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Retratações: Os personagens principais são propriedades das empresas japonesas Soutsuu Agency e Sunrise Television. Eu não ganho nenhum dinheiro com eles. Somente promovo a diversão.
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Desafio Gundam Wing 2010 – Amores Possíveis
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Fanfic: Fragrâncias
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Gênero: Yaoi, Romance, Drama, Angústia
Casais: 2x4
Censura: M
Avisos: Universo Alternativo
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Capítulo I – Aroma de casa.
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A turbulência estava lhe causando enjoo. Era a décima quinta viagem que fazia dentro de um mês, se sua conta não estivesse errada. Olhou desconfortado ao longo do avião. Parecia que haviam ultrapassado as nuvens de chuva, contudo, a aeronave continuava sacolejando, acabando com a pouca paciência do jovem americano.
"Se é para cair, que desabe logo! Afinal, não tenho tantos motivos para viver mais, já que estão ficando para trás as minhas amadas: Joana, Estela, Clarisse, Joline, Antonia, Marieta, Gizella, Angeline, Roberta, Maria e... Consolação... Jamais me esqueceria da bela morena de olhos cor mel! Ahhh, eu não acredito! Estou deixando a calorosa Madri para voltar para a pálida Londres!"
O rapaz de longos cabelos trançados olhou para o seu lado, admirando-se da sua vizinha de corpo bastante avolumado e que dormia de boca aberta. Não conseguia compreender como existiam pessoas capazes de dormir profundamente estando a mais de dois mil pés de altura. E o azar o estava perseguindo, afinal, porque fora acomodado ao lado daquilo? Por que não tivera a sorte de ter a companhia de uma bela londrina de longas pernas e perfume exuberante?
– Ah... Eu adoro mulheres perfumadas... – o rapaz sussurrou.
"Por falar nisso... Onde está a comissária de bordo? Quantas vezes terei que apertar essa bendita campanhinha até que alguém venha me atender?", reclamou, erguendo o pescoço e espiando por cima do banco da frente à procura de uma bela atendente. Contudo, a voz adocicada que tanto queria ouvir soou às suas costas.
– Posso lhe ajudar, meu senhor?
Finalmente, a pergunta que estava esperando, soando como uma doce melodia em seus ouvidos.
Sentiu um arrepio de prazer.
Abriu seus magníficos olhos azuis e deu de frente com uma bela loira de olhos verdes. Aquela imagem sim, lhe tirava qualquer desconforto. Por que todas as aeromoças tinham que ser tão belas? Por que Deus o tentava tanto? Aqueles coques feitos para serem desatados eram uma verdadeira tentação. Abriu seu mais exuberante sorriso para a moça.
A comissária, por sua vez, juntou as sobrancelhas. Entendia muito bem o que significava aquele olhar asfixiante sobre si e o sorriso cheio de malícias. Estava prestes a receber à quinta cantada do voo. Contudo, sentiu-se irritada, por que, diferente dos outros quatro – que eram velhos e feios – aquele passageiro ali era muito bonito, porém, parecia bem mais jovem que ela. Engoliu em seco e resolveu repetir a pergunta, antes de se retirar:
– Posso ajudá-lo, senhor?
O adolescente leu o crachá de metal brilhando no peito da comissária, cujos seiospareciam bem fartos, pois pôde perceber os botões da blusa forçando o tecido para ficarem presos.
– Natalie? – pronunciou após ler o emblema em forma de asas da companhia aérea.
– Sim? – a moça assentiu, desenhando um doce sorriso nos lábios colorizados por um brilho rosa.
– É... Bem... – ele engoliu em seco. Tentando inspirar para captar a fragrância que vinha da moça. Contudo, teve uma leve decepção. O perfume que sentiu não foi dos mais agradáveis. Ainda estava longe de ser aquela fragrância que não saía da sua mente desde a infância. – Eu não estou me sentindo muito bem. – explicou a ela.
– O voo não está sendo confortável, meu senhor? Quer um comprimido para enjoo?
– Não exatamente. Na verdade, eu preciso de um daqueles travesseirinhos, sabe?
– Ah, claro, para repousar a cabeça? Já vou providenciar.
Contudo, o jovem que estava com uma revista em cima do colo, segurou os dedos da comissária, impedindo-a de ir.
– Natalie, espere.
– Senhor? – a moça que havia se sobressaltado com o toque, voltou-se para o passageiro um tanto confusa.
– Abaixe-se aqui um minuto... – ele pediu, com a voz sussurrada.
