Este é um conjunto de histórias curtas que eu tinha aqui escondidas no pc. São cenas aleatórias, sem precedente nem consequente. Cada 'capítulo' é uma historia diferente, como um conjunto de Fábulas, mas que delas não tem nada.

Faz muito tempo que não posto nada, ou mesmo escrevo, mas ao descobrir estes arquivos fazendo a limpeza anual do pc, não resisti à tentação de as postar.


Título: Nocturna

Casal: Shaka/Mu [Segundários: Milo/Camus]

Estilo: Yaoi/ U.A. /OCC

Autora: Áries Sin


1 - Nocturna


- Tem a certeza que é seguro? Não quero que aconteça como da ultima vez...

Milo examinava o ambiente à sua volta. A nebelina da madrugada cobria as ruas da cidade, tornando a visibilidade complicada. De capacete na mão, permanecia montado sobre a moto, os longos cabelos loiros caindo soltos nas costas largas.

Um assinto da parte do companheiro fê-lo descer na máquina, finalmente permitindo-se um sorriso.

- Eles devem chegar a qualquer momento.

Era ali que tinham combinado o encontro. Encostado ao carro, o interlocutor acendia um cigarro, tragando a primeira lufada de olhos fechados. O vícioo sempre durante a espera. Jogou as cinzas no chão despreocupadamente, finalmente encarando o amigo.

- Chegámos cedo Milo. – a voz calma, pele clara e traços suaves eram características suas. Longos cabelos lavanda cascateavam pelos seus ombros.

- Chegámos. – o grego respondeu, não parecendo convencido – Mas continuo a achar tudo demasiado calmo.

O jovem de longos cabelos lavanda observou o lugar à sua volta. Sim, também achava tudo demasiado calmo... mas ao mesmo tempo tinha quase a certeza que ninguém os interromperia naquela vez. Quase.

Geralmente corridas daquele tipo não comportavam tão poucos concorrentes. Mas ali tudo se passava 'à porta fechada'- chamar pouco a atenção era o principal. Não se corria só por dinheiro... outras vantagens eram concedidas aos vencedores. Por essa razão era Mu quem tratava de chamar quem achasse necessario. Milo confiava no seu gosto.

- Ruivo disse você?

Mu sorriu pela primeira vez. Assentiu para o companheiro percebendo o subito interesse deste em vencer a corrida. - Francês. Chama-se Camus.

- Onde pelos deuses você arranja esses especimens? – Milo rodou os olhos roubando o cigarro do companheiro e tragando da sua vez – Até agora o seu bom gosto nunca me decepcionou, espero que desta não seja a primeira.

- Não será Milo. Agora só cabe a você não ficar para trás, ou quem serve de comida aos leões somos nós.

Um gargalhada ecoou no local. Um sorriso no rosto, Mu voltou a pegar no cigarro acabando com ele de uma vez, jogando o resto no chão. – não ria, não seria a primeira vez que perdia graças a si.

- Mu... somos uma equipe. Daquela vez você olhou para eles e vi nos seus olhos que queria perder. Eu cumpri ordens!

- Você tem tendencia para interpretar as minhas acções de formas não muito ortodoxas...Os gemeos foram rivais de peso... bons na corrida.

- E bons na cama.

Tinham tido sorte com a unica derrota, Saga e Kanon tinham tornado tudo bastante prazeroso para ambos. Tinha sido a unica vez que Milo fizera de proposito, ficando para trás e fazendo-os perder a corrida. Mu preparava-se para responder àquela provocação, mas o barulho de motores começavam a ser ouvidos ao longe.

- Salvo pelo gong! – Milo mantinha um sorriso de canto nos labios, atento à aproximação dos que seriam os rivais da noite.

Um carro, seguido de uma moto chegaram perto dos dois, os farois encandeando-os. Mu suspirou. Levantou a mão à altura dos olhos tentando se proteger da luz intensa. Era sempre a mesma história.

- Aioria, não é com essas artimanhas que vai ganhar. Baixe esses máximos pelos deuses!

Apagando as luzes, o moreno abriu a porta do carro, saindo para cumprimentar o ariano. Um sorriso nos lábios, aproximou-se de ambos.

- Não preciso desse tipo de superflugios para conseguir o que quero. – o olhar verde fixo no jovem exótico fez com que recebesse um mesmo olhar de desafio. Conheciam-se à muitos anos mas nunca tinham corrido um contra o outro. Talvez por respeito, sabendo onde ia dar aquela noite, independentemente do resultado. O vencedor teria algumas vantagens sobre o vencido, tanto em campo como depois mais tarde em meio de lençóis.

Milo observava. Mu e Aioria medindo forças era constante, mas sempre ansiava por saber quem venceria daquela vez. A balança pendia ora para um lado ora para o outro.

- Não tem alguém para nos apresentar Aioria? – a voz de Mu era calma mas com um toque de deboche, sem desviar os olhos do leonino.

- Hum... resolvemos isto mais tarde... – falou baixo para o ariano, finalmente dando a devida atenção aos restantes – Camus, aproxime-se. Este é Milo, será o seu rival hoje.

