Bem-vindo ao Armário de Vassouras por Janice Chess
traduzido por Rebecca Mae
tradução betada por Ivich Sartre
Pares: Drarry (Draco Malfoy e Harry Potter), Harry/OMC (Harry e personagem masculino original) implícito e menções de Harry/Ginny, Ron/Hermione e Dean/Seamus.
Cronologia: Compatível com as Relíquias da Morte; epílogo ambíguo.
Resumo: O Armário de Vassouras - você pode ser quem quiser, mas não se lembrará disso depois.
Nota da autora: Inspirado pela sugestão do Eros Affair, "Prometo me lembrar do seu nome mais tarde". Obrigada a waterbird por ser minha beta e a wook77 e yodels pelo encorajamento e conselhos.
Hospedado em: janicechess . livejournal . com
Parte 1
O anúncio jazia inocente no canto esquerdo inferior da página seis d'O Profeta Diário, escrito em negrito num plano de fundo branco e simples.
"SE CONSEGUE LER ISTO, VOCÊ É VIADO".
"Mas que inferno?", disse Harry. "Olha esse anúncio!".
Ele e Ron estavam sentados em uma pequena mesa redonda na sala de descanso dos aurores. As aulas daquele dia haviam acabado, mas estavam esperando até as cinco da tarde para irem para casa, quando a multidão nos pontos de aparição e de flu teria se dispersado. Não importava muito se estavam aqui ou lá, de qualquer forma. Depois de quase dois anos de treinamento exaustivo, esta sala, com suas cadeiras de lã estampada e mesas lisas de madeira, parecia tanto seu lar quanto o flat em que viviam.
Ron inclinou-se para olhar para onde Harry apontava e franziu o cenho. "Caldeirões pela metade do preço no Castelo dos Caldeirões? O que há de errado com isso?".
Harry virou-se para Ron, palavras de indignação morrendo em sua língua, e então olhou novamente para o jornal.
"SE SEU AMIGO NÃO CONSEGUE LER, ENTÃO ELE NÃO É VIADO. MAS VOCÊ CONSEGUE. ENTÃO VOCÊ É".
"Ah, bem é que, hum", gaguejou Harry, "é um preço muito bom. Devíamos dizer pra, hum...". Nomes de colegas de classe antigos perpassaram sua mente. Quem trabalhava com poções? Ninguém. Pelo amor de Merlin, por que ninguém escolhera ser um criador de Poções?
"… Auror Doyle?". Ron estava franzindo o cenho para Harry agora.
Manchas vermelhas espalharam-se nas bochechas de Harry. Doyle era seu instrutor de poções. Bem naquela manhã ele os havia ensinado a preparar uma poção do sono usando ingredientes que podiam ser encontrados em qualquer mercearia trouxa.
"Isso! Auror Doyle. Aposto que ele sempre pode precisar... De mais caldeirões", disse Harry fracamente O anúncio havia mudado de novo.
"NÃO ACREDITA? COMO ISSO TE FAZ SENTIR?".
Harry sentiu os pêlos de sua nuca levantando-se conforme o texto desaparecia e... Caramba, isso era um pênis ereto? Era enorme e duro e então, de repente, havia um rosto de um homem ali, e ele deslizava sua língua pelo pênis e então colocava na boca de uma vez, e agora não eram só os pêlos da nuca de Harry que estavam se erguendo.
O homem começou a subir e descer pela extensão do pênis, mais rápido e mais rápido. Então, quando estava começando a ficar realmente bom, a imagem desapareceu, substituída pelo texto no mesmo negrito.
"VIU? A GENTE TE DISSE. DÊ UMA GOZADA NO ARMÁRIO DE VASSOURAS¹".
Harry sabia que Ron estava falando com ele, mas não conseguia ouvi-lo devido ao ruído em seus ouvidos.
Durante a semana seguinte, Harry recusou-se a sequer olhar para o jornal receoso de ter mais revelações pessoais desconfortáveis, as quais eram, a propósito, ostensivamente errôneas. Foi muito cuidadoso para não pensar na breve cena que lhe fora mostrada, mesmo que ela parecesse ter sido gravada atrás de suas pálpebras.
Conseqüentemente, Ron comentou a mudança de seus hábitos de leitura, perguntando-lhe em uma tarde se O Profeta ofendera-o de alguma maneira. Harry já havia aprendido, àquela altura, que se Ron notava alguma coisa, era porque era bem óbvio para todo mundo. Então, no dia seguinte durante o almoço, apanhou o jornal e começou a ler, jurando evitar olhar para quaisquer anúncios escritos em negrito simples.
Desta vez, contudo, usaram uma caligrafia elegante contra um plano de fundo cinza brando, bem no meio de um artigo sobre a nova apanhadora do Wimborne Wasps."Parabéns! Você se resolveu. Não está pronto para admitir ao mundo? Nós também não. Venha ao Armário de Vassouras. Privacidade e discrição 100% garantidas. Seu segredo está seguro conosco".
Abaixo disso havia um endereço em Londres. Harry fez uma carranca. Ele não era gay. Gostava de mulheres. Bem, de algumas mulheres. Por exemplo, gostava de Ginny. Provavelmente iam até voltar algum dia. Ela estava na Holanda agora - sua busca de ver o mundo parecia ter emperrado ali - e ele não pensava nela com freqüência, mas às vezes pensava. Pensava em seu rosto e suas pernas macias e esguias. Algumas vezes pensava em homens também, claro, mas sempre havia alguma coisa nos homens em que reparava... Não que parecessem mulheres, mas lembravam-no da mulher com a qual fantasiava de maneiras que ele não podia definir. Alguma coisa nesses homens simplesmente... Confundiam seu cérebro. Não significava que não fosse hétero.
É claro, tudo bem não ser hétero. Quando Dean e Seamus fizeram seu surpreendente comunicado - surpreendente para Harry, ao menos -, o mundo não acabara para ele. Na verdade, pareciam mais felizes que nunca. Mas esses eram eles e...
"Ei", disse Ron, "o jantar em comemoração de Seamus e Dean é final de semana que vem, não é?".
Harry quase derrubou o jornal. Estava pensando alto?
"Eu não disse nada sobre Seamus e Dean".
"Hum, não, parceiro, eu disse. Agorinha", disse Ron. "Tá se sentindo bem? Talvez aquele feitiço atordoante mexeu com seus miolos um pouco".
No dia anterior, Harry fora atingido por um feitiço atordoante durante o treinamento, quando falhou em bloquear o ataque de seu instrutor. Fechou os olhos por um segundo e a próxima coisa que ficou sabendo era que estava caído de costas, olhando para os rostos preocupados de seus colegas estagiários.
"Estou bem. Desculpa, eu estava só lendo esse artigo sobre, uh, os Wimborne Wasps".
