Título: Minha Justiça
Autor: Namorado da Toynako
Anime: Katekyo Hitman REBORN!
Casal: Primo Cavallone x Alaudi
Classificação: 18+
Gênero: Yaoi/Lemon
Direitos Autorais: Nada me pertence. Personagens extraídos da série Katekyo Hitman Reborn!.

OBS: Os nomes dos personagens foram inspirados aos de celebridades italianas. Nessa fanfic, Primo Cavallone tem o nome de Dominic Risi. Baseado nos períodos de 1890.

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Minha Justiça


O sentimento de desgosto era como o amargo sabor do café preparado no dia anterior. Os dedos finos deslizavam pelos arquivos de papel, buscando falhas em suas anotações, sinais que justificassem sua incompetência. Porém, por mais que buscasse, não havia uma única resposta satisfatória, não havia um único erro.

Os dedos que antes passeavam pelas linhas se fecharam com força junto a mão, tentando controlar um surto de fúria momentâneo. Nunca, na vida inteira daquele inspetor do distrito central, houve tamanho sentimento de falha e impotência. Nunca, em seus vinte e cinco anos, encontrou-se tão incapacitado quanto naquele momento.

Pela sexta vez um de seus casos havia sido julgado e o acusado inocentado. Na primeira vez cogitou a possibilidade de um juri leve, na segunda a ausência de testemunhas.. Na terceira, quarta e quinta, um juíz novato e tolerante, mas nessa nova ocasião não havia nada que justificasse o veredicto.

Duas irmãs da classe trabalhadora foram estupradas e mortas enquanto entregavam tortas no primeiro distrito, lar dos ricos e nobres burgueses da cidade. O acusado havia sido visto na região, tendo atitude suspeita. Depois de exames detalhados, foi constatado sangue em suas vestes e suas digitais nos corpos das meninas.. Então como? Todas as evidências apontavam para ele, como ele conseguiu ser inocentado?

O jovem inspetor policial jogou-se em sua cadeira, fitando todas aquelas provas perfeitas. Das várias formas que o promotor poderia ter feito o caso contra o acusado, um fator havia sido ignorado por esse e o inspetor da polícia: Dinheiro, o acusado era rico.

Era fácil cometer delitos quando se poderia subornar o juíz e o juri, não era? Toda aquela arrogância da classe privilegiada fazia-os crer que eram capazes de cometer quaisquer crimes sem serem culpados por esses. Agora, diante dos papéis sob a mesa de mogno, tais crenças egoístas apresentados mostravam-se corretas. Mais um assassino voltava as ruas e, não importando quantas provas tivesse contra esse, nada havia sido feito.

O homem buscou respirar de forma calma e lenta, tentando acalmar-se. Não podia exaltar-se e agir de forma inadequada, precisava encontrar com os pais daquelas pobres meninas e desculpar-se pessoalmente por ser incapaz de cumprir a promessa que havia feito a esses. Todas as horas dedicadas a investigação revelaram-se inúteis, não haveria nada para confortar o casal após a perda de suas crianças.

- Alaudi? - Uma voz chamou o inspetor, capturando sua atenção.

- Sim?

- O chefe designou-o para um novo trabalho - disse o agente, olhando momentaneamente a sala do outro.

Visão do inferno seria um eufemismo para a bagunça do local. Papéis espalhados no chão, fichas abertas e evidências espalhadas pela mesa. Nunca que alguém suspeitaria que o melhor inspetor do distrito central seria um jovem bagunceiro. Um sorriso tímido surgiu no policial, indicando o caminho por onde o seu superior deveria seguir.

- O chefe disse que daria-te um descanso depois do último caso, mas nunca podemos levar a sério as promessas dele, não é? - comentou o agente de forma animada e descompromissada, recebendo um olhar frio do outro.

- Somos pagos para trabalhar, seria bobagem pensarmos que não receberiamos nenhum tipo de trabalho - retrucou Alaudi, logo percebendo que estava descontando sua raiva nesse.

