A lua estava escondida atrás do mar de nuvens. Era outono e aquele parecia o cenário perfeito para o motivo de estar ali, naquele dia, pensou o jovem Uchiha.
À sua frente encontrava-se um enorme bar, lotado de homens bêbados aos berros, fumando e despejando toda a frustração de uma vida sem sentido em cima dos balcões de madeira.
Irônico o local escolhido para a reunião. Fora exatamente ali que seu pai dera seu último suspiro de vida. Talvez reviver a angústia de perdê-lo cruelmente fosse algo bom, talvez lhe desse a esperança de que tudo estava a prestes a mudar para melhor.
Aproximou-se, relutante, do estabelecimento. Tinha medo de ser reconhecido e não estava com vontade de brigar com um bando de perdedores. Franziu o cenho no momento em que passou pelas portas estilo faroeste, sem chamar muita atenção, mas começando a ansiar pela brisa fresca do lado de fora. Aquele bar estava mais abafado do que as celas da prisão onde vivera por longos seis meses no ano anterior.
Atravessou o recinto cobrindo a parte superior do rosto com a gola do casaco, precisava lembrar ao irmão de que até mesmo a floresta conhecida como sangrenta parecia ser um ponto de encontro melhor do que aquele.
Caminhou por entre as diversas mesas lotadas e sujas de diversos líquidos além do próprio álcool e desejou nunca descobrir a origem dos outros tipos que encontravam-se ali. Ouviu xingamentos em sua direção ao tropeçar em alguns pés e até sentiu um leve empurrão de uma garçonete que passava apressada. Ignorou a todos. Não valia a pena continuar em um ambiente tão deplorável quanto aquele.
Alcançou o ponto mais distante da entada do bar e olhou à sua volta, procurou por uma porta vermelha, desgastada pelo tempo provavelmente, mas não a viu. Pensou em pedir ajuda a alguém, mas suas opções se resumiam a bartenders mal-humorados e metade da população de Konoha drogada ou bêbada. Suspirou pesadamente, com a raiva começando a subir-lhe pelo corpo. Arrependia-se profundamente de não ter procurado por um modo melhor de contatar seus companheiros.
Até que, finalmente, avistou um pequena luz vindo não muito de longe. O motivo de não encontrar a maldita porta era porque estava aberta, enfiada em um recinto escuro e com pouca ventilação. Fez seu caminho até a mesma e deu uma última olhada por cima dos ombros para verificar se não estava sendo seguido.
Quando seus instintos lhe deram a permissão que esperava, voltou-se completamente para o que lhe aguardava a seguir.
Uma série de escadas aparecera em seu campo de visão e uma única lâmpada estava disponível para ajudar na identificação do que vinha pela frente. Roedores corriam próximos a seus pés, mas não ligou, estava acostumado a viver em locais como aquele, cheirando a mofo, sangue e medo.
Com as mãos apoiadas dos dois lados da parede, continuou a descer os degraus o mais rápido que suas habilidades permitiam. Não via a hora de acabar logo com aquilo. Estava louco de ansiedade por finalmente voltar à ativa depois de tanto tempo precisando superar suas próprias incapacidades. A cada passo seu o barulho de vozes abaixo crescia, começou a reconhecê-las aos poucos. Aparentemente, todos eles estavam ali, apenas a sua espera.
- Ele está aqui... - ouviu sussurrarem assim que alcançou o último lance de escadas.
Apesar disso encontrava-se em um beco sem saída, uma outra porta estava na sua frente e parecia estar trancada. Esperou pacientemente que a abrissem e quando o fizeram percebeu a expressão surpresa no rosto de muitos dos presentes.
Sorriu internamente. Era exatamente aquilo que queria.
- Seja bem-vindo, irmão - Itachi falou distante, sentado em uma cadeira de ferro, na ponta de uma enorme mesa onde todos os outros membros da Akatsuki encontravam-se.
Como resposta, Sasuke apenas balançou levemente a cabeça.
