Notas da história:
Jogos vorazes e seus personagens pertencem a Suzanne Collins. Estou os pegando emprestados apenas para me divertir.
Capítulo 1 - O pequeno príncipe arteiro
– Peeta! Dessa vez você passou dos limites!
O garotinho loiro de belos e espertos olhos azuis sorriu observando uma senhora que passou gritando a plenos pulmões pelos corredores do palácio. O menino esperou que ela sumisse no final do corredor para sair de seu esconderijo improvisado. Ele parecia lutar contra a vontade de rir, e não conseguindo mais se controlar começou a gargalhar escandalosamente, e ele não parecia se importar muito com a possibilidade da senhora ouvi-lo e voltar.
– Peeta? – o menino parou de rir e arregalou os olhos ao ouvir uma voz severa exclamar atrás de si. – O que você aprontou desta vez?
– Nada, pai – Peeta falou com um sorriso.
– Por que será que não consigo acreditar nisso? – o homem perguntou com as sobrancelhas arqueadas.
– Ah, aí está você rapazinho! – a senhora que passara antes voltara e não parecia nem um pouco satisfeita. – Desculpe-me, senhor Mellark, Peeta aprontou mais uma, a cozinha está um caos.
– Entendo – o homem falou olhando para o filho que mantinha a sua melhor cara de inocente. – Pode deixar que eu conversarei com ele – a senhora fez uma reverência e saiu resmungando algo sobre a péssima educação do príncipe. – Peeta! O que terei que fazer para que você aprenda a se comportar?
– Mas eu sou comportado! – Peeta exclamou emburrado. – O senhor quer que eu fique o dia inteiro trancado apenas estudando aqueles livros chatos!
– Meu filho, você é apenas uma criança, entendo que queira se divertir, mas às vezes você passa dos limites – o rei disse enquanto se ajoelhava para poder encarar o menino. – Você tem que entender que quando eu não estiver mais aqui você assumirá o meu lugar e governará Panem.
– Sim! – Peeta exclamou animado. – Serei o melhor rei que Panem já teve! Melhor até que o senhor!
– Para isso você terá que estudar muito e aprender a se comportar – o rei disse sério. Peeta desfez o sorriso que mantinha no rosto e cruzou os braços enquanto emitia um som de desagrado.
– Tudo que eu faço é errado! – o menino exclamou emburrado. – O senhor nunca está satisfeito comigo! Mesmo que eu me comporte bem o senhor vai encontrar algum motivo para reclamar.
– Peeta, você não sabe o que está falando – o rei disse balançando a cabeça levemente.
– Sei sim! – Peeta exclamou exasperado. – O senhor não gosta de mim porque a mamãe morreu quando eu nasci!
– Você está passando dos limites agora! – o homem disse severamente enquanto se levantava. – Você vai passar o resto do dia em seu quarto pensando nas bobagens que falou!
– Eu não gosto do senhor! – Peeta exclamou virando-se e afastou-se pisando duro.
O rei não conteve um suspiro de reprovação observando o menino sumir no final do corredor.
"Mimado demais", pensou indo pelo lado oposto do filho.
Peeta continuou o caminho até o quarto em passos pesados. Detestava receber lições do pai. Ainda iria provar a ele, seria o melhor rei de Panem. Na verdade, Peeta mal via a hora de se tornar rei e poder fazer tudo o queria na hora em que desejasse.
"No seu devido tempo, Peeta, tudo em seu devido tempo", o menino bufou ao lembrar-se do que o pai dizia sobre sua "afobação" para assumir o trono.
O pequeno ia tão aborrecido e tão perdido em seus pensamentos que acabou dando um esbarrão em alguém que vinha na outra direção. Peeta levantou a cabeça para ralhar com a pessoa, mas parou ao ver quem era.
– Tio Snow... – Peeta murmurou um pouco assustado.
– Para onde estava indo? – Snow perguntou em um tom frio e cortante.
– Meu pai mandou que eu ficasse no meu quarto – Peeta respondeu mantendo a cabeça baixa. – De castigo... – ele acrescentou.
Se havia uma pessoa que lhe transmitia medo era seu tio. Aliás, quase ninguém gostava de Snow no palácio. Ele era um homem severo, ganancioso e que estava apenas esperando o momento mais oportuno para rouba o lugar do irmão. Todos sabiam disso, mas nada falavam, e Snow continuava morando no palácio como se nada estivesse acontecendo.
