Meninos Malvados e onde habitam parte I
Como se já não fosse ruim o suficiente ser o garoto novo, em um colégio interno, o moreno não seria apenas o carinha nerd e sem traquejo social. Seria sempre a sombra dos seus irmãos, mais bonitos, mais fortes, mais corajosos... Uma infinita variedade de outros 'mais' de que ele nem se quer ouvira falar. Estava fadado a carregar o sobrenome Uchiha e ser associado aos outros idiotas, de índole e reputação assustadoras. Mas, Sasuke tinha um diferencial – além do físico nada atraente e que estava em desenvoltura, a altura acima da média e a habilidade nata de tropeçar em seus próprios pés – ele não era os outros e, justamente por não ser um Uchiha privilegiado, conhecia muito bem os dissabores, desvantagens e vantagens de ser invisível e usaria isso ao seu favor.
—Querido, você já está pronto? — foi à pergunta feita pela mãe, de manhã, por volta das onze horas. A viagem até a capital norueguesa, Oslo deveria durar pouco mais de vinte e quatro horas ou seja, naquele mesmo horário do dia seguinte provavelmente chegaria a pequena "jaula".
—Sim, só não estou achando a minha echarpe da sorte. — dissera, em murmúrio, com o cenho franzido. Ainda estava se adaptando ao aparelho recém colocado e suas mandíbulas encontravam-se um pouco doloridas, era difícil falar com aquele troço dentro da boca.
—De novo? Sasuke, o que foi que nós conversamos sobre isso? Você não precisa usar aquela coisa horrível! — seu tom de voz era repleto de compaixão. O adolescente de quinze anos respirou fundo, antes de fechar sua mala abruptamente.
—Eu preciso daquela echarpe, mamãe. Ela me dá sorte! — exclamou.
—Asfixiaram você com aquela coisa, Sasuke! — retorquiu a mulher, elevando a voz num oitavo, completamente perplexa. — Imagine o que seus novos colegas não farão...
Ele mordiscou o lábio, baixando os olhos, envergonhado.
—A senhora ia dizer "comigo longe" não ia? — perguntou, os olhos ônix marejados. — Até a senhora me vê como um fracassado, não é mesmo mãe?
Mikoto abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber como reagir. Como explicaria para ele? Diga-se de passagem, seu caçula não era dotado de uma coragem surpreendente, e também não tinha o mesmo gênio terrível dos outros pest... Ah, irmãos mais velhos. Respirando fundo, ela não pôde esconder o ressentimento em sua voz ao escutá-lo falar daquela forma.
—É claro que não meu amor! Nunca mais repita uma bobagem dessas! — murmurou, suspirando fundo. — É só que... Esses europeus são completamente transtornados, tenho medo de que você não se adapte. Ou que a influência daqueles desgraçados do seu irmão estraguem a pessoa maravilhosa que você é!
—Maravilhosa e covarde. — acrescentou, ironicamente, ajeitando as perninhas do óculo. — Nunca pedi para a senhora me defender daqueles lunáticos. Eu posso suportar, a senhora sabe que eu sou forte. Nunca fui correndo para a senhora, mas insiste em se intrometer todas às vezes!
Mikoto dera dois passos na direção do quarto, fechando a porta atrás de si e correu em direção ao caçula, o abraçando fortemente. Partia-lhe o coração vê-lo daquela maneira.
Ela então se afastou o suficiente para desferir um tapa contra ele. O que Sasuke não herdara de seus irmãos no quesito força, puxara aquele senso de humor tóxico que a morena abominava.
—Você sabe que eu me preocupo com você, Sasuke.
"Talvez esse seja o problema, afinal; se preocupa demais" pensou amargamente, balançando a cabeça em afirmação, deixando-se ser abraçado e consolado pela morena de cabelos ônix.
—Me promete que irá me telefonar toda semana?
"É óbvio que não."
—Claro que sim. — ele balançou a cabeça, esboçando um sorriso confiante.
HORAS DEPOIS, exatamente como calculado por ele, estava desembarcando em solo norueguês. E a sensação não podia ser mais desoladora; oficialmente no território dos vândalos de seus irmãos, completamente longe da mãe super-protetora e de seu único e leal melhor amigo, Akimi Chouji. A constatação de que aquilo estava mesmo acontecendo o arrastou para a sua nova e frívola realidade. Era um esquisito, abandonado em um colégio cheio de problemáticos, totalmente a deriva. Foi praticamente impossível não se benzer três vezes antes de pegar aquele táxi.
Qual era o sinônimo para assustado? Talvez... Cagado de medo? De qualquer forma, antes que ele pudesse surtar ou correr de volta para os portões de embarque do avião, para pegar o primeiro vôo de volta para o seu país natal, fora jogado contudo para o outro lado do banco traseiro; fatidicamente o motorista estava dando a partida, pisando no acelerador como se tivesse sido instruído a correr o mais rápido possível. Talvez aquilo tivesse sido coisa de sua mãe; sabia o quanto ela relutava em mandá-lo para longe, mas, graças a interferência diabólica de seu tio ela acabara cedendo aquela idéia absurda. Mikoto sempre fora facilmente manipulável. Ingênua demais para seu próprio bem.
Sasuke olhou pelas janelas, gritando uma série de maldições impronunciáveis para o motorista dentro de sua cabeça. As ruas eram tão lindas quanto às fotos concedidas pelo Google Maps lhe prometera que seriam. Não se via lixo na rua e o trafego era calmo. Piscou os olhos, e decidiu olhar pelo outro lado, deparando-se não somente com ruas extremamente limpas, como também com lojinhas abertas, livrarias, restaurantes... Era de uma beleza inestimável, definitivamente.
—Ei, moleque. — o motorista despertou sua atenção. Piscando os olhos, o moreno consertou sua postura no banco, tentando parecer levemente descolado. Isto é, se um garoto alto e magrelo com olhos esbugalhados pudesse ser considerado it boy. — Chegamos. — informou-lhe grosseiramente, apontando para um longo portão de metal, preso a um muro alto de dezessete metros de altura. O que era aquilo, prisão de segurança máxima ou um colégio interno para garotos?
"Escola Preparatória Lycée" é, definitivamente aquele era o lugar. Piscando os olhos, jogou-se contra a porta, abrindo-a com certo desespero.
—Moço? — o Uchiha o chamou, apreensivo. O motorista ergueu a cabeça para encará-lo, saindo do banco do motorista, provavelmente para ajudá-lo com as malas. — Será que não dava pra... Sabe como é, o senhor fazer o caminho de volta até o aeroporto? — questionou, com um sorriso amarelo.
—Sinto muito, senhor Uchiha, seu tio fora enfático ao dizer que, se fosse preciso, era para eu jogá-lo por cima deste muro. — respondeu, com certa empatia do desespero do garoto, que provavelmente nem imaginava o que estava esperando-o do outro lado do muro. Ele conhecia muito bem a sensação.
Já tinha passado por isso antes.
Sasuke engoliu em seco, sem saber como, já estava do lado de fora do táxi, tremendo da cabeça aos pés, porém, lá estava ele. Massageou as têmporas, um gesto de nervosismo clássico dos homens de sua família.
Já fazia algum tempo que não via o rosto daqueles desgraçados, como será que reagiriam ao ver a figura patética e degenerada do irmão mais novo ali, para assombrá-los?
"Seja o que Deus quiser" pensou, antes de benzer-se novamente. Arrastando a mala, deu um passo em direção ao portão de metal, decifrando como faria para abrir aquela merda...
