N/A: Esta é a minha primeira fanfic de Death Note. Okay, tecnicamente, eu fiz uma one-shot sem noção que nunca foi terminada, mas é de fato a primeira vez que eu realmente publico algo neste fandom. Espero que a história fique decente e no nível do anime/manga, um dos enredos mais fantásticos e viciantes que já foram feitos.
O título da fanfic, um brocardo latino, é traduzido como "faça-se justiça, mesmo que o mundo pereça".
Atenção: Spoilers para os episódios 25 e 26 do anime. A história começa por volta do episódio 26 e continua como um universo alternativo, o que quer dizer que Mello, Near, Matt, Mikami e outros não existem aqui. E se Death Note lida com muitos elementos sobrenaturais, esperem encontrá-los por aqui também.
Disclaimer: Death Note não me pertence.
Fiat Iustitia et Pereat Mundus
Prólogo
Era fácil demais.
O problema era justamente aquele advérbio, "demais"; não havia um único problema, caso ou crime que ele não conseguisse resolver, não existia qualquer tipo de desafio à altura dele: Yagami Light, a personificação da inteligência, da beleza masculina, da popularidade: a própria perfeição.
Mesmo a reunião de todas essas características, suficientes para deixar qualquer um mais que satisfeito com a sua vida, não eram suficientes para Light. Ele precisava de mais, tinha uma necessidade inexplicável de ver outra incrível característica atrelada ao seu nome:
Justiça.
E aquele objetivo havia sido alcançado em 2012, ano em que as vozes que apoiavam Kira ficaram mais fortes do que aquelas que temiam o novo deus do mundo e da justiça. No meio do verão de mais um ano bissexto, Light viu o mundo finalmente conceder-lhe a única coisa que faltava: a aceitação de Kira como a nova lei e seu julgamento como o único que deveria existir.
O genial policial de 23 anos, no entanto, não previu a grande falha do seu plano: a conquista do seu maior sonho inevitavelmente trouxe o tédio que sempre fora seu companheiro durante sua vida de notas espetaculares e feitos esportivos admiráveis. No havia ninguém, em todo o mundo, capaz de aplaudir com propriedade tudo que ele havia feito desde o fatídico dia em que encontrou um caderno de capa preta e páginas pautadas, munido de uma forte insatisfação com o estado putrefato da humanidade de então.
Absolutamente ninguém conseguia enxergar o completo brilhantismo, a perfeição e a genialidade de toda a sua trajetória, planos e armadilhas. Ninguém.
Nessas horas, olhando para o monitor que exibia uma solitária letra preta maiúscula desenhada em uma fonte gótica pelo computador, Yagami Light se lembrava de que uma vez existiu alguém capaz de pensar na mesma velocidade que ele e ocasionalmente se antecipar alguns passos aos seus movimentos, alguém que podia compreender as sutilezadas de um plano bem executado e sentir o intenso prazer ao descobrir que estava certo ao deduzir alguma coisa. Alguém que não era derrubado em menos de vinte movimentos em um jogo de xadrez e que levava um jogo de tênis at o último game, alguém que podia debater Nietzsche ou Machiavelli.
L Lawliet.
Era exatamente nesses momentos que Light pensava se a eliminação daquele que fora seu maior rival também não havia sido seu maior erro.
Aquele era o décimo terceiro dia, Light tinha certeza.
O jovem policial vinha se sentindo observado há quase duas semanas, sempre que entrava ou saía do prédio onde a atual base de investigação do caso Kira estava localizada. Era como se um par de olhos muito atento acompanhasse seus passos do carro até o saguão de entrada do local e vice-versa, só deixando de segui-lo quando o moreno já se encontrava em segurança dentro do elevador ou de volta à viatura.
Por mais de uma vez Light girou a cabeça na direção para onde ele julgava que seu observador estava posicionado, sem encontrar qualquer coisa suspeita; o jovem tentou também procurar pelo seu provável stalker de dentro do prédio, separando a veneziana que cobria as janelas com dois dedos e buscando novamente algum sinal fora do comum. Mas mesmo observando os arredores de outro ângulo, ele não encontrava absolutamente nada.
No final, ele se viu obrigado a fazer a última coisa que desejava:
- Matsuda-san?
- Hai, Light-kun? - o sempre hiperativo policial perguntou com um sorriso brilhante no rosto, erguendo a cabeça da montanha de papéis que enfeitavam sua mesa de trabalho.
- Por acaso você... Se sente observado quando entra no prédio?
O outro piscou algumas vezes, coçando a cabeça antes de replicar:
- Observado pelas pessoas da recepção?
Light sentiu uma vontade quase incontrolável de suspirar diante tamanha demonstração de ignorância.
- Por que a pergunta, Light-kun?