Ao aproximar-se da sala de interrogatório, recebeu uma ficha de um dos homens, olhando-a de relance. Aparentemente era mais um dos malditos homens que eram capturados no quinto distrito. Então o chefe falava sério do descanso? Só assim para justificar um caso tão banal.

- Irei interrogá-lo - falou com confiança, entrando na sala com os olhos voltados aos papéis, demorando um pouco para dar atenção ao suspeito.

- Ei, quando serei liberado? - Perguntou o homem com uma voz melodiosa, quase como se não compreendesse aonde estava.

O inspetor voltou sua atenção ao homem sentado atrás daquela mesa, fitando-o de forma severa. A pessoa em questão não aparentava ser um dos bêbados que eram trazidos após confusões, pelo contrário, vestia-se bem e tinha uma aparência agradável, com seus cabelos negros bem arrumados e olhos dourados vibrantes.

- Dominic Risi, mais conhecido como "Cavallone". Você possuí uma ficha extensa, não é? - Comentou com um leve descaso, decidindo listar os crimes já cometidos pelo meliante diante de si. - Preso por embriaguez, destruição de patrimônio público, furnicação, sodomia, colaboração com o mercado de prostituição e posse de ópio.. Dessa vez foi pego em um bordel, estando na presença de.. três prostitutas. Impressionante.

- Obrigado, me esforço - brincou de forma leviana, encostando o cotovelo na mesa e logo a mão no rosto, olhando com cuidado para o rosto do policial diante de si. - Você tem olhos azuis..

- Agradeço por notar - respondeu Alaudi com frieza, encaminhando a cadeira diante do outro e sentando-se nessa, jogando a ficha deste na mesa. - Espero que não esteja crente que sairá daqui pagando uma fiança, já ultrapassou o limite de acusações permitidas para um único homem.

- Há um limite? - Indagou surpreso, rindo baixo por breves instantes e recuperando sua calma logo em seguida. - Nunca vi olhos tão feios quanto os seus.. Normalmente olhos azuis são bonitos, mas os seus são claros demais e sem brilho algum. Não há coragem ou determinação neles, parecem olhos de um escravo oprimido - comentou, deixando seus olhos passearem pela face do outro.

Alaudi levou uma de suas mãos aos cabelos louros, empurrando-os para longe do rosto. Havia pedido para ter os olhos julgados por um homem daqueles? Estava sem paciência pelo último caso e ainda seria ofendido dessa forma? Deu um sorriso malicioso, decidindo responder aquela afronta em outro nível.

- Terei de acusá-lo por desrespeitar as autoridades?

- Não estou desrespeitando-o. Imagino que você tenha consciência que seu olhar não é agradável - respondeu-o com a língua afiada, apoiando o corpo em cima da mesa, como se estivesse definhando diante do tédio.

- Eu vejo, mais um caso de embriaguez - puxou a ficha, como se estivesse disposto a acrescentar mais algumas informações a esse caso. - Espero que goste de locais apertados, passará essa noite em um.

- Fico lisonjeado por sua oferta, mas prometi ficar no lugar quente e apertado de outra pessoa - disse de forma divertida, erguendo-se de sua cadeira como se a conversa já houvesse acabado.

- Sente-se ou terei de algemá-lo - alertou com seriedade, cansado de tantas afrontas.

- Como disse, tenho compromissos - o homem mostrou pouca importância sobre a ameaça, já começando a andar rumo a porta. - Quem sabe na próxima oportunidade eu aceito a..

Foi tudo mais rápido que Dominic poderia prever. Seu pescoço foi empurrado com força rumo a mesa, sentindo a testa bater com força nessa. Suas mãos, que estavam antes pousadas na lateral de seu corpo, foram levadas até suas costas, sendo presas por uma fria algema de metal. Os olhos cor mel piscaram como se buscasse compreender o ocorrido, sem entender o motivo de tamanha agressividade ou a agilidade impressionante daquele homem.

- ..sua oferta - terminou sua frase com a voz fraca e rouca, atordoado pelo ocorrido.