Andou na direção da mesa e sentou-se no último lugar que restava, o lado oposto ao qual se encontrava o Uchiha mais velho. Assim que o silêncio foi restabelecido, os olhares direcionaram-se ao chefe da quadrilha.
- Como bem sabem, o império dos Haruno tem crescido imensamente nesses últimos anos. Estimamos que a fortuna do clã esteja por volta dos dez bilhões de dólares ao ano. É muito mais do que sonharíamos um dia em receber - uma leve risada escapou dos lábios de Itachi - Contudo, nosso primeiro plano de infiltração nas instalações do poderio Haruno não foi muito bem elaborado e agora estamos com todos os olhares em cima de nós. Precisamos agir rápido e com eficiência, se quisermos destruí-los.
- O que precisamos mesmo é sermos inteligente! - sibilou raivosamente o loiro, que Sasuke reconheceu como sendo Deidara - Atingimos um ponto completamente previsível. Quero dizer, todo mundo espera que se atinja o coração da empresa. E era óbvio que eles colocariam todo tipo de sistema de segurança para impedir imbecis como nós de roubar a grana.
- Deidara está certo - concordou Sasori - Temos que descobrir algo que poderá nos render muito mais do que um simples roubo ao enorme cofre que eles mantém nos confins daquela empresa.
- E o que você sugere que façamos? - tornou a perguntar o líder do grupo que, apesar de estar direcionando a frase à Sasori, mantinha seu olhar no irmão mais novo, como que o testando, esperando por algo que o fizesse realmente orgulhar-se de tê-lo como um membro da família.
- Andei pesquisando sobre o histórico dos Haruno. A primeira coisa que surgiu na minha cabeça foi que o que realmente move todo aquele império econômico é o poderoso chefão. Afinal de contas, quem coordenada e manda em cada passo que a empresa dá é o próprio dono da mesma. Se conseguíssemos derrotá-lo de algum modo... Se o velho batesse as botas poderia ser que o trem saísse dos trilhos e tivéssemos a nossa chance. Porém, - acrescentou rapidamente, erguendo o dedo indicador, quando notou que estava prestes a ser contrariado por vários dos presentes - isso seria quase que a mesma coisa que assaltar o cofre como fizemos da primeira vez. Talvez não rendesse a quantidade de dinheiro que sabemos existir. Então me veio outra coisa à mente... E se em vez de matá-lo... O sequestrássemos?
O silêncio reinou no cômodo enquanto os membros da Akatsuki tentando compreender a linha de raciocíno de Sasori.
- Prossiga - exigiu Sasuke, ignorando os ruídos de raiva de terceiros e o sorriso desdenhoso de Itachi.
- Pensem! O que aconteceria se nós o mantivéssemos aqui, em nosso poderio? Claro que eles logo o substituiriam enquanto não fosse resgatado e a empresa continuaria a funcionar. Só que se exigíssemos dinheiro pelo resgate, talvez o valor, que eu acredite deveria ser extremamente alto, terminasse por quebrar a empresa. Como Itachi falou a pouco, eles mobilizam cerca de dez bilhões por ano. Só precisaríamos realizar os cálculos certos e os Haruno faliriam.
Enquanto comemorava sua ideia brilhante e atraía alguns sinais de concordância, Sasori notou que nem todos estavam conseguindo aceitar seu plano.
Um deles era Konan, que não demorou a se pronunciar.
- Você está se esquecendo que justamente por serem tão poderosos seria apenas questão de tempo até se restabelecerem, isso se não nos encontrassem antes. Seríamos postos na cadeia antes mesmo do que podemos imaginar.
- Então não é apenas pelo dinheiro? - questionou o Uchiha mais novo - Vocês não se contentam com os bens materiais. Querem algo maior.
- E por que haveríamos de querer menos que isso, querido irmão? - disse Itachi, mantendo a expressão de desdém.
