Sentimentos sob o lençol
4:00 AM.
A janela estava aberta.
O vento gélido adentrava por ela e invadia todo o ambiente que estava completamente envolto pelo negrume daquela fria madrugada. Não se via absolutamente nada, nem um palmo diante do nariz, dando ao quarto um ar sombrio e no mínimo aterrorizante.
A garota visivelmente incomodada, recolhia-se na cama sentindo até o ultimo fio da cabeça arrepiar-se com aquele frio cortante. Não tinha forças para levantar e acabar com aquela tortura dilacerante. Já fazia algumas horas que estava acordada sucumbindo com o gelo da noite.
- Quem deixou essa maldita janela aberta?
Relutava em levantar-se para fechá-la.
Se o fizesse, certamente estaria fadada ao congelamento instantâneo.
4:09 AM
Os minutos se passavam e essa luta interior a estava consumido. Era terrível ter que sair do aconchego da cama, porém, mais terrível ainda era se expor o resto da madrugada aos sopros gelados daqueles raivosos ventos noturnos. Decidiu por fim agir. Colocou timidamente uma das pernas para fora da cama e imediatamente sentiu um tenebroso vento oportunista adentrar por debaixo do lençol rasgando-lhe a pele. Um arrepio percorreu-lhe toda a espinha.
- Mas que merda de frio é esse!?
Havia se proposto a dar fim ao seu tormento, portanto agora teria que ir até o fim, custe o que custasse. Desceu lentamente o pé até o chão sentindo a cerâmica congelada formigar-lhe os dedos. Arrastou sofregamente o resto do corpo até ficar sentada na beirada da cama, tomou o pouco de coragem que dispunha no momento e levantou-se de uma vez puxando todo o lenço para si.
4:10 AM
Inevitavelmente o garoto que serenamente estava deitado ao seu lado, ficara totalmente descoberto e exposto aos sopros uivantes cada vez mais intensos vindos de fora da janela.
Frio. Frio. Frio.
O ruivo instantaneamente arrepiou-se todo, estava completamente despido e a mercê de todo aquele gelar. Mil facas afiadas eram cravadas em toda a extensão do seu corpo a cada vento gelado que cruzava a fronteira do seu quarto. No mínimo, era essa a sensação que aquele frio todo lhe causava. Acordou incomodado, enxergando apenar um pequeno vulto em frente à janela.
Encolheu-se.
A sonolência não permitia que protestasse mediante a falta de consideração de sua amada em puxar-lhe o único objeto que o mantera aquecido. Não pronunciou palavra, apenas esperou até que o vulto novamente se deitasse ao seu lado trazendo o lençol de volta ao seu lugar de direito.
4:11 AM
- Deixou a janela aberta de novo foi?
- Não. Dessa vez foi você. Quase morri congelada por sua causa, idiota!
Ele não se incomodou com o rechaçar de sua pequena. Enlaçou-a novamente em seus braços e sussurrou ao seu ouvido.
- Seu corpo está frio.
- Não é pra menos...
- Terei que aquecê-lo de novo? – Ele sorriu malicioso.
- Faça isso, e teremos que abrir novamente a janela...
No ímpeto, atracaram-se vorazmente.
Rendendo-se mais uma vez ao torpor de sentimentos naquele final de madrugada. Se quer se lembraram de quantas vezes fecharam e abriram aquela janela.
Fariam tudo de novo. Seus sentimentos sob o lençol.
Inalando a doce presença um do outro, o calor dos corpos em movimento obrigou o frio a se retirar daquele lugar.
4:15 AM
Afeto. Carinho. Amor. Paixão. Calor
O quarto incendiou-se por completo. Abriram à janela. Mas dessa vez, se lembrariam de fechá-la novamente.