- Dominic Risi, você ficará preso até a sentença do juíz. Não pense em reagir ou isso será acrescentado a sua pena - disse com firmeza, puxando-o com força pela corrente entre as algemas, querendo guiá-lo rumo a cela que iria acolhê-lo pelos próximos dias.

- Espere, não tenho direito a negar todas as acusações? - Falou de forma apressada, sendo empurrado pelo outro.

Alaudi não disse mais nenhuma palavra, puxando o homem pelo corredor rumo as celas do local, olhando sério para um dos guardas e vendo-o abri-la de forma apressada. Os outros prisioneiros olharam de forma curiosa a cara de pavor momentânea que surgiu no rosto do recém chegado.

- Cela coletiva? Não deveria fazer isso, posso ser perigoso.. - Tentou buscar uma desculpa, já vendo que teria de misturar-se com a ralé recém capturada.

- Aproveite o calor humano - disse Alaudi, soltando-lhe as algemas e fechando as grades, vendo o moreno perder toda a postura displicente.

Um sorriso fino surgiu nos lábios de Alaudi quando o homem segurou nas grades e olhou-o desesperado. Talvez aquele homem rico aprendesse um pouco de maturidade depois que ficasse algum tempo na prisão. Saiu em passos firmes do local, deixando o outro lá antes que esse tivesse um surto histérico e exigisse sua retirada do local naquele momento.

- Inspetor - o rapaz que antes chamou Alaudi aproximou-se novamente, um tanto preocupado com o ocorrido. - Não devia tê-lo interrogado?

- Temo que não seja possível interrogar um homem embriagado. Dê ordens aos guardas para o servirem apenas água pelas próximas oito horas, desse modo ele poderá se recuperar e poderei interrogá-lo de forma decente - disse Alaudi, satisfeito.

- Mas, Alaudi - o rapaz tentou rebater, ainda esboçando sua preocupação. - A delegacia fechará em sete horas e não é servida nenhuma refeição após esse horário - era um homem rico, não era? Talvez devessem tratá-lo melhor.

- Ah.. Tem razão. Então o suspeito não é um homem de sorte, temo que só poderei interrogá-lo amanhã.

Um suspiro de graça se fez nos lábios do policial, não podendo evitar de sentir-se desse modo. Seu superior era mesmo estranho, mas não havia como negar a sua capacidade incrível em eliminar criminosos. Sabia que às vezes isso criava problemas com a hierarquia da polícia, mas ao menos dessa vez iria ajudá-lo a manter o suspeito nos aposentos que lhe foram designados, vigiando para que nenhum guarda aceitasse suborno.

Alaudi seguiu para sua sala novamente, notando um movimento incomum diante dessa e notando a presença do chefe da polícia no corredor, cercado de seus homens e portando uma seriedade incômoda. O jovem inspetor respirou fundo, indo até o local em passos firmes, imaginando que talvez fosse ser advertido por sua conduta contra o baderneiro recém capturado.

- Chefe - chamou-o com seriedade, fitando-o com total atenção.

- Ah, Alaudi. Finalmente chegou - o homem mostrou-se um pouco incomodado, tirando um lenço sujo do bolso e usando-o para limpar o suor da testa. - Não sei se soube, Giotto esteve no distrito essa manhã.

- Não soube - respondeu de forma direta, não compreendendo a questão.

Não havia uma única pessoa em toda cidade que não soubesse quem era Giotto, mais conhecido como "Vongola". Tratava-se de um dos homens mais ricos e influentes da cidade, sendo uma figura pública tão ou até mais admirada que o prefeito. Havia uma lista de dezenas de obras de caridade e benfeitorias feitas pelo homem, até mesmo a bonificação de natal da polícia era ganha graças a ajuda desse homem.

- Certo.. - Concordou com hesitação, voltando a guardar o lenço no bolso. - Giotto dará uma festa em sua residência dentro de duas semanas. Eu e Antônio, como sempre, fomos convidados, mas dessa vez Giotto mostrou-se curioso em conhecer o inspetor que resolveu o caso de ameaça da senhorita Isabel. Mesmo que o caso não tenha tido grande espaço nos jornais, por algum motivo, ele quis saber quem era e prometi a esse que iria levá-lo comigo a festa. Guarde esse convite e prepare roupas adequadas, pessoas de grande importância vão comparecer - Começou a falar de forma atordoada e quase apressada, largando nas mãos de Alaudi um delicado envelope, retirando-se do local logo depois.

