sorriso.

Era um sonho a ser realizado naquele dia. Quando dizia para irmã que vestir as meias cinza dava sorte, ela não acreditava. Incrível como as coisas davam certo naquele dia. Muito provavelmente, terminaria aquele trabalho com a mesma naturalidade e ganharia a nota máxima. Ganhara o amor que lhe fazia sofrer há dois meses. Era uma grande amiga sua. Jogar tudo para o alto? Arriscar assim? Essas dúvidas lhe corroíam o cérebro e chegara a lhe fazer chorar. Pesquisou com as amigas dela, o que elas achavam daquilo. Umas diziam que não sabiam de nada e a maioria que não tinha nada a ver. Só seria mais um caso de uma amizade abalado por uma tentativa do garoto. Preferia o quê? O amor dela ou a amizade? Mais vale um passarinho na mão...?

O seu dia de sorte chegara. Não apenas o seu, naquele dia, os casais começavam a aparecer.

A manhã do amor.

Marta ouviu uma batida forte.

Todos tinham ouvido dessa vez.

Não era a porta.

- O que foi isso? - berrou Gabriel, assustado.

- Vem do ar-condicionado. - afirmou Marcos. - Ouçam! Vem de lá.

Não mais parecia uma batida e sim um soco na madeira da "caixa" branca. Isso lembrava a Sandro a sua própria casa. A sua empregada dizia que ouvia latidos lá fora e ele próprio ouviu alguma coisa arranhando a porta. Isso ocorreu durante uma semana. Certa noite, o tio não agüentou mais e saiu durante o escuro. Os vizinhos falavam que só poderia ser alguma assombração. O tio provou que não existia nada de sobrenatural. Estourou os miolos do cão velho. Conclusão: o medo misterioso sempre lembra o sobrenatural. Alguma coisa de outro mundo. Talvez fosse apenas algum rato ou uma peça se soltando lá dentro. Tudo tem uma explicação.

- Posso ver o que tem lá dentro, professor? - perguntou Fernando.

Gilberto já estava ao seu lado.

- Como?

- Eu vejo por aquelas frestas para que o ar passe. Está vendo?

- Estou.

- E aí? Posso?

- Faça o que quiser! Eu chamarei um técnico. Antes eu quero saber o que você viu.

- Tudo bem.

Esse conto eu fiz até a página 19 em Junho de 2003 e desisti. Desapeguei-me a ele por um motivo que não lembro muito bem. Acho que foi outra obra, e eu estava achando essa estranha demais para o meu gosto. Mas eu não quis deixá-la inutilizada e a concluí hoje à noite (11/09/04) para postá-la aqui.

Ainda bem que Eu Durmo agradou! Por isso que fico preocupado em relação a esse. Este é bem diferente, um terror bem fora do comum.

Abraços,

Saulo Dourado