"Ah, é? É sobre a nova apanhadora? Ouvi dizer que ela é brilhante. Ugh, os Cannons não têm chance contra eles. E estávamos indo tão bem esse ano. Quase ganhamos a última partida!".
Harry grunhiu, reservado, conforme Ron continuava a descrever, alto e com detalhes, como seu time de quadribol favorito quase havia derrotado o segundo pior time da liga. Fora o ponto alto da vida de Ron. Harry já tinha ouvido tudo antes. Repetidamente. E todo mundo também, aparentemente: a sala de descanso explodiu no som de uma dúzia de vozes gritando variações de "Ei, cala a boca, Ron!". Uma seleção de comida choveu em sua mesa, com um croissant errante atingindo Harry na cabeça.
Durante a comoção, o anúncio ficou em silêncio e imóvel, e mesmo assim Harry não conseguia tirar os olhos dele. Algo precisava ser feito.
Harry ficou parado no pavimento, observando a suposta localização do Armário de Vassouras cautelosamente. Mesmo sendo uma noite sem lua, e mesmo a iluminação pública mais próxima estando queimada, e mesmo usando a capa de invisibilidade, estava com medo de ser visto. O anúncio alegara que o lugar era completamente privativo, mas como poderia se tinha uma entrada bem no meio da rua? Mesmo que fosse escondida de... De pessoas que não conseguiam enxergar o anúncio, pessoas que conseguiam ainda podiam vê-lo.
"Isso é ridículo", murmurou Harry. Ele devia simplesmente ir para casa. Estava em pé ali há uma hora e não vira nenhuma pessoa entrar ou sair. Havia sido uma má idéia.
A porta abriu-se e então se fechou de novo, silenciosamente. Ainda assim, sequer uma alma podia ser vista na rua. Outro homem gay invisível? Exceto que ele não era gay. Então, isso faria dos dois um homem gay invisível em potencial e um homem definitivamente invisível, definitivamente não gay, mas definitivamente confuso.
Ou... Talvez alguém estivesse convidando-o para entrar.
Respirou fundo e andou em direção à porta. Segurou a maçaneta da porta, sentindo o latão frio sob sua palma. A porta era sem janela e a pintura estava descascando, mas Harry podia discernir um padrão ornamental sob camadas de sujeira urbana e anos de uso. Estudou o design atentamente.
"Não estou protelando", sussurrou para si próprio, "estou admirando a beleza deste objeto comum".
Havia ido longe demais para retroceder agora. Com sua próxima inspiração, abriu a porta e entrou no Armário de Vassouras.
Não era nada do que ele havia esperado.
Imaginara um espaço iluminado obscuramente, mobiliado com divãs macios de couro preto e um bar ao longo da parede mais afastada, destacados com toques de cromo polido e iluminados por trás para mostrar dramaticamente uma vasta ostentação das melhores bebidas alcoólicas nacionais e importadas. Em sua imaginação, belos homens bem vestidos reclinavam-se nos divãs, sentavam-se ao bar ou ficavam em pé em grupos de três a cinco pessoas, falando em tons baixos que enchiam o aposento de um murmúrio agradável.
Harry pestanejou e lutou contra a vontade de espirrar. Ao menos tinha acertado na parte do "iluminado obscuramente".
O homem grisalho à mesa não ergueu o olhar. Seus cabelos e roupas estavam cobertos por uma camada de poeira, bem como o resto do aposento. O teto alto mal era visível através da escuridão. Um candelabro de cristal apagado balançava fracamente, teias de aranha penduradas como cipós.
"Primeira vez aqui?", o homem perguntou, apanhando uma pena úmida e lambendo seu polegar antes de folhear um enorme livro de registros com capa de couro a sua frente. Harry podia ver fileiras e mais fileiras de texto numa letra ilegível dividido organizadamente em colunas. O homem mergulhou a pena no que deveria ser um pote de tinta e ergueu a cabeça. Sua risada foi interrompida por uma salva de espirros. "Invisível, hein?", disse depois de assoar o nariz em um lenço de bolso de aparência suja. "Isso não é necessário aqui. Estamos num estabelecimento privativo". Sua voz rangia e raspava, sem dúvida de passar anos respirando partes iguais de poeira e ar.
"Olha", disse Harry, "acho que houve algum tipo de erro. Fico recebendo esses anúncios no meu jornal e eles... Eles estão errados. Eu não sou gay".
"Isso não é problema. É bissexual, então? Pansexual? Omnisexual? Ambissexual?".
"Ambi... O quê? Eu não sei o que é isso".
O homem rabiscou alguma coisa em seu livro de registros. "Entendo", ele disse. "Mas você viu um anúncio do Armário de Vassouras".
"Sim, mas...".
"E você se sentiu, no passado ou no presente, sexualmente atraído por outro homem". Sua pena estava pousada na segunda coluna da página.
O jeito casual como o homem dissera essas palavras, como se fosse a coisa mais normal do mundo, dissipou o sentimento de indignação de Harry. Era verdade. Uma estranha sensação percorreu seu peito.
"Sim", disse Harry. Seu coração martelava o peito, mas sua voz estava sóbria.
O homem fez uma marcação rápida em seu livro e ergueu o olhar, seus olhos focados em um local trinta centímetros à esquerda de Harry. "Muito bem. Tudo parece estar em ordem. Custa doze galeões virar sócio e a visita de hoje é por conta da casa".
Depois de Harry superar sua surpresa pela quantia e entregar uma pilha de moedas, o homem agitou sua varinha - era a única coisa no cômodo que parecia limpa - e um painel na parede abriu-se, revelando além dele um corredor escuro.
Harry deu alguns passos experimentais em direção à entrada e então parou, apertando sua capa, que ainda estava ao redor dele. "O que acontece agora?", perguntou, seu coração batendo ainda mais rápido. Sentia gotas de suor frio formando-se em sua testa.
"Oh, Herbert vai explicar tudo", disse o homem, sem levantar o olhar de seu livro. "Entrando, jovenzinho, está segurando a fila". Agitou a varinha e Harry sentiu-se deslizar para frente como se uma mão gigantesca empurrasse-o e o chão fosse feito de gelo.
"Fila? O quê... Ei, espera, não sei se eu...". Harry começou, mas antes de terminar a sentença, estava além do umbral e o painel havia se fechado atrás dele, cortando toda a luz.
"Olá?", Harry gritou, estendendo os braços a sua frente. Seguiu em frente devagar, arrastando os pés, esperando que não houvesse degraus ou buracos ou criaturas perigosas na escuridão em frente. Embora tivesse que admitir que era improvável, seria mau para o negócio.
"Isso é curioso. Por que não posso ver você?".
A voz viera de menos de trinta centímetros dele. Harry tropeçou para traz, sacando a varinha. "Quem está aí?".
"Você pode descobrir que o feitiço Lumos funciona muito bem neste tipo de situação".
