Título: Pois sobreviver não é o bastante
Autora: Kaline Bogard
Fandon: No. 6
Casal: Shion x Nezumi
Classificação: +18
Gênero: yaoi, romance, drama
Direitos Autorais: No. 6 não me pertence. Se pertencesse não teria terminado daquele jeito.
Aviso: Contem yaoi. Ou seja: homem catando homem, sacas? Não gosta, não leia. Simple like that.
Pois sobreviver não é o bastante
Kaline Bogard
Capítulo 01
Estava acontecendo. Não era um sonho ou um ideal impossível como Nezumi tantas vezes jogara em sua cara, zombando das intenções um tanto ingênuas.
O muro estava caindo.
No. 6 não precisara ser destruída, a cidade tão odiada pelo companheiro de cabelos negros sobrevivera, continuava em pé, soberana na paisagem. Mas o muro que a protegia da verdade não mais existia, tão somente seus destroços ao longo do horizonte.
Humanos moradores da cidade poderiam se encontrar com moradores do Distrito Oeste.
E não haveria mais diferenças.
Então por que? Por que reinava aquela sensação em seu coração?
Sobrevivera. Não tinha lembranças do momento em que levara o derradeiro tiro até o instante em que despertara ao lado de Nezumi. Talvez indistintos fragmentos da canção da deusa o abençoando e o chamando de volta.
De volta à vida, para Nezumi.
Por que?
Por que ambos terminaram daquele jeito? Cada um seguindo um caminho diferente? Sobreviventes, mas guiados por destinos que pareciam insistir na separação. Quatro anos atrás e... agora.
Ali estava ele, parado entre os escombros do muro que antes parecera intransponível, com um bebê nos braços, indiferente a todos que avançavam lentamente rumo a No. 6.
Como podia prestar atenção neles? O único que importava seguia na direção contrária: as costas muito eretas, numa pose orgulhosa; as mãos no bolso como se nada mais fosse significativo.
Nezumi partia, deixando-o para trás com somente poucas palavras sussurradas para se agarrar, uma promessa lançada ao vento, que facilmente poderia ser levada assim como as pétalas de sakura depois de seu breve e esplendoroso desabrochar.
Por que?
Sobreviveram, como Inukashi tanto desejara. Estavam vivos e seguiriam em frente.
Nezumi seguia em frente.
Ele não parecia afetado pela mesma dor que dilacerava-lhe o coração. Apenas partia, passo a passo.
Partia...
Shion apertou os olhos com força, tentando reter as lágrimas que ainda assim escaparam-lhe e deslizaram pela face pálida. Virou-se enquanto tinha forças e, segurando o bebê com muito cuidado, juntou-se à pequena multidão, deixando-se levar de volta a No. 6.
Para o lado contrário ao qual Nezumi seguia.
S&N
Chegou em casa e encontrou tudo aberto, mas vazio. Sua mãe não estava.
Com um suspiro voltou para fora e sentou-se num dos degraus de pedra para esperar o retorno de sua mãe.
A pequena criança dormia tranqüila quando ouviu uma voz conhecia, transbordando emoção e alívio.
– Shion... meu filho!
Ergueu a cabeça e permitiu que um sorriso tomasse sua face.
– Mamãe...
Levantou-se para ser acolhido pelos braços protetores que achara nunca mais sentiria na vida. A mulher percebera que era inútil ficar zanzando pelo Distrito Oeste em busca de seu garoto amado. O bom senso a fizera voltar para casa, pois ele também conhecia o caminho, seria mais sábio esperar que ele retornasse. E Shion retornara.
– Shion – ela repetiu ainda com o filho preso no abraço desesperado. Entre eles o bebê remexeu-se, mas não acordou – Seja bem vindo.
– Mamãe – o rapaz disse ao afastar-se por fim e mostrar a criança – Ela é órfã. Perdeu a mãe no ataque e não sei se tem pai...
– Vamos cuidar dela, Shion – Karan tomou a garotinha em seus braços com o cuidado que apenas as mães possuem – Vamos protegê-la e dar-lhe um lar.
– Obrigado, mamãe.
