Através do teus olhos
1 – Primeira impressão
Quando começou?
Prowl não sabia exatamente, mas lembrava-se muito bem da primeira vez que o viu. Ele sempre o via chegar com o seu jeito alegre, expansivo, festeiro. Cumprimentava a todos, brincava com uns, reservava um tratamento mais formal a outros, mas sempre tinha um bom relacionamento com todo mundo. Estava sempre com um sorriso aceso na face, às vezes improvisava uma pequena dança para descontrair o ambiente e sempre estava disposto a ouvir as mágoas e emprestar o ombro amigo para algum colega choroso e desgostoso da vida. Nunca o vira triste, aborrecido, raivoso... jamais o vira destratar alguém, mesmo quando estava no seu direito de o fazê-lo. Procurava sempre uma maneira pacífica para resolver qualquer problema.
Todas essas qualidades acabaram chamando a atenção da viatura. Não se aproximava dele devido a sua personalidade reservada. Não era de ficar "puxando assunto" com quem não pertencia a seu círculo de relacionamentos, mas mesmo assim não deixava de se encantar com tal personagem tão fascinante e, ao mesmo tempo, intrigante.
E assim passaram-se os dias, com Prowl sempre observando da janela ou da varanda o seu personagem curioso e divertido. Contentava-se assim. Era apenas uma testemunha ocular das vivências da vizinhança, analisando, observando e estudando os hábitos e costumes da gente ao seu redor, sem envolver-se em nada.
Custou-lhe muito a entender porque ele lhe chamava tanto a atenção. Começou a acreditar que era devido às suas personalidades opostas. Prowl era sempre calado, reservado, sorria pouco e não tinha a menor paciência para certas coisas. Não raro, acabava querendo resolver determinadas pendências à base de socos, chutes e xingamentos. Já o outro não. Pareciam até nêmesis um do outro de tão diferentes.
E eis que aconteceu. Numa dessas tardes, à beira da janela, Prowl, como de costume, observava a rua e seus personagens quando ele, mais uma vez, apareceu. Cumprimentou com alegria um conhecido que passava e conversaram durante uns cinco minutos. Tudo bem em frete à sua janela. Terminada a conversa, cumprimentaram-se mais uma vez em despedida e ele virou-se para ver seu amigo ir embora. Até aí nada de mais.
Mas logo quando ele virou-se para seguir na direção oposta, por um instante, o seu olhar encontrou-se com o de Prowl. A viatura sentiu uma onda de choque percorrer os seus circuitos. Não esperava por isso, por esse olhar tão rápido, fundo e penetrante. Sentiu como se, de repente, seus pés estivessem colados ao chão e não conseguiu se mover, preso naquelas óticas vindas da calçada.
E então, sem aviso, ele sorriu. Um sorriso simples e fulgaz, mas intenso o bastante para fazer aquecer a centelha de seu observador e o incentivar a sorrir de volta, sem sequer ter a consciência do que estava fazendo. Por um momento, Prowl pensou em ir até a calçada e falar com ele. Pelo menos saber o seu nome. Mas uma voz ao longe, chamando pelo transeunte sorridente, o livrou desta dúvida.
_ Jazz, vem cá. Preciso de sua ajuda.
_ Já vou. Ele respondeu. E dando um último sorriso a Prowl, seguiu seu caminho. Prowl o acompanhou com o olhar. Ainda mais curioso e intrigado com o seu observado, pois agora ele não era mais um mero personagem passando na rua. Não era mais alguém que ele simplesmente seguia com os olhos por puro tédio ou falta do que fazer. Era alguém que tinha lhe ofertado um sorriso. E ele tinha um nome. E ao lembrar o seu nome, o pronuncia suavemente, com um sorriso bobo brotando de seus lábios.
_Jazz!
