Artemis Fowl

A caixa de Pandora

Diário de Artemis Fowl II. Disco 2. Criptografado

Ainda não desisti de descobrir quem criou e quem pôs aquelas lentes em meus olhos – apesar do fracasso na busca na Internet. É a primeira vez que não consegui encontrar informações sobre alguma coisa na rede. Mas tenho certeza de que irei encontrar. Ainda há muitos sites para procurar e eu não vou desistir.

Mas ultimamente meu tempo tem sido pouco. Decidi terminar o meu 1º grau, como já havia escrito anteriormente e agora estou terminando o meu 1º ano do segundo grau. Patético, claro. Mas decidi deixar o novo professor de matemática dar aulas, porque não era possível continuar com o anterior. Dei um cansaço nele com um discurso sobre gráficos de função e função exponencial, e ele mesmo pediu demissão em seguida. Não sei por que, afinal, devia saber tudo aquilo, já que era professor...

Gostaria de poder pular alguns anos e ir direto para a faculdade, mas a minha escola não trabalha com esse método de ensino, então terei que me contentar em esperar mais um pouco. Não há pressa, de qualquer forma. Acho que posso agüentar mais um pouco.

Meu pai acabou descobrindo que uma garota chorou em sala, depois de conversar comigo. Talvez eu tenha mesmo exagerado com ela. Ele me convenceu de que não há graça em fazer esse tipo de coisa, e acho que ele tem razão. Talvez eu peça desculpas para ela quando o fim de semana acabar. Talvez não seja ruim fazer alguns amigos. Na verdade, o único que tenho é Butler, mas ele está diferente, parece mais velho e não está aqui agora.

Ele viajou de férias. Meu pai também percebeu que ele estava ficando velho e lhe deu um mês para ir visitar Juliet, que está nos Estados Unidos agora. Ela tem se dado muito bem nas lutas livres. Antes de viajar, Butler me disse que ela se tornara a nova campeã americana, derrotando o antigo campeão.

A empregada que a substituiu quando ela foi para os Estados Unidos se chama Clarisse. Ela é um ano mais velha que eu. Fiquei espantado em saber que ela sabia bastante de computador para uma empregada. Há algo mais que me chama a atenção a ela quando a vejo. Talvez seja os seus olhos azuis, como os meus. Ou seus cabelos dourados. Ou quem sabe, as duas coisas.

Capítulo um: Reapresentações

Artemis I e II estavam quietos, varas de pescar na mão, coletes e calças próprias para a ocasião. Há 2 anos atrás, se você dissesse para qualquer ser vivo, acima ou abaixo da terra, que viu um Fowl pescando, como naquele momento, esse alguém lhe mandaria parar de usar drogas!

Artemis filho estava muito contente. Desde que seu pai voltara para casa há um ano e meio atrás sua vida se resumira a passar horas e horas se divertindo com ele. Jogar Xadrez, pescar e ver filmes eram seus hobbies favoritos. Claro que Artemis tinha pouco tempo para isso, agora que voltara para a escola e estava decidido a dar uma chance para sua educação, mas não dispensava aqueles poucos momentos de lazer.

Hoje, um domingo particularmente confortável, a pescaria não fora muito boa. Afinal, pescar não exigia inteligência, então, os dois Fowl estavam se dando muito mal.

- É, Arty... Está ficando tarde e cá estamos nós. Acho que os peixes estão ficando mais espertos a cada dia que passa...

Artemis limpou a testa do suor com um pano que carregava no bolso da jaqueta. Aquilo estava começando a irritá-lo. Francamente, ele não podia deixar os peixes se saírem melhor que ele, afinal, eram peixes! Tinha que pensar em alguma coisa...

Ele olhou para o seu pai na outra extremidade do pequeno laguinho. É... era uma boa idéia. Estavam fazendo tudo errado.

- Pai. – Chamou – Eu tive uma idéia. Estamos fazendo tudo errado. Nós dois estamos nas extremidades opostas do lago... talvez, se pescássemos um do lado do outro atrairíamos mais a atenção dos peixes com duas iscas uma do lado da outra e as chances de pegarmos alguma coisa dobram.

- Você está certo, Arty, claro. – Disse Artemis pai, indo se postar ao lado do filho.

Estava mesmo. Alguns minutos depois a vara de pescar de Artemis II envergou na pontinha. Não parecia ser um peixe muito grande, mas que peixe grande poderiam pegar em um laguinho daqueles?

- Puxe, Arty. Vamos lá meu garoto.

Artemis puxou. O peixe não havia abocanhado o anzol por inteiro, então ele se soltou do anzol no ar e bateu em alguma coisa invisível atrás de Artemis I.

No mesmo instante, Artemis II ouviu um gemido. Aquilo era muito estranho. O peixe mudara de rota no ar e ele tinha certeza de que ouvira um gemido de dor. Artemis pai não percebeu, sua vara acabara de envergar também.

A capitã Holly Short voltara a trabalhar no departamento de reconhecimento novamente. Depois de conseguir salvar os elementos debaixo mais uma vez com o caso do Cubo V, seu status inflara como um balão na LEP, afinal de contas, aquela não fora uma missão oficial, o que deveria ser segredo absoluto, portanto, todo mundo já sabe.

Mas ela não estava contente. Há um ano e meio que sentia que algo faltava dentro de si. Algo importante.

Não sentia falta de aventuras, claro que não. Trabalhando na LEP, você nunca passaria mais de uma semana sem que a adrenalina jorrasse em seu sangue. Muito menos era saudade dos serviços de vigilância com o irmão mais novo de Encrenca Kelp. Por mais que ela odiasse admitir, estava sentindo saudades de um pessoal da Lama.