- Uhm..? - Manteve-se interrogativo com o ocorrido, retornando a própria sala e sentando-se na cadeira, usando um abridor de cartas para rasgar o papiro de toque quase aveludado.

Com letras trabalhadas impressas em tinta preta sobre um papel de linho, por alguns segundos Alaudi ficou-se em notar a riqueza do convite. Não era de se surpreender que um homem como Giotto fosse um dos patronos da cidade, ele possuía condições de gastar uma pequena fortuna em um convite individual - deveria ser capaz de alimentar por uma semana uma pequena família de três com o valor que ele deve ter gastado naquilo -, então imaginava-se que seria natural vê-lo investindo em prol da cidade onde residia. O convite era como uma pequena obra de arte, sentia-se tentado em não comparecer a festa apenas pela oportunidade de guardar tal papel para si.

Quanto terminou de averiguar o pequeno luxo que tinha em mãos, seus olhos deslizaram pelas letras, capturando o sentido dessas. Seu chefe deve ter expressado-se errado, o convite estava sendo feito diretamente para si, então Giotto já devia ter o mínimo de conhecimento sobre quem se tratava. Não imaginava que um dia pudesse ser reconhecido por um membro da elite, mas seria tolo se esnobasse essa oportunidade de subir na hierarquia social e, talvez, conseguir uma promoção.

Por um momento os olhos de Alaudi desceram do papel para o punho de seu casaco, vendo-o levemente poído pelo uso constante. Tinha umas econômias, mas nunca imaginou-se gastando-as com um alfaiate. Será que devia alugar um traje? Foi quando notou a bagunça dos arquivos espalhados por sua sala, talvez devesse parar de brincar com as cinzas e enfrentar a realidade diante de si. Não seria um baile que mudaria sua vida e garantiria sua promoção, por hora teria de arrumar um meio de desculpar-se com os pais daquelas meninas.

Tristeza poderia tomar forma? Se sim, então era de farinha, maçã e creme. Alaudi mantinha-se imóvel na frente do balcão principal do distrito policial, com os olhos fixos no pequeno bilhete de agradecimento e na saborosa torta que haviam sido-lhe entregues. Não conseguia simplesmente jogar fora aquilo e seguir em frente, mas sabia que aquela também era uma forma encontrada por aquela família em dar um basta a tudo.

Arturo, um dos inspetores da polícia, percebeu a situação de Alaudi logo que surgiu no salão principal do distrito, ouvindo o cochicho de alguns policiais do local e decidindo tomar uma atitude. Aproximou-se de Alaudi, tocando-lhe no ombro e olhando-o com gentileza, sorrindo de forma terna para consolá-lo.

- É da família Dias, correto? Após o julgamento do caso, encontrei o senhor Dias no mercado e contei-lhe as circunstâncias do julgamento e pedi para ele não nutrir ódio por nós não termos sido capazes de prender o assassino de suas filhas. Acho que ele esperava que você fosse lá para agradecer ao seu esforço pessoalmente, mas devem ter imaginado que você estaria ocupado e decidiram não incomodá-lo mais depois de tudo o que aconteceu.

- Mas.. Era meu trabalho - a voz de Alaudi saiu fraca. Havia virado noites coletando evidências e montando todo um inquérito para o promotor apresentar, queria que o responsável tivesse sido punido.

- Alaudi, por que você não vai para a sua sala descansar um pouco? Eu cuido dos seus casos na parte da manhã. Acho que você tem muito no que pensar agora.

- Obrigado, Arturo - concordou Alaudi, pegando a torta e o bilhete e indo rumo a própria sala, empurrando algumas coisas da mesa e colocando os itens ali.