– Depois eu quero que me conte tudo – estendeu uma das mãos e acarinhou os cabelos precocemente esbranquiçados do jovem rapaz. Então deslizou os dedos pela mancha rósea que marcava a face de Shion – Mas por hora me diga: esta menininha tem nome?
Um sorriso enorme e saudoso iluminou o rosto de Shion.
– Eve – a resposta nem sequer demorou um segundo para vir. Não podia pensar em nenhum outro que fosse mais apropriado.
– Eve? – Karan meneou a cabeça – É um belo nome.
E o rapaz não pôde deixar de pensar que era belo como o dono que o recebera em primeiro lugar.
Belo como Nezumi.
S&N
A cidade era mais forte do que podiam sequer imaginar.
Sobreviveu aquelas catástrofes, adaptou-se para receber seus novos moradores. No. 6 prosperaria e seguiria em frente.
Seguir em frente...
Shion não conseguia isso muito bem. Seus pensamentos eram prisioneiros de Nezumi. Só conseguia imaginar se ele estava bem, se estava se cuidando... como sobreviveria sozinho lá fora? Haveria algum habitante no Distrito Oeste ainda ou ele passava seus dias solitariamente? E da mesma forma atravessava as noites: sozinho?
– Shion... – Karan chamou o filho, despertando-o de um devaneio. Ambos estavam na cozinha, jantando. Ou melhor, Shion mal tocara em seu prato, apenas mantinha os olhos fixos no céu noturno pontilhado de estrelas. Queria gritar. Gritar por socorro e por Nezumi. Tasukete – Shion!
– Hã...? Mãe...?
– Você está estranho... sei que passou por muitas coisas, mas age como se...
Karan não soube completar a frase. Em seu colo Eve brincava feliz com uma colher. Os olhos da mulher estavam fixos em seu garoto, esperando respostas.
E Shion sabia o que acontecia com ele. Seu comportamento era o de alguém que deixou algo importante para trás e seguira em frente.
– Eu... sobrevivi, mamãe – falou de modo pensativo – Mas...
Foi incapaz de continuar a frase. Karan sorriu afável.
– Mas sobreviver nem sempre é o bastante.
A frase rompeu a barreira que Shion impusera aos próprios sentimentos e trouxe a tona lágrimas dolorosas que mantivera presas no coração por aqueles três meses.
– Por que...? Por que ele sempre escapa de mim...? Dói tanto!
Karan sentiu os olhos umedecerem. O sofrimento de seu filho era seu próprio sofrimento. Sabia bem a quem ele se referia. Seu instinto de mãe sempre a mantivera alerta para aquele que servia de ponte entre ela e Shion quando o rapaz estivera foragido. Alguém que ainda não conhecia.
Nezumi.
– Espero noite após noite – o rapaz confessou entre lágrimas silenciosas – que ele venha novamente. Mas ele nunca vem...
– O primeiro passo, filho – a jovem senhora disse muito tranqüila – É o mais difícil. Porém alguém tem que dá-lo.
– Primeiro... passo...?
Karan apenas balançou a cabeça. Dessa vez não temia por seu filho. Não havia o que temer, agora eram verdadeiramente livres e como tal Shion podia lutar pelo que sentia sem hesitar.
– Se apenas sobreviver não é o bastante, lute pelo que é. Lute, Shion. Dê o primeiro passo.
O rapaz de cabelos brancos cobriu o rosto com uma mão e permitiu que as lágrimas continuassem seu curso, limpando-lhe a alma.
Sua mãe estava certa.
Até então Nezumi viera atrás de si, duas vezes decisivas em sua vida. Era hora de fazer o contrário.
Shion iria atrás do que lhe importava de verdade.
Do verdadeiro motivo pelo qual sobrevivera e voltara da morte.
Nezumi.
Continua...
Oh. Achei esse anime tão linnnndo. Não me conformei com o final e aqui estou tentando melhorar minha depressão pós final de anime. Vai ficar curto, talvez mais dois ou três capítulos.
.
Caso tenha chegado até aqui: obrigada.
.
PS: Mais alguém aí chorou em todos os encerramentos por causa daquela música linda? Ai, que música linda!