O ruivo de que tanto ouvira falar saía da moto calmamente. O casaco e calça preta faziam um contraste deveras atraente com o longo cabelo ruivo que acabava de ser solto pelo capacete. Aproximou-se do grupo, o capacete na mão esquerda.

- Bonsoir.

Milo relaxou, sorrindo de canto. Tinha mais uma vez deixado a escolha do seu rival daquela noite a Mu e mais uma vez não se arrependia disso. Se estava ali, Camus estava ciente do que poderia acontecer se perdesse... ou estava muito confiante que ia ganhar.

A escolha dependia do vencedor e Milo faria de tudo para vencer. Não ia com certeza perder uma oportunidade de "usar" aquele ruivo como quizesse. Como ele não eram muitos os que apareciam.

Milo sentia-se observado dos pés à cabeça. Os olhos castanhos percorriam-no sem pudor, antes de se fixarem finalmente nos seus. Milo manteve o sorriso matreiro, falando calmamente.

- Ainda vai a tempo de desistir se quiser.

- Hum...- Ao contrario do que estava à espera, o ruivo não se abalou. Um ligeiro movimento de lábios que parecia um sorriso – Não teria o porquê.

- Temos corrida! – dando um leve tapa no estômago do moreno, Mu contornava o carro até ao lugar do motorista. – O percurso de sempre, o ultimo a chegar à outra margem perde. E evite as gracinhas Aioria. Cuidei de não ter a policia atrás de nós, não é para deitar tudo a perder.

Aioria riu, chegando perto do ruivo. Enquanto equipe precisavam rever as ultimas instruções. Uma moto e um carro formavam uma equipe. Nunca podia haver mais de duas equipes a participar uma contra a outra, ou poderia gerar problemas com o resultado. Rota relembrada, estavam todos a postos para começar. Camus voltou a colocar o capacete, sempre observando o escorpiano ao seu lado. Algo lhe dizia que a corrida seria complicada, mas estava confiante nas suas capacidades.

Aioria avançou com o carro ficando ao mesmo nivel que Mu, divertindo-se a fazer o motor trabalhar no vazio.

Mu revirou os olhos negando com a cabeça. Era àquele tipo de gracinhas do leonino que ele se referia, mas aparentemente este não queria saber. Chamar a atenção era perigoso para eles, ou poderiam ter a corrida parada a meio.

Atentos ao sinal de a primeira das doze badaladas de meia noite ecoou na praça. Era o sinal que esperavam tão ansiosamente.

Num estrondo, o barulho intenso dos motores impediu que as restantes badaladas fossem ouvidas.

Mais uma corrida tinha começado.

Milo e Camus tinham arrancado em peso, criando entre os dois a tensao da rivalidade crescente. Milo percebeu que o ruivo não era um amador. Travavam uma luta renhida pelo primeiro lugar.

Não muito atrás, Mu e Aioria aceleravam a fundo à medida que colocavam as mudanças, numa concentração extrema à estrada. Sabiam que qualquer deslize podia ser fatal à quela velocidade. O ponteiro das rotações estava ao extremo.

Mu sentiu a adrenalina que apenas aquela competição lhe dava. Um sorriso constante no rosto, agarrava firmemente no volante, olhando de tempos a outros pelo retrovisor. Aioria estava ligeiramente atrás, mas mais proximo que imaginava.

Das outras vezes também tinha sido assim, e tinha conseguido manter a vantagem até ao final. Mas tudo dependeria igualmente de Milo. Ambos precisavam chegar em primeiro lugar para sairem vencedores, caso contrario era declarado empate.

A ponte já era visivel aos olhos de Milo e Camus. Na recta final até à meta teriam que dar tudo por tudo. Milo aproveitou a ultima curva antes da ponte para tomar a ventagem sobre o ruivo. Ali era o seu ponto chave se estivesse em desvantagem.

Mas algo lhe parecia estar errado. Camus começava a abrandar, fazendo insistentes sinais de luzes para chamar a sua atenção.

Milo travou aos poucos, dando olhadas no retrovisor.

O ruivo tinha parado na berma da estrada.

Não podia continuar a corrida daquela forma, tinha que pedir explicações. Ainda mais se o outro tivesse alguma indisposição nunca se perdoaria de ter negado ajuda. Parou a moto um pouco mais à frente, retirando rapidamente o capacete.

Estavam muito perto do início da ponte, quase no final da corrida. Desceu da moto com a intenção de chegar ao ruivo, mas algo chamou a sua atenção na linha de chegada. Arregalou os olhos quando percebeu o porquê do frances ter parado tão perto da chegada.

- Merda!

Largou o capacete no chão tentando dar meia volta com a moto, tinha que arranjar alguma forma de avisar os outros dois antes que passassem a ponte.

Viu o ruivo correr na sua direcção e os farois dos dois carros aproximando-se a alta velocidade. Mu estava à frente não dando brecha para que Aioria ultrapassasse.

Por uma vez desejava que fosse o contrário, à velocidade a que iam era impossivel avisa-los do que quer que fosse. Tentou chamar a atenção dos outros dois quando passaram por ele mas tinha sido impossivel.