Harry acendeu a varinha e a colocou para fora da capa, iluminando o corredor estreito.
Um homem translúcido flutuava a sua frente. Ele parecia jovem - talvez vinte e três, não muito mais velho que Harry - e vestia nada além calções até o joelho parcialmente desatados, um par de meia e apenas um sapato. Seu cabelo era escuro e flutuava solto ao redor de seu rosto. Harry não podia deixar de notar que ele era bem bonito. Ou teria sido quando era vivo. Era esquisito achar um fantasma atraente?
Harry puxou sua capa e a enfiou no bolso de trás.
"Ah, aí está você. Como vai?", disse o fantasma com uma curvatura pequena. "Meu nome é Herbert. Serei sua escolta até o Armário de Vassouras".
"Hum. Oi", disse Harry. "Eu, uh, meu nome é James". Ele correu uma mão pelo cabelo. "Meu escolta? É muito longe?".
Herbert riu. Ele tinha dentes bonitos, perfeitamente alinhados e retos. "Não, são só dez jardas descendo este corredor. Mas você nunca encontraria o caminho sem mim".
"Oh, okay. Pode guiar, então, Herbert".
"...Você gostaria, talvez, de aprender sobre a magia deste lugar primeiro?".
"Certo! Magia! Sim. Sim, eu gostaria", disse Harry, esperando que o rubor causando arrepios em seu rosto não fosse visível à luz da varinha. Alguma coisa em Herbert deixara-o tão tranqüilo que ele esquecera suas preocupações anteriores.
"Excelente. Alguns não querem, mas eu os acho uns idiotas. Fomos fundados em 1793, como um refúgio para bruxos que... Desfrutavam da companhia de outros homens, como dizem. Conseqüências da descoberta eram severas naqueles dias".
"Severas?".
Herbert riu. "Os que tinham sorte terminam em St. Mungus. Os que não tinham...".
"Entendo", disse Harry rapidamente, desejando não ter perguntado.
Herbert parecia a ponto de chorar e o corredor inteiro ficou mais frio.
"Sim, bem, este lugar tem sido um abrigo desde então. Nossos métodos são ligeiramente pouco ortodoxos, mas muito efetivos". Herbert sorriu e Harry relaxou de novo.
"Pouco ortodoxos?".
"Sim, mas efetivos. Nosso estabelecimento remove todo o risco de descoberta. Não só nossa existência é um segredo, revelado somente àqueles que têm necessidade dele, bem como nenhum homem pode se aproximar da soleira da nossa porta enquanto outro homem estiver próximo a ela".
Harry lembrou-se do que o homem na escrivaninha havia dito sobre segurar a fila e se sentiu vagamente culpado por ter ficado parado do lado de fora, na rua, por uma hora.
"Também", continuou Herbert, "quando você entra no salão de encontros pela porta bem à frente, você passa por uma fronteira mágica. E quando sai dela, todas as lembranças superiores adquiridas desde que entrou serão deixadas para trás".
"Espera aí. O que você quer dizer com 'lembranças superiores'?". A idéia de deixar alguma magia desconhecida entrar em sua mente alterava Harry. Mais que alterava Harry - revoltava-o. Talvez esse não fosse um lugar no qual deveria estar.
"Não se irrite, James. Não lemos sua mente", disse Herbert, parecendo ler a mente de Harry. "A magia é... Bom, por que eu não dou um exemplo de como funciona? Digamos que você vai ao Armário e conhece um jovem elegante que o apetece. Vocês conversam por alguns minutos e logo você se encontra encostado a uma parede, com as calças nos tornozelos e seu pênis na boca dele".
Harry inspirou agudamente e encarou os olhos prateados escuros de Herbert, incapaz de desviar o olhar.
"Você então descobre que este jovem é bastante habilidoso", continuou Herbert, pausando para mexer sua língua translúcida. "Você consegue ter o orgasmo mais fantástico e explosivo da sua vida inteira. Depois disso, você leva o homem ao orgasmo usando sua mão".
As calças de Harry estavam um pouco apertadas.
"Então você vai embora", disse Herbert, seu olhar passeando pelo corpo de Harry e subindo novamente. "E uma vez que houver atravessado a porta, vai se lembrar da agitação daquele clímax fantástico, a umidade quente da boca do homem, do cheiro de seu desejo e a sensação de seu cabelo em suas mãos. Vai se lembrar de como se sentiu quando ele gemeu e se derramou em sua palma. Mas não vai se lembrar de seu rosto ou de qualquer outro rosto que tenha visto. Não vai se lembrar de seu nome ou de qualquer outro nome que ouviu, nem de quaisquer palavras que um dos dois falou. Emoção. Toque. Gosto. Cheiro. É tudo o que vai levar com você ao ir embora".
Harry apoiou o peso em um pé e outro, procurando palavras. Qualquer palavra, na verdade. Estavam todas fugindo dele no momento. "Hum. Ah", ele disse. "Er...".
"Gostaria de continuar?", perguntou Herbert, inclinando a cabeça levemente para um lado.
Quando Harry assentiu, ainda mudo, Herbert sorriu largamente. "Excelente. Siga-me". Ele girou e flutuou pelo corredor.
Harry observou Herbert desaparecer por alguns segundos antes de correr atrás dele, jurando que na próxima vez - se houvesse uma próxima vez -, ele não perguntaria a Herbert nada sobre o passado; havia um ferimento recortado sob a omoplata esquerda de Herbert.
Harry ficou parado próximo à entrada do que Herbert havia chamado de "salão de encontros", tentando não rir. Aqui, finalmente, encontrava divãs macios de couro preto e um bar dramaticamente iluminado. As lanternas de vidro flutuantes não estavam em sua imagem mental, mas fora isso o lugar parecia bastante com o que ele havia esperado. A única grande diferença é que estava bem mais cheio de gente; Aparentemente havia um monte de bruxos no armário em Londres.
Ninguém pareceu notá-lo quando entrou, o que era algo bom. Era inevitável que alguém o reconhecesse, mas queria adiar esse momento tanto quanto fosse possível. Observou e esperou, encostado à parede, lembrando-se de que mesmo aqueles que associassem o rosto ao nome não se lembrariam disso depois.
Mas ele estava, de fato, diferente de três anos atrás, quando sua foto foi exibida ostensivamente na primeira página de todo jornal bruxo do país. Em primeiro lugar, havia mudado a armação de seus óculos para uma mais estilosa e retangular. Em segundo, agora conjurava um feitiço em sua testa todas as manhãs, escondendo a cicatriz tão conhecida.
Havia começado esse hábito devido ao conselho de um dos aurores. Proudfoot não era um homem comunicativo, mas, durante a primeira semana de Harry, ele o puxou de lado durante uma aula de feitiços e outros encantamentos de distorção de imagem e disse, "Essa cicatriz vai torná-lo um ensiná-lo a escondê-la".
