Começou em algum dia perto do fim de dezembro. Era uma madrugada fria, bem típica. Fui receber Remilia no hall de entrada e a vi chegar com neve sobre a cabeça, arrastando uma árvore seca e sem folhas.
- Coloque luzes nisso – ela resmungou, empurrando a árvore para mim.
Por um segundo me perguntei se aquela ordem era para que eu crucificasse Flandre nos galhos secos daquele pinheiro morto e amarrasse suas asas ao redor, mas Patchouli disse que provavelmente seria algo menos sanguinário que isso, e juntas nós penduramos alguns enfeites velhos e empoeirados, mas ainda cintilantes, alí.
No segundo dia, ela chegou da sua caça noturna com uma ave morta, mas sem marcas de dentes, e todo o sangue intacto em seu interior.
- Asse isso pra amanhã.
Eu estranhei, mas obedeci a ordem.
Na noite do dia seguinte ainda estava nevando, a mansão estava um gelo e todas as lareiras estavam sem fogo nem madeira. Fui ao quarto superior entregar o assado, e vi a pequena vampira de cabelos azulados sentada no chão, em frente à árvore morta decorada, olhando a neve cair através da janela que ocupava toda a parede oposta. O quarto estava escuro, iluminado por apenas duas velas, e na lareira haviam dois sapatinhos pendurados. Coloquei o prato com o pombo assado sobre a cama, e ela disse.
- Sente.
Sentei-me ao seu lado, e juntas ficamos por uma boa meia hora, observando a neve se acumular no horizonte, o frio consumindo meu corpo, mas provavelmente não o dela.
- O que nós fazemos agora? - Remilia estava terrivelmente inquieta.
- Como?
- O que mais as pessoas costumam fazer nesse dia?
- ...Ahn?
Ela bufou, impaciente.
- Você é idiota ou o que?
Me calei, ela estava ficando zangada. E de repente as coisas fizeram sentido. Um pinheiro seco, um projeto falido de peru, os sapatos na lareira. Era 25 de dezembro, natal. Remilia nunca havia tido um natal, mas queria um. Todos merecem um.
- Você acha que ele virá?
Quem?, não perguntei, eu já sabia.
- Bem, ele só vem quando você estiver dormindo.
Enquanto se levantava e se enfiava debaixo das cobertas da cama, olhou de relance para mim.
- Acredita mesmo nisso?
- Por que não?
Remilia se conformou e se acomodou melhor. Eu me retirei e recolhi o assado de volta pra cozinha. No meio da madrugada, peguei emprestado alguns doces de Patchouli - espero que ela não se importe - e preenchi os sapatinhos da lareira.
Sei que Remilia detesta doces, sei que tem sono leve, e sei também que provavelmente me viu. Mas ela não falou nada, então acho que tudo bem. Eu posso ser o Papai Noel dela essa noite.
Todos merecem ter um natal, mesmo a minha pequena Remilia.
N da T.: Finalmente tomei vergonha na cara pra fazer uma fic de natal. °-°/
Go, go, Touhou. sz
