O ESCORPIÃO ESCARLATE – 2ª TEMPORADA

Temporada Anterior – Milo e Kamus conhecem-se, estando em lados opostos, o grego como um ladrão e o francês como um investigador de polícia. Juntam forças para resolver os crimes cometidos pelo novo Escorpião Escarlate e, apesar das diferenças entre eles, criam interesse um pelo outro. O retorno do Escorpiniano para a cadeia é um momento de profunda ansiedade. Serão dois longos anos até sua saída.

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...entrou em seu carro e olhou o aparelho que tinha em mãos. Era um identificador GPS. Ligou-o. Um sinal vermelho começou a piscar. Enquanto dirigia observava o pontinho mover-se. Parou o carro no acostamento. O pontinho parou. Sorriu. O chip de identificação estava escondido na bolsa de viagem que continha a roupa do grego. Depois de revistada, felizmente conseguiu deixá-la na Clairvaux sem que ninguém encontrasse o minúsculo objeto.

Em dois anos Milo sairia. O Aquariano teria o GPS para saber exatamente onde encontrá-lo. O francês tinha certeza de seu amor, mas obrigar o preso a uma falsa esperança era pedir demais. Sim. Dois anos era muito, mas se ao sair o ladrão quisesse arriscar um romance, ainda dava tempo de serem felizes.

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O Escorpião Escarlate - Capítulo I – O fim

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IPF. Por volta das 15 horas...

Assim que o investigador chegou na IPF, sua funcionária o alertou.

- O Dohko veio te procurar. Pediu para você falar com ele assim que chegasse.

- Obrigado, Marin.

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- Licença ? – perguntou batendo e abrindo a porta do Superintendente.

- Entre Kamus. – fez um sinal com a mão, indicando uma cadeira.

O francês sentou-se.

- O que foi fazer na Clairvaux ?

A pergunta, assim de supetão, desconcertou-o. Não conseguiu pensar em resposta alguma além da verdade.

- O preso Milo Nekalaous deixou algumas roupas... – felizmente conseguiu omitir o "em minha casa" – ...e fui devolver.

- Que interessante. Gastou quase quatro horas do seu dia APENAS para fazer uma entrega ?

O policial sentiu o rosto queimar. Dohko tinha o dom de desestabilizá-lo.

- Não se preocupe. Cheguei mais cedo e ficarei até tarde para compensar estas horas.

- Não é necessário, Kamus. Você sempre fica até mais tarde, vem aos sábados, trabalha em casa à noite e até aos domingos. Deveria descansar mais. – disse tranqüilamente.

O Aquariano apenas sorriu em resposta. Estava nervoso.

- Como você sabe, eu e seu pai éramos muito amigos. O juiz Cartelié era um homem notável. Extremamente correto e imparcial. – deu um sorriso – Orgulhava-se de você. Acreditava que o pequeno Cartelié se tornaria um grande profissional da lei.

O francês engoliu seco. Já sabia que esse era o início de um sermão.

- Quando criança você era muito mimado, mas amadureceu muito depois que perdeu os pais. – deu uma pausa - No ano passado, quando eu soube que você estava se relacionando com alguém da corporação, confesso que não gostei. Imaginei que um namoro poderia atrapalhar seu excelente desempenho.

- Entretanto isso não ocorreu. – o Aquariano defendeu-se.

Lembrava-se desta época. Dohko chamara-o em sua sala e falara minutos a fio. "Ter uma vida irrepreensível é tão importante quanto ser um profissional competente" dissera ao funcionário. Óbvio. Saber que o francês engatara um romance, ainda mais com outro homem, deixou o Superintendente de cabelos em pé. Todavia a conversa surtira efeito, pois neste período, o policial passou a dedicar-se ainda mais ao trabalho. "Todos estarão de olho em você, Kamus. Agora você será extremamente exigido. Terá que provar que é realmente bom" o chinês sentenciara. Sim. O investigador deu ouvidos ao chefe, mas isso minou seu relacionamento com Shura e foi o início do fim pois, desde então, todo o tempo livre do Aquariano era gasto com a IPF. Kamus não precisava mostrar que era bom. Precisava mostrar que era ótimo.