Era incrível, na verdade, como os outros estagiários tratavam-no diferentemente uma vez que ela foi escondida. Mesmo que ainda soubessem quem ele era, de alguma forma sem a cicatriz ele finalmente havia se tornado alguém do time, por assim dizer. Afastava a lembrança visual do que havia feito no final da guerra, Hermione dissera. Provavelmente estava certa. Sempre estava.
"Posso sugerir tomar um drinque no bar se estiver se sentindo inseguro?".
Harry sobressaltou-se e olhou para sua direita. A cabeça de Herbert estava atravessada na parede próxima a ele.
"Oh. Drinque. Boa idéia. Acho que não estou aqui só pra admirar o cenário".
"Não há nada errado com isso", disse Herbert. "De fato, se escolher ser daquele tipo que fica encostado na parede a noite toda, eu posso ficar bem atrás de você e admirar o que eu vejo a noite toda".
Harry não estava certo do que dizer em resposta a isso. Era a primeira vez que seu traseiro era elogiado por outro cara - ou por qualquer pessoa, na verdade. Ao menos ele achava que havia sido um elogio ao seu traseiro. Mas e se tivesse entendido tudo errado? Se dissesse "obrigado" e não tivesse nada a ver, ele ia parecer um bundão, mas...
"Você é deliciosamente adorável", disse Herbert, inclinando-se para mais perto de Harry. "Mas você deveria ir encontrar um admirador mais sólido. Alguém que possa te tocar e sentir seu gosto". Disse as últimas palavras mal num sussurro, então voltou para o corredor e Harry ficou sozinho mais uma vez.
Sentindo-se mais impetuoso devido às palavras do fantasma, Harry adentrou a multidão.
Levou dez segundos inteiros para ele ser reconhecido depois de se sentar à extremidade do bar, e apenas uma fração de segundo a mais para desejar nunca ter pisado no Armário de Vassouras.
"É a primeira vez que eu quis um jeito de evadir os feitiços de memória desse lugar. Se eu ao menos pudesse contar pra alguém amanhã. Acho que vou ter que me contentar com atormentar você enquanto estivermos aqui hoje à noite".
Harry quis afundar no chão. Não precisava erguer o olhar de seu estudo dos drinques do cardápio - estava indeciso entre a Explosão de Gengibre² e um Tickletini³ - para saber quem estava falando com ele. Aquela voz arrastada foi imediatamente reconhecida.
Draco Malfoy. De todas as pessoas no mundo, por que tinha que ser ele? Todas as pessoas irritantes do mundo não podiam ser hétero? Harry fechou o cardápio, sentindo o papel amassando-se sob seus dedos e não olhou para cima. Talvez ele fosse embora se o ignorasse.
Draco empurrou o homem calvo jogado sobre o bar, sentado no banquinho ao lado de Harry, uma grande coleção de copos a sua frente. "Cai fora. Eu tava sentado aqui", disse.
O homem deu de ombros e saiu cambaleando. Harry assistiu-o dar voltas embriagado pelo chão, imaginando se ele precisava de ajuda. O homem caiu num divã próximo e logo um jovem magro de cabelos ruivos enrolados estava montado nele. Era óbvio que ele ia ficar bem. Draco sentou no banquinho livre e chamou o barman.
"Não vejo como você poderia me atormentar", disse Harry, finalmente olhando para sua companhia mal-vinda, "já que você está aqui também. Seria meio hipócrita, não é?".
Draco estava diferente. Harry supôs que tão diferente quanto ele próprio. Um pouco mais velho, mais alto e mais largo também. Seu cabelo estava curto e propositalmente desalinhado, uma mudança notável do cabelo com o estilo certinho que usava na escola. Mas, fora isso, havia algo em seu rosto que havia mudado. Não parecia cansado, exatamente, parecia só... Cínico. Talvez fizesse sentido. A vida não fora particularmente gentil com Draco nos últimos vários anos. É claro, a maior parte era sua culpa.
"Certo", disse Draco. "Porque minha orientação sexual seria terrivelmente chocante à luz do meu recorde pessoal até agora. 'Ficou sabendo do garoto Malfoy? Ele é bicha!' 'Ele não era quase um Comensal da Morte também?' 'Quem se importa com isso? Ele trepa com homens. Que horroroso'".Draco sorriu desdenhosamente para seu drinque - um copo pequeno, cheio de uma coisa azul borbulhante - e bebeu de um só gole.
"É, você tem razão", disse Harry, tentando em vão atrair a atenção do barman. Precisava de um drinque agora se queria passar por essa conversa.
"Essa deve ser a primeira vez que você admite que eu estava certo. Estou vermelho de lisonja". Era claro em seu tom que ele estava tudo, menos lisonjeado.
"Bom, até onde eu consigo me lembrar, é a primeira vez em que você esteve certo".
"Deve ser verdade", disse Draco quietamente, sua boca se torcendo num sorriso amargo.
Harry estudou o rosto de Draco. Sentia uma estranha sensação de liberdade, sabendo que nenhum deles se lembraria dessa conversa no dia seguinte.
"O que você quer dizer com 'quase um Comensal da Morte'?".
"Potter, isso é um clube gay. Você vem aqui pra foder, pra assistir ou pra... Fazer qualquer coisa que excite. Você não vem aqui, como regra geral, pra fazer perguntas pessoais sobre guerras que acabaram há muito tempo".
"Eu não sou gay", deixou escapar Harry.
"Eu não tô ligando pra o que você é. Mas obviamente você é um cara que não assume. Você não estaria aqui se não fosse...".
"Não, eu sou ambi... Ambi alguma coisa". O que o velho tinha dito? "Ambissexual!".
"O que te ajudar a dormir à noite", disse Draco, balançando a cabeça. "Acho que vou te chamar de 'O Menino que Sobreviveu Negando' a partir de agora. E com 'a partir de agora' quero dizer 'pela próxima hora'. Malditos feitiços de memória. Eu podia me divertir com essa informação".
Harry decidiu voltar a ignorar Draco. Levantou a mão de novo, renovando seus esforços para pedir uma Explosão de Gengibre, extra forte. Draco observou-o, um cotovelo no bar e a mão no queixo. Parecia estar gostando da tentativa fútil de Harry de ganhar atenção. Mentalmente, Harry mudou seu drinque para uma dose dupla de Uísque de Fogo, de uma vez.
Depois de alguns minutos de irritação crescendo exponencialmente, para Harry era o bastante.
"Foda-se", ele disse e se levantou, metendo-se na multidão novamente, tentando se lembrar onde era a saída - era na parede oposta à entrada? Isso havia sido um erro monumental. Nunca viria aqui de novo, nunca sequer pensaria em...
