Passé
Pansy tinha a leveza de uma pluma, a brutalidade de um touro, o cheiro de uma rosa e a delicadeza do cetim. Ela era o certo e o errado; o ponto médio da antítese. Ela tinha a péssima mania de acordar na hora mais escura da manhã, apenas para ficar dançando ao som de alguma música – ou música alguma – pelos corredores frios.
E que dança! Corria na ponta dos pés, rodopiando sem parar, fazendo meus olhos seguirem os movimentos abstratos. Sem saber que estava sendo observada, levantava os braços, fazendo a larga blusa encolher e mostrar a pele branca, e a vontade de me fazer ser visto, de tocá-la, só aumentava.
Malfoy costumava dizer que ela tinha feito balé, quando era menor, mas não parecia somente aquilo. A dança parecia vir da alma. A entrega, a plenitude, o jeito e o desapego do clássico, quase faziam dela uma nova modalidade.
Não sei em que momento ela parou de dançar.
As manhãs ficavam frias e a Pansy não mais sorria. Podia sentir que a culpa era dele. Não havia mais atenção, nem carinho, nem mesmo troca de olhares cúmplices entre eles. Apenas o olhar triste dela em minha direção.
Vontade de dançar? Sumia, enquanto a menina esvaecia. E eu apenas me decepcionava ao acordar cedo e não ver o corpo a bailar. Mas ela continuava a levantar cedo e sentar na poltrona negra, mirando o horizonte.
Então eu encolhia os ombros e saia, até o dia em que sua voz doce me chamou:
- Blaise. – ela disse, o som ecoou pela sala vazia.
- Sim?
- Há quanto tempo eu parei de dançar? – perguntou. Então ela sabia que eu a observava.
Seu rosto encarou o meu, e um sorriso triste se formou nos lábios. Ela também sabia que sua felicidade e harmonia dependiam da dança. Então, sem falar nada, ela levantou e começou a se balançar, sem música alguma. Pegou minha mão e colocou na sua cintura e, a partir daquele dia, dançamos. Blaise e Pansy. Totalmente paradoxal à Parkinson e Malfoy, mas, daquele dia em diante, ela nunca mais deixou de dançar.
(Por ele ou por qualquer outro. Porque ela era de Zabini.)