- Não meu caro. – deu um leve sorriso - Isso, FELIZMENTE, não aconteceu. – levantou-se e se colocou atrás do francês – Sabe, vejo-o em meu lugar. O posto de Superintendente combina com você. – deu uma pausa – Imagine-se sentado nesta cadeira, nesta sala. Todos o respeitarão. Você não será mais o investigador Kamus Cartelié. Será o Superintendente Kamus Cartelié. Tenho certeza que seu pai sentiria um orgulho imenso se estivesse vivo.

O Aquariano sorriu. Dohko voltou a seu lugar.

- Espero que não esteja interessado no presidiário Milo Nekalaous. Ele não tem o seu nível. Isso seria muito prejudicial à sua carreira.

Foi inevitável. O policial não conseguiu ficar impassível. Arregalou os olhos e ia responder, quando o chefe o interrompeu.

- Não. Não responda. Confio em seu discernimento. Sei que não faria uma bobagem dessas. Você sabe muito bem o que quer para o seu futuro. Será um Superintendente brilhante. Tenho certeza que não arriscaria suas possibilidades com uma atitude tola assim.

Kamus ficou sério.

- Vá. Volte para sua sala, "futuro Superintendente". Você tem muito trabalho a fazer e estou te atrapalhando.

Levantando-se, o francês estava para sair quando se lembrou do motivo de estar diante do chefe.

- E o que ia falar-me ?

- Vai demorar. Quero te passar um caso especial. Falamos amanhã. Dez horas ?

- Marcado.

- Obrigado.

O Aquariano saiu da sala. O coração parecia ter sido arrancado do peito, jogado no chão e pisoteado. Dohko era TOTALMENTE contra seu relacionamento com o grego, e deixou isso BEM claro.

Kamus fez uma breve avaliação: Milo era pobre, sem profissão diplomada, sua educação era a de uma pessoa simples e, para piorar, sempre teria o estigma de "ex-presidiário".

O chefe tinha sido muito explicito. Um romance com o ladrão afetaria diretamente sua indicação a Supervisor. Faltavam dois anos para o Escorpiniano sair. Muitas coisas poderiam acontecer até lá e, além disso, já dissera ao preso que estava tudo acabado.

Dohko era como um pai para si. Se falava aquilo era para seu próprio bem. Respirou fundo e endureceu o coração por completo. Milo deveria ser esquecido.

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Clairvaux. Quase três meses depois. Dia 08 de Novembro.

O criminoso acordou muito feliz naquele que era seu primeiro dia com vinte e quatro anos. O tempo estava horrível, como sempre, mas nem isso tirava seu bom humor. Diferente dos outros aniversários SABIA que este lhe reservava algo muito bom. Esperava receber uma carta, um bilhete, um recado, um bolo ou até uma bala do francês.

Ao contrário do Aquariano, Milo estava enjaulado e a pressão sofrida pela situação em que se encontrava deixava as sensações muito mais à flor da pele. Sem saber o que acontecia no mundo exterior, alimentava sua paixão platônica como se fosse uma tábua de salvação, envenenando-se de um amor egoísta e possessivo pelo francês. Kamus era SUA propriedade. CLARO que aquela história de "não quero te machucar" era uma grande balela. CERTAMENTE o policial só dissera aquilo para disfarçar. Era ÓBVIO que amava o presidiário.

Ao menos era o que o ladrão esperava.

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O dia passou e nada aconteceu. Sua esperança esvaiu-se com os minutos.

"Kâ, aquilo era mesmo o fim ? Será que você já me esqueceu ?" – questionou-se chateado, fechando os olhos e sentindo toda a mágoa do mundo em seu coração.

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Sentando-se para o jantar foi cumprimentado por Jack, um outro preso.

- Parabéns garoto. Vinte e quatro anos, não ? Idade perigosa. – brincou com o Escorpiniano.

- Obrigado Jack. – sorriu - É. Vinte e quatro anos. Pode sentar do meu lado sem medo. Você não tem feito parte dos meus sonhos eróticos.

- Ainda bem. – replicou rindo e sentou-se.

- Jack, será que o tempo está muito feio ? Se o correio tivesse que fazer uma entrega, você acha que conseguiria apesar do mau-tempo ? – perguntava com visível angústia.

O outro criminoso era um homem experiente. Aprendeu a nunca destruir o sonho alheio.

- Quer saber, grego ? – fez uma cara preocupada - Acho que o tempo está horrível. Qualquer entrega demoraria pelo menos uma semana.

O Escorpiniano sorriu.