- Betsu ni nande mo nai 1, Matsuda-san. Obrigado.
- Sempre que precisar, L-sama!
A simples meno ao nome daquele que o moreno pretensamente sucedera fez o sangue de Light gelar por dentro: de repente, ele se lembrou de que aquela não era a primeira vez em que era observado como um animal enjaulado. A primeira vez ocorreu quando L investigou toda a sua família com câmeras espalhadas pela sua casa.
Aquela tática era clássica de Ryuuzaki, se ele estivesse... Vivo.
Profundamente incomodado com aquela linha de pensamento, o jovem se levantou da sua cadeira e foi novamente até a janela, subindo a persiana e posicionando-se de maneira aberta e visível na frente do vidro. Foi apenas com muito custo que ele conseguiu manter uma expressão facial neutra quando ele sentiu a sensação de ser o objeto de observação de alguém mais uma vez.
Algum muito perigoso estava do lado de fora, sem contar que esse indivíduo sabia exatamente quem Yagami Light era, no quê ele trabalhava e talvez... Soubesse também da sua verdadeira identidade como Kira.
A mente brilhante por trás do novo deus do mundo no estava acostumada a ser a presa de ningum, muito menos a perder o controle de qualquer situação. Sabendo que Matsuda e Mogi no iriam interrompê-lo até que terminassem de organizar as fichas criminais de vários suspeitos que Light havia imprimido dos sites das mais variadas polícias ao redor do globo, o jovem policial inclinou levemente a tela de um dos monitores que usava, impedindo que qualquer outra pessoa visse o que ele estava fazendo.
Minimizando as suas anotações sobre o caso Kira, Light praticamente não olhava para o teclado enquanto digitava velozmente, abrindo um programa de rastreamento por satélite que L havia usado antes em algumas situações. Mais alguns comandos foram inseridos e, em questão de minutos, uma lista completa de todas as câmeras de monitoramento em atividade naquele distrito em um raio de dois quilômetros do prédio do quartel das investigações estava na frente dos perspicazes olhos castanhos do jovem.
Com paciência, Light foi eliminando todos os aparelhos que ele conseguiu identificar como sendo pertencentes ao departamento de trânsito de Tokyo, empresas de vigilância particular ou ainda de alguma rede de televisão. Ao final da sua pequena triagem, restavam oito câmeras não-identificadas.
Mais comandos se seguiram e um mapa da região do prédio apareceu na tela do computador, oito pequenos pontos verdes piscando ao redor do exato local onde Light se encontrava. As oito câmeras haviam sido espalhadas de forma estratégica, todas captando algum ponto fundamental das janelas do quartel de investigações ou então da entrada do prédio. Em relação ao registro dos aparelhos, nenhum deles tinha qualquer dado disponível para consultas públicas.
Um lento sorriso apareceu nas feições charmosas do policial. Ele podia não saber quem estava atrás dele, mas ele tinha certeza de que era o objeto de investigação de alguém. Sentindo que o controle daquela situação incômoda estava prestes a mudar, Light consultou o posicionamento de cada câmera especificamente, constatando que sete delas estavam em postes, alto de prédios ou então presas a objetos que não poderiam ser o esconderijo de nenhum perseguidor.
A oitava câmera, no entanto, estava dentro de um quarto de hotel que ficava exatamente do outro lado da rua. Olhando de relance para a sua insígnia policial que estava ao lado do seu mousepad, Yagami Light sabia que tinha autoridade para terminar com aquele tipo de monitoramento ilegal e pelo menos intimidar a pobre criatura que tivera a idéia infeliz de brincar com o cérebro mais genial a integrar as forças operantes da polícia japonesa em décadas.
Naquela noite, o jovem moreno decidiu sair por último do quartel de investigações, literalmente desligando os computadores e apagando as luzes. Apanhando o casaco do seu terno e as chaves para trancar a sala, Light rapidamente rumou para os elevadores e depois para o seu carro, sorrindo internamente ao se sentir observado por aquela que seria a última vez.
Ele dirigiu calmamente como sempre até duas quadras do seu ponto de partida, sabendo que as câmeras não mais conseguiam captar sua presença ali. Estacionando a viatura e descendo do veículo, o jovem vestiu o casaco, consertou a gravata e trancou o carro, caminhando para o hotel onde sabia estar escondido o seu perseguidor. Segundo cálculos feitos mais cedo naquele dia, não havia como as câmeras capturarem sua imagem se Light caminhasse rente à parede do hotel, entrando no mesmo logo em seguida; era o único meio de se aproximar sem ser detectado.