A moça, ainda sentindo seus dedos entre os do rapaz, obedeceu, se debruçando sobre ele, fazendo com que os seus seios fartos forçassem mais os botões da camisa do uniforme. Então, o ouviu explicar em seu ouvido:
– Não é para apoiar a cabeça, é para eu esconder isso... – o rapaz retirou a revista do seu colo, mostrando a calça estufada para a moça, que corou violentamente. – Desculpe, mas é que eu não consigo me controlar diante de tanta beleza... – ele concluiu, com um sorriso de lado.
Alguns minutos depois, dentro do minúsculo banheiro.
– Aaaah! Isso! Assim! Que delícia... – a moça levava a mão na boca tentando conter os gemidos; os bicos inchados dos seus seios roçavam no peito do jovem, balançando para cima e para baixo, enquanto subia e descia em cima do membro enrijecido dele.
Sentado na tampa do pequeno vaso, o passageiro segurava a mulher pela cintura e delirava, sentindo sua ereção ser consumida pelas paredes internas da mesma.
– Isso, minha deusa! Rebola vai! Tá muito bom!
Senhoras e senhores, quem fala é o comandante. Informo que nosso pouso foi autorizado. Por favor, retornem suas poltronas à posição original e atendam ao sinal de prender os cintos, muito obrigado.
– Ah, droga! Tá vindo!
.:. Desafio GW .:.
No aeroporto.
O motorista de longa franja castanha andava de um lado para o outro no saguão do aeroporto. Fazia mais de uma hora que o avião vindo da Espanha anunciara o pouso. Não conseguia entender a demora do seu jovem mestre. Odiava esperar. Ainda mais, quando era para esperar por ele. Olhou no relógio pela milésima vez.
"Inconveniente…", pensou irritado, reforçando em sua mente o ódio que sentia de garotos burgueses.
– Se eu tivesse a chance, acabaria com um por um... – falou baixo, sorrindo e fazendo o gesto de quem estava atirando com uma arma invisível. Arrancando espanto das pessoas que passavam.
– Mãe, aquele homem está falando sozinho...
– Não olhe,Henrique! – a mãe advertiu ao filho, puxando a mão do pequenino e apertando o passo.
Já o meninoriu, ao ver o jovem de terno e quepe na cabeça fazer para si o gesto de quem estava atirando com os dedos.
– Pow! – o pequeno retribuiu a brincadeira e recebeu um puxão mais brusco da mãe em seu braço.
– Não fique agindo como um doido, Henrique!
O jovem motorista sorriu, quando viu, finalmente, vindo ao longe, o filho único do seu patrão. Ainda vinha se arrastando, puxando sua mala com uma expressão de exausto... As roupas amassadas, a testa suada, mesmo assim mantinha aquele sorriso cínico que ele tanto detestava no rosto. Inflou o peito de ar e esperou ele se aproximar.
– Como está, Bartô?
– Não seja engraçadinho, jovem mestre. Meu nome é Barton e o senhor sabe muito bem disso. – o motorista franziu as sobrancelhas ao perceber o estado amarrotado e suado das roupas do rapaz. – O que houve? Desceu no ponto errado e completou a viagem correndo?
– Continua com seu "bom-humor" de sempre pelo que percebo, Barton... – o filho do patrão comentou irônico, depositando a bolsa de mão sobre a mala, para em seguida, sentar-se sobre elas. – Não desci no ponto errado. Mas tive um fim de viagem bem cansativo, afinal, a loiraça que peguei agora pouco deu trabalho. – o jovem informou, suspirando cansado e passando a mão nas franjas longas que caíam na testa, retirando-a dos olhos. – Acho que tô a fim de um cigarro. Você tem aí?
– Está caçoando da minha cara, Duo? Está querendo dizer que veio trepando dentro do avião?
– Ha, ha, ha, ha, ha! – o rapaz gargalhou alto, da cara de perplexidade que o empregado do pai fazia, tanto, que teve que enxugar uma pequena lágrima no canto dos olhos. – Você e seu fino vocabulário de bordel me chocam, Barton! Vamos embora. – ele levantou-se, deixando as malas para trás, o que deixou o motorista ainda mais enervado.
– Maldito, impertinente! Se não fosse o filho do patrão... – o motorista resmungou, suspirando fundo e apanhando a bagagem.
.:. Desafio GW .:.
O jovem Maxwell suspirou profundamente, jogado na poltrona de trás da limusine, enquanto contemplava emburrado o clima acinzentado do lado de fora. Como odiava Londres! Será que existia um medidor de ódio? Se existisse, com certeza o seu estouraria o limite ali. O clima horrível daquela cidade o deprimia. De tantos lugares quentes e maravilhosos para morar, não conseguia entender o gosto do pai por aquele país sempre chuvoso ou enevoado. De repente, se lembrou: era a cidade natal da sua mãe. A mãe que nem chegara conhecer direito. Preferia até mesmo a América àquele lugar que quase não via o brilho do sol. Como os moradores dali sobreviviam sem o calor? Sem uma bela praia, noites ardentes?Não! Aquele clima melancólico o entristecia.