Alaudi sabia que as crenças religiosas - eram católicos - da família Dias não permitiria que eles buscassem vingança com as próprias mãos, mas não era isso que o incomodava agora. Como eles podiam agradecê-lo se havia sido ineficiente? Ou eles culpavam o juíz e o juri? Não era de seu feitio jogar a culpa nos outros, mas culpava-os também, por eles não terem exercido seu trabalho com eficiência e terem sido corrompidos pela ganância.

Seus olhos se fecharam aos poucos, mesmo com o fim insatisfatório, havia acabado, não era? Suas horas de sono sempre ficavam limitadas quando entrava em um caso e aos poucos a exaustão tomava conta de seu corpo. Estava se tornando tão podre quanto os outros? Ignorando a impunidade e se acomodando na injustiça?

- Odeio esse sentimento - murmurou para si mesmo, usando o braço para ocultar os olhos.

Talvez fosse a hora de tentar arrumar a própria sala, haviam aranhas hospedando-se nas frestas da janela.

Os dias se seguiram atarefados no distrito policial, havia sido localizado um galpão com uma carregamento de ópio na região portuária. Por mais que investigassem, parecia que os donos do local haviam sido informados da descoberta da polícia e abandonaram o local e sua mercadora como se não dessem importância a essa.

- Malditos viciados! - Vicenzo bufava de raiva, chutando um latão de metal, próximo ao porto. Se não fossem pelos consumidores, esses criminosos não ficariam transportando esse tipo de droga da China para a Europa.

- Talvez exista uma refinaria - comentou Alaudi com calma, verificando as caixas de madeira onde traziam os vidros com a mercadoria. - Não esqueça que nossa morfina e heroína é feita através do ópio.

- Falando em heroína, existe um bar no centro que aplicam isso no gim. Vocês deviam experimentar - disse Arturo com certo ânimo, deixando os olhos fixos em uma ratazana que roía uma corda no fundo do galpão.

- Não se esqueça que não viemos de famílias ricas, Arturo - disse Vicenzo, chamando a atenção para o outro. Às vezes ele fazia alguns convites um tanto inviáveis.

- Ah, certo, certo.. - Concordou de forma tímida, eliminando o assunto.

Não era como se falasse com más intenções, apenas comentava. Entendia bem que Vicenzo já era pai de um menino e que o seu salário era o único sustento de sua família, assim como Alaudi, que apesar de ser um solteirão, mantinha a sua própria casa graças ao seu emprego.

- Alaudi, já conseguiu roupas para a festa de Giotto? - Arturo mudou o tema da conversa, focando-se no outro inspetor.

- Penso em alugar algo no dia - falou como se não desse muita importância. Já havia pensado nisso repetidas vezes e não encontrava solução mais viável.

- Não quer que eu te empreste algo? Vestimos o mesmo número, não é? Se precisar de algum ajuste, pode pedir para sua criada fazê-lo a mão.

- É uma boa ideia - disse Vicenzo, acalmando-se e sorrindo. - Se fizer amizade com aquela gente, pode ser promovido a comandante de equipe, Alaudi. Sempre achei injusto que todo o seu talento fosse desperdiçado quando você era jogado na rua para coletar evidências. Você deveria mandar que outros o fizessem e trabalhar apenas juntando as peças do quebra cabeça.

- Ficaria grato, Arturo - um sorriso discreto surgiu nos lábios de Alaudi, concordando de forma contida com o que Vicenzo dizia. - Seria ótimo, mas não há nenhum caso de um inspetor investigativo de nosso distrito que tenha adquirido uma promoção dessas sem ter uma família com, no mínimo, um bom nome.

- Bobagem. Os tempos estão mudando, o que conta agora é a influência e isso você pode conquistar - Vicenzo foi firme, Alaudi era ainda jovem e tinha certeza que um dia dariam essa oportunidade a ele.