"Kâ, eu sei que você me ama. Não se preocupe. Vou esperar uma semana, meu francesinho. Vou esperar." – refletiu, sentindo o coração muito mais reconfortado.

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Durante a noite do mesmo dia, apartamento do policial.

Sozinho em casa, Kamus tomava a quarta taça de vinho. Por mais que se esforçasse, era difícil esquecer o Escorpiniano. Conhecera-o em julho e, mesmo estando quase três meses longe do presidiário, não conseguia parar de pensar nele. Bebia para afugentar os pensamentos e apaziguar o coração. A dor era quase insuportável.

- Mon Ange, - falou com os olhos marejados - se as pessoas soubessem o quanto dói fingir que você nada significa para mim, tenho certeza que não me pediriam isso. - deu um sorriso amargo – Mentira. Pediriam sim. Elas acham que o Homem de Gelo agüenta qualquer coisa. Acham que ele não tem sentimentos. – uma lágrima correu por sua face alva – Ele não precisa de amor. Ele suportou o resto de sua infância e adolescência sem esta palavra. Para quê precisaria dela agora ?

Apertou os olhos. Seu coração parecia esmagar-se em seu peito. Respirou fundo.

- Vamos lá Kamye, - disse a si mesmo – anular-se nunca foi problema para você. Você só se relacionou com as pessoas que a sociedade permitiu. O Shura foi uma grande teimosia de sua parte, mas era um espinho atravessado na garganta do Dohko e de muitos. – virou outra taça de vinho e riu – Já imaginou se seus tios soubessem que criaram um gay ? – riu mais ainda.

A risada tornou-se silêncio. O Aquariano sabia que era emocionalmente perturbado. Felicidade ? Não. Esta palavra foi substituída por Controle.

- Droga ! Estou parecendo um adolescente. Droga ! Não posso deixar esta paixão tomar conta de mim. VÁ EMBORA ! – gritou – SOME DA MINHA VIDA ! Some, e me deixa em paz. – pediu entre lágrimas - Qual o problema comigo ? – questionou colocando a mão no rosto.

Falar era fácil. O que era difícil ? Difícil era esquecer o grego. Mesmo com seu futuro profissional e, provavelmente, a consideração do Dohko por si em jogo, não conseguia controlar-se. Estava apaixonado pelo Escorpiniano. Este era o problema.

Precisava fazer alguma coisa. Precisava tirar aqueles pensamentos da cabeça. Abriu outro vinho.

- Feliz aniversário, Milo. – sorriu e levantou a taça em um brinde. Seu sorriso se transformou em uma máscara de dor. Colocou o copo de lado.

Outra lágrima correu por seu rosto. Não. Não podia tê-lo para si. Não havia justiça no mundo.

Cerrou os olhos e irritou-se. Olhou em volta. O silêncio do imenso apartamento falava muito. Precisava de companhia. Pegou o telefone e fez uma ligação. Seu pedido estaria pronto em uma hora. Uma hora ? Não era muito para esperar.

Foi até sua adega e escolheu um vinho. Safra de 16 anos. Tudo bem, MILO merecia o melhor.

No quarto, mirou-se no espelho e deu uma ajeitada no visual. Olhou para o relógio. Tinha tempo. Mais de quarenta minutos. Segurou na parede. Era melhor não ser imprudente. Bebida e direção não combinavam. Ligou para um táxi.

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Entrou no carro e deu o endereço ao motorista.

- Boa escolha. – o taxista comentou, mas o investigador não estava ouvindo.

Kamus chegou na casa da massagem e entrou. Falou com a recepcionista e foi direcionado à terceira porta. O belo garoto de programas italiano (1) estava sentado na cama redonda e se levantou ao ver o cliente entrar. Sorriu encantadoramente.

- Boa noite...

- Kâ ou francesinho. – o policial se apresentou.

- Boa noite, francesinho. – disse sedutoramente.

O policial mostrou a garrafa de vinho.

- Feliz aniversário, MILO. - disse o nome bem pronunciado, como se saboreasse o som da palavra.

- Obrigado. – o rapaz respondeu sorrindo, entrando no clima do cliente.

- Hoje eu quero ser completamente seu, Mon Ange. – apesar de sorrir, o tom era de melancolia – Quero sexo selvagem. Quero esquecer quem sou e que existo.

O rapaz se aproximou sensualmente.