– Novamente? – Snow falou com as sobrancelhas arqueadas. – Seu pai não sabe mesmo como lhe tratar.
– O quê? – Peeta levantou a cabeça e ficou mais confuso ainda ao ver que Snow mantinha um sorriso. O tio nunca sorria, e ainda mais daquele jeito. Havia alguma coisa errada, Peeta sabia que havia.
– Você não está querendo obedecer, não é? – Snow perguntou franzindo a testa ligeiramente.
– Não, mas eu não irei desobedecer ao meu pai – Peeta disse firme.
– Não estou dizendo para você desobedecê-lo – Snow falou pensativo. – Apenas acho que você é muito novo para passar dias e mais dias trancado no quarto. O que você acha de dar uma volta pela cidade?
– Meu pai não vai deixar – Peeta falou desanimado. – Ele sempre diz que é perigoso andar sozinho por aí.
– Ele não precisa saber – Snow disse fazendo um gesto de impaciência. Peeta arregalou os olhos, o tio só poderia ter batido a cabeça com força e enlouquecido. – Há uma saída secreta que você não conhece...
– Saída secreta? – Peeta repetiu animado. Se havia uma coisa com que sempre sonhara era uma grande aventura, mas preso dentro daquele palácio a maior aventura pela qual passava era fugir da senhora que tentava controlá-lo para que ele não fizesse nenhuma travessura. – Essa saída secreta dá para o jardim?
– Não, essa é especial – Snow disse balançando levemente a mão. – Você irá parar direto em uma feira no centro na cidade.
– Jura! – Peeta exclamou mal aguentando em si de tanta ansiedade. – O que eu tenho que fazer?
– Fica no porão do palácio – Snow falou em um tom baixo. – Não é difícil encontrar, é como aquela outra passagem que existe no seu quarto, a diferença é que esta passagem fica no chão, um alçapão.
– Sim! Vou até lá agora mesmo – Peeta disse com um sorriso de orelha a orelha virando-se para ir até o porão, porém voltou-se para o tio e abaixou a cabeça. – Meu pai não vai ficar sabendo, não é? Ele me castigará se souber que fui até a cidade.
– Não se preocupe – Snow respondeu indo pelo lado oposto do sobrinho. – Isso ficará entre nós dois.
Peeta sorriu e se afastou sem dizer mais nada. Snow certificou-se de que ele havia seguido mesmo seu conselho e ficou satisfeito ao constar que sim.
– Menino tolo – ele disse com um sorriso irônico nos lábios. – Mal sabe o que o espera lá fora. Você já resolveu tudo? – Snow perguntou a um homem que observava toda a conversa entre o tio e o sobrinho.
– Sim – ele respondeu. – Já estão todos prontos para executar suas ordens.
– Aproveite bem, Peeta, seu ultimo passeio – Snow disse com um leve sorriso.
Sem nem imaginar o que o tio estava planejando Peeta correu até o porão, logicamente tomando cuidado para que ninguém o visse. O porão do palácio não era um dos lugares favoritos do garoto e talvez por isso não havia descoberto aquela saída secreta. Traquinas como era, Peeta já sabia mais de dez maneiras diferentes de escapar dos castigos do pai, mas como ir até a cidade e sozinho isso ele não sabia.
Não foi muito difícil encontrar a passagem. Ficava no chão e estava encoberta por um tapete que Peeta reconheceu como sendo um dos que enfeitava o quarto do pai. Com cuidado o menino abriu o alçapão e desceu até o túnel.
Ansioso o menino começou a percorre-lo. Por sorte não haviam bifurcações senão com certeza ele teria se perdido. Peeta perdeu completamente a noção do tempo, depois do que lhe pareceu uma hora a passagem começou a subir.
Ofegante, Peeta apertou o passo, pouco depois chegou ao pé de uns degraus de pedra, muito gastos e que subiam a perder de vista. Tomando cuidado Peeta começou a subir. Cem degraus, duzentos degraus, perdeu a conta fitando os próprios pés. Então, sem aviso, bateu a cabeça em um alçapão. Peeta ficou ali um pouco massageando a cabeça enquanto tentava ouvir alguma coisa, mas não parecia haver ninguém. Com cuidado e bem devagar, abriu o alçapão e viu que a saída era para uma rua deserta e sem saída.