A adrenalina pouco a pouco começava a se misturar ao sangue, trazendo uma sensação agradável que Light não sentia desde os tempos áureos da investigação contra Kira, quando fazia as vezes de ajudante da investigação e assassino em massa ao mesmo tempo. Era bem verdade que ainda executava esses dois papéis, mas tudo era simplesmente fácil demais no momento. A emoção de antes, ainda que por um breve momento, havia retornado.
As credenciais da polícia foram suficientes para que Light conseguisse entrar sem qualquer problema no hotel, utilizando um dos elevadores para sair no décimo terceiro andar. Se as informações que ele havia obtido mais cedo do programa de rastreamento combinado com a planta interna do hotel estivessem corretas, o quarto que ele deveria visitar seria a suíte 1307, com as janelas de frente para as suas no quartel de investigações.
Em silêncio e ainda no corredor, o moreno retirou a arma que carregava em um bolso interno do casaco e a engatilhou devagar, segurando-a com a mão direita. A chave extra que havia recebido do recepcionista quando anunciara sua pequena missão no saguão do hotel destravou a porta em segundos, uma pequena luz verde indicando que a sua entrada era agora permitida.
Com cuidado, Light guardou a chave em um bolso da calça e empurrou a porta devagar, conseguindo não fazer qualquer ruído. Grato pela presença do carpete que abafava o som dos seus passos, o moreno se esgueirou para dentro com a menor abertura possível da porta, impedindo que o cômodo fosse invadido pela luz do corredor que vinha de fora e sua presença ali fosse descoberta.
O policial então esperou alguns minutos, acostumando seus olhos escuridão. A única claridade vinha exatamente das luzes de postes, prédios e da própria lua, permitindo apenas a visualização dos contornos da mobília padrão de um quarto de hotel: uma cama de casal, uma cômoda, um conjunto de mesa com cadeiras, a porta que levava para o banheiro e uma outra que parecia conduzir a uma pequena sala de visitas.
Pé ante pé, o policial se movimentou com cautela até a passagem para o outro ambiente, exatamente onde a janela se encontrava. Um suporte alto e esguio apoiava uma câmera que gravava continuamente a janela por onde Light havia espiado a rua mais cedo, atestando um tempo absurdo de gravação: ela já durava mais de 300 horas, o que equivalia aos quase treze dias que o moreno vinha sendo gravado.
Foi então que o jovem notou uma poltrona de encosto alto que estava ao lado da câmera, voltada para a janela. O braço de quem quer que ocupava aquela cadeira estava apoiado nos braços do móvel, envolto em uma manga branca. Sentindo a confiança de sempre e a certeza de que mais um trabalho bem feito estava prestes a se realizar, Light endiretou a sua postura, apontou a arma para a pessoa que mal suspeitava a sua prisão iminente e deixou sua voz encher o ar:
- Você está preso por monitoramento ilegal das atividades policiais de Tokyo.
Silêncio completo se seguiu à afirmação de Light; nem mesmo o ruído de uma mudança de posição daquele observador ou o som de uma respiração chegou aos ouvidos do jovem, de forma que o policial se viu obrigado a repetir sua frase enquanto rondava a poltrona devagar, arma ainda em punho.
- Eu repito: você está preso por monitoramento ilegal da polícia. Não tem nada a dizer em sua defesa?
Quando o moreno finalmente terminou de dar a volta e pôde vislumbrar o ocupante da cadeira, muito auto-controle foi necessário para que os braços do policial não tremessem ou então um tiro no fosse disparado por puro instinto. Com os olhos arregalados e o queixo literalmente caído, Yagami Light ficou sem reação depois de anos de um cotidiano perfeitamente bem controlado.
- Yagami-kun, eu receio que eu não possa dizer nada em minha defesa a não ser argüir a minha morte; não acho que as leis japonesas permitam a prisão de alguém tecnicamente falecido segundo seus arquivos.
Agachado sobre a poltrona na mesma posição estranha de sempre, com a calça jeans a camisa branca que Light havia visto em incontáveis ocasiões e com o inconfundível olhar de quem não dormia há séculos, L Lawliet ergueu a cabeça para fitar os olhos chocados de Light sem qualquer traço de surpresa no seu rosto sempre vazio de emoções.
Naquele momento, o moreno fez a única coisa possível para algum na sua situação: beliscou seu braço direito. A dor que ele sentiu veio ao mesmo tempo em que um pequeno sorriso tomou conta das feições quase infantis do detetive sobre a poltrona.
- Hisashiburi 2 ne, Yagami-kun.
1 Não era nada.
2 Há quanto tempo.
Continua...
N/A²: Lento e sem muita coisa acontecendo, eu sei. Mas pelo menos já remediamos o que nunca deveria ter acontecido: a morte do L! Espero que tenham gostado. :)
Beijos e até a próxima,
Mari-chan.