- Tudo o que você quiser, Kâ. – disse passando a mão no sexo do Aquariano por cima da roupa – O que quer que eu faça primeiro ? – questionou cheio de volúpia.

O francês olhou suplicante para os lábios do rapaz. Sabia que os garotos de programa nunca beijavam. Beijo era uma demonstração de carinho. Michés não vendiam carinho. Vendiam sexo. Mas não era sexo o que o policial estava precisando.

- Milo ? – perguntou com os olhos marejados – Me beija ?

O italiano afastou-se um pouco e observou o Aquariano.

- Como ? – questionou incrédulo.

- Eu pago.

O garoto de programa ficou desconfortável. Aquilo não era bom. Caso agudo de carência afetiva. Observou melhor seu cliente. Era um belo francês. Não seria sacrifício algum fazer isso, mas se a Casa ficasse sabendo, perderia o emprego. Era melhor não ceder.

- Sei fazer coisas bem mais gostosas. – disse abaixando-se na frente do Aquariano e abrindo-lhe a calça.

Kamus sentiu uma imensa tristeza. Seu dinheiro podia comprar apenas sexo.

Ao sentir o outro estimulando seu membro começou a excitar-se.

"Vamos lá, Kamye. Comporte-se como uma boa marionete e faça o seu papel de cliente. Você não está pagando ? Aproveite o sexo. É só isso que você vai ter."

De repente deixou de ficar excitado, perdendo o tesão.

- Obrigado, Marcello (2). – disse afastando o rapaz e fechando a calça - Você me deu a única coisa que eu mereceria depois de tudo o que eu fiz para o Milo: desprezo. – abriu a carteira – Já paguei sua hora lá fora, mas vou te deixar uma gorjeta. – pegou uma nota de cinqüenta euros e deixou o dinheiro sobre a cama. – Pode ficar com o vinho. – disse e saiu do quarto.

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O Aquariano chamou outro táxi. Minutos depois estava dentro de um bar.

- Você tem veneno ? – pediu seriamente ao barman.

- Destilado de cana. (3) – o atendente sorriu – Extremamente forte.

- Quero um duplo. NÃO. – disse rapidamente – Quero uma garrafa.

- Nossa, – o barman comentou sorrindo, colocando a garrafa e um copo sobre o balcão -você está mesmo querendo apagar suas mágoas, não ? – observou, servindo o cliente.

- Não. Não quero apagar minhas mágoas. – respondeu tomando um belo gole e sentindo a bebida queimar-lhe a garganta – Quero apagar minha vida. – disse e virou o resto do primeiro copo.

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Próximo Capítulo – Decepcionado, Milo toma uma atitude drástica. Kamus sofre, em conseqüência de um encontro nada amistoso.

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Notas da autora - Explicações

( 1 )Este é o mesmo garoto de programa que o investigador ficou assim que conheceu o grego, por sua semelhança física com o ladrão. História contada em O Escorpião Escarlate – 1ª Temporada - Capítulo VII - Novas Pistas –

( 2 ) Verdadeiro nome do garoto de programas

( 3 ) Aguardente, cachaça.

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Nota da autora – Indicação de fic

Gostaria de recomendar a todos a leitura da fic "A Morte de um Cavaleiro" da Anjo Setsuna. Ela conseguiu pegar um tema bem comum e dar uma roupagem muito interessante. Destaque para o final da fic. Quem quiser prestigiar, pode acessar o http / www . fanfiction . net / s / 3054909 / 1 / (tudo sem espaço)

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Nota da autora – Agradecimentos

Agradeço a todos que acompanham a fic, em especial a quem escreveu para comentar o último capítulo da temporada anterior: Margarida; Ana Paula; Litha-chan; Shakinha; Lady Yuuko; Anjo Setsuna; Ferfa; Srta Nina; Ilía-Chan; Athenas de Aries; Camis; Hokuto-chan; Miki-chan; Cardosinha; Kagura; Virgo-Chan; Francine; Nana Pizani; Aquarius no Camy; Mila Boyd; Arashi Kaminari; Babi-deathmask; Mayumi Shinomori; Mi-chan.HxS ; Ice Princess-Nath; Tsuki Torres; WashuM; Ophiuchus no Shaina; Lady Kourin; XxLininhax;

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Nota da autora - contato

Podem me contatar, brigar, criticar, reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Muito obrigada por lerem.

Bela Patty

- Julho / 2006 -