Parou imediatamente quando sentiu uma mão em sua nuca. Uma respiração quente fez cócegas em sua orelha, e pelo canto do olho viu um loiro pálido por cima do ombro.
"Ah, não vai embora tão cedo, vai?".
Como alguém conseguia ter uma voz tão debochada? Era genético? Harry voltou-se para ele, os olhos quase no mesmo nível de Draco. O fato de Draco ser ligeiramente mais alto apenas aumentava sua irritação.
"Sim, eu vou. Eu não sei o que tô fazendo, tá bom? É que eu fico vendo esses anúncios e algumas vezes eu penso em homens e nunca achei que significasse alguma coisa, exceto mais um jeito de eu ser diferente de todo mundo. Mas aí então tinha esse velho e um fantasma muito gostoso e eles dois pareciam achar tudo normal e... Eu só queria me sentir normal uma vez na vida. Mas em vez disso, eu te acho aqui e não consigo sequer a porra de um drinque. Então sim, eu vou embora tão cedo".
Ele girou nos calcanhares e continuou sua procissão raivosa em direção ao canto distante, onde podia discernir uma placa pequena na parede acima de uma porta. Talvez fosse a saída. Infelizmente, Draco seguiu-o de perto, e segurou o pulso de Harry conforme ele abria caminho pela multidão.
A aglomeração diminuía consideravelmente a um metro, mais ou menos, da porta. Harry voltou-se para Draco, puxando sua mão no ato. "Me deixa em paz! Você não tem que ir, sei lá, achar algum cara pra chupar ou coisa assim?". Emoção emergiu dele e Harry contraiu suas mãos feito punhos, querendo desesperadamente remover fisicamente o sorriso maldoso do rosto de Draco.
Só que não havia sorriso algum, Harry viu. Antes que pudesse ao menos começar a se perguntar por que Draco parecia tão intenso, ele foi empurrado contra a parede, com o corpo de Draco pressionado contra o seu. Seus peitos e coxas se tocavam e Harry podia sentir - porra, era o pênis de Draco, duro e pressionando o seu. O calor entre eles era incrível; entre o calor e a pressão, Harry mal podia conseguir ar o suficiente sem ofegar. Draco bateu sua testa na de Harry com força suficiente para Harry sentir dor onde sua cabeça encontrou a parede atrás dele.
"Cala a boca, Potter", Draco disse, impulsionando os quadris. Era um movimento pequeno, mas ainda enviava uma onda de prazer através de Harry conforme seus pênis se esfregavam através das roupas.
"Porra", sussurrou Harry. Mal podia pensar. Sua raiva estava rapidamente metamorfoseando-se para excitação, de um jeito que nunca sentira antes. O rosto de Draco preenchia seu campo de visão, embaçado e pálido. Quando Draco chocou seus quadris contra os dele novamente, Harry fechou os olhos, tentando lutar contra a vontade de empurrar de volta. Não podia fazer isso - quem sabe com outra pessoa, mas não...
Da terceira vez em que sentiu o corpo de Draco esfregar contra o seu, a última linha que o detinha se rompera. Estava farto de divagar sobre sua sexualidade e se preocupar e querer e não saber quem ele mesmo era. Farto. Tinha que saber. E de que importava com quem estaria ao descobrir?
Com um grunhido, segurou o traseiro de Draco com as duas mãos e puxou, movendo os quadris para frente ao mesmo tempo. Com os dois em movimento, seu prazer era ainda mais intenso. Moviam-se contra o outro de novo e de novo, sua respiração quente no rosto um do outro.
"Eu acho", disse Draco, ofegando, "que a gente devia... Levar isso... Para o corredor". Ele reposicionou sua cabeça - Harry podia sentir a pressão aliviando-se de sua testa - e beijou a boca aberta de Harry. Suas línguas e lábios se encontraram e começaram a se mover, mantendo um ritmo firme separado do movimento de seus quadris.
Harry não conseguia acreditar como era bom o que sentia. Estava completamente vestido e ainda assim cada centímetro de sua pele fervia com prazer. A boca de Draco era quente e doce e beijá-lo era como dar a primeira mordida numa ameixa perfeitamente madura, só que após cada mordida a ameixa estava magicamente completa novamente.
Tardiamente, Harry percebeu o que Draco havia sugerido. O corredor. Era onde havia quartos privativos. Quartos privativos para sexo. Sua pele tocaria a pele de Draco sem as camadas de tecido entre elas; seus pênis tocariam-se diretamente. Só o pensamento atiçou tanto o desejo de Harry que da próxima vez em que Draco moveu seus quadris, Harry gozou. Gemeu, sua boca ainda na boca de Draco, e se projetou para frente, com movimentos curtos e erráticos, aumento seu aperto no traseiro de Draco.
Draco afastou a cabeça ligeiramente. "Você acabou de...", ele disse, ainda se movendo contra Harry.
Harry assentiu e Draco afastou-se dele. "Mas que porra, Potter. Eu tinha mais resistência aos treze".
Através da névoa de prazer, Harry pôde ver que Draco estava irritado, mas não conseguiu realmente se importar. Deu um passo a frente e com um movimento imediato - embora não muito gentil -, enfiou a mão na frente das calças de Draco. Puxou o pênis dele, tentando fazer o que quer que fizesse consigo mesmo quando se masturbava, mas achou difícil devido ao espaço limitado das calças de Draco.
"Da próxima vez, eu demoro mais", disse Harry, apertando a extensão morna em sua mão.
Abruptamente, Draco segurou o ombro de Harry e fechou os olhos; Harry sentiu líquido quente pulsando sobre seus dedos e sorriu.
Puxou a mão grudenta e a limpou na frente da camisa de Draco. "Uau", disse Harry, "sua resistência é muito melhor que a minha. Estou impressionado".
Draco encarou-o, o rosto corado, e foi embora.
Na manhã seguinte, Harry recebeu a entrega do jornal de sábado de uma coruja fulva e, sentando-se no sofá marrom macaco que ele e Ron haviam encontrado no beco, folheou até a seção de esportes.
"O ARMÁRIO DE VASSOURAS. AGORA QUE A GENTE SE CONHECE, VOCÊ NÃO ESQUECE. ABERTO DO MEIO-DIA ÀS 4 DA MANHÃ TODOS OS DIAS".
As palavras estavam piscando na página em frente a ele, parcialmente ofuscando os resultados das partidas de ontem. Ele pestanejou, mal percebendo a pequena nota de rodapé no fim do anúncio: "*Sim, até no Natal! Quem não quer um boquete do Papai Noel?".
Harry riu, sentindo uma palpitação de ansiedade crescer dentro dele. Eles abriam ao meio-dia! Faltava apenas duas horas e quarenta e quatro - não, quarenta e três - minutos!
Era melhor ir tomar um banho. Tinha que pensar no que vestir. E também tinha que tentar fazer alguma coisa com o cabelo.