Quando o dia esperado para tal festa chegou, Alaudi ficou diante do espelho de seu quarto, contemplando o smoking emprestado por Arturo para a ocasião. Sentia-se ridículo vestindo roupas tão finas, mas não podia negar que elas davam-lhe um ar mais elegante e refinado. Colocou um par de luvas brancas no bolso e prendeu um lenço na lapela do casaco, dirigindo a saída de sua casa e tendo de controlar o impulso de pegar seu velho chapéu panamá cinza.

Seguia pelas ruas que há pouco haviam escurecido, fazendo sinal para um coche que seguia pela rua e usando-o como transporte até o local. Seu estômago revirou quando entrou no primeiro distrito, vendo as mansões e logo localizando a de Giotto, que tinha uma iluminação excessiva se comparada as demais.

Alaudi chegou ao local junto dos acendedores dos lampiões nas ruas, entrando no local com desconforto, notando um aglomerado de pessoas na entrada do salão principal. O anfitrião estava no local, recebendo as pessoas, e Alaudi viu a oportunidade de apresentar-se a esse, entregando seu convite ao segurança e indo rumo a fila que se fazia diante do anfitrião.

Quando a vez do policial finalmente se aproximava, uma mão tocou seu ombro e sua atenção foi capturada por um homem ruivo e uma tatuagem de chama em sua face, olhando-o com seriedade. Alaudi fitou-o interrogativo, sabendo que se tratava de um dos homens de confiança de Giotto, mas não tendo a mínima ideia do que ele desejava consigo.

- Inspetor Alaudi, poderia seguir comigo? Giotto terminará de receber os convidados e deseja ter uma conversa privativa com sua pessoa - pediu G., orientando o caminho por qual deveriam seguir.

Apesar de estranhar o pedido, Alaudi seguiu o homem até uma confortável sala de descanso, sentando-se em um sofá no local e vendo um bar já posto a sua disposição. G. disse para que ficasse à vontade e se servisse, saindo logo depois e deixando-o sozinho no local.

Um suspiro relaxado escapou dos lábios de Alaudi, por algum motivo não se acostumava com ambientes lotados, ainda mais quando esses só portavam desconhecidos. Puxou a gravata alguns poucos centímetros para maior conforto, olhando em volta. Era assim que os ricos viviam, não era? Parecia mesmo uma outra realidade.

Não tardou para que Giotto surgisse, dando um sorriso amigável ao entrar na sala e falando algo com G., pedindo para que esse voltasse para a festa e recebesse os convidados por si, falando que o anfitrião havia ido resolver os últimos preparativos da mesma.

- Desculpe-me por fazê-lo esperar - disse, indo até o sofá diante de Alaudi e sentando-se nesse. - Ainda não fomos apresentados formalmente, não é mesmo? Chamo-me Giotto, mas as pessoas também me conhecem por Vongola.

- Sim, estou ciente. Giotto, administrador da rede de negócios Vongola - Alaudi disse com calma, falando de forma direta. Não seria indelicado com aquele homem, mas sabia bem que não havia sido convidado para terem conversas levianas, devia haver algum motivo para estar ali.

- Na verdade, prefiro que chamem de "família". Era uma ideia que estava tendo, formar uma família com apadrinhamentos. Há muitas coisas no mundo que poderiam ser feitas se as pessoas certas tivessem a ajuda certa, estava pensando em criar um grupo de ajuda - comentou Giotto, notando que talvez estivesse falando coisas confusas ao convidado. - Desculpe-me.

- Não, continue - disse Alaudi, tendo um pouco do interesse pessoal atiçado. - Como planeja fazer isso?

- Ah, sim. Digamos uma situação hipotética. Você vem a mim pedindo para tornar-se chefe da polícia, eu, ciente de seu talento e capacidade, acho seu pedido viável e decido realizá-lo. Falo com o prefeito, que foi alguém que já ajudei em outras ocasiões, cobrando-lhe o favor e fazendo de você chefe. Após você tomar o cargo, caso surja alguém com um pedido como o seu, mas que buscasse uma investigação ou providências da polícia sobre um caso, vou até você e peço retribuição do favor que te fiz, ajudando mais uma pessoa.

- Isso não seria criminoso?

