Ela não se lembrava muito bem como aconteceu, só que em um minuto ela estava em um lugar e em outro ela era um bebê. Ela tinha renascido.

Ela não se lembrava muito de sua vida passada, não recordava seu nome e nem dos seus pais, não sabia se tinha ou não irmãos. Ela meio que estava agradecida por isso, afinal ela não teria que lidar com o sentimento de perda e nem teria uma crise de identidade.

Essa sua estranha amnesia poderia apagar os fatos pessoais de sua vida, porém ela recordava de todo o resto, como filmes que viu, livros que leu, animes e séries que assistiu.

Não vamos comentar sobre sua vida passada por um bebê novamente, agora ela entendia por que esquecemos desse tempo enquanto crescemos, é o tempo mais embaraçoso de sua vida, pena que ela não teve essa sorte. Ela se recordava de tudo, cada trocada de fralda.

Ela passou esse tempo como um bebê silencioso, o que preocupou seus novos pais, chorava somente quando tinha fome ou precisava ser trocada. Cresceu tentando se passar como uma criança normal, não querendo destacar-se muito, mas isso era tão difícil, aprender novamente tudo o que ela já sabia, o que fazia com que ela tivesse muito tempo de tédio. Foi quando começou.

Coisas quebrando em momentos que ela estava frustrada, objetos que desapareciam e apareciam em lugares aleatórios, ela muitas vezes pensou que sua casa poderia estar sendo assombrada, porém sua teoria foi quebrada quando pegou um dos seus ursos de pelúcia flutuando em sua frente, chocada ele caiu. Cautelosamente ela cutucou o ursinho. Ela tinha cinco anos quando isso aconteceu.

Ela tinha poderes? As coisas que aconteciam em sua casa tinham sido ela? Ela olhou as próprias mãos curiosa, ela tinha acabado em outro universo onde poderes eram possíveis?

Ela não tinha como pesquisar, não havia internet, pelo menos não em sua casa, a televisão era em preto e branco pelo amor de Deus! Ela tinha medo de perguntar ao seus pais e eles a abandonarem no orfanato mais próximo, bem... Ela duvidava que isso iria acontecer, seus pais a amavam demais, Amélia e Ocean HeartCliff, sim ela sabia que o nome de seu pai era estranho, era algo sobre ele ter nascido perto de uma praia ou algo assim. Ela era Anastásia Selena HeartCliff.

Os eventos estranhos começaram a acontecer com mais frequência, ela sabia que seus pais estavam começando a ficar desconfiados e ela não sabia como controlar essa coisa. Ela começou a ficar desesperada e procurava algo que pudesse fazer, ela estava ciente que esses eventos estavam ligados as suas emoções e como uma criança pequena ela ainda não tinha controle sobre elas mesmo que fosse mais velha mentalmente.

Ela então tentou meditação, funcionou por incrível que possa parecer. Ela conseguiu aprofundar-se em sua mente. Era um lugar estranho, era mais como um vasto nada, pense no universo, porém ser estrelas, era simplesmente vazio. Não, ela não poderia dizer que era realmente vazio. Ela conseguia ver algumas esferas brilhas e enevoadas flutuando em vários lugares, mas nada como as estrelas.

Curiosa ela resolveu tocar em um deles e se surpreendeu quando em frente aos seus olhos passou-se a memória de um dia que seu pai, em sua folga do trabalho, brincava com ela. Ela sentiu um sorriso se formar em seu rosto.

" Então essas coisas são memórias... " Ela murmurou colocando no queixo.

Ela notou em tão que muitas das memórias era de cores diferentes. A memória que ela havia tocado a pouco, era de um tom azulado claro, mas a maioria dali era acinzentado. Curiosa ela se aproximou de um que flutuou por perto e o tocou. A memória era de um programa de TV, Doctor Who. Se entendeu bem as memorias cinzas eram memórias de sua vida passada, bom.

"Seria bom se eu pudesse separá-las..." Suspirou.

Então aconteceu, foi como se o mar se abrisse no meio. Cinzas à direita e azuis à esquerda. Foi até bonito de se assistir. Ela poderia ver que havia mais memórias cinzas agora, algo lhe dizia que ela era uma pessoa que não saia muito, não sabia se ria ou chorava disso, ela não mudou muito. Bem, ela tinha trabalho pela frente.

*

Tinha se passado meses que se tornaram anos desde que descobriu a coisa de entrar em sua mente ou pelo menos era onde achava que ficava o lugar. Tendo agora nove anos ela havia dado uma boa organizada no lugar, na verdade ela fez do lugar um prédio bem guardado, quanto mais alto o andar, mais a memória seria importante. Na verdade, os primeiros andares eram todos as memorias azuis, e os últimos andares eram as cinzas. Ela colocou todo o tipo de armadilhas ali que poderia imaginar, se houvesse algum telepata como o Professor Xavier, ele estaria bem encrencado ao tentar mexer onde não deve.

Em seus primeiros andares foi onde ela colocou suas emoções, não colocou muita segurança ali, porém ela trancou o medo com algumas trancas a mais do que as outras emoções. Ela até resolveu treinar aquela coisa de fazer suas coisas flutuarem e funcionou.

Ela passava seus dias em seu quarto, não saia para brincar já que achava as crianças de sua idade entediantes. Se seus pais ficavam preocupados com isso? Claro, mas eles sabiam da personalidade além de sua idade que sua pequena filha tinha.

Sentada de pernas cruzadas sobre em meio a sua cama ela encava seu urso de pelúcia que a acompanhava em muitos treinos, ela o encava com intensidade já que seu objetivo por agora era fazê-lo flutuar pelo maior tempo possível. Ela conseguia erguê-lo por três minutos antes de se tornar um esforço para mantê-lo por muito tempo, lhe causava uma dor de cabeça irritante.

Concentrada ela o ergueu no ar girando-o em seu próprio eixo, ela não notou os passos que se aproximavam de sua porta, só notou quando a porta se abriu sem aviso nenhum. Ocean e Anastásia se encaravam congelados e no ar um urso de pelúcia flutuando.

"Bem... Parece que temos que conversa, não é?" Seu pai perguntou fazendo com que o urso caia em um baque mudo sobre a cama.