Peeta certificou-se de que não havia ninguém olhando, e quando saiu tratou de fechar o alçapão bem rápido. Não muito distante dali ele podia ouvir muito barulho, e seguindo as vozes das pessoas chegou a uma rua movimentada onde estava acontecendo algum tipo de feira.
O menino ficou maravilhado. Nunca havia visto tantas pessoas. O pai nunca o deixava sair do palácio. Era bem verdade que boa parte do tempo o príncipe estava de castigo, mas o pai também o mantinha sob sua vista com medo de algum atentado a vida do filho. Peeta não entendia muito bem isso. Para ele todos deviam obedecê-lo e jamais fariam nada que não fosse do seu agrado, justamente pelo título de príncipe que possuía.
Ele andava distraído entre as pessoas, tentando identificar o que estavam comprando e acabou dando um esbarrão na pessoa que vinha na direção oposta.
– Desculpe-me, eu... – Peeta ouviu a menina começar a pedir, mas ficou tão irritado que foi logo a interrompendo.
– Você não sabe que quando o príncipe estiver passando você deve abrir passagem, garota? – perguntou em um tom frio.
– Príncipe? – a menina repetiu franzindo a testa.
– Príncipe sim! – Peeta exclamou altivo. – Sou Peeta, futuro rei de toda Panem.
– Não me faça rir! – a garota falou revirando os olhos. – Você não é príncipe nem aqui nem em lugar nenhum! – ela acrescentou fazendo o movimento de que iria se afastar, mas Peeta bloqueou o seu caminho.
– Ousa duvidar da minha palavra? – Peeta perguntou irritado. – Sabia que posso mandar prendê-la por tamanha desfeita?
– Mande, então – ela falou com um ar de zombaria. Peeta estreitou os olhos encarando bem a respondona a sua frente. Só não iria chamar um guarda imediatamente porque iriam descobrir que saíra do palácio sem permissão e isso acabaria em muita confusão.
– Ah, já sei! – Peeta exclamou puxando a manga da roupa para mostrar uma pulseira. – Só a Família Real possui essas pulseiras, tem o brasão da família de um lado e o meu nome do outro – o menino disse satisfeito.
– Como você conseguiu roubar isso? – a menina perguntou franzindo a testa. Peeta sentiu ganas de gritar e chamar alguém para prender aquela menina imediatamente, iria de castigo, mas não iria deixar aquela garota continuar o insultando.
– Katniss... O que está fazendo? – um homem perguntou parando atrás de Peeta. O menino virou-se para ver quem era e sentiu o queixo cair ao ver que se tratava do seu professor de arco e flecha. – Príncipe Peeta! O que está fazendo aqui? – ele perguntou tão surpreso quanto o menino.
– Meu pai pediu que comprasse algumas coisas – Peeta disse sorrindo. De esgueira olhou para a menina respondona que estava com os olhos arregalados e parecendo não acreditar muito que o que Peeta falara era verdade. – Mandei os criados comprarem as coisas, e estou aproveitando para ver o movimento.
– Ah, sim, mas não é bom que fique andando sozinho – o homem disse parecendo preocupado.
– Qualquer coisa eu coloco em prática os seus ensinamentos, professor – Peeta disse em um tom que para Katniss soou mais para de quem era uma pessoa extremamente convencida.
– Não faz nem duas semanas que começamos a praticar – o homem disse mantendo a expressão séria. – Minha filha estava lhe incomodando?
Peeta olhou para Katniss esperando que ela abaixasse a cabeça em sinal de respeito, mas ela manteve a cabeça erguida e um olhar de profunda raiva.
– Estávamos conversando – Peeta disse balançando levemente a cabeça.
– Só irei resolver mais algumas coisas, Katniss – o senhor disse não parecendo estar muito convencido de que os dois estavam apenas conversando. – Foi bom lhe ver, alteza, é bom saber que está gostando das minhas aulas.
– Muito, muito – Peeta exclamou animado. – Até amanhã.
O menino esperou até que o senhor se afastasse e voltou-se para Katniss com um sorriso maroto nos lábios.
– Então, estou esperando – Peeta falou cruzando os braços.
– Esperando o quê? – Katniss retrucou fazendo-se de desentendida.
– O seu pedido de desculpas! – o menino disse entre os dentes.
– Ah... Não vou pedir desculpas a um menino chato, grosso e mimado que só sabe dar ordens! – Katniss exclamou com raiva.
