Então... Isso foi baseado no caítulo 9, A Ópera.

Então se você não se lembra desse capítulo você provavelmente não vai entender nada. Alguém podia me dizer que pegou a referência, e eu já estaria feliz. Bom, boa leitura. Ou não.

By the way: Alerta de spoiler.


~Interlúdio~

Era um intervalo da Grande Ópera e o Maestro tomava um pouco d'água nos bastidores. Um rapaz se esgueirou por entre os músicos que checavam a afinação de seus instrumentos. Era evidentemente parte do público. Olhou em volta, reconheceu o maestro e foi até ele.

_Não consigo tirar essa dúvida da cabeça. Capitu traiu ou não traiu afinal o Bentinho?

O Maestro olhou de cima abaixo seu interlocutor, com evidente desdém. _Como é que eu vou saber? Não fui eu que escrevi. Pergunta pro Poeta.

_Ele não quer saber nada sobre isso. Detesta a estória. _Respondeu o outro, devolvendo o exato olhar descontente do maestro.

_É claro. _Ele fez uma careta. _Todos nós ficamos sabendo disso. Muito eloquente nosso poeta. _Ele amassou seu copo descartável nas mãos por um bom tempo antes de jogá-lo fora. O outro homem o observou em silêncio. Por fim, voltou a falar, as palavras gotejando ácido cianídrico. _O que você está fazendo aqui, afinal?

O outro deu de ombros. _Eu e os meninos estamos assistindo o espetáculo.

_Por quê?_ Este já falava entredentes.

_Miguel insistiu que viéssemos. O que foi que ele disse? Ter certeza de que você não estragasse a obra? Mas acho que na verade estava curioso.

Houve um suspiro cansado e exasperado. Quando voltou a falar, o maestro olhava para o chão, com ainda outra careta. _O que ele está achando?

O interlocutor riu. _O que você acha? Ele está uma onça. Jurou que se te vir na saída do teatro vai te dar uma surra. _Isso arrancou uma risada nervosa do maestro. Ele escaneou os bastidores com os olhos antes de voltar a falar, temendo encontrar um Miguel espumando de raiva.

_E você, o que achou?

_Beem... Você sempre foi muito bom, brilhante até... Mas... Tem horas que eu não concordo com uma gota da sua interpretação.

_Isso que eu ouvi foi um eufemismo? Gabriel, você e os outros é que são muito inocentes. Não tem nada de errado com a minha interpretação! Vocês deveriam-

_E provavelmente foi esse ego, e não o fiasco daquela apresentação, que fez você ser expulso do conservatório, ora por favor! Eu só disse a minha opinião.

_Ó, mas é um menino muito sincero! _Ele revirou os olhos.

_A verdade é importante, Lu. Um dia você vai ter que encará-la.

Mas "Lu" já estava fulo da vida. _A verdade, é? Muito bem. Escobar morre afogado. Capitu esquecida na suíça e o filho deles de Febre Tifóide. Bentinho é um perdedor miserável pelo resto de sua vida. _Ele se impertigou, ajeitou o paletó e voltou ao palco ao som do terceiro sinal, sem olhar novamente para Gabriel.

Gabriel ficou um tempo em silêncio, na compania de um mosquito pousado na parede.

_Isso quis dizer que o pai era Escobar mesmo?

O mosquito bateu as asas como quem dissesse "só Deus pra saber."