Suspirou novamente.
Estavam entrando nas mediações da propriedade e as lembranças de sua infância começaram a forçar em sua mente. Nascera nos Estados Unidos. O pai, também americano, apaixonara-se pela professora de piano, de origem inglesa. Ambos frequentavam a mesma escola de música. Não demoraram muito para se tornarem reconhecidos. Tiveram um casamento badalado. Eram a união de duas famílias ricas e de renome, dois talentos distintos, a perfeição ao extremo. Parecia predestinado a durar pouco. Assim, a mãe faleceu em um acidente antes de completar seus cinco anos e o mundo do pai desmoronou...
Era por aquelas lembranças dolorosasque desistira de morar ali. Mal chegara e a depressão já queria abatê-lo. Não entendia. Por que o pai havia pedido para que voltasse com tanta urgência?
– Chegamos, meu jovem senhor!
Duo observou os olhos do empregado pelo retrovisor central do carro. Sabia que ele estava sendo irônico.
– Obrigado pela carona, Bartô!
– Vou arranjar um apelido bem constrangedor pra você também. – o motorista ameaçou e saiu do carro, abrindo a porta do passageiro, para que o outro descesse.
Duo riu e saiu correndo até alcançar a porta. Não queria se molhar naquele sereno. Antes, porém, de encostar-se à maçaneta, o patamar de madeira trabalhada se abriu e um homem vestido de fraque, cabelos alisados para trás e luvas brancas, o repreendeu:
– Estava indo recebê-lo com o guarda-chuva, meu senhor!
– Ah, Chang, fica tranquilo! Eu não sou feito de açúcar. – ele passou pelo mordomo na porta e retirou o casaco, entregando-o ao moreno. – Onde está o papai?
– No andar de cima. Está aguardando-o.
– Obrigado. – ele agradeceu ao chinês com um amplo sorriso nos lábios, então, subiu correndo a escadaria da casa. Admirando-se do lugar que parecia não ter mudado nada.
Já sabia onde encontrar o pai.
– Velho? – chamou, após abrir a porta do pequeno aposento.
Fechou os olhos ao ouvir a doce melodia que vinha do piano. Sorriu suavemente, seguindo o som e encontrou o pai, de hobby, e com uma pose altiva, enquanto tocava Mozart.
– Querido Duo.
– Pai?
O homem encerrou o dedilhar no piano, ao repousar todos os dedos em cima das teclas, fazendo um barulho de filme de suspense.
– Como foi de viagem?
– Bem. – o rapaz assentiu, um pouco sem jeito. Era algo estranho, mas ele e o pai nunca tiveram um relacionamento muito caloroso.
– Que bom...
– Pai, posso saber por que pediu para que eu viesse com tanta urgência?
– Um pai não pode desejar ter o filho por perto?
– Tenho certeza que não é isso. Vieram lhe fazer fofocas, não foi? Seja lá o que lhe disseram, é mentira!
– Duo, se acalme... – o homem pediu, repetindo o som duro no piano. – Não o chamei aqui para ficar ouvindo suas justificativas do que anda fazendo por aí. Eu sei que não é nada de proveitoso. O motivo pelo qual pedi que viesse, é que cheguei à conclusão de que está na hora de você ter responsabilidades. Já está com quase vinte anos, precisa se formar e encontrar uma jovem descente para se casar. Chega de andar perambulando pelo mundo. – novamente o homem começou a tatear levemente no teclado do piano, reproduzindo, desta vez, uma canção melancólica.
O rapaz crispou os punhos, irritado com a fala do pai.
– Engraçado, enquanto o senhor tinha forças para realizar concertos, não se importava de me arrastar para onde quer que fosse. Eu vivia mais em hotéis do que aqui em casa! Agora que está velho e ninguém mais lhe chama para fazer showzinhos por aí, quer que eu pare de viver e crie raízes junto com o senhor?
O homem de cabelos castanhos claros e que não parecia ter uma idade tão avançada, parou de tocar o piano e fixou seus olhos azuis nos olhos da mesma cor do filho. Infelizmente, Duo tinha uma personalidade muito diferente da sua e, até mesmo, da falecida esposa. Mas o pianista tinha ciência que a culpa era sua: criara o filho muito solto. Mas acreditava que ainda tinha tempo de consertá-lo.
– Eu não quero ouvir seus lamentos, Duo. Só quero que me obedeça. Senão por mim, faça em memória de sua mãe. Não temos dependentes em nossa família. Temos uma enorme fortuna. Um dia eu vou morrer.