– Olhe, eu não estou brincando – Peeta disse em um tom de ameaça. – Eu posso mandar prendê-la!
– Isso só mostraria o quanto você é tirano e será um péssimo rei! – Katniss gritou batendo o pé no chão tamanha era sua raiva. Sua vontade era de acertar a mão naquele garoto, mas se fizesse isso seu pai poderia ser castigado e perder o emprego no palácio. – Eu acabei de te conhecer é verdade, mas já deu pra perceber que você só pensa em si!
Peeta cerrou os punhos. Quem aquela garota pensava que era para falar tamanhos absurdos? Ele queria dar a ela uma punição. Presa ela não poderia ser. Ele correu os olhos por ela e se deteve em uma delicada gargantilha com um pequeno pingente com uma espécie de pássaro.
– Quero essa sua corrente – Peeta disse estendendo a mão. Katniss ficou com uma expressão de que não entendera muito bem o que falara. – Você me ofendeu muito, para me recompensar quero essa sua correntinha.
– Não fale besteiras! – Katniss exclamou ofendida levando as mãos até a gargantilha. – Essa é única lembrança que tenho da minha mãe! Não entregarei isso a você por ter lhe dito algumas verdades!
– Ou você faz o que estou mandando ou então eu irei falar para o meu pai que não quero mais as aulas do seu pai, e pelo que parece vocês precisam muito do dinheiro que ele está ganhando – Peeta disse cinicamente.
Katniss abriu a boca não conseguindo acreditar no que ouvia. Era muita estupidez para uma pessoa só! Sem alternativas ela tirou a corrente e entregou ao garoto.
– Pode ficar com ela, mas não retiro nada do que eu disse – Katniss disse com os olhos cheios de lágrimas. – Você um riquinho mimado que acabará perdendo tudo que tem por causa desse seu jeito! – acrescentou antes de se afastar.
"Mimado!", Peeta pensou irritado. "Essa garota não sabe o que diz!".
Peeta continuou andando entre as pessoas esperando não ter que ver Katniss nunca mais e muito menos ser obrigado a ouvir as bobagens que ela dizia. O menino estava tão distraído com seus próprios pensamentos que não percebeu que estava sendo seguido.
[...]
No palácio, Snow seguia com seu plano. Começava a anoitecer e como havia previsto o sobrinho não retornara. Peeta era um menino extremamente curioso, muitos achavam isso uma virtude, mas Snow iria provar que no caso de Peeta sua curiosidade iria leva-lo a sua destruição.
– Meu irmão! – Snow exclamou entrando na sala do trono onde o imperador conversava com alguns conselheiros. – Um desgraça aconteceu!
– O que houve, Snow? – o rei perguntou nervoso. O irmão não era de exaltar então para entrar na sala daquele jeito só poderia ser por algo muito grave.
– Peeta fugiu! – Snow exclamou num fôlego só. O rei, que havia se levantado, tornou a se sentar parecendo não absorver o absurdo que ouvira.
– É impossível! – murmurou balançando a cabeça levemente.
– Parece que ele descobriu a saída secreta do porão – Snow disse em um tom urgente.
– Mandem chamar os guardas – o rei ordenou levantando-se e atravessando o salão em passos decididos. – Peeta não pode ter ido muito longe!
– Aonde você vai? – Snow perguntou erguendo a sobrancelha.
– Procurá-lo é claro! – o rei responde continuando a andar.
– Mas... – Snow começou a falar, mas foi logo interrompido pelo imperador.
– Peeta me desobedeceu, mas é meu filho e não deixarei que nada aconteça a ele! – o rei exclamou com convicção e saiu antes que Snow tivesse tempo para dizer alguma coisa saiu da sala.
Snow sorriu balançando levemente a cabeça. Sabia que o irmão iria agir daquela maneira. Peeta era tudo para ele, e qualquer assunto que envolvesse o filho o fazia perder a cabeça sorrindo Snow foi até o trono e sentou-se pensando que faltava pouco para que aquele lugar fosse definitivamente seu.
[...]
– Droga... – Peeta resmungou chutando uma pedra. – Não quero voltar para casa... – murmurou olhando para o céu que começava a ganhar suas primeiras estrelas. O menino se divertira tanto que não queria voltar para o palácio. Esperava que o pai não tivesse descoberto sua escapadela, mas Peeta achava mais possível que ele dar graças aos céus pelo seu sumiço.