A noite passada tinha sido incrível - suas lembranças estavam dominadas por uma impressionante sensação de prazer. Não sabia exatamente o que havia feito, mas se lembrava de fricção e calor e outra boca na sua. Sentia uma leveza que não sentia desde, bem, nunca. Sabia quem ele mesmo era. Mais ou menos. Sua atração por homens era real, ao menos. Agora sabia que era algo que podia explorar sem medo. Ninguém saberia. Ele mal podia esperar para voltar. Dessa vez seria ainda melhor.
Quarenta e três minutos depois, ele entrou num aposento grande e vazio. Andou pelo espaço decorado e limpo, admirando o bar estiloso e as lanternas flutuantes. Finalmente, acomodou-se no divã de couro, esperando que alguém - qualquer um - chegasse.
O som de passos acordou-o. Ele manteve seus olhos fechados. Devia ser Ron, voltando da casa de Hermione. Provavelmente tinham brigado.
"Que porra você tá fazendo aqui?".
Harry pestanejou, tentando relacionar o que estava vendo ao que estava ouvindo.
"Você esteve aqui ontem à noite também? Deve ter estado". A figura embaçada em pé sobre ele emitiu um grunhido miserável. "Isso explica minhas lembranças. E minha camisa. Ninguém além de você seria capaz de me irritar tanto".
Onde ele estava e por que aquela voz tão familiar e que não era de Ron estava gritando com ele?
"Porra, vou ter que encontrar outro clube pra pessoas no armário. E o mais perto que eu conheço é em Gales e eu odeio Gales. Pronunciem as vogais das palavras, incompetentes".
De repente, Harry lembrou-se de onde estava e percebeu a quem aquela voz pertencia. Oh, não era assim que sua segunda visita deveria acontecer.
Sentou-se rapidamente, tentando expulsar a sonolência, tateando ao redor em busca dos óculos. Quando podia ver novamente, olhou para os outros sofás de couro, todos vazios. Não havia ninguém mais no salão exceto Draco. Nem o barman havia chegado ainda.
"Acabei dormindo", disse Harry, esfregando a testa.
"Sim, eu percebi quando entrei e vi você babando no meu sofá preferido".
"Han? Você não pode ter um sofá preferido! Eu nem lembrava que tinha sofá aqui quando entrei hoje à noite e acho que estive aqui antes".
"Hoje à noite?". Draco olhou atentamente para seu relógio. "São duas da tarde".
"Tudo bem", disse Harry, "quando entrei aqui precisamente ao meio-dia. Feliz?".
"Não, porque entrei aqui pra dar pra o primeiro homem que eu visse e esse homem é você, o que significa que vou sair daqui insatisfeito de novo".
"Como você sabe que eu não te satisfaria?", disse Harry, sentindo-se levemente insultado e ainda lerdo de sua soneca acidental. Que ótimo.
Draco ficou em silêncio por um momento. "Como uma pessoa pode ser tão estúpida? Você não percebeu...? Não, esquece. Estou dizendo que eu nem te daria a chance, seu imbecil".
"Oh". Harry pensou a respeito por um momento. "Certo. O sentimento é inteiramente mútuo".
"Excelente", Draco disse, sentando-se próximo a Harry. "Então a gente espera. Eu vou chegar em qualquer um que entrar aqui. Qualquer um aceitável é seu".
"Tanto faz". Harry recostou a cabeça e fechou os olhos. Talvez devesse ir para outro sofá. Ou ir embora e voltar em algumas horas. Mas estava tão confortável. Ele e Ron deviam comprar um sofá de couro para o apartamento.
Tentou se lembrar do que estivera pensando antes de adormercer, mas se perdeu no éter, então, em vez disso, ele pensou no prazer de outro corpo esfregando-se contra o dele, o calor e o ritmo do movimento e dos beijos. Podia ter sido qualquer um. Esse lugar era incrível. Podia fazer o que quer que gostasse. Não importava quem ele era ou quem a outra pessoa era. Seus olhos se abriram de repente.
"Malfoy?". Tão horrível quanto Draco era, se Harry olhasse para ele imparcialmente, podia ver que ele era meio... Não era feio.
"O quê?".
"Por que não? Quero dizer, não tô dizendo que você seria minha primeira escolha ou coisa assim, mas não é como se eu fosse lembrar que foi você. Por que se importa?".
"Porque faz diferença", Draco disse. "Não percebeu que você lembra mais que o prazer? Você mantém todas as lembranças emocionais. Com você, tenho certeza que a intensa sensação de nojo que sinto quando olho pra você superaria qualquer pequena quantia de prazer que eu poderia reter da nossa... União física".
Harry deu de ombros, ignorando o insulto. "Sei lá. Noite passada foi a minha primeira aqui e tudo do que me lembro é um prazer incrível. Malfoy? O que foi?".
Draco deixou a cabeça pender nas mãos e apoiava os cotovelos nas coxas. Murmurou alguma coisa que Harry não pôde entender e então se levantou. "Primeira vez aqui? Que emocionante pra você", disse, observando Harry. "Aposto que gozou nas calças antes sequer de ir pra um quarto no corredor".
"Hum", disse Harry, suas bochechas se aquecendo. "Não sei onde eu estava, mas... Acho que a parte das minhas calças era mesmo verdade, é". Lutou contra a vergonha; havia mesmo uma desordem grudenta nas calças quando voltou para o apartamento. Não importava. Essa conversa logo cessaria de existir. "Mas... Foi muito bom".
"Mesmo batendo a cabeça numa... Hum, uma parede, eu acho?".
Harry levantou-se com dificuldade, tocando a parte de trás da cabeça; havia notado o galo macio de manhã quando lavara o cabelo. "Ele disse que os feitiços de memória eram completamente efetivos! Você me viu! Você conseguiu driblar o feitiço!". Isso era terrível. Ele contaria para todo mundo. Todo mundo ia ficar sabendo.
"Eu não te vi. Merlin, você não entendeu?", disse Draco, agitando as mãos. A incapacidade de Harry perceber o que quer que fosse obviamente estava exasperando-o. "Fui eu quem fiz isso".
"Oh, Deus, isso é ainda pior", disse Harry, afastando-se de Draco. "E você ainda se lembra de que fui eu!".
"Eu não fazia idéia até te ver agora. Então tudo se encaixou. A irritação, a insatisfação, a irritação, a dor de cabeça - eu mencionei a irritação?". Draco deu de ombros. "Não vou me lembrar depois de ir embora. Nem você".
"Oh. Okay".
Harry sentou-se na beira do sofá, os joelhos balançando. Era estranho demais. Draco Malfoy havia lhe dado o melhor orgasmo de sua vida. O traseiro que ele lembrava de ter apertado pertencia a...
"Levanta", disse Harry.
"Por quê?".