– São herdeiros o que o senhor deseja? – o jovem perguntou com um sorriso desdenhoso no rosto. – Então, pode preparar o talão de cheques, pai! Logo as mulheres vão começar fazer fila na porta dessa mansão!
O homem inspirou profundamente, deixando-se abater por um grande desânimo. Era aquilo que sempre tivera medo: ter um filho vulgar.
– Não é isso que eu quero de você, meu filho! – o homem esbravejou. – Não quero que seja um homem perdido na vida. Eu quero que seja digno. Que ame uma única mulher e tenha filhos, respeitando a ambos. Não que viva nessa promiscuidade que chama de diversão!
– Pai, pelo amor de Deus! Eu sou um jovem! Em plena flor da idade, bilionário! Quer me negar os prazeres da vida? Isso não é ser mesquinho?
– Negar os... os prazeres... – o homem franziu a face, se levantou e elevou a mão na testa, massageando-a. – Que vergonha, Deus! Meu filho é um devasso e nem se envergonha disso! Quanta pouca vergonha, quanta falta de dignidade, Duo! Você é descendente de uma família nobre. Tem sangue de lordes correndo em suas veias! Não pode sujar o meu nome e o da sua mãe dessa forma! Eu me recuso a vê-lo agindo como se fosse unzinho qualquer! Um cachorro no cio! Você vai se endireitar ou eu não me chamo Treize!
– Quanta bobeira, pai! Desculpe-me, mas eu acho que o senhor perdeu seu tempo... – rapaz deu as costas para o homem mais velho e seguiu na direção da saída do quarto.
– Duo, se sair por essa porta, considere-se um mendigo. Eu irei tirar tudo de você. Tudo.
O rapaz paralisou, perplexo. O tom do seu pai estava muito mais sério do que o habitual. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Era certo, não sabia lavar um prato, não sobreviveria sem dinheiro.
– Não está falando sério, está? – ele voltou-se para o homem.
– Nunca falei mais sério na minha vida, meu filho. Você terá aulas de etiquetas a partir de amanhã. Porque, exatamente daqui a trinta dias, vou levá-lo em uma festa da nobreza inglesa no palácio de Mancfest. Antes, teremos outras. No entanto, é nesta que irei lhe apresentar às jovens de prestígios e que estão à procura de maridos. Nesta festa, sem falta, você me indicará sua futura esposa.
Duo riu. Meneando a cabeça negativamente. Seu pai só podia estar ficando louco.
– Eu sou o novo protagonista do conto da Cinderela?
– Você será o borralheiro, se não me obedecer e terá que limpar chãos por aí, para sobreviver.
– Pai...
– Eu estou morrendo, Duo. – o homem anunciou, de repente, fazendo o filho desfazer o sorriso de zombaria e adquirir uma expressão de aturdimento.
– Como?
– Eu estou morrendo. – ele repetiu, tranquilamente. – Os médicos detectaram em mim uma doença terminal. Estou com câncer, Duo.
– Não brinca comigo, pai! Está inventando isso para me fazer ficar! – ele rebateu, sentindo os olhos marejarem. – O senhor está em perfeita forma, não pode estar morrendo!
– Não brincaria com algo sério assim, meu filho. Eu não queria convencê-lo desta forma... Duo... Os médicos me desenganaram... Eu tenho muito pouco tempo de vida... – o músico começou a tossir e não conseguiu mais se acalmar. Até que o filho foi até ele e o amparou, levando-o de volta para cama.
Agora que estava mais perto, Duo pode perceber que o seu pai estava mesmo muito magro e a expressão muito abatida.
– Não deveria estar de pé, então. – ele o advertiu.
– Atenda o último desejo de um pai com o pé no leito de morte, Duo, prometa que se casará e me dará um neto antes que eu morra, por favor.
– Até com o pé na cova o senhor consegue ser inconveniente. Mas eu prometo sim, velho. Se for isso que tanto deseja, eu vou lhe fazer esse agrado. Agora descanse.
O homem sorriu, apertando a mão do filho que estava sobre o seu peito.
– Ser um lorde inglês... – Duo sussurrou, ao entrar em seu quarto. Se era isso que o pai desejava antes de partir, então, daria a ele o prazer de ter o mais perfeito filho almofadinha da Inglaterra.
Deixou seu corpo desabar na cama, sem nem se dar ao trabalho de trocar de roupas. Inspirou o aroma dos lençóis. Eles ainda tinham o mesmo cheiro da sua infância: lavanda. A janela estava entreaberta e dela vinha uma brisa úmida, temperada de uma doce fragrância. Duo sentiu as pálpebras pesarem e deixou-se embalar pelo sono.
Continua...