Em passos lentos o menino voltou para a rua onde havia o alçapão e o túnel que o levaria de volta. Fez o movimento de que iria abrir o alçapão, mas antes que o fizesse uma flecha, vinda sabe-se lá de onde, e passou raspando pelo braço do garoto que por sua vez pulou de susto. Ele virou-se e viu muitos homens vindo em sua direção.
– O que vocês querem? – Peeta perguntou impetuoso.
– Estamos cumprindo ordens, garoto – o homem que vinha no centro e que indicava ser o líder respondeu enquanto continuava avançando. Peeta deu alguns passos para trás, até que sentiu a parece, estava completamente encurralado.
– Ordens de quem? – Peeta perguntou tentando não transparecer o quanto estava assustado.
– Do seu tio – o homem falou sorrindo. Peeta arregalou os olhos não acreditando no que ouvira. Não gostava do tio era verdade, e sabia que Snow também não lhe tinha o menor afeto, mas não achava que ele seria capaz de mandar matá-lo.
O menino olhou desesperado para os lados, não tinha como se defender. Detestava ter que admitir, mas era apenas uma criança e jamais poderia lutar contra todos aqueles homens. Ele viu o líder se aproximar cada vez mais e fechou os olhos imaginando que não deveria ter desobedecido ao pai. Esperou então pelo golpe, mas este não veio, e logo em seguida só o que Peeta podia ouvir era o barulho de espadas se digladiando.
Sentindo-se completamente confuso Peeta abriu os olhos e sentiu o queixo cair ao ver o pai a sua frente lutando ferozmente contra os bandidos. O menino olhou para o alçapão e viu que este estava aberto, o pai deveria ter percebido sua falta e o seguira pela passagem.
"Não!", Peeta pensou desesperado. "Eu cai como um idiota na armadilha do tio Snow...". Não sabia como o tio havia armado tudo aquilo, e muito menos o que ele pretendia, mas Peeta tinha plena consciência de que Snow desde o começo havia planejado tudo aquilo.
– Peeta! O que está fazendo parado aí? – o menino quase pulou de susto quando uma fecha por pouco não o acertou. – Volta pra casa agora!
O menino tentou se mover, mas não conseguia sentir as pernas. Estava nervoso demais, ansioso demais. Além disso, havia poucos guardas com o rei, e os bandidos pareciam ser bem mais habilidosos.
– Brutus! – o rei exclamou desviando dos sucessivos golpes que o líder do grupo desferia. – Você não desiste?
– Desta vez não tenho escolha, alteza – Brutus falou com um sorriso cínico. Peeta arregalou os olhos quando o homem levantou faixa que usava em volta dos olhos.
– Cego? – Peeta murmurou assustado.
– Desta vez estou devolvendo um favor que recebi – Brutus disse abaixando a faixa. – E, além disso, meus olhos nunca mais serão os mesmo, e a culpa é toda sua.
– Minha? – o rei repetiu erguendo levemente a sobrancelha. – Não tenho culpa se você não consegue lutar, e sempre é derrotado por mim.
Brutus grunhiu e atacou sem pestanejar. O rei abaixou-se dando um golpe no estômago de Brutus. Peeta observava apreensivo, nunca havia visto o pai lutar antes, e ficou um pouco surpreso com a habilidade dele. E o menino teve certeza de que tudo terminaria bem já que o pai havia vencido o tal de Brutus outras vezes. Esse pensamento até o tranquilizou um pouco, e o garoto fez o movimento de que iria para o alçapão, mas antes que conseguisse dar um passo alguém o segurou.
– Parece que você precisa de um estimulo para lutar com mais seriedade – Brutus disse pensativo e fez outro aceno para o homem que segurava Peeta. Ele puxou uma adaga das vestes e sem a maior expressão de piedade ou compaixão cortou a face do menino. Peeta gritou de dor quando sentiu a adaga cortando sua pele, e o rei sentiu o sangue circular mais rápido em suas veias ao ver o filho ser ferido daquela maneira. Partiu para cima de Brutus atacando uma, duas, três vezes, cada vez mais furioso.
– Ótimo! Ótimo! – Brutus exclamou parecendo estar muito satisfeito. – Nada melhor que o incentivo certo.
– Pare de falar besteiras e deixe o meu filho em paz! – o rei praticamente gritou e aproveitando da distração do homem, que acertou um golpe certeiro em seu estômago que fez o rei cair de joelhos tamanha foi a dor que sentiu.
