Capítulo 1: Ascensão das trevas
Silêncio. Era a única coisa que pairava nas ruas num cenário pós-guerra. Antes disso? Pânico. Era isso que os comensais causavam em todos os lugares que iam. A maior parte dos estabelecimentos estava em ruínas. Os lugares eram saqueados, arrombados, destruídos. Depois das batalhas eles ainda encontravam uma forma de garantir sua diversão, claro. Vários clubes de "companhia íntima" ficavam abertos á mercê de todos.
Dessa vida de prazeres, sangue e guerra intermináveis, abriu-se uma porta para novas criaturas tentarem se apoderar dos que antes dominavam. Para falar a verdade, naquela época comensais eram o menor problema dos bruxos, e sim os seres que estavam se aproveitando dessa distração para tomar conta de tudo.
A guerra foi dividida em dois momentos. O primeiro foi a mesma rivalidade bruxa de sempre. Busca por artefatos mágicos, ganância, poder. No segundo, outra guerra se fundiu à mesma, mas essa guerra só se dá por começar quando o sol toca gentilmente as montanhas e se apaga. Quando o tom róseo até o mais profundo roxo invadia o firmamento, o banho de sangue iria começar. E quando o sol nascesse o sangue seria limpo das ruas. Mas a matança nunca iria acabar. Alguns deles voltariam, mas diferentes. Outros... Eram só alimento.
A segunda guerra começou com uma chacina. Para os dois lados. Inicialmente, as batalhas foram impulsionadas pelo grande poder que certos membros ganharam, mas essa mesma força os levou à destruição total.
Dez anos se passaram desde que a guerra acabou e a regra de domínio mudou absurdamente. Depois do pôr-do-sol as ruas não são mais seguras. Todos os bruxos agora vivem sob uma ditadura sanguinária em que a raça mais forte predomina. E era verdade. Eles eram apenas comida.
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A noite já caíra. O som da música eletrônica vindo da boate chamada "The Build" ecoava por todo quarteirão, impedindo alguns moradores maltrapilhos da rua de dormir e alguns gatos ficarem inquietos pertos das lixeiras.
Nessa mesma boate, enquanto a música ecoava descompassada, assim como os batimentos cardíacos daqueles que ali dançavam, no porão, um par de olhos azul turquesa se abriam violentamente.
Não era pouco tempo. Eram dez anos. Dez anos pelos quais dormia esquecido ali. Temeroso demais para enfrentar a imortalidade, ou até mesmo a própria morte. Agora se sentia mais vivo do que nunca e – acima de tudo – sedento.
O homem levantou-se imponente, tirando a poeira de suas vestes e um inseto que percorria seu ombro. Olhou para o chão, procurando por um sinal de sua varinha. Não achou. Pouco se importava. Sacudiu os cabelos compridos, negros, que ressaltavam sua palidez e seu belo rosto. Durante todo aquele tempo não envelhecera um segundo sequer. Suas roupas ainda tinham manchas de sangue e rastros de mofo. Sua garganta implorou novamente por sangue, enquanto ele tentava não deixar-se dominar pela sede. Seus orbes azuis percorreram toda a extensão do porão mal cuidado. Alguns ratos passavam despercebidos pelas paredes e goteiras caíam sobre o chão de madeira. Subiu vagarosamente pela escada de madeira já podre e puxou um alçapão que dava para o fundo do estabelecimento. O alçapão estava preso por vários pedaços de madeira. Com um simples empurrão conseguira fazer todas elas voarem para longe. Desconhecia sua própria força. Desconhecia seus poderes. Desconhecia o que ele era... Ou o que ele tinha se tornado.
Mais uma pontada invadiu o seu estômago indo em direção à garganta. Tentava se controlar para que o que quer que fosse não se apoderasse do seu corpo. O que quer que seja aquilo que ele se tornou, ele não iria sucumbir a uma natureza bestial. Ele que mandava em si mesmo, e ele não ia ceder esse controle.
Ele mandava. Ele. Blaise Zabini.
Blaise cambaleou até onde a música vinha. Muitas pessoas ali dançavam, sem ao menos notar sua presença. Rapidamente, saiu pela porta da frente, desviando numa rapidez absurda dos corpos que ali dançavam. Por uma única vez na vida, ele deixaria sua natureza falar mais alto. Instintivo. Mas ele não ousaria "morrer" novamente, ou coisa pior. Por via das dúvidas, ele não desafiaria o desconhecido. Blaise não se lembrava realmente como havia parado naquela situação, só lembrava de uma única batalha, em que um dos "monstros" o encurralara e ele sentira sua vida se esvaindo, num prazer interminável, juntamente com a última gota de sangue do seu corpo.
Esgueirou-se lentamente pela sombra dos postes que falhavam, sendo observado detalhadamente por alguns estranhos. Seus olhos brilharam, cheios de desejo, enquanto ele entrava em um dos becos escuros.
Fechou lentamente os olhos, sentindo o forte cheiro de sangue. Sentia os batimentos cardíacos de sua vítima. Sentia o medo invadindo cada nervo. Sentia o êxtase da ansiedade. Sentia os passos dela se aproximando, mesmo constatando que ela estivesse a três quarteirões dali.
tun, tun, tun, tun
dois, dois quarteirões.
tun, tun, tun, tun
um, um quarteirão.
Suas batidas eram aceleradas e ela sentia como se fosse uma presa prestes a ser atingida por uma bala certeira do melhor dos atiradores.
tun, tun, tun, tun
Ela virou a esquina, provavelmente já sabendo o que a esperava. Os olhos profundamente azuis encontraram um outro par de acinzentados. Uma loira, muito bonita. Ficou pálida. Blaise sorriu sedutoramente. Ela gaguejou nervosa.
-Acalme-se, querida, não vou lhe fazer nada de mal.
A loira abriu a boca para falar alguma coisa, mas foi silenciada por Blaise, que sorriu mais uma vez para ela.
Blaise olhou-a novamente nos olhos. E apaixonou-se por ela. Por aqueles olhos temerosos. Pela palidez. Pelo medo. Fechou os olhos e tocou os lábios quentes da mulher, que retribuiu o beijo sem objeção. Ele desceu, fazendo uma trilha pelo seu pescoço. O sangue o chamava. Ele pulsava. Seus caninos deram lugar a longas presas, e encravaram-se no pescoço da mulher. Ela gemeu, em um misto de dor e prazer. Então era assim. Seus olhos brilhavam como rubis, enquanto o sangue entrava em seu corpo. Cada gota saciava sua sede e o revigorava. E assim seriam todas as noites em que ele se apaixonaria por mais uma de suas vítimas. Lamentaria seus atos. Mas os repetiria. Todas as noites.
Já havia se acostumado com a idéia. Não era tão difícil assim, afinal... Era, como, uma redefinição do termo "matar".
Com o tempo Blaise percebeu que seus poderes mágicos agora eram toda e completamente obsoletos. Sua única companhia eram as sombras. Onde ele se escondia se fortalecia e esperava... Que algo acontecesse e estivesse além da sua sina sanguinolenta.
N/A: O capítulo ta pequeno, e eu ainda estou elaborando umas coisas pra poder soltar mais a fic, bom, realmente espero que vocês gostem
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