Água
Não há nada que machuque mais do que a eminência da dor.
Assiah. O Mundo Material. Ato Três
Japão, Tóquio, 08h36min PM
O céu cor de chumbo que pairava sobre a grande metrópole se desfazia com a chuva forte e pesada. Centenas de milhares de pequeninos guarda-chuvas atropelavam-se como formigas tontas sobre o asfalto molhado. Postes, lâmpadas, vitrines e letreiros piscavam reluzentes ao ritmo da caótica melodia da cidade que misturava o som dos carros, o passo dos pedestres, a música de elevadores e o rugido da chuva. Arranha-céus mutilavam densas nuvens. Sobre um deles, havia um anjo.
Sentado na beirada de um enorme arranha-céu, o anjo observava, distante, o furor caótico sob seus pés. Suas enormes asas brancas estavam encharcadas pela chuva. Roupas encharcadas; pele encharcada; e belos cabelos brancos encharcados. Seus olhos eram nebulosos e pesados, como o céu sobre sua cabeça. Olhos nublados por maus agouros. Em algum lugar, ele sabia que seu mestre estava sofrendo.
"Mestre Rosiel..."
Estava aflito. Queria poder voar para o lado de seu mestre nesse exato momento. Envolve-lo com suas asas e afastá-lo de tudo aquilo que o machucava, porém... Depois da grande batalha, após ter sido aprisionado tantos anos naquela Terra gelada, ele estava tão diferente... Os últimos acontecimentos que haviam ocorrido; as barbaridades que seu mestre havia cometido; as ameaças.
Ele tinha medo.
"Eu não quero mais você, Catan."
Em um movimento suave, o anjo abriu seu par de asas brancas. Elas se encresparam, ruflaram e, com incrível rapidez e leveza, planou até o chão da cidade. Lá, logo se misturou aos passantes sem ser percebido. Andava com passos lentos e com o olhar baixo. Sua mente ainda se afogava em pensamentos iguais ao clima nada primaveril da cidade em que estava; mas a chuva que caía começava a se amenizar. Assim foi caminhando sem rumo, até deparar-se com uma enorme poça d'água.
O anjo olhou para a superfície trêmula da água. Conseguia ver vagamente seu reflexo nela. Levou a mão ao rosto, afastando as mechas brancas de seus olhos e fitou demoradamente o turvo reflexo de seu corpo, o maior e mais fantástico presente que já havia ganhado. Lembrou-se da primeira vez que sentiu o mundo. Lembrou-se do susto, da confusão, do medo, da alegria, da tontura, mas principalmente, lembrou-se do calor. Aquele calor que sobrepunha todas as outras sensações que o abalavam, que vinha daquela sublime luz branca que emanava o seu mestre Rosiel.
Calor, luz e divindade.
"E tudo de desfez em um mar de luz!"
Há esta hora a única coisa que restava daquelas nuvens cor de chumbo era um chuvisco melancólico. O anjo levou seus olhos ao céu. As coisas piorariam; ele tinha certeza de que aquele era apenas uma prova do que ainda estava por vir. A aflição da subida de uma montanha-russa; o silêncio que antecede o susto em um filme de terror.
O verdadeiro pesadelo logo viria, e não havia nada no mundo que o assombrasse mais do que isso.
Depois de tanto tempo.... aqui estou eu com uma fic nova *.* E não é DN!!! Milagre!!!
Vai ser algo pequeno, dividido em 4 capítulos não muito grandes, mas é algo que eu queria fazer ja faz tempo :3
Agradecimentos à Hiei-and-Shino que betou essa fic e a todos os que a leram ^__^
Comentários e criticas construtivas são sempre bem vindos :3