- NÃO ACREDITO! – berrou irritado observando os dois motoristas indo a alta velocidade até à boca do lobo.

Camus chegou perto dele rapidamente, arfante pela correria até ali.

- Acha que eles nos viram?

- Só não sei se terão tempo de parar. - respondeu perplexo, observando o desenrolar dos acontecimentos.

Mu tinha entendido. À frente do leonino, tentava arranjar maneira de o avisar para parar o carro o mais rapidamente possivel, antes que fosse tarde demais. Se entrassem na ponte estaria tudo perdido.

Foi ao colocar os quatro piscas que percebeu um abrandamento da parte do leonino. Olhando o retrovisor, viu este fazer uma derrapagem brusca, parando finalmente antes da entrada na ponte.

Repirou fundo, seria o unico apanhado. Se houvesse mais alguém as coisas complicariam.

A meio da ponte ele proprio começou a abrandar, à medida que via as luzes azuis e vermelhas mais proximas. Quanto mais demorasse a chegar à barricada da polícia, mais tempo daria aos outros de fugirem.

- Você vai-me pagar – falava sozinho dentro do carro, os olhos verdes repletos de raiva contida – e vai sair bem caro...

Três carros da policia parados à sua frente. Parou o próprio carro, puxando o freio com força. Observou impaciente os dois policiais se aproximarem, baixando o vidro do carro.

- Queira sair do carro por favor, e acompanhar-nos à delegacia. O senhor está detido por condução de alto risco.

Antes de sair, Mu olhou à sua volta. Nenhum daqueles rostos lhe era conhecido. Esboçou um pequeno sorriso ironico, cumprindo finalmente a ordem dada. Como sempre, ele mandava os subordinados fazerem o trabalho. Não era a primeira vez que ia parar àquele lugar.

--- oOo---

Conhecia aquela delegacia melhor do que ninguém. Podia até dirigir-se sozinho ao gabinete do chefe, mas nunca o deixariam sair dali sozinho. Despreocupado, era acompanhado até a pequena sala.

- Entre, o chefe vem já.

- Sim, sim... – murmurou para si próprio, seguindo as ordens. Mal percebeu que os outros tinham saido, jogou-se na cadeira por trás da mesa, remexendo nos papeis sobre ela. Casos de assassinatos, casos de roubo, furto, tudo bem pior que o seu. Recostou-se na cadeira confortável, fechando os olhos e passando os dedos nas temporas. Só queria voltar para casa.

Suspirou quando ouviu o barulho da porta sendo aberta, mas não se mexeu. Nem se dignou a abrir os olhos. Conseguia sentir a sua presença a milhas de distância.

- Eu disse que hoje não. – falou abrindo finalmente os olhos, encarando o chefe à sua frente.

Shaka fechou a porta. Um sorriso nos lábios finos, os olhos azuis parciamente escondidos pela farta franja loira, avançou até à propria mesa contornando-a.

- E eu disse que o encontraria de novo.

Encararam-se durante poucos segundos, medindo forças. Olhos verdes nos azuis, antes que o loiro baixasse o rosto à altura do seu.

- Como soube onde eu ia?

Shaka sorriu aproximando os lábios dos seus. Roçou as unhas levemente na face clara, sussurrando numa calma proposital.

- Eu sempre sei onde você está.

Afastando-se aos poucos, mantendo a tensão entre eles, Shaka recostou-se à mesa sem perder o contacto visual. Sabia o quanto Mu detestava a posse que detinha sobre ele, cada acção do ariano estando nas suas maos. Shaka detinha um prazer unico, sádico diria, em condicionar a vida de Mu ao que queria.

- Porque não veio ontem?

Mu estreitou os olhos, apoiando a cabeça no punho fechado.

- Estive ocupado. Não posso, nem vou acorrer a cada vez que quer algo de mim.

Palavras ao ar. Ambos sabiam muito bem que não era assim. Shaka chamava, Mu tinha que acorrer. Quando o fazia, tinha a sua recompensa: as corridas que tanto amava. Quando decidia fazer birra, Shaka assegurava-se que ele iria parar ali no final da noite. E o ciclo seguia o seu curso, Mu via a sua noite mais uma vez estragada pelo loiro.

- Bem, agora se não se importa, tenho coisas a fazer em casa... – Mu levantou-se, fazendo menção de sair dali, mas logo foi parado no seu caminho por um assobio do loiro.

Revirou os olhos voltando a encarar Shaka. Este fazia um leve sinal com o dedo, para que se aproximasse.

- Não está esquecendo algo?

Mu grunhiu algo incompreensível, avançando na direcção do seu carrasco, encostando o seu corpo ao dele. – Eu o odeio… - falou aproximando os seus rostos, encarando aqueles olhos azuis com um misto de fúria e desejo.

- Eu sei… - o loiro abraçou a sua cintura em sinal de domínio - … eu sei. – sussurrou antes de ter os seus lábios tomados num beijo afoito e os dedos hábeis do amante enroscados no seu cabelo possessivamente.