Prólogo
Havia uma sirene estridente tocando. Extremamente aguda e mais alta que o normal. E completamente fora do horário.Que diabos está acontecendo? Não era pra...AH! Como pude esquecer, pensou Kate. Era dia de visita.
Respirou fundo e tentou não ficar nervosa. Levantou-se rápido do catre, a fim de tentar se arrumar. Era inútil. Aquele uniforme cinza nunca a deixaria bonita. Muito menos sexy. Josephine veio se aproximando de sua cela; ela percebeu pelo barulho alto do sapato, e pelo fedor característico. Ela me dá arrepios, e me olha de um jeito estranho. Mas se eu não agradá-la, a filha da puta me mataria sem pestanejar. .
- Vamos gracinha, você tem visita hoje.
- É mesmo? Quem veio?
- Ora, o padre! Sua execução será em dois dias. Ele veio dar a extrema unção para a sua pobre alma condenada.
Ele não vira. Ela sabia por um instinto que ele faria alguma coisa para tirá-la dali, mas ele não veio. Ela queria sentar em um canto e simplesmente chorar, mas já não podia. A lembrança de sua execução retirou-lhe completamente as forças; não fosse Josephine lhe levar pelo braço até a sala onde recebiam visitas, ela certamente desfaleceria no chão.
Ela foi algemada e levada para a sala reservada; as presas das outras celas assobiavam e diziam obscenidades, das quais Kate tentou não prestar atenção. De certo modo, ela já tinha se acostumado ao tudo naquele local; três meses foram suficientes para que ela soubesse com quem ela poderia lidar, e com quem não. As presas que a cortejavam faziam parte do grupo o qual não se pode nem pensar em dizer não.
Não havia ninguém na sala; o padre estava atrasado. Seria um tipo de cortesia da prisão? Eu não chamei nenhum padre pensou Kate, confusa. Mas isso faz alguma diferença agora? Para onde quer que eu vá depois daqui, ele não estará comigo. Dane-se essa extrema unção... que eu vá pro inferno duma vez. Ela sentou de um dos lados da mesa, colocando os braços em um ângulo agudo, a fim de apoiar a cabeça. Ela pesava muito. Seria minha consciência?
Josephine foi buscar o padre, que esperava do outro lado do corredor. Não era do tipo de padre que ela costumava ver; ele usava óculos bem grossos, um cabelo lambido na testa e tinha as costas curvadas. Na realidade, o único padre que ela conheceu era um velho de 60 anos, pároco na pequena igrejinha numa vila da Suíça, com quem ela teve bons momentos. Velhinho sem-vergonha, ela riu-se.
- Vamos padre, a moça te espera.
- Vamos. É por aqui? – ele apontou em direção a porta.
- É sim...mas antes tenho que passar o detector de metais no senhor. É a rotina, o senhor entende, não é mesmo?
- Ah claro, fique a vontade.
Ela passou o aparelho, que prontamente apitou. Fitou-o com incredulidade, mas ele logo se adiantou:
- Oh, me desculpe minha filha. Minha culpa. – ele retirou uma pesava cruz de prata do pescoço, e Josephine compreendeu.
- Tudo bem, pode passar.
Ele entrou na sala, seguido da mulher. Virou-se para ela e disse:
- Você não nos daria um momento? Você sabe como essas coisas são delicadas.
- Me desculpe, mas não posso. São ordens.
- Oh minha cara, é um pedido de um homem de Deus. Elas costumam chorar muito, e ficam encabuladas...- ele lhe apertou a mão, numa tentativa de convencê-la.
- Tudo bem padre. O senhor tem 20 minutos.
Era suficiente.
Ele esperou a mulher corpulenta sair de vista e entrou na sala. Sentou-se a frente de Kate e começou a balbuciar coisas inatendíveis. Ela o fitava, incrédula.
- Eu... eu não entendo.
- Isso é latim, minha cara. A extrema unção é dada em latim.
- Você fala tanto latim quanto eu. Mas até que se saiu um bom padre... ficou sexy com essa batina.
- Você acha? Que bom. Também gostei desse seu uniforme. Mas prefiro você sem ele.
A mesa serviria perfeitamente para o que eles pretendiam fazer. Tinham vinte minutos.
Sawyer viera, afinal. E em grande estilo.