- Não há nada de errado, é claro. Só não vejo como nada disso possa funcionar! - o rapaz percebera que seu comentário atraíra a atenção de todos mais uma vez, porém não de um modo satisfatório - Se destruir completamente a empresa dos Haruno é seu objetivo, deveriam pensar em algo ainda mais catastrófico. Tudo bem, confesso que a ideia do sequestro pode servir como uma solução por um tempo, mas será apenas isso: por pouco tempo. E estão se concentrando na peça errada! - enquanto falava, Sasuke gesticulava com os dedos apoiados na mesa - Temos que procurar pelo elo mais fraco de todo o clã. O dono da empresa, pode ser substituído. Mas nada no mundo faria com que ele desviasse sua atenção de seus negócios a não ser que... - deixou o resto pairar no ar esperando que alguém inteligente o suficiente acompanhasse-o.
Até que Konan o fez.
- A não ser que o elo fraco seja o verdadeiro sequestrado! - ela exclamou, empolgada - Não pode estar falando da garota!
- Sim - sorriu, enigmático - Sakura Haruno é nossa resposta. É nosso elo fraco. É nossa fonte de dinheiro. Mas é só para isso que ela servirá; como eu falei, o sequestro deve servir apenas como uma pequena distração! O verdadeiro golpe viria logo após nossa pequena transação em troca da vida da jovem: um massacre!
O peso de suas palavras permaneceram suspensas no ar. Aquilo parecia demais até mesmo para um grupo como o deles. Porém nada parecia mais delicioso aos ouvidos de velhos bandidos de guerra como eles! O garoto era tudo aquilo que eles precisavam.
- Está decidido, então - Itachi encerrou o assunto levantando-se de sua cadeira e caminhando em direção ao irmão. Ao aproximar-se, apertou sua mão - Seja bem-vindo à Akatsuki. Estou me orgulhando cada vez mais de você.
- Obrigado.
Com uma pequena reverência, Sasuke abandonou o porão do bar e saiu dali o mais rápido que poderia, estava desesperado para chegar em casa e começar a se preparar psicologicamente para o peso de sua missão. Sabia que por ter sido o idealizador daquele plano seria utilizado como a isca e, apesar de não querer admitir, ainda lembrava-se de que Sakura fizera parte de um pouco de sua história quando pequeno. E talvez aquilo se tornasse um problema. Contudo, o treinamento que recebera meses antes o ensinara a esmagar qualquer tipo de sentimento ligado a outra pessoa que não a ele mesmo ou ao grupo ao qual devia lealdade. Estava confirmado.
Observando o irmão sair, Itachi notou uma leve pontada de orgulho subir-lhe o rosto, o que não passou despercebido por Konan, que encontrava-se atrás dele.
Enquanto todos os outros membros reuniam-se para elaborar as estratégias de infiltração para o tão esperado sequestro, os dois permaneciam se encarando.
- O quê? - perguntou o Uchiha.
- O que deu em você? Pensei que estivesse feliz em se livrar dele. Ou nunca teria permitido que Sasuke fosse levado para aquele inferno que chamam de prisão.
- Eu sei... - suspirou, inabalável - Mas os resultados de sobrevivência de Sasuke foram melhores do que o meu próprio. Ele está pronto, Konan. E logo se tornará nossa mais nova e perfeita carta na manga!
Este capítulo terminou até um pouco maior do que eu esperava, mas enfim!
Olá a todos!
Espero que este comecinho tenha deixado vocês com água na boca por mais! É a primeira vez que escrevo uma long do Sasuke e da Sakura (sempre fui fiel ao meu Neji e a minha Tenten), mas achei legal dá uma variada.
Gostaria de avisar que eu não continuarei esta long contanto que haja um bom número de pessoas presentes aqui e com presentes eu quero dizer em relação às reviews! Não deixem de mandar, é muito importante pra mim saber a opinião de vocês, pra que eu possa melhorar cada vez mais.
É isso aí. Agora depende dos meus queridos leitores (:
Até breve!