Alaudi arqueou de leve a sobrancelha, ele estava insinuando que poderia dar-lhe o título de chefe da polícia desde que colocasse a polícia a favor dele? Nunca faria isso.

- É apenas um exemplo, mas haveria certas ações fora da legalidade - admitiu sem nenhum constrangimento. - Quero fazer-te uma proposta a esse respeito.

- Eu não aceitaria esses termos, não acho que o ganho valha o pagamento que viria em seguida.

- Não acho-o apto a se tornar chefe de polícia - rebateu com um sorriso calmo, achando graça na perspicácia do louro.

Um silêncio incômodo surgiu no local enquanto Alaudi fitava fixamente aqueles olhos de tom quase alaranjado. Estavam brincando consigo? Giotto não deveria saber nada sobre si para que fizesse uma oferta assim e ainda rebatesse de forma rude.

- Alaudi - prosseguiu o homem, sem se alterar. - Não há um único investigador na polícia tão capacitado como você e com tamanho senso de justiça e comprometimento. Sei de sua situação, sua família era simples, correto? Trabalhadores. Por isso, mesmo que você trabalhe duro, dificilmente vai conseguir ganhar uma posição onde poderá usar todo o se talento. Quero oferecer-lhe um trabalho.

- Prossiga.. - Pediu. Não que tivesse muito interesse no trabalho, mas desejava saber o porque do convite.

- Sei que você possui um senso de justiça forte, mas nem sempre os métodos utilizados pela polícia e pelo fórum são os mais honestos. E se eu te oferecesse sua própria polícia? Um grupo que, sob o seu comando, fizessem a verdadeira justiça valer? Em troca, pediria que investigasse certas coisas para mim - propôs, já sabendo qual resposta receberia.

- Temo não poder aceitá-lo. Por mais que existam coisas que me incomodem, ainda não perdi a fé nessas instituições. Espero não decepcioná-lo com a minha resposta pouco favorável.

- De modo algum - o sorriso nos lábios de Giotto cresceu, mostrando satisfação. - Você é exatamente o tipo de homem que imaginava que seria. Manterei minha proposta caso reconsidere - disse, já levantando do sofá.

- Não acredito que vá ocorrer - Alaudi levantou-se também, retribuindo o sorriso e apertando a mão de Giotto quando esse lhe ofereceu o cumprimento. O Vongola era mesmo uma pessoa interessante de seu próprio modo.

- Importasse se eu apresentá-lo a algumas pessoas? Existem amigos meus curiosos em conhecê-lo.

- Seria um prazer - concordou.

O objetivo de Alaudi, em conhecer um maior número de pessoas e obter um pouco de influência parecia que seria atingido. Seguiu junto de Giotto pelo salão, sendo apresentado a muitas figuras que só conhecia por nome e ouvindo elogios desses por suas investigações, mostrando satisfação ao ter seu próprio trabalho reconhecido.

- Então, você é o Alaudi - disse uma voz alegre atrás do policial, voltando-se para trás e deparando-se com um sorriso. - Lembra-se de mim? Você me prendeu há onze dias atrás.

Apesar da voz mostrar alegria e simpatia, os olhos caramelo traziam consigo um ar desafiador, quase como se buscasse provocá-lo com lembranças constrangedoras. Alaudi não se afetou com a provocação, dando um sorriso leve, decidido a tratá-lo como trataria qualquer um ali dentro.

- Não imaginava reencontrá-lo, Dominic Risi. Fico contente ao ver que não está mais embriagado - disse com um ar de formalidade.

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Comentários:

Toy aqui:
Avisando novamente para os que adoram pular o inicio, que não é minha a fic, e antes que venham falar que peguei de algum canto, meu namorado que pediu para postar - por preguiça de fazer conta -, e eu gostei da história. ~
Mas mesmo assim, queremos reviews Òo9
Sendo criticas ou elogios, são muito bem vindo.. Ainda mais pelo casal ser um tanto 'raro' de se encontrar fics.
Incentivo gente o/ que mais fics surgirão~
Podem ficar tranquilos que qualquer review eu passo a ele.