Sinopse

Após retornarem do inferno de Hades, os cavaleiros se recuperam. Mas o cosmo de Shun parece diferente, e Athena precisa encontrar uma solução, ou pelo menos, ajudar seu cavaleiro com o uso de suas novas habilidades. O quanto podemos esperar desse dom? Alguns se encontram no limite da espera.

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Alguns dos personagens encontrados nesta história e/ou universo não me pertencem, mas são de propriedade intelectual de seus respectivos autores. Os eventuais personagens originais desta história são de minha propriedade intelectual. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã sem comprometer a obra original.

Fanfiction 'No limite da espera'

Capítulo 1. Despertar e suspeitas

A música instrumental envolvia o ambiente com sua clássica melodia. Suave e calma. O ambiente pedia esse tipo de acolhimento e naquele momento não haveria de ser diferente. Sempre pensei a respeito do porquê de os hospitais possuírem paredes pintadas de branco ou azul-esverdeado e de, costumeiramente, serem colocadas, ao som de fundo, músicas clássicas ou instrumentais. Acabo pensando demais e divagando com todo esse tempo livre...

Esses tons de cor agora se misturam em minha mente, lembrando das vezes que nossos olhares se cruzaram. Como anseio que você abra logo essas pálidas pálpebras para que eu veja, novamente, seus lindos olhos verdes... As enfermeiras comentam sobre sua beleza, seus cabelos castanhos de um matiz claro, seu corpo delicado...

Me lembro de quando estávamos no submundo – Shiryu e eu, Seiya e você. E Ikki. Quando fomos aos Campos Elísios salvar Atena. Quando Atena nos salvou da destruição do submundo... Lembranças e realidade parecem se misturar em minha mente.

Observo a enfermeira trocar o soro, verificar as sondas, procedimentos que, espero, possam ajudar a trazê-lo novamente para nós, Shun.

Neste espaçoso quarto, estamos você e eu. E Ikki. Ah, o Ikki... Desde que teve alta, ele continua inquieto na poltrona ao lado de sua cama, que pedimos fosse colocada perto da janela. Assim, o sol da manhã banharia seu rosto e o som dos pássaros inundaria seus ouvidos, tentando lhe mostrar que a paz pode reinar no planeta que você tanto ama.

No outro quarto, nossos amigos estão descansando... Um realmente descansa e já se encontra bem melhor. Shiryu acordou e está se recuperando bem, Shunrei mantém-se fielmente ao seu lado.

Enquanto isso, Saori ainda está muito triste e apreensiva, Seiya apresenta todos os sintomas de uma alteração cardíaca da qual os exames não mostram justificativa plausível. Os médicos não conseguem entender a causa real, mas nós, amigos e irmãos nas estrelas, sabemos. A espada de Hades. A própria Deusa tentou diversos meios e inúmeras vezes ajudar seu cavaleiro mais amado. Sabemos que Pégasus sempre esteve a proteger Athena nas Guerras Santas. Nesses últimos dias, era Athena ao lado do Pégasus, tentando salvar seu amor desta vida.

Ainda não estou autorizado a passear pelo hospital, mas Ikki está fazendo um belo papel de fênix-correio, trazendo e levando informações; não sei se a fisionomia emburrada dele é estado natural de mau humor ou de estar servindo de correio. Ou se, assim como eu, está preocupado. Acho que todos os motivos misturados.

Estamos há algumas semanas entre estas paredes azul-esverdeadas, entre pessoas de branco, ouvindo esta melodia que pareço já ter decorado. Uma melodia sentimental como você, meu querido Shun.

Mesmo com Ikki no quarto, não tenho com quem conversar muito; nem gosto mesmo. Mas estranhamente, Fênix conversa mesmo somente com você. Ou fala. Simplesmente fala. Vocês dois são tão diferentes e ao mesmo tempo complementares. Ele conversa contigo o tempo todo e em um volume de voz tão baixo, que tenho certeza que ele fala apenas ao seu ouvido. E eu fico conversando com você, meu querido anjo, em meus pensamentos, orando e pedindo aos deuses gregos e ao Deus de minha mãe, que você acorde logo...

Será que foi assim que se sentiu quando aqueceu-me o corpo com seu cosmo? Foram seguindo-se as batalhas e continuava otimista. Percorremos as doze casas, as terras gélidas de Asgard, o império de Poseidon, e seguimos Athena até o inferno, literalmente. Não sabíamos o que nos esperava, muito menos imaginávamos que você sofreria a invasão de Hades em si mesmo. Somente Seiya e Ikki viram-lhe o rosto transfigurado no deus dos mortos, além do santo de virgem e Athena. Ninguém mais pôde lhe ajudar... Você expulsou Hades com calor do sangue da Deusa e queimou-se no esforço hercúleo de voltar a ser o santo Andrômeda de Athena.

O dia passava em meio aos meus devaneios. Aqui, esperando liberação dos médicos, não há muito que fazer a não ser pensar, e pensar...

Pedi a uma enfermeira que me informasse sobre a música que tanto me impressionava e me lembra seus olhos. Em um papel deixado na mesinha ao lado da minha cama, pude ler o título Melodia Sentimental e a letra. Agora acho não esquecerei jamais.

Já é noite, e seu irmão foi jantar. Resolvi levantar e chegar mais perto da janela e de você. Fui levando o pedestal do soro. Queria tirar isso, mas a enfermeira disse que era para manter o acesso à veia.

