A questão sobre rendição se variava em vários aspectos no mundo humano, mas para ele, Balthazar, significava o mais próximo que poderia chegar do dito amor. Ela não era pura, pois se mesclava com desejo, cobiça, domínio e obsessão. Além da idolatria. Mas por mais que isso seja inconcebível no mundo dos homens, para ele soava de maneira natural quando seus joelhos sofriam a gravidade da terra ao ajoelhar-se, curvar e beijar o sapato escuro e lustrado. Essa era sua forma de amor e devoção para com seu mestre, que por muitas vezes pela eternidade traiu e foi aceito de volta. Quando seus planos de insubordinação e anarquia eram reduzidos a nada pelo mago e exorcista John Constantine. Não havia ninguém para ele no final, a não ser seu mestre. Lúcifer, estrela da manhã. O diabo bíblico que brincava com sua aparência para os humanos leigos. Mas para Balthazar ele sempre aparecia da mesma forma: cabelos louros e curtos, ar prepotente e um terno de alfaiate.
O odor de enxofre já não entrava pelas suas narinas encarnadas como antes era quando foi mandado novamente pelo inferno por Gabriel. Ali estava ele novamente para cima, arrecadando um mar de almas como em uma bolsa de valores para o deus do mundo inferior. Beijando a bota do mestre como um cachorro adestrado no escritório de Nova York.
- Bom garoto, Balthy. – A voz suava soava como uma corrente de ar, fitando-o com olhos baixos. Aquela era sua ordem, seu mundo e seu centro universal. – Você conseguiria gozar somente de lamber meus sapatos? – A divindade infernal inclinou a cabeça em um questionamento, sem tirar as orbes azuis gelo do demônio moreno. Balthazar parou o beijo por alguns minutos, perguntando-se mentalmente se aquela era uma punição ou algo do tipo. O escritório silencioso não respondia a suas perguntas de qualquer forma. A língua serpenteou em forma lenta uma trilha pelo couro escuro sem questionar, sentindo a textura áspera ser salivada por sua boca quente e úmida.
A questão de ficar excitado em uma encarnação nada mais era que calculo psicológico sobre o hospedeiro, mandando sangue suficiente para o órgão masculino... Mas Lúcifer não gostava de deixar as coisas fáceis para o pobre demônio, pois anular por hora o poder do ser inferior era tão fácil quanto a primeira alternativa.
Balthazar arfou quando uma mão cálida pousou em seu rosto, incentivando-o. Já estava tão duro a horas atrás que mal teria trabalho em relação ao fazer o que seu mestre mandou. E isso o encheu de algo parecido com orgulho de si próprio. Seu ego inflou o mais alto do nível normal – se fosse possível. Seus lábios desenharam um sorriso malicioso, para logo após morder o inferior quando sua calça melou em uma semente humana.
Lúcifer sorriu sereno. – Agora o outro.