– Você quer que eu deixe o seu filho em paz? – Brutos falou com ironia se aproximando de Peeta que estava com os olhos fechados parecendo estar sofrendo muito por causa do corte. Ele pegou a adaga e a fincou na perna do príncipe que gritou de dor.
– Pai! – Peeta gritou desesperado tentando se soltar, mas a pessoa que o segurou colocou a mãos sobre a boca do menino impedindo-o de continuar falando.
O grito do filho fez com que o rei voltasse completamente a si, ele levantou e partiu para cima de Brutus atacando, mais e mais uma vez, sendo que a ultima foi mais forte, os dois duelaram por incontáveis minutos sendo que os únicos barulhos a serem emitidos eram os das espadas violentamente se digladiando uma vez que todos pararam de lutar para observar a luta ferrenha que os dois estavam travando.
– A cada dia você se aprimora mais – Brutus falou com ironia. – Mas não conseguirá salvar seu filho se continuar lutando assim.
– Você parece estar se divertindo! – o rei exclamou entra os dentes.
– Só um pouquinho – Brutus disse cinicamente. – Garanto que se não me matar seu filho é que irá morrer! Pelo menos a cicatriz no rosto dele já ficará para o resto da vida dele!
– Eu não mato ninguém, nem mesmo um verme como você! – o rei disse erguendo a espada. Ele iria atacar, mas Brutus fez um sinal para o capanga que segurava Peeta, quando o rei olhou viu que o filho estava sendo sufocado. – Peeta! – exclamou desesperado.
Em seu desespero para salvar o menino o rei abaixou completamente a guarda e com isso Brutus aproveitou e atingiu o rei quatro vezes, uma no braço para que o rei soltasse a espada e as outras no abdômen. O homem não conseguiu conter um grito de dor ao sentir a espada de seu adversário cortar sua pele.
Peeta arregalou os olhos sentindo mais e mais lágrimas molharem o seu rosto. Furioso, conseguiu morder a mão do homem que o segurava e se soltou exatamente no momento em que seu pai caia de joelhos, cego de tanta dor.
– Rápido! – Peeta gritou para os guardas que observam a tudo sem acreditar no que acontecera. – Vão atrás deles! Quero todos presos! E algum de vocês vá chamar um médico! – exclamou enquanto os bandidos fugiam. Peeta procurou por Brutus, mas ele já havia fugido. – Pai! – Peeta exclamou correndo até o pai. Desesperou-se ao ver a quantidade de sangue que o homem estava perdendo.
– Você está bem? – ele perguntou respirando com certa dificuldade.
– Pai... – Peeta murmurou com o rosto banhado em lágrimas, segurando as mãos dele com força.
– Parece que você finalmente vai se tornar rei– ele disse com um leve sorriso, mas logo sua expressão se converteu em uma nova expressão de dor.
– Não! – Peeta exclamou exasperado. – O senhor continuará sendo o rei, eu sou muito novo, muito teimoso...
– Vá para casa – o rei disse com dificuldade. – Seu tio cuidará de você.
– Não vou... – Peeta falou balançando a cabeça freneticamente.
– Pelo menos uma vez na vida me obedeça, meu filho – o rei sussurrou um pouco aborrecido.
– Pai, eu sei que eu não fui um bom filho e... – Peeta começou a dizer, mas o rei colocou os dedos sobre os lábios do menino.
– Você é o melhor filho que um homem poderia ter – ele disse quase sem voz, sorriu e suas mãos deslizaram por entre os dedos do menino que arregalou os olhos.
– Pai... – Peeta sussurrou balançando-o levemente. – PAI! – gritou desesperado, mas percebeu que não adiantava mais, o senhor havia partido.
O menino debruçou-se sobre o corpo do pai e chorou muito, seus olhos ficaram inchados e vermelhos, enquanto soluçava descompassado. Perdeu completamente a noção do tempo e só levantou quando ouviu passos vindos de dentro do alçapão.
"Não posso voltar...", Peeta pensou desesperado. Ele correu o mais rápido que pode. Não sabia para onde estava indo, e muito menos onde poderia ficar seguro, só sabia que tinha que desaparecer.
Exausto, com frio e medo do que poderia acontecer Peeta acabou desmaiando no meio de uma das ruas da cidade.
Notas finais do capítulo:
Qualquer semelhança com o Rei Leão não é mera coincidência rsrsrs