"Quero sentir o seu traseiro. Não se preocupa, só quero ver se você é mesmo...". Antes de Harry poder terminar a sentença, Draco estava em pé na sua frente, o traseiro para ele. "...o cara da outra noite". Alguém realmente parecia ansioso.
Harry esticou a mão e tentativamente cutucou uma nádega com a ponta do dedo, então apertou o traseiro de Draco com as duas mãos. O tecido das calças era macio e sob ele estavam músculos firmes e rijos. Ouviu Draco exalar audivelmente.
"Humm, é... Difícil dizer desse ângulo", disse Harry, sentindo seu pênis excitar-se. Como dissera antes, importava com quem estava enquanto estivesse aqui? Andou ao redor de Draco até encará-lo. Não estavam se tocando, mas estavam próximos o bastante para Harry sentir o cheiro da pele de Draco. Harry foi impressionado pelo reconhecimento: havia sido ele. Não lembrava do cheiro até agora, mas era impossível se enganar. Pôs seus braços ao redor de Draco, correndo as mãos pela sua costa até que elas pousaram em seu traseiro, que também lhe eram familiares. "Foi você", ele disse. Luxúria percorreu-o. "O que a gente faz agora?".
"Vamos pro corredor foder?".
Harry enterrou seus dedos no traseiro de Draco. "Mas você disse... O que foi? Alguma coisa sobre nojo intenso e prazer?".
"Eu... Posso ter exagerado um pouco".
"Certo, um pouco", disse Harry, sentindo alguma coisa distintamente dura e com o formato de um pênis desenhando-se através das calças de Draco. Observou o salão em busca da localização do corredor. Lá estava. Seu corpo vibrou de excitação.
Ele liderou o caminho até a porta ao canto, sobre a qual pendia uma pequena placa escrito "Quartos privativos". Atrás da porta havia um longo corredor, com um carpete felpudo e portas enfileiradas, todas fechadas e com uma luz verde em seus centros.
"Verde significa livre", Herbert havia dito.
Harry abriu a primeira porta à esquerda. Lá dentro havia uma larga cama de casal; as paredes eram de um roxo profundo. Andou pelo quarto e olhou ao redor. Não havia nada além de um vaso de plantas ao canto.
"Ugh, odeio roxo", disse Draco, andando por trás de Harry. "Paredes: azul ardósia".
A cor mudou imediatamente para um... Bem, era algum tipo de azul. Harry não estava certo se era azul ardósia, uma vez que não estava precisamente certo de como um azul ardósia deveria parecer.
"É como a Sala Precisa?", perguntou Harry, imaginando se poderia pedir um lanchinho depois.
"Não, só dá pra mudar as cores das paredes. Aquele cara fantasma não te disse isso?". Draco sentou-se na cama e começou a desabotoar a camisa.
"Eu... Acho que não", disse Harry, encarando a protuberância pressionando as calças de Draco.
Harry tirou a camiseta e então, hesitantemente, tirou as calças. Estava agora completamente nu; havia passado quase vinte minutos depois de seu banho matinal, tentando escolher entre cuecas comuns e as do tipo boxer e acabou decidindo-se por nenhuma. Seu pênis estava rijo e pulsando a sua frente. Ficou em pé perto da cama, sentindo-se deslocado, sua mente repleta de uma tagarelice despropositada.
Mantendo os olhos focados intensamente em Harry, Draco puxou as calças, expondo a própria ereção. Deitou-se na cama, a cabeça repousando sobre um dos enormes travesseiros. Era alto e magro e duro e pálido. "Vem cá", ele disse.
Harry fez um som desarticulado e se arrastou para a cama. Ajoelhou-se entre as pernas de Draco, posicionando as mãos trêmulas em cada lado do tórax de Draco e se inclinou para frente, descendo a cabeça e correndo a língua pelas linhas tênues do abdome e peito de Draco, onde músculos e ossos corriam sob a pele. Era como mármore morno esculpido e o gosto era levemente salgado e tinha aquele cheiro que Harry reconhecera antes. Inspirou profundamente, tentando descobrir... Alguma combinação de especiarias exóticas que ele não sabia nomear.
Sentiu uma mão passando em seu cabelo e descendo pela nuca, onde ela ficou, segurando apertado.
"Me come", disse Draco, conforme Harry degustava a pele bem acima de seus pêlos púbicos. "...Me preparei antes de... Vir aqui".
Harry nem ao menos sabia o que aquilo significava, exatamente, ter se preparado. Obviamente Draco sabia o que estava fazendo, o que era algo bom. Harry sentou-se, passando a mão pelas linhas sólidas das coxas de Draco. Os pêlos eram tão claros que eram quase invisíveis. "Nunca fiz isso antes". Admitiu.
"Nunca?".
"Bem, quero dizer... Nunca com um homem. Exceto ontem à noite, nas minhas calças, mas aquilo não é... Isso". Harry inclinou-se para frente de novo, pousando as mãos em cada lado da caixa torácica de Draco. Seus pênis tocaram-se brevemente, o contato deixando milhares de terminações nervosas loucamente felizes. Harry gemeu e Draco perdeu o fôlego.
"É o que importa", disse Draco com um sorriso torto. "Pena que não vou lembrar de ter sido seu primeiro". Ergueu os joelhos até o peito e esticou a mão entre as pernas abertas e guiou o pênis de Harry aonde precisava ir. Um espasmo de prazer percorreu Harry quando a ponta fez contato com a pele morna e escorregadia.
"Deus, isso seria... Terrível. Você ia se sentir superior a mim pra sempre". Harry estava tremendo. "Posso só... Meter?".
Draco assentiu e fez um som meio vibratório no fundo da garganta.
Então Harry obedeceu. "Oh, cacete", ele disse, metendo/empurrando até não conseguir mais. "Isso é... Nnng". Balançou os quadris, incapaz de não se mexer. Não se mexer era inconcebível. Draco fez um som lamurioso e acariciou rudemente seu próprio pênis. Encorajado de não estar fazendo completamente errado - não que fosse necessariamente se importar a esse ponto -, Harry começou a mexer os quadris mais e mais, até estar atingindo com força dentro de Draco de novo e de novo, saindo quase inteiramente de dentro toda vez antes de enfiar de volta. Fechou os olhos, deleitando-se na sensação de uma carne morna apertada e lisa e o relativo frio do ar.
A sensação familiar de pressão e necessidade começou a aumentar, inciando na base de seu pênis e subindo centímetro a centímetro pela coluna até a cabeça. Com cada arremetida, a necessidade tornava-se mais desesperada, o prazer maior, mas ao mesmo tempo lembrando-o do que estava perdendo, do que mais poderia sentir se entrasse um pouquinho mais, fazendo-o meter mais forte e mais rápido.