Por isso, depois que Holly aparecera no QG da LEP com cara de desânimo duas semanas atrás, o comandante Raiz decidira lhe dar algumas semanas de férias.

Naquele exato momento ela estava sentada nas arquibancadas do estádio de esmagabol do Porto, assistindo a uma partida entre os Uivantes, um time que começara sua carrera como amadores enquanto jogavam no Pico do Uivo enquanto estiveram passando uma temporada presos por lá( daí o nome do time ) e o outro time era o Surfistas do Avaí, um time que começou a jogar no subterrâneo do Avaí.

Talvez uma descrição mais precisa do esporte seja necessária: este era um esporte em que, basicamente, apenas duendes alados podem competir, uma vez em que todos os jogadores devem ficar flutuando e o uso de tecnologia não é permitido.

Basicamente, o time que está com a bola deve cruzar o campo pelos ares e arremessar a bola em um alvo que fica colocado no extremo do campo. Há um alvo para cada time, cada um deles é colocado em extremos opostos do campo.

Não há goleiros fixos, uma vez que não se pode entrar na área que envolve o alvo, mas há os derrubadores. O objetivo deles não é necessariamente roubar a bola do time adversário, e sim derrubar qualquer jogador adversário no chão, sem usar qualquer tipo de arma. Apenas 2 derrubadores são permitidos para cada time enquanto existem 3 atacantes, que são os responsáveis por fazer os gols e 3 marcadores, que são os responsáveis por roubar a bola do time adversário.

Os derrubadores são os únicos que podem derrubar um adversário no chão a qualquer momento, sem se preocupar com faltas( a não ser que usem algum tipo de arma ). Se conseguirem derrubar algum jogador no chão, esse jogador está eliminado da partida, mesmo que ainda esteja em condições de jogo. Os marcadores são os únicos que podem roubar a bola do time adversário e só podem encostar neles quando eles tiverem a posse da bola e a única parte do corpo que podem encostar neles são os ombros. Os atacantes, obviamente são os únicos permitidos a lançar a bola no alvo adversário para marcar ponto.

O jogo só termina quando um time marca 10 pontos ou quando todos os jogadores de um time foram derrubados ou ainda quando os capitães de ambos os times decidem dar a vitória para um deles, pois o jogo nunca pode terminar empatado. No caso de todos os jogadores de um time serem derrubados, obviamente, vence aquele time que ainda possuiu jogadores no ar. Se todos os 3 atacantes forem derrubados, os marcadores passam a poder fazer gols também, e se todos os marcadores forem derrubados, os atacantes ficam com a responsabilidade deles. Se por acaso, todos os marcadores e atacantes forem derrubados e só ficarem no ar os derrubadores, vence o time que derrubar todos os adversários primeiro. É por isso que um jogo de esmagabol nunca tem previsão para terminar, pois não há um cronômetro que marca o fim da partida.

O que Holly Short mais queria naquele momento era que todos os jogadores se matassem o mais depressa possível, mas não para Uliei Antoy. Ele era um dos integrantes do LEPresgate Um e estava há algum tempo tentando convidar Holly para sair. Ela só aceitou porque o comandante Raiz disse que ela devia aceitar para poder se distrair um pouco. Potrus no entanto, fora totalmente contra.

- E então, Holly? – Perguntou Uliei. – O que está achando do jogo.

- Fraco. Já se passaram 10 minutos e ninguém marcou ainda. Isso está me irritando. – Disse, tentando evitar falar o nome de seu acompanhante. Se ela o mencionasse, cairia na gargalhada ali mesmo, o que o deixaria muito ofendido e sem graça.

Realmente, o placar ainda estava no 0. Mas os Uivantes não ficaram em segundo lugar no ano passado ganhando partidas graças aos seus atacantes. De fato, Holly não se lembrava de muitas partidas em que os Uivantes não tenham ganhando derrubando todos os adversários. O problema era que os Surfistas do Avaí foram campeões no ano passado pois ganharam todos os jogos marcando 10 vezes. Aquele tinha previsão de ser o jogo mais longo da temporada, o que fazia Holly se sentir uma burra por ter aceitado ir logo naquele jogo. Por que não convencera Uliei a ir no jogo dos Demônios de Refúgio contra os Patos da Jamaica?

Ouve uma algazarra geral no estádio quando Pietro, um dos atacantes dos Surfistas do Avaí desviou dos marcadores dos Uivantes e abriu o placar. Pietro fora considerado o melhor atacante no último ano.

Holly fez um muxoxo quando ele foi comemorar fazendo pose para a torcida. E fez outro e ainda mais alto quando Uliei se levantou gritando:

- Você é demais Pietro!

Para Holly, aquilo era de mais! Estava de saco cheio e ainda tinha que tolerar um tarado homossexual?

Segundos depois, enquanto Pietro ainda se amostrava para a torcida, um dos derrubadores dos Uivantes chegou por trás de Pietro a toda velocidade e cautela e o deu um grande empurrão. Pietro perdeu o equilíbrio e caiu no chão.

Aquele fora um tremendo golpe para Uliei: ver seu herói ser eliminado da partida. Para Holly, o dia fora salvo depois de ver a cara que Uliei fez, principalmente quando ela se juntou a torcida dos Uivantes para comemorar a jogada de seu derrubador.

Uliei não pareceu muito interessado em uma amante que torce pelo time rival ao seu e foi embora. Satisfeita, Holly pode aproveitar o restante do jogo.