A lua brilha com maestria no céu, e como gostaria que pudesse vê-la. Ilumina o quarto quase como se estivéssemos com as luzes acesas. E seu rosto se ilumina com o luar. Fiquei tão encantado com o que via, que só senti Ikki me puxando quando percebi a imagem do seu rosto ficando distante...

– Tá doido? Que droga! Vou ter que tomar conta de dois?! – Dizia Fênix, irritado.

– Eu... queria vê-lo... ver a lua... – Tentei consertar as coisas – Não imaginei que tinha passado tanto tempo...

– Quase virou pato assado no inferno e quer ver lua? Isso é coisa do Shun. Ou na volta do submundo, trocaram as cabeças de vocês?!

– Eu já estou bem, pode deixar que volto sozinho para minha cama. – Caminhei de volta ao meu leito, um tanto aborrecido, pensando Oras, sempre admirei o luar nos lagos congelados da minha terra, sempre duas luas, uma no céu, outra na água límpida...

– Se cair, vou te deixar espatifado no chão!

– Já voltei pra cama, pronto! Já estou pra ter alta. Eu também só queria entender porque o Shun não acorda. Shyriu já está bem, como você. Seiya está com problemas, apesar de estável, e nós sabemos que é por causa da espada de Hades. Mas Shun... Os exames não mostraram nada e nem Saori sabe o que está havendo!

– Esqueceu que ela disse?! Ele é o primeiro receptáculo de Hades que não morreu, porra!

– Óbvio que não esqueci, mas não é estranho? Ele já deveria ter acordado, ou, pelo menos, ter mostrado sinais de melhora, mas continua nesse tipo de coma! – falei, indignado.

– ...

Pela primeira vez, Fênix estava sem palavras, parecia estar contando até dez para não voar em mim.

Às vezes falo de forma muito direta, às vezes não digo nada. Depois disso, acho melhor tentar dormir. Meu último olhar foi para os irmãos ao meu lado, o mais velho velando pelo menor.

A noite seguiu sem problemas quando escutei uma voz insistente.

– Hyoga! Hyoga!

Me esforço para abrir os olhos e escuto novamente.

– Porra, pato, acorda! É de manhã!

Bom, agora já sei quem está me chamando; tantos anos, e não me acostumei com esse palavreado. Sentei na cama, devagar, e vi Shiryu com Shunrei e Ikki à minha frente. Não deu nem tempo de pensar.

– Fico mais tranquilo em vê-lo melhor, Hyoga. Ikki levava as notícias de você e do Shun, mas eu precisava conversar com vocês longe da Saori e do... Enfim, você já consegue caminhar?

– Se o estressado aqui me ajudar, podemos ir até o jardim... – Olhei para o Ikki com uma cara de vingança pelo pato, e pensei que ganharia um Ave Fênix na cara. Para minha surpresa, recebi o apoio firme de seu braço auxiliando-me a levantar. Caminhamos os quatro, Ikki me arrastando pelo braço, Shunrei abraçada carinhosamente ao amado.

Os corredores muito claros, de um verde suavíssimo, que me lembravam os olhos de meu amigo que parecia dormir em seu leito ao som dos pássaros matutinos.

Quando percebi, estávamos em uma área com pequenas árvores, arbustos e flores, da qual podíamos ver as janelas dos quartos. Um hospital de poucos andares, construído como fosse um retângulo, abrigando um jardim interno em seu meio. Sentamos perto de uma fonte, onde bancos pintados de branco se mesclavam à paisagem. Em outros bancos mais distantes, outros pacientes aproveitavam a manhã suavemente ensolarada.

Com semblante sério, Shiryu continuou a conversa iniciada no quarto.

– De acordo com os médicos, o quadro clínico do Seiya continua com as mesmas alterações cardíacas e afirmam que não possuem mais opções de tratamento. Os exames não mostram a causa específica. A Saori nos disse que há um pedaço de espada cravada no peito dele, mas também não consegue fazer nada com esta informação. Somente ela vê a espada, diz que parece translúcida, com um pedaço para fora, e ao mesmo tempo, invisível aos nossos olhos e dos médicos, como uma fumaça por meio da qual passamos as mãos; não é possível, para nós, sentir a espada ou vê-la. Nas últimas semanas, Saori meditou muito, pediu ao Tatsumi que trouxesse uns livros antigos para ela, mas não encontrou nenhuma solução para Seiya.

Interrompeu o discurso, procurando as melhores palavras.

– Também procurou uma solução para o seu irmão – disse, virando-se para Ikki – mas não encontrou nada. Seiya está estável e sabemos o que está fazendo com que não evolua para melhora. Mas Shun, além de não demonstrar sinais de melhora, seu coma se torna cada vez mais irreversível e... – Foi bruscamente interrompido por um Fênix raivoso.

– Mas eu acompanho ele diariamente e sei que ele me escuta, mexe olhos, sei que está melhorando...

– Ikki, meu amigo, você sabe que o coma de Shun está cada vez mais profundo. E a chance de ele acordar cada vez mais remota... O que desejo conversar com vocês é sobre precisarmos nos preparar... – novamente foi interrompido. Eu e Shunrei observávamos a conversa dos dois.

– Não! Não vou pensar nisso! Eu vou é me preparar para receber meu irmão quando ele acordar...

– Se ele acordar, Ikki...

Se não, quando! – Fênix se levantou, resoluto a voltar para o quarto, quando virou-se.

– Ô pato, vai ficar?

Respondi apenas com movimento de positivo com a cabeça. Quando Ikki se encontrava distante, Shiryu suspirou e continuou, ao que Shunrei e eu concordamos.

– Vamos orar para que minhas suspeitas pessimistas não se concretizem...

(continua...)