Harry sentiu Draco ficar tenso; abriu seus olhos para ver Draco contorcendo o rosto, seus dentes expostos num rosnado silencioso e esperma pulsando em seu abdome e mão. Harry grunhiu quando o êxtase atravessou-o, seguindo uma linha invisível de seu pênis até sair de sua cabeça. Seu corpo pulso, expandindo-se e se contraindo conforme ele se esvaziava dentro de Draco.
Quando acabou, ele caiu para frente, sua cabeça no travesseiro ao lado de Draco. Seu rosto estava pressionado contra o pescoço de Draco e seus peitos estavam alinhados de modo que Harry pudesse sentir ambos os corações batendo, o ritmo combinado veloz e errático. Fechou os olhos e sentiu o corpo relaxar ainda mais, com o cheiro de suor e aquelas misteriosas especiarias inundando seus sentidos.
"Potter. Não durma".
"Hummm. Não vou dormir". Harry respirou fundo. "Só... Relaxando... Ai! Você me beliscou?".
"Não, foi aquele outro cara que você acabou de foder. Não! Não morde meu pescoço, vai deixar marca".
Harry soltou a pele de Draco de seus dentes. "Desculpa".
"Você está... Diferente", disse Draco depois de alguns minutos de silêncio. "Você não me incomoda tanto quando está assim".
"Pelado?".
"Não. Bom, posso tolerar você assim, desde que não fale. Mas quero dizer... Aqui, estamos despidos do... Despidos dos nossos passados. Não, não é isso. É só que... Nossos passados quase não importam aqui, porque nada dura. Na vida real, se você diz uma coisa, não pode desdizer. Ações e palavras têm conseqüências.
Harry saiu de dentro de Draco e rolou para o lado, erguendo-se sobre um cotovelo.
"Se eu esbarrasse em você na rua", continuou Draco, esticando as pernas e olhando para o teto, "eu teria que medir minhas palavras, porque elas poderiam voltar pra me assombrar. Você é uma pessoa de importância. Você tem influência. Eu jamais poderia, por exemplo, dizer que queria fazer o que fizemos agora desde o quinto ano. Ou talvez quarto ano, nunca consigo me lembrar".
"Mas você pode agora", disse Harry, imaginando se isso era realmente verdade.
"Não, você não entende. Essa é a questão. Eu não faria isso porque haveria conseqüências. Porque se eu fizesse, você ficaria horrorizado, mesmo que secretamente me quisesse também. Você teria que ficar, porque lá fora suas reações duram. Elas se tornam parte de quem você é e do que você sabe sobre si mesmo e elas têm que se adequar ao que você já pensou e fez. Você teria que ficar horrorizado, porque sempre me odiou e não dá pra você mudar isso".
Harry não estava certo de seguir o fio da meada, exatamente. Reações simplesmente aconteciam, não é? "Eu não te odeio. Eu só queria que você...".
"Vá em frente". Havia um limite perigoso na voz de Draco.
"...Eu não sei. Eu ia dizer que queria que você tivesse feito escolhas melhores, mas acho que outras pessoas fizeram muitas escolhas por você". No ano seguinte à guerra, Harry havia pensado muito sobre os Malfoy. Percebera então que, na maior parte, sentia muito por Draco. "E não posso dizer que queria que seu pai não estivesse lá, porque ele te amava, eu sei, e eu nem conheci meu pai. Eu queria mesmo que ele não tivesse sido um Comensal da Morte. Mas sua mãe salvou minha vida, então, se seu pai não estivesse envolvido com Voldemort, eu poderia ter morrido. Não sei. Acho que tudo que eu queria é que Tom Marvolo Riddle nunca tivesse nascido".
Draco fechou os olhos e assentiu.
"Como vai a sua mãe, a propósito?".
Harry não a vira desde aquele dia. Ouviu dizer que ela e Draco ainda viviam na mansão em Wiltshire. Seu marido havia sido encarcerado para cumprir o resto de sua sentença, mais dez anos por fuga.
"Bem", disse Draco, "A gente se vira. Um dia o sobrenome Malfoy vai ter poder novamente".
Harry não estava certo do que dizer sobre isso.
"Esse maldito lugar e sua magia", disse Draco com uma risada sem humor. "É o que ele faz com você. Não existe perigo em dizer o que quiser, porque da próxima vez que vir a pessoa, nenhum dos dois vai lembrar nada a respeito. Não vou me lembrar do que digo, muito menos você. Imagino que toda vez que venho aqui, sou atordoado pelas implicações, mas é claro que não me lembro. Nos torna propensos a sermos destemidos e também... Precipitados. É assim que é ser um grifinório? Você se sente assim o tempo todo - capaz de agir sem pesar antes as conseqüências?". Ele parecia levemente enojado pela idéia.
"Não", disse Harry, "eu sinto isso também, eu acho... Eu... Eu sei lá, não posso normalmente fazer o que eu quero, sabia. As pessoas esperam coisas de mim. Vou ser um auror e todo mundo espera que eu seja muito bom nisso. Sou bom, mas... Não sou tão bom quanto acham que eu sou. Digo, eu tive sorte na maioria das vezes. E tive ajuda de muita gente". Ele correu sua mão levemente pelo peito de Draco. "Deus, isso é surreal. Estou nu em um quarto com você falando sobre a guerra e a minha vida e... Acho que se não houvesse feitiços de memória aqui, não importaria, porque eu ia achar que fiquei louco ou tive um sonho absurdo".
Harry deitou sobre as costas para se juntar ao estudo do teto. Não era tão interessante quanto parecia ser para Draco.
Ainda sentia o calor alegre do momento pós-orgasmo, mas acima disso, sentia algo mais - algo poderosamente pacífico e calmante. Fechou os olhos. "Esse lugar é melhor que terapia", murmurou, sentindo-se adormecer.
Quando acordou, eram quase cinco da tarde e Draco havia ido embora.
Notas de tradução:
¹Trocadilho quase intraduzível para o português. A frase original era: "Come to the Broom Closet and come". O verbo to come, em inglês, significa chegar, vir ou, na gíria ou em vocabulário chulo, atingir o orgasmo.
²Gingersnap era a palavra original. Snap significa explosão, mas ginger pode signficar tanto ruivo quanto gengibre. Portanto, o drinque deve ser um drinque vermelho de gengibre.
³T ickletini: trocadilho intraduzível - junção das palavras tickle (coçar, fazer cócegas) e tini (pequeno). Provavelmente um drinque que faz pequenas cócegas na língua.
Notas da tradutora: Olá, aqui é Rebecca Mae, tradutora dessa história - são apenas três capítulos. A fanfic foi indicada a mim pela minha beta, Ivich Sartre. Gostaria de agradecer a ela pelo trabalho maravilhoso e à minha amiga Maíra, eterna terapeuta em momentos de desespero e conversas alucinadas.
Um abraço.
Rebecca Mae
